sábado, abril 04, 2015

Viajantes, Detetives e Estrangeiros vagam por Hollywood em "Mapas Para as Estrelas"


Hollywood tem uma tradição de filmes que mostra a cidade dos sonhos como um inferno de ganância, narcisismo e perversões. A crítica especializada tem considerado “Mapas para as Estrelas” de David Cronenberg como mais um filme com esse viés moralista sobre a indústria do cinema. Porém, ao lado do roteirista Bruce Wagner, Cronenberg foi muito além disso: conseguiu criar uma pequena galeria de personagens que consegue sintetizar os principais arquétipos que dão vida aos nossos sonhos: Viajantes, Detetives e Estrangeiros. E também a fragilidade emocional por trás de profissionais bem pagos para produzir o nosso entretenimento: a busca desesperada por amor, adoração e aceitação incondicional. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.

Cronenberg sempre foi fascinado pelas metáforas da invasão do corpo e a fragilidade da carne diante da tecnologia em filmes como Videodrome, Scanners, Crash ou eXistenZ. Seus filmes até podem sugerir cenas de horror, mas na verdade o diretor transita entre a comédia, o humor negro e o drama. Cronenberg está menos interessado em sangue, e muito mais na natureza monstruosa das nossas obsessões e desejos, na dificuldade de escaparmos de nós mesmos e como a sociedade cruelmente explora esse ponto fraco humano.

Guerra psíquica (Scanners), o domínio mental da TV (Videodrome) e games digitais mortais (eXistenZ) são algumas amostras dessa temática recorrente de como a sociedade é capaz de criar sistemas que envolvem tanto a carne como a alma. Mapas para as Estrelas é mais um filme desse veio crítico de Cronenberg. E dessa vez é o alvo é Hollywood, tal como descrito pelo roteiro de Bruce Wagner: um inferno de ganância, narcisismo e perversidade sexual.

quarta-feira, abril 01, 2015

Ação e Reação na crise da telenovela "Babilônia"

O que há em comum entre a física newtoniana e os estudos sobre psicopatologia do psicanalista Wilhelm Reich? Tudo, pelo menos no caso da atual crise de audiência da novela da TV Globo “Babilônia”. A rejeição de telespectadores e grupos evangélicos pregando o boicote à telenovela nas redes sociais (tudo motivado pelo beijo de um casal de idosas lésbicas) tem uma relação direta com a pesada atmosfera política atual alimentada diariamente pela TV Globo através do telejornalismo e teledramaturgia. Lei newtoniana de ação e reação: clima de intolerância e radicalismo político converte-se em conservadorismo moral, sexual e de caráter que atinge em cheio o principal produto da grade da TV Globo – a novela do horário nobre. Além disso, a crise de “Babilônia” guarda paralelos com outra crise global: a da novela “O Dono do Mundo” de 1991, também de Gilberto Braga, em um contexto pré-impeachment de Fenando Collor de Mello.

Toda ação resulta numa reação oposta e de igual intensidade. Não há como deixar de lembrar desse princípio clássico da física newtoniana na atual crise que envolve a novela do horário nobre da TV Globo chamada Babilônia. Depois dos 46 pontos que a novela anterior Império marcou na sua última semana, Babilônia despencou para 23 pontos. Portanto, abaixo da novela das 19h e do reality Big Brother Brasil. Isso, no horário mais caro da TV brasileira.

A novela de Gilberto Braga surge nas telas num momento onde se acirra a contradição vivida pela TV Globo: de um lado, nos últimos anos vem assumindo o papel de partido de ferrenha oposição política ao Governo Federal; e do outro, a necessidade comercial de reerguer a audiência em queda com a crescente concorrência da Internet e os novos dispositivos móveis de comunicação.

domingo, março 29, 2015

Cinco filmes amaldiçoados pelo sincromisticismo



O “Clube do 27” (formado por Amy Winehouse, Heath Ledger, Kurt Cobain etc.) e as “maldições” em filmes como “Batman: O Cavaleiro das Trevas”, “O Exorcista” e “Superman”. Estranhas mortes prematuras de atores e celebridades e as lendas sobre filmes “amaldiçoados” seriam a camada narrativa mais superficial do lucrativo negócio da indústria do entretenimento que explora o inconsciente coletivo (arquétipos e formas-pensamento) e que muitas vezes o resultado é imprevisível, com mortes acidentais ou eventos que se transformam em verdadeiros rituais públicos de sacrifícios. Para pesquisadores sincromísticos, Hollywood atualmente é um centro de recrutamento e treinamento de atores (“médiuns” com personalidades divididas) para incorporação de formas-pensamento que ganham vida em escala global. Uma lista de cinco filmes onde a análise sincromística tenta revelar o que está por trás de narrativas feitas para o entretenimento.

