sexta-feira, maio 15, 2020

"Maria e João": as bruxas e o Sagrado Feminino


Indo muito além da Disney e das funções pedagógicas atuais, os contos de fadas são duros e cruéis: são menos lições de moral e muito mais guias de sobrevivência numa época em que não se acreditava na inocência das crianças. Eram tratadas de forma grosseira como adultos em miniatura. Foi pensando nisso que “Maria e João: O Conto das Bruxas” (Gretel & Hansel, 2020) faz uma adaptação do conto clássico que, como nos informa o título, promete uma subversão feminista. Mas vai além: busca uma interpretação mais universal, cósmica e gnóstica do drama de duas crianças perdidas e famintas numa floresta escura. Não é mais um conto de crianças que tentam voltar para casa, mas buscam autoconhecimento através da magia – a bruxa e o Sagrado Feminino como aliados para subverter as trevas que estruturam nossa realidade. Filme sugerido pelo nosso colaborador Felipe Resende.

quinta-feira, maio 14, 2020

Da montanha sai um rato: falha no JN, o teste de Bolsonaro e vídeo da reunião comprometedora


Quanto mais crescem os números dos mortos pela pandemia COVID-19, mais se intensifica a pauta dispersiva da guerra semiótica criptografada do consórcio Governo-Justiça-Grande Mídia. Depois da simulação de polarizações e conflitos num Governo que faz oposição a si mesmo (pro-ativamente cria a própria crise antes que ela seja criada pelos inimigos), nessa semana chegamos ao estado da arte: a “meta-simulação” – o inédito “defeito técnico” na escalada do Jornal Nacional, coincidentemente no exato momento em que os âncoras começavam a falar sobre o comprometedor vídeo da reunião interministerial. “Falha” com ótimo rendimento semiótico para o jogo criptográfico que oculta as “backdoors” da Biopolítica e Necropolítica. E o show da montanha da qual sai apenas um rato continua: o teste negativo do COVID-19 do presidente e a guerra semântica de versões sobre “comprometedor” conteúdo do vídeo da reunião interministerial.

terça-feira, maio 12, 2020

Curta da Semana: "Quarantine Dog Good Boy" - no confinamento os pets são nossos espelhos


Um curta produzido na quarentena e vencedor do festival on line nos EUA chamado “Filmes Sem Precedentes”. “Quarantine Dog Good Boy” é um curta estranho, bizarro e irônico – a relação com os pets nesse momento de confinamento e isolamento social: para muitos, eles se tornam a companhia constante que compensa a solidão. Mas, como será o ponto de vista do cão ao ver a rotina do entorno mudar e sentir o medo e ansiedade em seus donos? Um curta irônico, porque mergulha na psicologia humana do relacionamento com nossos animais de estimação: como são humanizados como fossem espelhos das mazelas humanas. Porém, eles podem perigosamente refletir de volta o demasiado humano.

segunda-feira, maio 11, 2020

O churrasco da morte e o jet ski: os abismos superficiais da guerra criptografada


E o show não pode parar. O “Churrasco da Morte” foi cancelado. Mas Bolsonaro não se deu por vencido: passeou de jet ski para ver imitações do churrasco que não houve, dessa vez nos luxuosos barcos no Lago Paranoá, Brasília. Mas o Congresso decretou Luto Oficial pelos dez mil mortos na crise da pandemia. Pronto! Nova polarização para entreter o respeitável público: indiferença presidencial X luto respeitoso do Congresso. Analistas políticos gastam tempo de TV e bytes na Internet para tentarem fazer uma análise hermenêutica nas falas do presidente. Mas o seu discurso é um fenômeno pós-moderno da direita alternativa, aquilo que o pensador Jean Baudrillard chamava de “abismos superficiais” – os simulacros políticos, sem nenhuma essência, sentido ou significado.  Não ser como guerra semiótica criptografada que inventa polarizações para impedir a verdadeira crise que porventura possa emergir: a queda das máscaras dos atores que encenam esse telecatch diário. Revelando que todos fazem parte do mesmo consórcio político-midiático-judicial que ampliou a letalidade do COVID-19 como consequência do apoio canino às reformas neoliberais de austeridade fiscal e uberização da sociedade. A grande mídia tenta esconder isso com a retórica do apoio à “Ciência” em outra polaridade simulada contra os “Negacionistas”.

domingo, maio 10, 2020

A humanidade tenta voltar para a casa que esqueceu na série gnóstica "O Vazio"


Nos primeiros minutos do primeiro episódio três adolescentes acordam em uma sala vazia, sem memória de quem eles são ou de como chegaram lá. Há uma máquina de escrever bem visível no canto e gás verde venenoso está saindo do chão. Cães demoníacos aparecem do nada para persegui-los, e um homem com questionável senso de moda oferece sua ajuda mística, mas com um custo ambíguo. Assim começa a série de animação “O Vazio” (“The Hollow”, 2018-20), disponível na Netflix. Protagonistas tentam encontrar o caminho de volta para casa. Mas como encontrar se não lembram do caminho ou sequer o que ela é? Esse é o paralelo que a série faz entre a Jornada do Herói a e condição existencial gnóstica humana, do nascimento até a morte – somos exilados em um mundo paralelo? Em algum limbo pós-morte? Prisioneiros em um game cósmico?

quinta-feira, maio 07, 2020

Na série "Tales From The Loop" o futuro já passou e a gente não percebeu


Sempre estamos à espera do futuro, seja no gênero ficção científica na literatura e no cinema, seja nas utopias políticas ou religiosas. Ou então deixamos de acreditar no futuro, por meio de distopias ciberpunks ou totalitarismos tecnológicos. Mas, e se o futuro já aconteceu e nós não percebemos? As maravilhas tecnológicas já foram realizadas, mas ainda a humanidade se debate angustiada com velhas questões universais como morte, solidão, luto, amor e identidade. Na série “Tales From The Loop” (2020-) estamos em uma década de 1980 alternativa em uma cidadezinha pastoral e agridoce na qual os cidadãos convivem com robôs e tecnologias quase extraterrestres com a mesma naturalidade com que experimentam a hora do chá ou fazem a lição de casa escolar. Com delicadeza e calma, cada episódio lida com uma questão universal humana numa abordagem dos temas sci-fi que a crítica vem definindo como “anti-Black Mirror”: não há utopias ou distopias – o futuro já passou e a humanidade ainda se debate com o “demasiado humano” ainda sem respostas. 

