quinta-feira, outubro 15, 2015

Cinco evidências de que vivemos em uma simulação


Desde que o filósofo e matemático Nick Bostron sugeriu em 2003 que o universo poderia ser uma simulação produzida algum supercomputador quântico alienígena, físicos, matemáticos e astrofísicos vem procurando evidências  dessa hipótese. O “Cinegnose” vai resumir as atuais cinco principais evidências: O Princípio Antrópico e o Paradoxo de Fermi, Mecânica Quântica e Modelagem da Simulação, Universo Pixelado, Falhas na Matrix, Raios Cósmicos e a Grade da Simulação. Uma discussão à primeira vista delirante, mas que envolve lógica e números. E, claro, a inspiração do imaginário cinematográfico dos filmes gnósticos. Uma discussão que pode resultar em profundas consequências espirituais e religiosas nas nossas vidas.

Há milênios filósofos como Platão especulam que a vida como a conhecemos talvez não seja real. Com o advento da era da computação, essa ideia ganhou um novo impulso, principalmente quando a cultura pop passou a debruçar-se sobre o tema chegando ao imaginário cinematográfico em filmes como A Origem, Dark City, 13o Andar e a trilogia Matrix dos Wachowski.

Em duas postagens anteriores o Cinegnose desenvolveu esse argumento do Universo como simulação computacional finita a partir de pesquisas da Universidade de Bonn, Alemanha, onde uma equipe de cientistas tenta substituir a ideia de espaço-tempo contínuo pela busca de uma “assinatura cósmica”: minúsculos espaços cúbicos parecidos com grades – pixels? – sobre isso clique aqui.

Ao mesmo tempo, o pesquisador da NASA Richard Terrile, baseado na chamada Lei de Moore ( que sustenta que os computadores duplicam sua capacidade a cada dois anos), leva a sério a possibilidade de que o Universo possa ser alguma espécie de game em um computador cósmico. E a principal evidência é que nós também procuramos repetir isso por meio de meta-simulações como games e mundos virtuais como o Second Life.

Quem começou toda essa especulação filosófica nesse início de século foi o filósofo e matemático da Universidade de Oxford, Nick Bostrom, que criou o conceito de “substrato independente”: consciência e inteligência poderiam se manifestar por meio de diversos suportes, entre eles um supercomputador senciente que conteria toda a simulação cósmica. Em outras palavras, seríamos todos partes de uma versão de um role-playing cósmico como um World of Warcraft – sobre isso clique aqui. 

Nos últimos anos essa hipótese vem sendo levada a sério em artigos de revistas como a New Scientist e diversos blogues pessoais de físicos, filósofos e cientistas. Em todos eles há uma tentativa de reunir evidências para resolver mistérios e paradoxos a partir da analogia com o funcionamento de um computador digital, seja no mundo da mecânica quântica, seja nas nossas observações empíricas do dia-a-dia: realidade pixelada, os paradoxos das ondas quânticas, falhas no contínuo da realidade (déjà vu, fantasmas, fenômenos sobrenaturais), princípio antrópico, paradoxo de Fermi etc.

O Cinegnose vai reunir cinco principais evidências que reforçariam a hipótese de que o Universo poderia ser uma simulação computacional. Evidências que parecem trazer de volta as milenares mitologias gnósticas em torno da suspeita da ilusão da realidade.

Mas o Cinegnose vai além: quais as possíveis implicações religiosas e espirituais se levarmos essas evidências às últimas consequências?

1. O Princípio Antrópico e o Paradoxo de Fermi


É surpreendente que existam seres humanos. Para que a vida começasse nesse planeta foi necessário que todos os fatores resultassem em uma feliz coincidência: a distância perfeita do Sol, a atmosfera com a composição correta e a força da gravidade na medida exata.

Embora possa haver muitos outros planetas com essas condições, a felicidade do surgimento da vida na Terra se torna ainda mais impressionante ampliando a perspectiva para além do nosso planeta. Se algum fator cósmico como a energia escura fosse um pouco mais forte, a vida não existiria.

Daí vem a questão do princípio antrópico: Por que essas condições convergiram de forma tão perfeita para nós? A explicação lógica seria de que as condições foram deliberadamente criadas com a intenção de dar-nos vida. Cada fator teria sido convenientemente criada em algum vasto experimento. Os fatores foram apenas programados no Universo e a simulação foi iniciada.

