quarta-feira, agosto 26, 2020

Mídia corporativa sacrifica seus próprios repórteres à humilhação e lacração das esquerdas



Desde o chamado “escândalo da Wikipédia” em 2014, no qual os perfis na enciclopédia digital de Carlos Sardenberg e Miriam Leitão teriam sido adulterados pelo “Palácio do Planalto”, a mídia corporativa sacrifica seus jornalistas à humilhação pública para criar uma estratégia semiótica de “isenção”. Desde o primeiro dia de Governo Bolsonaro, docilmente os jornalistas se submetem aos “cercadinhos” e agressões do presidente, enquanto seus patrões se limitam a notas protocolares de indignação. E os editoriais passam o pano.  É o jogo do Consórcio Militar-Judiciário-Midiático que facilmente coopta as esquerdas: agora festejam a suposta “atuação inédita da oposição ao presidente nas redes sociais” - as mais de um milhão de mensagens uníssonas repetindo a pergunta “presidente, porque Michellle recebeu 89 mil de Fabrício Queiroz?”.  Apenas dão pernas às notas burocráticas da grande mídia e associações de imprensa. Como sempre, reativamente continua prisioneira da pauta agendada pelo Consórcio.

Os leitores devem se lembrar do “escândalo da Wikipédia”: a “denúncia” de que os perfis na Wikipédia dos jornalistas Miriam Leitão e Carlos Sardenberg, da Globo, teriam sido adulterados com a inserção de difamações e críticas. E a suspeita estava no Palácio do Planalto porque o endereço virtual teria vindo de uma rede de wi-fi pública do local... que o jornal O Globo dizia ser “da presidência”.

Naquele momento de início do período crítico da guerra híbrida brasileira, a grande mídia inaugurava as bombas semióticas das não-notícias – tipo de jornalismo no qual o próprio jornalista cria fonte para turbinar uma não-notícia. E no caso, uma fonte em que a própria Wikipédia negava a si mesma como fonte primária de informação – sobre isso leia o trepidante livro desse humilde blogueiro “Bombas Semióticas na Guerra Híbrida Brasileira (2013-2016): Por que aquilo deu nisso?” – clique aqui.

Bomba semiótica autofágica, em que a emissora oferecia suas próprias estrelas do jornalismo como vítimas de um suposto acharque autoritário da presidência na tentativa de intimidar a liberdade de imprensa, da crítica e bla,blá, blá...

É notório que desde o primeiro dia do governo Bolsonaro os repórteres estão sendo deliberadamente oferecidos à imolação pública pela mídia corporativa.

No dia da posse no dia primeiro de janeiro de 2019, Bolsonaro fez questão de humilhar os jornalistas: todos foram obrigados a ficar confinados num cercadinho sob a mira de snipers espalhados pelos prédios da Esplanada dos Ministérios. Como um recado de que não poderiam fazer movimentos suspeitos para fora do cercado...


Desde então, o capitão da reserva dublê de presidente criou uma estratégia de comunicação na frente do Palácio da Alvorada em que não só ridicularizava repórteres de plantão com ofensas (e galhofas, como envolvendo um comediante, o “Carioca”), mas também os submetia ao assédio dos grupelhos apoiadores do dignatário. Confinados em outro cercadinho, diariamente os repórteres ficavam entre as ameaças de Bolsonaro e dos apoiadores ensandecidos de extrema-direita.

Uma humilhação diária diante da qual a mídia corporativa e associações de imprensa limitavam-se a protestos e indignações protocolares em torno da tão prezada “liberdade de imprensa”.

Mise en scène semiótica 

Depois de um curto período do chamado “Bolsonaro Paz e Amor” no qual o presidente calou a boca, deixando o protagonismo para o campeão do neoliberalismo Paulo Guedes (para a euforia dos analistas econômicos da grande mídia), eis que num rompante a verve retorna: o presidente não gostou ao ser questionado por um repórter de “O Globo” sobre os cheques que teriam sido depositados por Queiroz na conta da esposa Michelle. Ameaçou o repórter: “minha vontade é encher tua boca de porrada” – lembrando os “melhores dias” do velho general Newton Cruz dos tempos da ditadura militar, que chegava a sair no braço com repórteres.




Qual a reação da mídia corporativa a mais esse ataque? Notas protocolares, como a lida por Tadeu Schmidt quase no final do Fantástico do último domingo. Os mais otimistas esperavam um “bafão”, com direito a notícia na escalada do programa dominical com um histórico das agressões presidenciais etc. ... mas nada. Apenas leituras de notas de repúdio “indignadas”.

Para esse Cinegnose tudo não passa de uma mise en scène de guerra semiótica criptografada. Tudo porque sabemos que a grande mídia está umbilicalmente associada ao consórcio com os militares e o Judiciário. Ela equilibra-se entre criar uma aparência, de um lado, de que é contra os extremismo tanto de direita quanto de esquerda (o primor de editorial da Folha “Jair Rousseff” é um exemplo); e do outro, ter de obrigatoriamente apoiar um governo que está implementando o saco de maldades da agenda neoliberal – com apoio irrestrito das casas do Congresso, que blinda Bolsonaro de qualquer ameaça de impeachment. Ameaça que, em si mesmo, já é uma mise en scène semiótica.