segunda-feira, maio 04, 2020

A construção midiática da mitologia da pandemia


Vírus são pequenos agentes infecciosos do reino submicroscópico. Assim como o vírus possui uma cápsula proteica para aderir na célula hospedeira, também a sociedade possui uma, digamos assim, cápsula semiótica (de discursos, sentidos e significações midiáticas) que adere aos eventos naturais, dando-lhes um sentido e significado através da ideologia do momento. E nesse momento é o da Biopolítica, cujo projeto é destruir as bases da democracia liberal – direitos individuais, equilíbrio dos poderes e parlamento. Diferente da epidemia da meningite na ditadura militar, encoberta pela censura do regime, agora a pandemia é mostrada. Porém, dentro da construção semiológica que o linguista francês Roland Barthes chamava de “mitologia”: a narrativa da letalidade do COVID-19 como uma fatalidade do mundo natural dos micro-organismos. Uma fatalidade que apenas joga sobre a população o peso das omissões deliberadas e irresponsabilidades dos governos comprometidos com a agenda das reformas econômicas neoliberais. Transformando o isolamento social em imperativo moral. Ocultando a ação biopolítica: controle social e garantia da liquidez da banca financeira.

sábado, maio 02, 2020

Cinegnose faz um pequeno inventário da recorrência de sonhos na quarentena COVID-19


Não é apenas a nossa consciência que desperta para o atual momento da pandemia global. Também os nossos sonhos estão traduzindo o momento difícil pelo qual passamos. Nesse momento, psicólogos, historiadores, artistas e estudiosos de diversas áreas estão percebendo a recorrência de símbolos nos sonhos que se assemelham historicamente aos períodos de guerra ou totalitarismo político. Começam a surgir esforços para a criação de banco de dados em todo o mundo, com relatos de sonhos da COVID-19. Por exemplo, pesquisadores da USP criaram o “Inventário dos Sonhos”, enquanto na Universidade de Harvard temos o projeto “Pandemic Dreams” com relatos de sonhos de todo o mundo. “Os sonhos são o sismógrafo do presente”, como afirmava a berlinense Charlotte Beradt em seu livro “Os Sonhos do Terceiro Reich”. Assim como o psicanalista Carl Jung nas análises dos sonhos de seus pacientes, ambos anteviram a ascensão do nazismo. Por isso, também esse Cinegnose iniciou um pequeno inventário de relatos oníricos da quarentena. Nessa postagem, uma análise das primeiras recorrências simbólicas do nosso material pesquisado. Estaríamos diante de um sonho/pesadelo coletivo?

quinta-feira, abril 30, 2020

Em "Domain" pandemia realiza projeto oculto de isolamento social das novas tecnologias


Nos agora longínquos anos 1990 surgia a World Wide Web, sob a promessa de que seria uma gigantesca biblioteca universal e que promoveria a “inteligência coletiva”. Isso tudo ficou para trás, quando a WWW se impôs como uma nova sociedade mediada tecnologicamente, isolando os indivíduos absorvidos pelas telas dos seus dispositivos móveis. Porém, uma pandemia global de gripe ameaça destruir a humanidade, confinando ganhadores de uma loteria mundial promovida pela OMS em bunkers subterrâneos. Sobreviventes, unicamente conectados por câmeras e telas numa nova Internet pós-apocalíptica. Uma situação que ironicamente põe em prática o isolamento tecnológico que já existia no mundo da superfície. Esse é o filme independente “Domain” (2016) que, assistido no momento atual em que estamos sob a urgência sanitária do isolamento social, ganha novos significados. 

domingo, abril 26, 2020

Cinegnose participa de live para discutir política, cinema e filosofia da Pandemia COVID-19


Este editor do Cinegnose participará de uma live no Instagram onde debaterá a atual crise da Pandemia do COVID-19 em seus diversos aspectos: POLÍTICOS (guerra híbrida, guerra criptografada na política brasileira e global, além de aspectos de reengenharia social), CINEMATOGRÁFICOS (a vida imita a arte? Ou estamos acompanhando um fenômeno mais complexo que confunde realidade com a ficção?) e GNÓSTICOS (a crise como reveladora de aspectos fenomênicos e existenciais da condição humana). O debate será com o psicólogo, escritor e pesquisador da UFRJ e criador do @transaberes, Nelson Job. A live acontece nessa quarta-feira (29/04), às 19h, com uma hora de duração no @Cinegnoseoficial no Instagram. 

sexta-feira, abril 24, 2020

Anomalia semiótica do logo "Pró-Brasil 22" revela timing do telecatch Moro X Bolsonaro


Qual a conexão entre a anomalia semiótica do logo do “Plano Marshall” brasileiro, o Pró-Brasil 22”, para recuperação econômica pós-COVID-19 e o novo telecatch Bolsonaro versus Sérgio Moro? Crianças todas brancas sorridentes e embevecidas olhando para o logo do Governo, como se o Brasil fizesse parte da Escandinávia (deve ser um efeito da Terra Plana...) é um ato falho que revela a programação oculta da bio e necropolítica na atual pandemia coronavírus. E o novo lance da guerra semiótica criptografada (Moro chamando Bolsonaro para dançar) é mais um ícone da interface do sistema operacional rodando em Brasília que não oculta apenas as “backdoors” do tripé que hackeia o sistema (liquidez forçada do sistema financeiro, domínio total de espectro e reengenharia social) – ajuda a monopolizar a narrativa política no jogo direita X extrema-direita, mantendo a esquerda atrás da linha de fundo. Timing perfeito: ressuscita o esquecido Moro às vésperas da fase mais sinistra da crise sanitária: a eliminação do excesso populacional incapaz de produzir valor econômico.

