sábado, janeiro 30, 2016

No filme "O Novíssimo Testamento" Deus não morreu - apenas se tornou inútil


Deus existe, e ele está em algum lugar em Bruxelas. Arrogante e grosseiro, passa os dias digitando em um computador ultrapassado regras para tornar a vida de todos um inferno. Mas o que ninguém sabe é que Ele tem uma filha que está decidida a ser mais bem sucedida do que seu irmão, Jesus – libertar a humanidade do jugo de um Demiurgo através do Novíssimo Testamento. Esse é o filme “O Novíssimo Testamento” (Le Tout Nouveau Testament, 2015) do belga Jaco van Dormael, uma comédia de humor negro blasfema, herética mas, principalmente, gnóstica: se soubéssemos o momento exato da nossa morte, paradoxalmente viveríamos melhor a vida que nos resta, sem o medo do caos e do aleatório que impedem o nosso livre-arbítrio. Para Van Domael, Deus não morreria, mas se tornaria inútil.

O que faria o leitor se soubesse o dia, a hora e o minuto exato da sua morte? Continuaria levando a vida normalmente cumprindo seus deveres e reponsabilidades à espera do fim? Ou mandaria tudo às favas e realizaria tudo aquilo que seus deveres e responsabilidades não deixavam?

Mas quem enviou essa informação tão precisa e perturbadora? Uma pessoa que teve acesso ao computador de Deus, roubou as informações e, por vingança, as enviou para todos os celulares do planeta via mensagem SMS.

sexta-feira, janeiro 29, 2016

Cidade de Santos vive no caos semiótico


Descer a serra para a Baixada Santista (litoral de São Paulo) é uma curiosa experiência. Sair da cidade de São Paulo, onde a Lei Cidade Limpa erradicou a poluição visual de outdoors e fachada comerciais, e entrar na cidade de Santos é uma experiência impactante: o acúmulos de totens, outdoors, imensas placas de fachadas, displays etc. Mas há algo de intrigante na cidade: não é apenas a poluição visual por acúmulo e adição. Há um estranho fenômeno que poderíamos chamar de “caos semiótico” – pet shop que se confunde com buffet infantil, igreja evangélica que parece um depósito de galões de água mineral, uma casa de colchões que lembra a fachada de uma casa noturna e escola que emula parque temático. É a semiótica mimética por imitação, pastiche, estilização e contaminações visuais.

Esse humilde blogueiro costuma passar as férias escolares na cidade natal de Santos/SP. Sair de São Paulo, descer a serra e chegar na cidade do litoral é uma experiência curiosa: na estrada já começamos a nos deparar com outdoors, mídia publicitária que foi banida da cidade de São Paulo com a Lei Cidade Limpa.

domingo, janeiro 24, 2016

Wall Street autoconsciente e cínica no filme "A Grande Aposta"


Desde os anos 1980 fundos de investimento de Wall Street investem em Hollywood nos chamados estúdios independentes. Ironicamente, os mesmos estúdios que inventaram o subgênero “cinema da crise” que desde o crash da bolha especulativa imobiliária de 2008 denunciam as “fraudes” e “mentiras” de Wall Street em diversos documentários e dramas ficcionais. O filme “A Grande Aposta”, indicado ao Oscar desse ano, é mais uma dessas produções supostamente críticas, mas ironicamente financiadas pelo próprio sistema que denuncia. Wall Street é autoconsciente e cínica ao financiar filmes como “A Grande Aposta”? Será que  toda “ganância é boa” ao ponto do sistema financeiro lucrar com a própria denúncia de si mesmo?

As ondas da crise financeira global de 2008 continuam se espalhando não só nas tendências econômicas, mas também no universo cinematográfico. Foi capaz de criar uma espécie de subgênero que poderíamos denominar como “cinema da crise”: Capitalismo - Uma História de Amor (2009), A Ascensão do Dinheiro (2009), O Último Dia do Lehman Brothers (2009), Trabalho Interno (2010), Margin Call: O Dia Antes do Fim (2011), O Lobo de Wall Street (2013), para ficar nos mais conhecidos.