Por que “semiótica”? Porque coopta as esquerdas ávidas por entrarem, nem que seja como penetra, nessa “festa”. 

Na blogosfera progressista festeja-se uma “atuação inédita da oposição ao presidente nas redes sociais”: as mais de um milhão de mensagens uníssonas repetindo a pergunta “presidente, porque Michelle recebeu 89 mil de Fabrício Queiroz?” marcando a conta de Bolsonaro foi festejada como “comportamento diferente das habituais mobilizações em massa na rede”. 

Esquerda é reativa

Será que finalmente a esquerda está ganhando a hegemonia da direita alternativa (alt-right) no campo digital? 

Como sempre, a esquerda age de forma reativa, sempre dentro da pauta proposta pelo adversário. Ora, tudo o que a mídia corporativa pretende é criar uma aparência de que é oposição.




Assim como no “escândalo da Wikipédia” em 2014, a grande mídia repete sua manjada tática de oferecer seus jornalistas como peões em sacrifício para serem humilhados e agredidos, enquanto nos editoriais (velada ou explicitamente) dão apoio ao atual Governo. Porque, afinal, tem o apoio da banca financeira que, a cada privatização, turbina a bolsa de valores e atrai a ingênua classe média para espremer o bagaço da renda nacional até o fim.

Como bem lembrou Ângela Carrato, professora do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), se os jornalistas tivessem agido como os do argentino La Nación“não estaríamos nesse fundo do poço” – clique aqui.

Para relembrar o caso, o jornal publicou um editorial colocando em dúvida se havia existido ditadura na Argentina. Tudo para agradar Maurício Macri, então recém-eleito nas eleições presidenciais em 2015. O repúdio dos jornalistas não só foi expresso nas redes sociais, como também se reuniram na redação do El Nación para uma foto em que postavam cartazes em que exigiam que a empresa se retratasse.

Aqui, docilmente repórteres se acomodam na função de peões que são humilhados cotidianamente. Como estratégia semiótica corporativa da grande mídia criar a imagem perante a opinião pública de ser “isenta” e “independente”, enquanto passa o pano (para o léxico dominante de análises e editoriais, o presidente é sempre e apenas “polêmico”) e histericamente defende a “ala técnica” ou “não ideológica” da equipe econômica.

"La Nación": jornalistas reagem a editorial do patrão

A grande mídia é muito mais veemente em acusar Bolsonaro de “fura-teto” e colocar um raivoso Carlos Sardenberg ao vivo no Globo News espinafrando contra as “bondades” do presidente como o Renda Brasil e Casa Verde Amarela, do que nas suas notas protocolares sobre as agressões aos seus empregados.

O mais assustador em tudo isso é que essas notas protocolares ganham uma dimensão ainda maior com a ajuda da própria esquerda que endossa reativamente a pauta proposta pela parceria Bolsonaro-grande mídia.

Até entende-se a motivação psíquica da esquerda em se apegar a essa pauta: VINGANÇA! Depois de anos apanhando do Mensalão e Lava Jato, é chegado o momento da forra: as “rachadinhas”, a “fantástica fábrica de chocolate”, “onde está o Queiroz?”... 

O problema é que tudo isso não tem o menor apelo para altas audiências, assim como foram as HOLLYWOODIANAS delações vazadas pela Lava Jato: contas no Exterior, cifras de milhões de reais, grande empreiteiras, policiais federais nas ruas com armas brilhantes, petistas traidores como Palocci, powerpoints sensacionalistas, coletivas de imprensa de procuradores com feições graves etc.

Como discutíamos em postagem anterior (clique aqui), as bombas semióticas são canastronas: quanto mais se aproximam das narrativas ficcionais com exagero e overact que define a canastrice, mais se tornam verossímeis para a opinião pública.

Escândalos envolvendo o modus operandi do baixo clero não têm o menor apelo – e só por isso, Bolsonaro cresce nas pesquisas. 

Ao contrário, o clã Bolsonaro, em parceria com a grande mídia, promove tudo isso como estratégia semiótica criptografada: simulações para sequestro de pauta e desvio de atenção daquilo que é essencial: a grande aliança das milícias, narcotráfico e crime organizado com a agenda neoliberal da banca financeira. Narcocapitalismo das milícias e PCC aliado ao Anarcocapitalismo de Paulo Guedes.

O quê fazer? Deixar Bolsonaro falando sozinho, enquanto jornalistas viram as costas e se voltam contra os editoriais de seus patrões – hipótese utópica. 

E a esquerda deixar de ser reativamente atrelada às bravatas do presidente, também dar as costas para ele, e voltar as estratégias do campo simbólico para o povão que não pode ficar confortavelmente diante das telas de computadores no isolamento social: chacoalha no transporte público porque precisam sobreviver, obrigatoriamente expostos à pandemia.

Estão mais interessados no auxílio emergencial do Governo do que na resposta à pergunta: “presidente, porque Michelle recebeu 89 mil de Fabrício Queiroz?”.

 

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