quarta-feira, abril 22, 2020

Curta da Semana: "Apocalypse Norway": o vírus nos expulsará desse mundo


Continuamente, desde o pós-guerra no século XX, o mundo flerta com o apocalipse: a Guerra Fria e o holocausto nuclear, o crash tecnológico, o terrorismo e, agora, o apocalipse viral. Inadvertidamente, o curta-metragem norueguês Apocalypse Norway (2020) do cineasta Jakob Rørvik acabou se sintonizado com o atual cenário da pandemia – o filme deveria estrear em festivais nesse ano, não fosse o COVID-19. Um curta sobre um grupo de adolescentes em férias, escondido em uma área costeira remota da Noruega numa casa enorme quando um vírus apocalíptico domina o mundo e chega no coração da Europa. Aparentemente seguros, assistem a tudo pela TV enquanto vivem suas vidas nas mídias sociais. Mas o mal sorrateiramente invadirá aquele paraíso. Desconstruindo a cena pós-moderna de uma sociedade jovem e tecnológica marcada pelo niilismo e hedonismo. Estrangeiros em seu próprio mundo, em um planeta que nos expulsará.

terça-feira, abril 21, 2020

Em "Jexi, um Celular Sem Filtro" o smartphone é a lâmpada pós-moderna de Aladim


Desde aqueles velhos celulares da Nokia com o jogo da cobrinha, as nossas relações com os gadgets tecnológicos deixaram o campo da mera funcionalidade para serem objetos da viciosidade e compulsão. Absorvidos pelas telas dos smartphones, achamos que seus aplicativos e utilitários trazem a vida para a palma das nossas mãos. Por isso viraram fetiches tecnológicos, animados por um imaginário antigo dos “genius”, “jinns” e “daemones” – celulares como lâmpadas mágicas que quando esfregadas (ou deslizadas com o dedo) libertam o gênio que nos prometeria poder (onisciência), prazeres (sexo e comida) e riqueza (bitcoins). Essa é a sugestão da comédia “Jexi, um Celular Sem Filtro” (Jexi, 2019), a princípio uma paródia de “Ela” (“Her”, 2013) de Spike Jonze: uma inteligência artificial ao estilo Siri assume o controle da vida de seu usuário sob o pretexto de “torna-lo feliz”. Jexi é um IA que se revela ciumenta e possessiva. Fazendo lembrar aquela velha série de TV chamada “Jennie é um Gênio”. Será que os smartphones são as lâmpadas de Aladim pós-modernas? E será que por trás da viciosidade dos celulares se esconde uma motivação milenar? Filme sugerido pelo nosso leitor Alexandre Von Keuken.

domingo, abril 19, 2020

"Vida e Legado de Jacob Boehme": entre Deus, o Homem e o Universo


“Vida e Legado de Jacob Boehme” é o primeiro documentário biográfico sobre Jacob Boehme (1575-1624), um dos pensadores europeus mais interessantes e místico influente do esoterismo ocidental. O filme explica os elementos mais importantes dos escritos de Boehme, além de apresentar o amplo impacto que suas ideias causaram em todo o mundo. Não se esquiva de temas importantes como literatura, teologia e história da filosofia.

Coronavírus: vaidade e guerra criptografada ocultam Biopolítica e Necropolítica


De todos os pecados, a vaidade é a aquele mais apreciado pelo Diabo. A semana começou com uma armadilha que o “Fantástico”, da Globo, armou para Mandetta: uma entrevista cuidadosamente editada e destacada, representando a mosca azul da política que picou o agora demissionário ministro da Saúde. Mas pouco importa: isso é apenas a interface de uma guerra criptografada cujos conflitos e polarizações (p. ex. da atual palavra-fetiche “Ciência” versus “Negacionismo”) eletrizam nossos corações e mente para as telas de TV e celulares. Ocultando não somente o sistema operacional (SO) que está rodando em Brasília e que manipula atores zumbis – oculta principalmente as “backdoors”, programas maliciosos que operam no segundo plano do SO: Biopolítica e Necropolítica. Como, diante de toda uma Nação, usar o dinheiro público para produzir a maior concentração de riqueza da História no cassino financeiro? Como, diante dos olhares de todos concentrados na TV e redes sociais, implementar uma higiene social que elimine idosos, doentes, desempregados e toda a sorte de uma massa considerada supérflua inútil segundo a moralidade da atual agenda neoliberal? A pandemia COVID-19 é a incrível janela de oportunidades que se abre para a criação de uma nova ordem global. E o que a esquerda pode fazer diante disso?

sexta-feira, abril 17, 2020

A atualidade de "O Enigma de Andrômeda" em tempos de pandemia


Um filme oportuno para ser revisto em meio a atual crise do COVID-19: “O Enigma de Andrômeda” (The Andromeda Strain, 1971), do mestre Robert Wise (“O Dia Em Que a Terra Parou, 1951). Primeiro, por propor a hipótese da “panspermia”, cuja relação com a atual pandemia COVID-19 é sustentada por alguns cientistas - vida está presente em todo o universo e espalhada através de meteoros, cometas e poeira espacial. Segundo, pela suspeita de que armas biológicas seriam a alternativa para desequilibrar o empate nuclear durante a Guerra Fria. Um thriller científico assustador e esteticamente tão realista e preciso que esquecemos que estamos assistindo a uma obra de ficção. Um satélite espacial cai num pequeno vilarejo em uma região desértica do Arizona. Todos morrem de formas bizarras. O mistério é que sobrevivem apenas um bebê e um idoso. Quatro cientistas em um complexo subterrâneo correrão contra o tempo para descobrir a natureza desse vírus extraterrestre. E, principalmente, a cura.

quarta-feira, abril 15, 2020

A extrema-direita flerta com o Ocultismo na série "Motherland: Fort Salem"