Sejam documentários ou narrativas ficcionais, esses filmes têm em comum o esforço em tentar explicar aos leigos a terminologia hermética dos sistemas financeiros como subprimes, swaps, agências de classificação de risco, CDO sintética, CDO composta, obrigações hipotecárias, tranches etc.

sexta-feira, janeiro 22, 2016

Curta da Semana: "Don't Hug Me, I'M Scared" - o mundo é o inferno das boas intenções


Fenômeno viral na Internet, a série de curtas “Don’t Hug Me, I’M Scared” (2011-2015) de um coletivo de artistas ingleses misturam fantoches, animações 3D e artistas fantasiados de animais, num assustador mix de Vila Sésamo e Backyardigans com o último pesadelo de David Lynch. Para mostrar às crianças que o mundo é um inferno de boas intenções. Os curtas começam com a linguagem dos tradicionais vídeos educativos cheios de boas intenções e saudáveis lições de moral: os temas são abstratos e existenciais (Tempo, Amor, Criatividade) e práticos (comida saudável e computadores). Mas as boas intenções se convertem em momentos sangrentos e de surreal humor negro, mostrando às crianças uma lição sobre o mundo dos adultos as espera: boas intenções amigáveis e altruístas se transforam em infernos autoritários. Curta sugerido pelo nosso leitor Francisco Narde.

Os vídeos educativos atuais fazem um trabalho razoável de ensinar a crianças e jovens habilidades básicas como matemática, linguagem e outros diversos conteúdos escolares. Mas ainda não conseguem tratar de certos temas que, apesar de intangíveis, farão parte do cotidiano no futuro: medos existenciais, a religião, o tempo, a morte, a disciplina e a obediência.

quinta-feira, janeiro 21, 2016

Faça parte do Clube de Assinantes "Projeto Cinegnose 360 Graus"



            Fazer parte do Clube de Assinantes do Projeto Cinegnose 360 Graus ajudará não só a manter o blog como também o assinante ganhará acesso a conteúdos exclusivos como livros, revistas e camisetas. Como esse humilde blogueiro explica no vídeo abaixo:

segunda-feira, janeiro 18, 2016

"Cinegnose" passou para o Top 100 do Prêmio Top Blog. Continue votando!


Depois de sete meses de votações dos internautas saiu o resultado da primeira fase do Prêmio Top Blog 2015: o "Cinema Secreto: Cinegnose" está no Top 100 da categoria Arte e Cultura. Agora, entra na segunda fase de votações dos internautas e avaliações de um júri técnico.

O “Cinegnose” agradece aos internautas leitores e seguidores os votos que levaram esse blog ao segundo turno.

Vamos tentar repetir a performance de 2012 quando o “Cinegnose” chegou à final da categoria entre os três finalistas – o Top 3. Naquela oportunidade o blog ficou em segundo lugar. Quem sabe dessa vez levamos o prêmio!

Por isso nesse segundo turno contamos novamente com o voto dos nossos amigos leitores e os novos seguidores que estão chegado agora no “Cinegnose”.

Vote clicando no selo abaixo.

O Top Blog é um projeto de incentivo cultural baseado em informação democrática e colaborativa. Desde 2008, premiou, mediante votação popular e técnica, os melhores blogs nacionais de acordo com seus temas e abordagens. Em 2015, após ser adquirido por um grupo de investidores com experiência no mundo digital, retorna sob nova gestão, mantendo sua essência original, porém adequado a um novo cenário de produção e consumo de conteúdo na internet.

domingo, janeiro 17, 2016

Por que "O Regresso" é o favorito ao Oscar?


Com doze indicações para o Oscar 2016 com o filme “O Regresso”, mais uma vez o diretor Alejandro Iñarritu está no centro das atenções: se no ano passado com o premiado “Birdman” homenageou o verniz artístico de Hollywood (a Broadway), agora é a vez do diretor fazer um tributo aos elementos mais caros da propaganda da política externa dos EUA: o sobrevivencialismo como nova tradução do individualismo e o temor das investidas dos inimigos interno (o traidor) e externo (malditos franceses!). Mas em “O Regresso” esses elementos foram imersos em camadas de simbolismos místicos, xamânicos e religiosos que transformaram DiCaprio em um santo medieval atormentado por visões. Iñarritu prova ser um “insider” – parece saber como ninguém atingir os corações da Academia de Cinema.