domingo, março 22, 2015

Feitiço do Tempo paralisa ciclovias de São Paulo

Não existe terceiro turno. Estamos todos presos no dia 26 de outubro de 2014, em uma cilada do tempo que nos condena a repetir o mesmo dia, tal qual no filme “O Feitiço do Tempo” (Groundhog Day, 1993). Os resultados da eleição presidencial nunca são totalizados e retornamos sempre à disputa de uma eleição sem fim. Com isso abriu-se um vórtice tempo/espaço que está sugando o futuro, nos condenando a viver um eterno presente. O exemplo recente da paralisação judicial da construção das ciclovias em São Paulo é mais um sintoma dessa anomalia temporal onde de cosmopolita a cidade de São Paulo tornou-se um enclave neoconservador. Através de um texto adjetivado e vago, o pedido de paralização das ciclovias feito pelo Ministério Público é uma peça exemplar da atual mentalidade neoconservadora que se fundamenta na percepção de terra arrasada e na aposta do quanto-pior-melhor.

Esse humilde blogueiro que vos escreve é um usuário diário de bicicleta como meio de transporte para o trabalho pelas ciclovias/faixas da cidade de São Paulo. Desde o início das suas atividades em 2009 este blog "Cinegnose" tem se posicionado a favor da bike como esporte, lazer e transporte por razões políticas (clique aqui), gnóstico-filosóficas (clique aqui) ou cinematográficas (clique aqui) – sem falar no fator pragmático de que com bicicleta numa cidade como São Paulo sempre temos a certeza que chegaremos no horário a um compromisso.

Após décadas convivendo com a impaciência de motoristas e com um trânsito cada vez mais ríspido e intolerante, sintomas de uma mentalidade paulistana cada vez mais envolta em uma rinocouraça, foi com otimismo que testemunhamos o crescimento da malha de ciclofaixas/vias em São Paulo e a promessa da interligação de uma rede de 400 km.

sábado, março 21, 2015

As estranhas forças por trás do filme "O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus"




“Existem forças em ação nesse filme. Referências sobre a morte estavam no roteiro original e isso para mim é que é assustador”, disse o diretor Terry Gilliam sobre o filme mais estranho da sua carreira, “O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus” (2009). Foi marcado para sempre pela morte de Heath Ledger no meio da produção do filme, após atuar vivenciando dois fortes arquétipos ocultistas: o “Joker” no filme “Batman” e o “Enforcado” no filme de Gilliam. Ironicamente a morte de Ledger confirmou o forte niilismo gnóstico presente em “Dr. Parnassus” e mantido na sua última produção “O Teorema Zero” (2014): um ex-monge budista faz sucessivas apostas com o Diabo desde tempos imemoriais – o Bem e o Mal vistos como entidades reversíveis, onde um precisa do outro para manterem-se relevantes. E os personagens (e todos nós) seriam meras peças inocentes e prisioneiras de um jogo que se confunde com a própria eternidade.  

A tradicional câmera inquieta com pontos de vista delirantes com lentes grande angulares que deformam a perspectiva, criando atmosferas grotescas, é a marca registrada do ex-integrante do grupo Monty Python Terry Gilliam. Tudo isso para realçar um tema recorrente do diretor: heróis que através da força da imaginação e da fantasia conseguem enfrentar e vencer realidades opressivas.

 Mais uma vez, no filme O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus, estão presentes esses elementos narrativos. Mas há algo mais que tornou esse filme de Gilliam estranho e misterioso. O filme começa com um homem vestido como Mercúrio (ou Hermes dos gregos ou Toth dos egípcios) anunciando a entrada do Dr. Parnassus, um monge segurando uma flor de lótus, símbolo do misticismo oriental.

domingo, março 15, 2015

Série "House of Cards" surfa na onda do neoconservadorismo

A Netflix possui atualmente 17 lobistas em ação nos EUA representando seus interesses no Congresso e Governo Federal. Ao mesmo tempo produz uma série chamada "House of Cards" que descreve as relações anti-éticas entre lobistas, políticos do Congresso e imprensa. Narra a trajetória do líder dos Democratas no Congresso, um príncipe maquiavélico que articula ardil, traição e mentiras para chegar ao suposto centro do Poder, o Salão Oval da presidência. Qualquer análise sobre essa série que tornou-se o hit da Netflix deve partir dessa aparente contradição – na verdade a série reforça velhos mitos da Política: o Mito do “Mr. President”, o Mito do “Príncipe Maquiavélico” e o mito do “L’État, c’est moi”. Assim a Netflix esconde a verdadeira natureza do Poder do qual usufrui, e ao mesmo tempo mercadologicamente surfa na atual onda neoconservadora dos EUA e do Brasil: lá, a alienação em relação à Política num país onde o voto não é obrigatório; e aqui, uma trilha ficcional para aqueles que estão seduzidos pela aventura do Impeachment.