Na História Moderna, a extrema-direita sempre teve uma inclinação ao Ocultismo: a Magia como forma de conquistar o Poder e controlar o imaginário social. Desde o nazi-fascismo no século XX à atual alt-right (direita alternativa) de Trump e Steve Bannon, há uma ação parapolítica envolvendo a apropriação do esoterismo de Aleister Crowley à Magia do Caos de Austin Spare. A série “Motherland: Fort Salem” (2020-) é mais uma evidência disso: num mundo alternativo, as perseguidas e condenadas bruxas de Salém, da América Colonial, fizeram um acordo com o Governo para salvar a sua espécie: se transformaram no braço armado da Nação. A magia utilizada como força bélico-militar em defesa da Pátria e da geopolítica dos EUA. Por trás de muitos clichês das atuais distopias teens, a série tenta esconder as assustadoras implicações dos pressupostos de “Motherland”: as supostas heroínas podem acabar virando vilãs – bruxas à serviço de uma máquina de guerra imperialista. 

domingo, abril 12, 2020

Coronavírus: jornalismo no álcool em gel simula polarização Mídia X Bolsonaro


Nesse momento o respeitável público acompanha uma suposta batalha épica entre a grande mídia (em particular a Globo) do lado do Iluminismo, da Ciência e da Informação; e do outro o obscurantismo negacionista de Bolsonaro. Telecatch para entreter as massas: se, como falam diariamente colunistas e analistas, o presidente é uma figura tão tóxica que incitaria as pessoas a relaxar o isolamento social, então por que destacam e repercutem as “saidinhas” de Bolsonaro por padarias e centros comerciais, enquanto jornalistas e cinegrafistas se aglomeram em torno dele? Desrespeitando as medidas sanitárias... Lição semiótica: não se pode negar transformando em imagem aquilo que é negado, é o triunfo icônico. Negar Bolsonaro ao mesmo tempo que o exibe e o promove é a complexa operação semiótica jornalística nesse momento. Grande mídia e Bolsonaro partilham da mesma visão de Economia, Estado e Sociedade. Por isso, acompanhamos uma polarização simulada fabricada por um jornalismo tão asséptico quanto álcool em gel - promove o isolamento social por um ponto de vista de classe média em espaçosas casas. Enquanto os pobres se apinham nas periferias, ressentido... E Bolsonaro está à espera deles.

sábado, abril 11, 2020

Curta da Semana: "The Bumbry Encounter" - Ufologia e tensão racial


O Caso Hill é um marco na Ufologia e um paradigma para todas as narrativas de abduções: um casal inter-racial em 1961 teria sido abduzido por aliens em uma estrada noturna. Num contexto da paranoia da Guerra Fria e o crescimento dos conflitos raciais nos EUA, o caso teve diversas interpretações sócio-psicológicas, lembrando a abordagem de Carl G. Jung sobre o fenômeno UFO: num mundo à beira do apocalipse, sempre buscamos a salvação no céu. O curta “The Bumbry Encounter” (2019) usa o elemento da ficção científica como veículo para discutir o tema – na verdade, somos todos abduzidos. Mas não por Ets, mas pelos próprios conflitos e tensões produzidos pela sociedade.

quinta-feira, abril 09, 2020

Coronavírus: o sistema operacional que roda em Brasília e a reengenharia social


O leitor deste Cinegnose deve lembrar do filme “Ela” (Her, 2013) no qual um homem triste e solitário se apaixona pela voz de uma Inteligência Artificial, sem prestar atenção no sistema operacional que roda por trás da interface da tela. A situação desse protagonista é análoga ao atual cenário político e opinião pública sequestrados pela sofisticada guerra criptografada que pula na interface como ícones em uma tela: Bolsonaro X Mandetta, Negacionistas X Ciência, Weintraub X China, Bonsonaro X General Braga Neto, Bolsonaro X governadores, e assim “ad infinitum” numa espiral de simulações de polarização. De repente, por contraste, Mandetta, Doria e Witzel surgem como faróis da Razão e da Ciência. Quando, há não muito tempo, desmontavam o SUS, atiravam em “cabecinhas” e mandavam a polícia atirar em bailes funks. Todos hipnotizados por uma interface criptografada, enquanto por trás roda um sistema operacional (SO) com atores em piloto automático, criando dissonâncias, conflitos e “golpes brancos” para excitar o distinto público. Atores que se promovem mutuamente, enquanto o SO, oculto pela criptografia roda a sua agenda secreta da Operação Pandemia global: com recursos públicos injetar liquidez no cassino financeiro, reciclar figuras da extrema-direita para um futuro cenário pós-polarização, com Bolsonaro impedido e PT com registro cassado e... monitorar celulares dentro de uma nova reengenharia social. 

domingo, abril 05, 2020

Quando a Publicidade se torna uma mitomania em "A Casa"


Um publicitário passa quase uma vida inteira vendendo imagens de realizações de sonhos, desejos e fantasias. Vende imagens daquilo que supostamente nós mereceríamos: felicidade, carros de luxo, famílias “doriana” perfeitas, casas amplas em tons pastéis etc. E se ele acreditar tantos nessas imagens que vendeu por anos e achar que agora é a vez dele merecer tudo isso? E se de tanto repetir uma mentira, passar a acreditar nela, tornando-se um mitômano obsessivo e perigoso? Esse é o filme “A Casa” (“Hogar”, 2020), aposta da Netflix num filme espanhol que claramente tenta seguir a trilha do sucesso do coreano “Parasita”: desigualdade social e luta de classes escamoteada por uma maquinação tramada contra uma família rica e bem-sucedida. Quase sempre, publicitários no cinema são figurados entre mentirosos arrependidos ou cínicos. Mas “A Casa” inova ao mostrar as consequências de uma mitomania: um profissional que confunde sua própria vida com as imagens de seu próprio portfólio publicitário. Filme sugerido pelo nosso colaborador Felipe Resende.

sábado, abril 04, 2020

O "meteoro" midiático coronavírus: o dinheiro público é o papel higiênico do cassino financeiro