Esse princípio se ligaria ao chamado Paradoxo de Fermi (o primeiro físico a controlar a reação nuclear) que poderia ser resumido em uma simples pergunta formulada pelo físico na década de 1960: “onde está todo mundo?” – haveria uma contradição entre o nosso crescente conhecimento do Universo e a ausência de contato com qualquer forma de vida existente em algum outro ponto do cosmos.

Com bilhões de outras galáxias lá fora, muitas delas bilhões de anos mais velhas que a nossa, pelos menos uma não poderia ter dominado as viagens espaciais?

Uma resposta seria a possibilidade da existência de multiversos – sim, haveria outras formas de vida, porém em outros universos paralelos, cada um ignorando os demais. Um argumento que reforça a hipótese da simulação – o nosso universo seria mais uma simulação dentro de outras simulações. Todas isoladas, cada qual em sua prisão virtual. Será que o objetivo desses role play games talvez fosse o de testar os efeitos do ego sobre a civilização?

2. Mecânica Quântica e a modelagem da simulação


Um argumento contra a hipótese da simulação é que um computador com tal capacidade de processamento e renderização da realidade seria impossível. Para além do argumento de que os computadores atuais certamente seriam impensáveis há 100 anos, existe uma solução mais interessante confirmada pela própria mecânica quântica – o computador simula unicamente o que ele precisa. Isso é algo que realmente acontece em games de computadores atuais.

Não seria necessário para esse supercomputador modelar toda a realidade a um nível que a simulação fosse indistinguível da realidade. Apenas os elementos observados precisam ser modelados a um nível de resolução que coincida com as limitações da nossa observação ou aos nossos instrumentos de medida. Um programa poderia fazer isso dinamicamente gerando resoluções incrementais de vários componentes conforme fosse necessário, tal como quando colocamos um objeto em um microscópio. Talvez a simulação cósmica seja muito menor do que imaginamos.

 Isso esclareceria alguns paradoxos da mecânica quântica como o porquê do estado quântico ser digital, bem diferente da concepção contínua e analógico do espaço-tempo. Ou ainda o chamado “efeito do observador” e a noção de “entrelaçamento quântico”.

No paradoxo do observador, uma partícula subatômica é uma onda de probabilidade onde diversas realidades ou alternativas coexistem simultaneamente. Somente quando observamos a partícula ela “decai” (decoerência) entrando em colapso a função de onda estabelecendo-se as propriedades do objeto.

Em 2008 o Instituto de Ótica Quântica e Informação Quântica (IQOQI) em Viena determinou a uma certeza de 80 ordens de grandeza que a realidade objetiva não existiria por si só, passando somente a existir quando conscientemente observada.

3. O universo pixelado


Se a simulação estiver sendo realizada nesse momento por um computador quântico, o universo não seria contínuo e dotado de uma resolução infinita: ele seria digital e fundamentalmente composto por informações.

Em 2008 o GEO 600, detector de ondas gravitacionais em Hannover, Alemanha, captou um sinal anômalo sugerindo que o espaço-tempo é pixelado. É exatamente o que seria esperado de um universo “holográfico” onde a realidade 3D é na verdade uma projeção de informação codificada na superfície dimensional na fronteira do Universo (New Scientist, janeiro de 2009, p. 24).

Vivemos em um mundo real. Pensamos que aqui não há pixels e que podemos nos mover de uma forma contínua de um ponto para outro. Não somos seres digitalizados, pensamos: somos seres analógicos que vivem em um mundo fluido sem a pixelização de uma tela de computador.

Mas a mecânica quântica parece comprovar o contrário na alta resolução do mundo das partículas subatômicas. É como se nos movêssemos tão rápido em um moderno game de computador que superássemos a capacidade da placa gráfica em renderizar os cenários: confrontamo-nos com paradoxos, ondas pixeladas, pedaços de quantum binários sim/não.

Para essa evidência, a capacidade de resolução de qualquer programa seria análoga à resolução espacial da nossa realidade simulada, apenas em um nível diferente.

4. Falhas na Matrix


Mas até mesmo simulações avançadas podem ter falhas, certo? Na clássica trilogia Matrix dos Wachowski é apresentado um exemplo do déjà vu como uma falha na simulação: quando algo parece inexplicavelmente familiar, a simulação poderia estar “pulando”, como em um CD riscado. Matrix sugere que essas falhas poderiam ser também representadas por insônias e desordens mentais como a esquizofrenia.

Para essa teoria, elementos sobrenaturais como fantasmas ou milagres também poderiam ser falhas. As pessoas realmente testemunhariam esses fenômenos devido a erros no código da simulação.