Tudo é primal em O Regresso: a selvageria do homem contra o homem, o persistente desejo de vingança, a força letal de um urso, as forças brutais da natureza em uma terra que parece que foi esquecida por Deus. Ou será que o homem foi esquecido por Deus?

quinta-feira, janeiro 14, 2016

Amor, narcisismo e solidão no filme "The Lobster"


Em um futuro próximo será proibido optar pela vida solteira. Aqueles que não acharem a “alma gêmea” deverão ser confinados em um resort para acharem uma companheira em um curto prazo – caso contrário, serão devolvidos à Natureza e transformados literalmente em um animal à sua escolha. Depois de “Dente Canino” (2009) e “Alps” (2012) o diretor grego Yorgos Lanthimos mergulha mais uma vez em sistemas autoritários onde amor e sentimentos são a isca para a cooptação. “The Lobster” (2015) mostra como no mundo atual, seja para solteiros ou casados, o amor transforma-se em narcisismo e solidão para alimentar formas de controle social e identidade. O drama de Édipo como forma de controle social.

É comum nos filmes distópicos ou pós-apocalípticos o amor entre personagens surgir como forma de resistência a uma ordem injusta, repressiva ou trágica. O amor é o que une e dá força para o herói enfrentar o pior. Mas não para o diretor grego Yorgos Lathimos.

segunda-feira, janeiro 11, 2016

Segredos muito além da morte do gnóstico pop David Bowie


David Bowie conseguiu escapar do obituário clichê que a indústria do entretenimento reserva ao astros do rock: drogado, atormentado etc. Ele conseguiu elevar o rock da adolescência para a maturidade. Bowie tinha uma obsessão secreta por doutrinas gnósticas, o Oculto e o Paranormal. Tudo teria começado com a turnê Ziggy Stardust (1972-73) e a misteriosa figura empresarial por trás do sucesso: Tony DeFries – figura emblemática no pop, também associada ao sucesso de Madonna, a ressurreição de Steve Wonder e o fim dos Beatles. Após a blitz de marketing global sem precedentes, o sucesso tornou Bowie paranoico e obcecado por livros de autodefesa psíquica. Nas entrevistas falava em “malevolência paranormal”. Como John Lennon ainda nos Beatles, Bowie passou a colocar mensagens cifradas e enigmáticas em suas músicas tentando chamar a atenção sobre algo muito sinistro por trás da indústria do entretenimento.

Nascido David Robert Jones em 1947, David Bowie sempre teve o gosto pela ficção científica e “esquisitices espaciais” – refletido no seu filho Duncan Jones, diretor de “esquisitices” sci fi como os filmes Lunar e Contra O Tempo. Colocando em perspectiva sua obra, um tipo de arquétipo sempre esteve por trás como força motriz das letras das suas músicas e performances ao vivo: a figura do alienígena que caiu na Terra e que, tal como um messias, veio denunciar que aqui nesse planeta vivemos uma condição semelhante – a de estrangeiros dentro de nossas próprias vidas.

domingo, janeiro 10, 2016

Chegamos ao futuro: nasceu Roy, o replicante de "Blade Runner"


“É com muita satisfação que comunico que o replicante Roy Batty, modelo Nexus 6 – MAA10816, entrou em funcionamento nessa sexta-feira, 8 de janeiro de 2016. Parabéns ao envolvidos!”. Esse é o texto que acompanhou um meme que circulou nas redes sociais lembrando que mais uma vez chegamos ao futuro – em 21/10 do ano passado estivemos também no futuro com “De Volta Para O Futuro 2”. Roy, o icônico replicante do filme "Blade Runner - O Caçador de Androides" (1982) de Ridley Scott, já nasceu e daqui a quatro anos terá uma violenta crise existencial ao descobrir que tem tão pouco tempo de vida. O que significa para nós essa estranha sensação de chegarmos ao futuro através de filmes como “2001”, “1984”, De Volta Para O Futuro” e “Blade Runner”? É o que o “Cinegnose” pretende descobrir.

Quando chegou o ano de 1984, foi irresistível não fazer comparações com o clássico livro de Orwell 1984:  o futuro mundo distópico projetado pelo escritor inglês em 1949 teria sido enfim realizado? O Estado Big Brother imaginado por Orwell aconteceu? Ele é comunista ou capitalista? A “novilíngua” já está presente nas mídias de massas?

sábado, janeiro 09, 2016

Por que jornalistas vestem roupas corporativas?