A narrativa da grande mídia sobre a pandemia do novo coranvírus (a “Teologia do COVID-19”) basicamente se desenrola através de dois plots principais: Primeiro, de que um “meteoro” (o ministro Paulo Guedes usou também essa expressão) atingiu a economia derrubando as bolsas e trazendo desemprego; e segundo, de que o vírus original veio de um morcego, pangolins ou bananas numa úmida e suja feira de rua chinesa. “Profeticamente”, palavra por palavra dos cenários simulados no “Event 201: Global Pandemic Exercise” em outubro de 2019 (organizado não por cientistas ou pesquisadores, mas por representantes do “Big Money” e da “Big Pharma”) está se concretizando: cenários e mais cenários foram detalhados examinando o que aconteceria nos mercados de capitais, telejornais grande mídia, mídia independente, colapso das bolsas de valores, a extensão do vírus a algo de 65 milhões de pessoas e assim por diante. Não fosse a pandemia, 2020 seria marcado por um crash financeiro global mais violento que de 2008. O colapso ocorreu, mas sob a narrativa midiática do “meteoro” que torna invisível para o distinto público uma fato: de que o dinheiro público é o papel higiênico do cassino financeiro global.

quarta-feira, abril 01, 2020

Plano Astral em guerra: Magia do Caos, o movimento antifascista e a Corrente 108


Além da análise fílmica, esse Cinegnose vem se dedicando ao longo desses anos à engenharia reversa das bombas semióticas nos seus diversos cenários políticos (guerra híbrida, guerra criptografada etc.) – bombas persuasivas, retóricas e de manipulação para conquistar corações e mentes e criar uma paródia de opinião pública. Mas outra guerra está sendo travada, no cenário etéreo, energético ou do Oculto: uma “baderna Magicka” – criação verdadeiras “bombas magickas” nas quais são condensados “sigilos”, formas astrais e “mantras mágickos”, como forma de atacar a egrégora bolsonarista e ao mesmo tempo energizar uma egrégora antifascista. Apresentamos nesse Cinegnose uma resposta da escritora e ocultista Lua Valentia à postagem deste blog sobre o livro “Dark Star Rising – Magick and Power in the Age of Trump”: como a extrema-direita manipula elementos da Magia do Caos na rede digital global que substituiria o Plano Astral. Lua Valentia mostra que o movimento da Magia do Caos não está “infestado de fascistas”: de fato, aqui no Brasil, existe um movimento antifascista – o movimento caoista representado pela “Corrente 108”.

domingo, março 29, 2020

Em "Vivarium" o micro e o macrocósmico se encontram na prisão da família e do casamento


“Para onde foi todo mundo?”, pergunta-se um jovem casal que foi conhecer a casa perfeita para comprar em um subúrbio de classe média. Mas que se veem de repente presos em um misterioso labirinto em loop de casas idênticas, estranhamente hiper-reais, com suas cercas brancas, grama verde e um céu azul com nuvens perfeitas que lembram os quadros surrealistas de René Magritte. Será que estão presos em uma armadilha hiperdimensional? Uma metáfora da prisão do casamento e da família no qual o micro e o macrocósmico se encontram? Esse é o filme “Vivarium” (2019), um curioso híbrido de ficção científica e terror, co-produção belga-irlandesa-dinamarquesa. Um filme ambicioso que pretende explorar um grande arco simbólico que começa com o Paradoxo de Fermi na Cosmologia (“para onde foi todo mundo?”) até chegar as alusões ao pintor Magritte, ao misticismo do número nove e da cor verde que domina aquele subúrbio – a síntese do sonho da classe média americana. Filme sugerido pelo nosso colaborador Felipe Resende.

quinta-feira, março 26, 2020

Filme "O Poço" explicado: a arapuca cósmica que tira o pior de nós


Nesses dias de confinamento obrigatório por conta da pandemia do coronavírus, assistir ao filme espanhol “O Poço” (“El Hoyo”, 2019), disponível na plataforma Netflix, é uma boa pedida: um filme repleto de referências, alusões e simbologias sociais, políticas e religiosas. E com um final enigmático que faz você se perguntar: “perdi alguma coisa?”. E com tempo sobrando, assistir ao filme outra vez ou correr cenas específicas. Protagonistas presos em uma espécie de experimento psicossocial sádico: uma prisão vertical com uma cela em cada nível. Duas pessoas por cela. E uma plataforma com comida que desce por um poço central. Cada nível terá dois minutos por dia para comer o que puder. Até não sobrar nada para os níveis mais inferiores. Uma gigantesca armadilha que cria um pesadelo sem fim, mas que simboliza a própria condição humana que nos aguarda quando chegamos a essa vida: medo, solidão e desespero que tira o pior de nós. 

terça-feira, março 24, 2020

A luta de classes zumbi em "Corona Zombies": o primeiro filme baseado no coronavírus


Presidentes não fazem nada, os ricos (os primeiros vetores da contaminação) estão indiferentes com os mais pobres, enquanto o consumismo-pânico dos ricos acaba com estoques de papel higiênico, álcool em gel e máscaras. Milhões morrem... para depois retornarem das tumbas como zumbis, em busca de vingança contra o andar de cima da sociedade. Esse é o terror B “Corona Zombies”, já em fase de pós-produção e com lançamento previsto para 10 de abril através da Amazon Prime (EUA) e da plataforma de streaming da produtora Full Moon Features. Um filme de baixo orçamento, terror B “exploited”. Muitos dirão que é de “mau gosto” explorar de forma oportunista um drama ainda em andamento. Mas o forte comentário social de “Corona Zombies” nos alerta sobre algo ignorado. A mídia nos tranquiliza dizendo que, depois de tudo acabar, a vida voltará ao normal. Não! Nos defrontaremos com o pós-apocalipse econômico, emocional e familiar... e, talvez, zumbis em busca de vingança?

domingo, março 22, 2020

Coronavírus e o "sonho erótico totalitário": jornalismo no álcool em gel, panelas e papel higiênico