Mas mesmo para um supercomputador cósmico, memória, velocidade de modelagem da realidade e a resolução poderiam ser cruciais. Sem falar na possibilidade de podermos descobrir a natureza simulada do universo, já que ingressamos na era da meta-simulação com os games e os diversos mundos simulados oferecidos online na Internet.

Por isso o esquecimento e a morte seriam cruciais para a simulação – permitiria a reinicialização de cada “personagem” da simulação garantido sempre espaço para novas memórias – religiões chamam isso de “reencarnação”.

Mas, assim como nos computadores onde os arquivos nunca são deletados completamente do HD permanecendo rastros por um certo tempo, as memórias passadas podem retornar, criando déjà vus. Em vida, o sono cumpriria esse papel: o do esquecimento. E a insônia seria a luta do “personagem” da simulação contra esse recorrente mal estar.

Além de Matrix, filmes gnósticos como Dark City exploraram esse tema: em um mundo simulado criado por demiurgos alienígenas, durante o sono dos humanos a simulação é reparada e as identidades são trocadas mantendo todos em um perpétuo estado de esquecimento. Até o protagonista despertar no meio de uma dessas trocas e descobrir uma sinistra realidade.

5. Raios Cósmicos e a grade da simulação


Se estamos vivendo em um simulador, esperaríamos encontrar evidencias da existência de bordas do universo observável. Pelo menos é o que a equipe de Silas Beane da Universidade de Bonn procuram encontrar em seu cálculos publicados em um artigo publicado na arXiv.org – Cornell University Library - "Contraints on the Universe as a Numerical Simulation".

As partículas cósmicas voam através do Universo, perdem a energia e mudam de direção e se espalham através de um espectro de valores de energia. Há um limite conhecido para a quantidade de energia que essas partículas possuem, porém Beane e sua equipe calcularam que essa queda no espectro de energia é consistente com a ideia de uma espécie de limite do Universo.

A investigação sobre a forma de dispersão dessas partículas poderia revelar não somente as fronteiras da simulação mas também a estrutura da simulação em grade ou “treliça”.

Como a hipótese da simulação afeta nossas vidas


a) Deus é um programador? – Deus é um programador de óculos debruçado sobre um teclado? Será que o Divino Programador codificou dentro de nós o desejo de adorá-lo, parte fundamental nas religiões? Certamente essa concepção digital de Deus aproxima-se da noção de Demiurgo do Gnosticismo – de um lado quer que o adoremos, mas do outro esconde a verdadeira natureza do fenômeno religioso: esquecimento da simulação que nos aprisiona.

b) O que há fora da simulação? – mais um ponto de contato com o Gnosticismo. Há milênios os gnósticos rejeitam esse mundo como “falso” por ser uma “cópia imperfeita do Pleroma”, a Plenitude que existiria fora dos limites desse Cosmos. Porém, a hipótese da simulação esquece de um elemento vital da concepção humana gnóstica: se por um lado temos algo que nos codifica e aprisiona, por outro temos a “fagulha de Luz”, impulso espiritual ouviria o chamado lá de fora da simulação.

Algo como o impulso de Truman em fugir de Seaheaven em Truman Show ou das entidades sencientes em 13o Andar que constroem meta-simulações até descobrirem que eles próprios estão vivendo em uma espécie de cebola cósmica, com diversos mundos simulados sobrepondo-se.


c) Reinterpretação dos fenômenos espirituais, religiosos e psíquicos – Se aceitarmos a hipótese da simulação, fenômenos espirituais e religiosos como a crença em um Deus Divino como um bondoso criador e os fenômenos espirituais como metapsíquicos ou etéreos deverão ser reconsiderados. Como sintomas de falhas na Matrix poderiam ser rastros de memórias deletadas nos seguindo, sejam fantasmas, arquétipos ou, na psicanálise, traumas.

Fala-se na Parapsicologia que fantasmas poderiam ser projeções de certos ambientes saturados de energia psíquica que dada a certas condições “materializam-se” de forma efêmera.

O fato é que as religiões e crenças esotéricas poderiam ser racionalizações codificadas na simulação para promover o esquecimento, tornando a simulação menos “pesada” em termos de informações.


d) Não persiga coisa materiais – pode parecer piegas, mas não fique tão obcecado por dinheiro e riqueza. Em primeiro lugar, nem mesmo são coisas materiais. Você está vivendo em uma simulação tão irreal quanto aquele velho jogo de computador de 8 bits do Atari. A obsessão em ganhar dinheiro nessa simulação seria tão insensato quanto coletar moedas de ouro em um role-playing game qualquer de computador.



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