Primeira série originalmente produzida para a Web pela plataforma de streaming Netflix, House of Cards mostra através do seu protagonista Frank Underwood (Kevin Spacey) os bastidores do Congresso dos EUA e suas relações promíscuas entre lobistas, imprensa e congressistas.

Frank é uma espécie de Maquiavel com o charme sulista de um político da Carolina do Sul e pitadas da frieza de um assassino, responsável em exercer o papel de Chief Whip do partido (o “chefe do chicote”, o líder que faz tudo para que políticos democratas votem de acordo com os interesses do partido) – mas ele quer mais: pouco importa o dinheiro que jorra dos lobistas corporativos que alimentam o jogo político de Washington.  Frank quer o verdadeiro Poder - ficar cada vez mais próximo da presidência dos EUA, até conquista-la por meio de trapaça, ardil e traições.

terça-feira, março 10, 2015

Cuidado! Os rinocerontes já estão entre nós.

Filmes publicitários são mais do que peças promocionais de produtos e serviços – refletem a sensibilidade de cada época. E o novo comercial do TNT Energy Drink não deixa por menos: em efeito digital 3D um rinoceronte com fone nos ouvidos passeia entre as pessoas nas calçadas para depois entrar numa academia de lutas, parar diante de um espelho e vermos o reflexo de José Aldo, campeão do UFC. A ironia é que se no Teatro do Absurdo de Eugène Ionesco (autor da famosa peça “O Rinoceronte”) a transformação de seres humanos naquele animal era um impactante simbolismo que denunciava o conformismo, frieza e agressividade do homem moderno, agora torna-se um modelo positivo de caráter: o esporte (principalmente os midiáticos) como modelo de educação pela dureza, dor e severidade, chave para o sucesso. Dessa rino-couraça psíquica resultante  emerge um novo tipo-ideal urbano da atual onda de neoconservadorismo: os Rinocerontes.

Durante o século XX, todas as vanguardas artísticas, sejam elas no cinema, literatura, teatro ou pintura, tentaram desafiar o princípio de realidade com simbolismos obscuros, imagens impactantes e narrativas absurdas. Homens que se transformam em baratas em Kafka, relógios que se derretem em telas de Dali, situações teatrais absurdas como pessoas que esperam uma pessoa chamada Godot por horas e que nunca chega na peça de Becket ou chocantes imagens surrealistas como a navalha que vaza um olho em um filme de Buñuel.

Kafka, Dali, Becket e Buñuel tentavam se insurgir contra o mal-estar e desespero do homem contemporâneo na incipiente sociedade de massas que produz alienação, conformismo e fascínio pelo irracionalismo e fanatismo coletivo. Por isso, procuraram a anti-literatura, o anti-teatro, o anti-cinema, o anti-tudo!

sábado, março 07, 2015

Em Observação: "The Man In The High Castle" (2015) - os nazistas ganharam a guerra?

Em uma realidade alternativa, Hitler e o imperador Hiroíto ganharam a II Guerra Mundial, invadiram os EUA e dividiram o país em dois estados totalitários controlados pela Alemanha e Japão. Mas grupos de resistência possuem um filme documentário de origem misteriosa que mostra a História tal qual conhecemos: a vitória dos Aliados, o Dia D e a derrota do Japão na guerra do Pacífico. Qual será a verdadeira realidade? A dos EUA divididos? A do filme documentário? E se as imagens históricas da II Guerra Mundial que conhecemos forem estratégias de propaganda que, na verdade, ocultam que todos nós vivemos em uma outra realidade alternativa? Esse é o jogo gnóstico proposto pelo piloto da série televisiva "The Man In The High Castle", baseada no premiado livro homônimo de 1962 do escritor de ficção científica Philip K. Dick. Assista nesse post o piloto da série.

terça-feira, março 03, 2015

"Novos tradicionalistas" são mão de obra da revista "Veja"