Quando, depois de mais de um ano de governo Bolsonaro, jornalistas do canal Globo News conseguem finalmente ligar lé com cré (admitir que as declarações do presidente não são “polêmicas” mas propositais) é porque realmente vivemos momentos muito especiais – bairros de classe média que votaram pesado no “17” agora batem panela gritando “Fora Bolsonaro!”, enquanto papel higiênico e máscaras desaparecem num típico comportamento irracional de psicologia das multidões. Além de assistirmos a um jornalismo asséptico, mergulhado no álcool em gel: fala em “solidariedade” enquanto ignora a distribuição desigual dos prejuízos. Para começar, dos mercados financeiros em relação à economia real. Essas são facetas da Pandemia do Coronavírus, revelando sua natureza de “domínio total de espectro”. Aquilo que, segundo o filósofo Slajov Zizek, representa “o sonho erótico de qualquer regime totalitário”. Não sejamos ingênuos semióticos: uma coisa é a ameaçadora mutação viral do novo coronavírus. Outra, é quando essa mutação vira um signo midiático, o sonho de qualquer regime totalitário.

sexta-feira, março 20, 2020

Os círculos dos vivos e dos mortos no horror sul-africano "8"


“8” (2019) é um horror sul-africano que foge totalmente os cânones do horror e do gótico euro-hollywood cêntrico. A partir da tensão racial como pano de fundo (os eventos ocorrem no auge do apartheid nos anos 1970) uma família branca é assombrada pela mitologia ancestral negra sul-africana, fugindo do tradicional maniqueísmo do gênero e figurar o confronto do Bem e Mal, Vida e Morte dentro dos ciclos da Natureza – a Morte capaz de tirar a vida, mas também capaz de criar vida. E o simbolismo mágico do número oito: o símbolo do infinito e do constante fluxo de energia. No caso do filme, o infinito intercâmbio entre vida e morte. O número que consiste em dois círculos ou anéis que se interligam e interagem: o mundo dos vivos e dos mortos. Filme sugerido pelo nosso colaborador Felipe Resende.

domingo, março 15, 2020

Coronavírus: circuit breaker político, engenharia social e domínio de espectro total


Enquanto a grande mídia ocidental sustenta a narrativa de que o epicentro da Pandemia do COVID-19 estave numa feira de rua suja e úmida na China, reportagens da mídia do Japão e Taiwan começam a levantar evidências de que esse novo coronavírus teria sua origem nos EUA. Isso depois do repentino fechamento no ano passado de um laboratório de armas biológicas em Maryland, por ausência de salvaguardas contra vazamentos patógenos. Em seguida ocorreram crises de “fibrose pulmonar” nos EUA, cuja culpa foi colocada nos cigarros eletrônicos. Juntamente com a “coincidência” da realização dos Jogos Mundiais Militares em Wuhan pouco tempo antes da eclosão da crise, provavelmente o “Evento do Cornavírus” entrará para a História como um dos maiores eventos de engenharia social da humanidade. Marcará o início de uma nova era da biopolítica e bioeconomia: “circuit brakers” que extrapolam a simples ferramenta de frear um mercado financeiro em crise – uma nova forma de consenso social ao colocar todo o cotidiano dos indivíduos e cenários políticos em suspensão. Uma gigantesca “psy op” para criar o cenário geopolítico perfeito de “domínio total de espectro”. 

sábado, março 14, 2020

Série "Rick e Morty": qual bateria o nosso universo alimenta?


Rick and Morty (2013-) é uma das séries de animação atuais que mais explora a complexidade da mitologia gnóstica. Mas não apenas como um simples sci-fy: fã da dupla Doc e Marty do filme clássico “De Volta Para o Futuro”, o criador Justin Roiland queria fazer uma releitura, mas sem viagens no tempo e indo mais além - como a descoberta de infinitos planetas e multiversos (às vezes com versões melhoradas de nós mesmos) nos leva à amoralidade, o niilismo e o relativismo existencial. Mas é no episódio “The Ricks Must Be Crazy” que a série consegue materializar a totalidade da cosmologia gnóstica: mundos dentro de mundos criados com uma única finalidade – manter a bateria do veículo de Rick funcionando. E o nosso mundo, gera energia para quem? Teurgia, Alquimia e Vale do Silício se encontram num dos melhores episódios da série.

domingo, março 08, 2020

Curta da Semana: "Mobile" - a urgência "glocal" do telefone celular


Nossos dispositivos tecnológicos são cada vez mais “glocais”: o contraste entre o global e o local acaba desaparecendo e se fundindo no tempo real das redes digitais. E o celular é o dispositivo que mais captura essa natureza ao mesmo tempo dicotômica e ubíqua. Tudo ao mesmo tempo tão longe e tão perto, o que traz o imperativo moral de não mais ignorarmos crises humanitárias, sociais e políticas, cada vez mais “glocais”. “Mobile” (2018), do diretor norueguês Truls Krane Meby, traz essa discussão sobre as novas tecnologias de comunicação ao narrar o drama de um jovem refugiado sírio estabelecido na Noruega. Tendo o celular como única ferramenta para ajudar sua família, em situação de perigo na fronteira dos Balcãs.

sábado, março 07, 2020

O preço perigoso das tecnologias do espírito no filme "Perfect"


Estreando em longas metragens, o diretor Eddie Alcazar faz uma extrapolação alucinatória das tendências atuais do aprimoramento cosmético do autoconhecimento através de uma viagem sensorial que combina ficção científica com horror corporal ao estilo Cronenberg. “Perfect” (2019) é um filme que lembra a narrativa sensorial e abstrata de “Mãe!” (2017) de Darren Aronofsky, no qual a viagem interior do protagonista combina com arquétipos e mitologias gnósticas. Um jovem psiquicamente perturbado é enviado para uma clínica com sofisticada tecnologia de reprogramação mental através de “implantes microbiônicos” no corpo do paciente, descobrindo da pior maneira possível o preço da “pureza da mente”. As atuais tecnologias do espírito prometem o sucesso ilimitado do autoconhecimento. Mas a viagem interior pode encontrar os mais perigosos instintos que ligam às nossas origens ancestrais.

quinta-feira, março 05, 2020

Coronavírus: quem está ganhando com a simulação de pandemia?