Foi-se o tempo em que víamos apresentadores de telejornais de paletó e gravata escondendo bermudas e chinelos por trás da bancada. Hoje devem caminhar pelo cenário apresentando infográficos em telões. Mas por que vemos jornalistas e repórteres em um figurino preferencialmente corporativo? Por que o traje mais informal assemelha-se ao de um funcionário de algum escritório saindo para um “happy hour” ou em algum “day off” concedido pela empresa? Linguagem cênica para um melhor rendimento televisual? Ou sintoma de outra coisa:  a inveja criada pela diferença de classe social entre jornalistas e seus entrevistados, o cimento psicológico do chamado “jornalismo corporativo” posto em prática pela grande mídia.

“Quem se interessou alguma vez pelos atuais problemas da semiologia, já não pode continuar a fazer o nó da gravata, todas as manhãs diante do espelho, sem ficar com a clara sensação de estar fazendo uma opção ideológica. Ou pelo menos de lançar uma mensagem ou um carta aberta a todos os transeuntes que cruzarem com ele no dia-a-dia”, afirmou certa vez o pesquisador italiano Umberto Eco.

quinta-feira, janeiro 07, 2016

Em Observação os 13 filmes mais esperados para 2016


Fuja de um ano que será marcado por mais do mesmo na indústria do cinema: mais Star Wars, Star Trek, Capitão América, X-Men etc., além de remakes e spin-off de Harry Potter. Preocupado com essa perspectiva sombria, o Cinegnose resolveu mergulhar nas turbulentas águas do cinema independente e trazer à tona uma lista de 13 estreias para esse ano. Há apenas três exceções. Incorporamos à lista três filmes mainstream: “Deuses do Egito”, “Alice Através do Espelho” e "Esquadrão Suicida. O primeiro, por trazer temas gnósticos; o segundo pela Disney querer apagar na adptação dos livros de Lewis Carroll todas as simbologias ocultistas e esotéricas; e o terceiro em ver os efeitos de mais uma aparição do Coringa no cinema.

Esse é o ano que será marcado pela continuidade de franquias (Star Wars, Star Trek, X-Men, Capitão América, Batman lutando junto com o Super-Homem etc.) e spin-off da série Harry Potter (Animais Fantásticos e Onde Habitam), e refilmagens (Jumanji, uma versão feminina de Ghostbusters etc.) numa evidência de que a indústria do cinema pretende se arriscar o menos possível e apostar mais em fórmulas prontas do que em novos nomes ou temas.

domingo, janeiro 03, 2016

Filme "O Clã" mostra a transparência do Mal


Sob a fachada de uma respeitada família de um burocrata do governo aposentado e uma professora primária em um dos bairros mais ricos de Buenos Aires, estava um terrível segredo: no porão daquela casa escondiam-se vítimas de sequestros, friamente assassinados após o pagamento de cada resgate milionário. Baseado em caso real, o filme argentino “O Clã” de Pablo Trapero retrata um tipo bem especial de maldade, bem diferente da hollywoodiana e próxima da “transparência do Mal” retratada na literatura por Marquês de Sade e no cinema por Pasolini – não mais a maldade como um ente que desvirtua e corrompe, mas o Mal originado da própria racionalidade e da virtude: por trás de uma grande fortuna, esconde-se sempre um grande crime.

Uma família prepara-se para o jantar em uma casa em San Isidro, um dos bairros mais ricos de Buenos Aires. O pai reza com a família antes de iniciar a refeição. À mesa, estão as filhas adolescentes que nasceram em berço de ouro. A mãe, uma pacata professora. E o filho primogênito é um bem sucedido atleta de rúgbi, presente em capas de revistas esportivas nacionais e estrela da seleção argentina.

sábado, janeiro 02, 2016

Em Observação a lista dos 10 filmes mais estranhos de 2015


Um samurai travesti em uma floresta na Alemanha persegue um policial; o ar pode acabar num submarino porque as massas das panquecas servidas à bordo criam bolhas de ar; uma sociedade secreta japonesa agencia mulheres ninjas dominatrix para atacarem em público homens de negócios que querem ter prazeres sadomasoquistas. Esqueça os blockbusters e os filmes “oscarizáveis”. Estamos no universo dos filmes mais “estranhos” de 2015. Uma lista de dez filmes que mostram até onde o cinema pode chegar ao explorar o excêntrico, o estranho e o incomum.

Mais um ano de cinema se foi. Mas se o leitor cavar mais fundo para além da superfície cheia de remakes de grandes sucessos como Mad Max e Star Wars ou dramas conservadores que aparecem a cada final de ano para tentar abocanhar um Oscar, vai encontrar algumas criaturas estranhas se mexendo no porão da indústria do cinema.

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