domingo, outubro 18, 2015

Curta da Semana: "From The Big Bang To Tuesday Morning" - a História é evolução ou eterno-retorno?

A História humana é evolução? Decadência? Ou eterno-retorno? Será que o paletó e gravata já estavam à espera do homem, só aguardando que ele surgisse na face do planeta para, no final, enforcá-lo? O Big Bang eletrônico da TV só repetiu como farsa o Big Bang primordial? Essa é a sutil ironia e perplexidade do curta “From The Big Bang To Tuesday Morning” (2000) do animador canadense Claude Cloutier. O Curta dessa semana do “Cinegnose”.









“A humanidade preparou-se séculos para Victor Mature e Mickey Rooney”. Essa é um dos inúmeros aforismos de Theodor Adorno e Max Horkheimer no livro Dialética do Esclarecimento, escrito no exílio em Los Angeles durante a II Guerra Mundial. Ao analisarem a Indústria Cultural no olho do furacão, a indústria do entretenimento de Hollywood nos EUA, essa frase transmite a perplexidade dos autores: precisamos passar por 25 séculos de Filosofia para terminarmos com dois atores canastrões que hipnotizam multidões?

Adorno e Horkheimer não viam a História por um viés evolucionista, mas muito mais Nietzschiano: o eterno retorno – o homem evoluiu do mito e da magia por meio das luzes da Razão. Para depois retornar à mitologia através da indústria cultural. E se a História for isso, a repetição de fatos a partir de alguma matriz que reproduziria mais do mesmo?

           Essa parece ser também a ironia do curta From The Big Bang To Tuesday Morning (2000) do animador canadense Claude Cloutier. Através de uma animação com 3.000 frames desenhados em nanquim e pincel Windsor Newton série 7, Cloutier narra a história desde as primeiras formas de vida da Terra até o mundo de hoje, do Big Bang a uma manhã de terça-feira usando humor e o surrealismo para contar a trajetória biológica da humanidade.




Tudo começa com uma poderosa explosão cósmica e, através de divertidas metamorfoses visuais, mostra as primeiras formas de vida marinha, os dinossauros, aves, os mamíferos, cães, os primatas para o eventual surgimento do Homo Sapiens.

O curioso na animação é que após o surgimento das primeiras formas de vida no chamado “caldo primordial” (composto orgânico que pode ter dado origem da vida na Terra), de repente aparece a figura de um colarinho com gravata em um paletó. Do colarinho começam a emergir todas as formas de vida em evolução, do primeiro anfíbio até chegar no Homo Sapiens que se ajustará perfeitamente no colarinho. 

É quando um aparelho de TV cai na cabeça do homo sapiens, produzindo mais um Big Bang, dessa vez eletrônico. Essa sutil referência ao teórico canadense de mídia Marshall McLuhan faz a ligação com uma manhã qualquer de terça-feira no final .

O paletó e a gravata já estavam à espera do homem? O paletó e a gravata são alguma espécie de matriz a-histórica? Uma forma ideal platônica pairando sobre tudo e moldando a História? O fato é que o curta expressa a mesma perplexidade de Adorno e Horkheimer: para quê milhares de anos de evolução, séculos de História e cultura para terminarmos enfiados num carro no congestionamento de uma manhã de terça-feira? O Big Bang eletrônico é o eterno-retorno do Big Bang "primordial"?

Confira abaixo a perplexidade e fina ironia de Claude Cloutier.



Ficha Técnica


Título: From The Big Bang To Tuesday Morning
Diretor: Claude Cloutier
Roteiro: Claude Cloutier
Elenco: curta sem palavras
Produção: National Film Board of Canada (NFB)
Distribuição: on line
Ano: 2000
País: Canadá

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