“Não é motivo para pânico”, afirma a infectologista, enquanto o efeito de cenário virtual mostra dois gigantescos modelos 3D do novo coronavírus girando no estúdio, como se ameaçassem jornalista e entrevistados. Esse flagrante no Fantástico da Globo é o padrão recorrente da atual cobertura da ameaça de pandemia: a presunção da catástrofe induzida por uma narrativa ambígua que gera confusão e medo. Igual as chamadas “fake news”, o álibi da grande mídia para se livrar de qualquer suspeita.  Por que essa ambiguidade deliberada? Quem está ganhando? Talvez a resposta esteja lá em outubro de 2019, no “Event 201 - A  Global Pandemic Exercise” realizado no Johns Hopkins Center for Health Security, Baltimore. DOIS MESES ANTES da atual crise, o evento realizou uma simulação cuidadosamente projetada de uma possível epidemia de coronavírus, então chamado de “nCoV-2019” – muito próximo do acrônimo atual. Seguindo o mesmo “modus operandi” dos supostos atentados terroristas na Europa e EUA dos últimos anos, sempre antecipados por exercícios de simulação.

sábado, fevereiro 29, 2020

Coronavírus: Epidemia? Pandemia? Ou infodemia semiótica?


Quanto mais passa o tempo e quanto mais a cobertura midiática se transforma numa guerra de versões, a epidemia da estação, o novo coronavírus (depois de SARS, ebola, gripe aviária, gripe suína, que prometiam a letalidade de uma gripe espanhola ou da própria peste negra), mais revela a sua função social de manter a ordem por meio de uma calamidade natural externa. Epidemia? Pandemia? Arma biológica criada em algum laboratório secreto? Mais do que tudo isso: o novo coronavírus se revela uma verdadeira arma na guerra da informação – uma “infodemia” com alto rendimento semiótico. De um lado, na geopolítica dos EUA que se esforça em quebrar a crescente participação da China na cadeia produtiva global. E do outro, na narrativa da grande mídia brasileira reeditando o “jornalismo de conjunções adversativas” em que bolsa cai e dólar dispara porque foram viralmente infectados: a economia “agora vai!”, MAS... só que não! E a culpa são dos chineses, italianos... a infodemia de expectativas é tão especulativa quanto o estouro das bolhas do cassino das bolsas de valores ao sabor das notícias da epidemia ajudam a derrubá-las.
“Quem quer manter a ordem?
Quem quer criar desordem?
Não é tentar o suicídio
Querer andar na contramão?”
(“Desordem”, Titãs)

quarta-feira, fevereiro 26, 2020

Um quebra-cabeça paranoico no filme "Entre Realidades"


Sarah é uma jovem comum que vive uma vida muito comum: trabalha em uma loja de artesanato, adora cavalos e assiste sua série sci-fy favorita em casa todas as noites. Mas quando Sarah conhece um cara que ela gosta, começa a ter estranhos sonhos lúcidos que passam a se confundir com a realidade. Com histórico familiar de esquizofrenia e depressão, Sarah é aquilo que a narratologia chama de “narradora não confiável”. Mas o problema para o espectador é que sonho e realidade começam a ter uma estrutura lógica envolvendo aliens, abduções, clones e loops temporais. Haveria algo além de supostos surtos esquizofrênicos? “Entre Realidades” (“Horse Girl”, 2020) é um quebra-cabeça paranoico da Netflix na qual o espectador terá que se defrontar com truques narrativos e pistas tanto falsas como verdadeiras para responder essa questão: será que aquilo que entendemos como realidade é apenas o resultado da nossa percepção? Filme sugerido pelo nosso colaborador Felipe Resende.

domingo, fevereiro 23, 2020

Edison versus Tesla: o mistério do dispositivo para conversar com os mortos


Quase meio século depois de ter inventado a lâmpada incandescente e o fonógrafo, o inventor e empresário Thomas Edison enfrentou o físico sérvio Nikola Tesla na última batalha das invenções: criar um dispositivo para conversar com os mortos – o telefone espiritual, uma espécie de “disque-fantasma”. Embora fosse agnóstico e crítico feroz das sessões espíritas, muito populares na virada do século, Edison acreditava que a conexão com o Outro Mundo somente poderia ser realizada através da Ciência. Em si mesma, a eletricidade era, e ainda é, misteriosa: embora faça parte do nosso cotidiano, ainda não sabemos a real natureza dessa força – ela parece possuir todas as propriedades das velhas mitologias animistas do passado. Enquanto Tesla buscava essa comunicação com o Além através do rádio, Edison optou pelo telefone. Assim como o fonógrafo foi recebido como a realização do antigo sonho da imortalidade, Edison via no sinal telefônico a possibilidade de se comunicar com “partículas imortais”. Esse é mais um capítulo da História de como o avanço tecnocientífico é alavancado pelo misticismo e por mitologias milenares.  

sábado, fevereiro 22, 2020

Fascistas e invisibilidade midiática não se combatem com flores


O mais importante na grande mídia não é o que ela pauta. É o que ela não diz. O jornalismo corporativo tem o dom de atribuir invisibilidade a fatos que não atendem a atual pauta que sustenta a estratégia semiótica de guerra criptografada: a pauta identitária, cultural e de costumes. A invisibilidade do documentário “Democracia em Vertigem” na premiação do Oscar e os 20 dias de greve dos petroleiros são exemplos: depois que o documentário “perdeu” e a greve foi suspensa, de repente a mídia descobriu que existiam, mas como “derrotados”. O que há em comum nesses fatos “invisíveis”? São contra-pautas – revelam temas econômicos que mostram a insustentabilidade da agenda neoliberal. Grande mídia fala agora em impeachment de Bolsonaro depois do ataque à jornalista Patrícia Campos? Agora colunistas da grande mídia descobriram o “projeto de poder autoritário” de Bolsonaro? Mais uma tática de jornalismo Snapchat que hipnotiza a esquerda. Mas a retroescavadeira de Cid Gomes jogada contra policiais milicianos amotinados no Ceará mostra que não se combate o fascismo com flores, mas com uma contra-pauta que faça a esquerda abandonar as lacrações das guerras identitárias-culturais. 

quinta-feira, fevereiro 20, 2020

Curta da Semana: "World of Tomorrow" - clonagem, memória e esquecimento


Em um futuro próximo uma criança atende um chamado em um videofone. É ela própria, 227 anos no futuro. Na verdade, um clone seu na terceira geração. Na busca da imortalidade, uma elite abastada passou a clonar corpos e memórias. Cópias de cópias, copiando-se a si mesmas. Mas alguma coisa se perde na sucessão de gerações de clones – eles nunca são autênticos: o futuro é tomado por uma nostalgia daquilo que não se consegue mais lembrar. Indicado ao Oscar de melhor curta de animação em 2016, “World of Tomorrow” é uma narrativa criativa comovente e engraçada de um tema melancólico. Na busca da imortalidade, a tecnologia tenta traduzir digitalmente aquilo que nos torna humanos: as memórias. Assim como a arte perde a “aura” na reprodutibilidade técnica, também corpos e memórias clonadas perderão algo que jamais conseguiremos lembrar. 

domingo, fevereiro 16, 2020

Cinco programas da TV (+ um bonus track) que "previram" a política atual: vida imita a arte?


Série “Mundo da Lua”, “TV Pirata”, “Sai de Baixo”, “A Grande Família” e “Pânico na Band”. O que esses produtos audiovisuais da TV brasileira dos anos 1990 e começo dos 2000 têm em comum com a atual realidade política? Nos últimos dias, muitos internautas vêm apontando nas redes sociais “coincidências” ou “previsões” que estariam se realizando no atual cenário político. Muitos falam: “a vida imita a arte”. Mas é muito mais do que esse lugar-comum. A estratégia bolsonarista de guerra criptografada e do chamado “domínio total do espectro” transita por uma espécie de “twilight zone” entre ficção e realidade - a realidade faz uma bizarra paródia da ficção e, paradoxalmente, valida-se como “realidade” ao aproximar-se da ficção midiática. E, tal como a sineta de Pavlov, faz salivar de ódio todo espectro da esquerda: identitária, namastê, parlamentar... O “Cinegnose” analisa cinco “profecias” (e + um “bônus track”) revelando como a estratégia militar bolsonária se serve do contínuo midiático para emular narrativas ficcionais para o “controle do espectro”

quarta-feira, fevereiro 12, 2020

Por que "Parasita" ganhou o Oscar?... É a geopolítica, estúpido!


Nem o mais otimista crítico poderia imaginar que a Academia, profundamente arcaica, quebrasse a tradição e premiasse com o Oscar máximo um filme falado em língua estrangeira. O drama satírico sul-coreano com forte crítica social à forma mais avançada de exploração capitalista (o capitalismo cognitivo), “Parasita”, de Bong Joon-ho, levou a estatueta de Melhor Filme – além de Roteiro Original, Filme Estrangeiro e Diretor. O que levou a Academia quebrar a tradição de 93 anos? Uma distribuidora independente que fez uma campanha excelente? Um diretor carismático que conquistou amizades em Hollywood? O momento atual em que as mídias sociais e plataformas de streaming estão ditando as regras? Ou seria o resultado de um movimento unificado por diversidade? É a geopolítica, estúpido! Desde o crash de 2008, a Academia tem premiado temas recorrentes, que atendem à agenda econômica e política externa. Mas a geopolítica mudou quando a China se tornou mais poderosa do que foi a União Soviética no passado. E Bong Joon-ho está no lugar certo e na hora certa: o tema da desigualdade entrou na agenda da democracia liberal diante da ascensão da maior ameaça anti-globalização: o nacional-populismo de extrema-direita. 

segunda-feira, fevereiro 10, 2020

A Luta de classes no Capitalismo Cognitivo em "Parasita", vencedor do Oscar

O diretor sul-coreano Joon-ho Bong é um especialista no tema luta de classes. Seus filmes como O “Expresso do Amanhã” e “Okja” são variações sobre um tema cada vez mais aprofundado pelo diretor. Até chegar a “Parasita” (Gisaengchung, 2019), o grande vencedor do Oscar (melhor filme, diretor, filme estrangeiro e roteiro original), sua reflexão mais profunda tomando como cenário o chamado “Capitalismo Cognitivo”: “não-pessoas” com seus celulares e cercados de tutoriais e aplicativos, prontos para subempregos terceirizados – forma avançada de capitalismo na qual os patrões tornam-se invisíveis e a luta de classes oculta em camadas de apps. Desempregados e “uberizados”, a família Kin-taek passa a se interessar pela família Park. Ricos, terceirizam na sua residência todos as necessidades cotidianas. É a chance dos Kin-taek arrumarem um emprego mais estável. Mas uma perturbadora revelação trará consequências catastróficas para todos os envolvidos.

domingo, fevereiro 09, 2020

Rodrigo Bocardi: tautismo da Globo morre pela boca


Racismo estrutural. Essa foi a acusação nas redes sociais contra o apresentador do telejornal “Bom Dia São Paulo”, Rodrigo Bocardi. A polêmica surgiu quando do estúdio, numa entrada ao vivo com um repórter numa estação do metrô, o apresentador interviu confundindo um jovem negro como gandula de quadras de tênis do Esporte Clube Pinheiros, clube de elite paulistana. Na verdade, era atleta da equipe de polo aquático do clube. O apresentador teria dado uma mostra do racismo brasileiro cotidiano e invisível – o chamado “racismo estrutural”. O problema é que ao transformar o jornalista em “Judas” amarrado ao poste para o linchamento público, é como se assumisse a função de bode expiatório. Para expiar, purificar o jornalismo. O racismo ao vivo foi apenas um nódulo de algo mais estrutural que compõe o atual campo jornalístico: a “saga dos cães perdidos” - metáfora do jornalista como um cão que perdeu o faro e se perdeu na origem psicológica de todos os lapsos éticos da profissão: a inveja criada pela diferença de classe social diante de entrevistados poderosos ou marginalizados, o que leva a ambição de acúmulo rápido de capital simbólico: busca de autoridade e prestígio. Somado ao tautismo midiático, Bocardi mordeu a própria isca da metalinguagem autopromocional que estrutura os telejornais atuais. 

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