Um repórter da revista “Veja Brasília” invade um condomínio em São Paulo disposto a fabricar provas para uma pauta inventada. Pego com a boca na botija, é levado pela polícia e a família vítima da “reportagem investigativa” faz um BO na delegacia. Além do episódio ser mais uma contribuição à pesada atmosfera política atual (a pauta era sobre uma suposta festa infantil de 200 mil reais pagos em dinheiro vivo pelo ex-presidente Lula), há algo mais: curiosamente o repórter é um dublê de jornalista e DJ de festas privadas no Lago Sul de Brasília e clubes que fervem na noite daquela cidade. Está para ser feita uma pesquisa etnográfica dos novos tipos-ideais do atual neoconservadorismo. Alguns já podem ser detectados: “coxinhas”, “coxinhas 2.0” e “simples descolados”. E o intrépido repórter da “Veja” pertence a um novo tipo-ideal: os “novos tradicionalistas”.

Tudo começou com uma nota da revista Veja Brasília redigida por um repórter chamado Ulisses Campbell sobre festa em buffet infantil na cidade, de um suposto sobrinho do ex-presidente Lula. O custo da festa teria sido de 200 mil reais pagos em dinheiro pelo ex-presidente. Com os desmentidos feitos pelo Instituto Lula e comprovada a mentira, o repórter foi para São Paulo disposto a produzir provas que sustentassem sua bizarra pauta.

Usando nomes falsos passou a assediar a família de “Frei Chico”, como é conhecido o irmão de Lula, através de ligações telefônicas como representante do buffet de Brasília ou como estudante da USP fazendo uma suposta pesquisa. Após ameaças de que “publicaria o que quisesse”, invadiu o condomínio da família passando-se por um entregador de livro para obter de uma babá informações sobre horários de chegada dos moradores, além de obter RG e CPF dela.

sábado, fevereiro 28, 2015

Morsas e ostras mataram John Lennon?

A música mais enigmática dos Beatles aparece no maior fracasso comercial do grupo, o filme “Magical Mystery Tour” de 1967, hoje reavaliado como obra de arte ao nível do humor do grupo Monty Python ou do surrealismo de Buñuel. Inspirado no poema “A Morsa e o Carpinteiro” de Lewis Carroll, a música “I’m The Walrus” composta por John Lennon apresenta uma letra sombria, obscura e misteriosa com referências a genocídios, drogas e jovens que seriam seduzidos por uma “Morsa” que estaria levando-os para a destruição – no poema de Carroll aparecem “jovens ostras” . Será que a música foi alguma espécie de acerto de contas de Lennon com a culpa e o remorso de saber ter feito parte de uma gigantesca estratégia de engenharia social por trás da cultura pop? Em declarações dadas em uma entrevista em 1980, ele indica evidências, falando de “artesãos” que estiveram por trás dos Beatles e a ligação entre CIA e a droga LSD. Alguns meses depois, Lennon seria assassinado.

O grande e misterioso fracasso dos Beatles: o filme Magical Mystery Tour de 1967. “Beatles Mystery Tour desconcerta os espectadores”, estampava em uma manchete na primeira página do jornal Mirror da Inglaterra, dizendo que milhares de espectadores protestaram quando foi exibido na TV pela BBC.

“Bobagem sem sentido”, “lixo flagrante” e “ultrajante” foram as críticas mais leves sobre um filme que não se importava com qualquer sentido narrativo: mostrava um grupo de turistas em um ônibus que iniciava um “misterioso tour” pela Inglaterra em um ônibus panorâmico, onde “coisas estranhas começam a acontecer”, ao capricho de quatro magos performados pelos próprios Beatles que tudo observam, manipulando os acontecimentos.

segunda-feira, fevereiro 23, 2015

Oscar para "Birdman" revela secreta coerência de Hollywood

O blog “Cinegnose” acertou: o favoritismo de “Birdman” confirmou-se com o prêmio de Melhor Filme no Oscar 2015. O prêmio era aguardado pela recorrência temática dos filmes premiados pela Academia de Cinema nos últimos anos: metalinguagem, auto-referência, glamourização da “guerra anti-terror”, conflitos étnicos e liberdade, temas recorrentes desde a explosão da bolha imobiliária dos EUA em 2008 e a crise da Zona do Euro. Hollywood mais uma vez demonstra que é um braço armado do complexo bélico-militar norte-americano. E a indústria do entretenimento sabe premiar os seus: o diretor mexicano Alejandro Iñárritu (e a nacionalidade foi um fator ideológico importante) fez uma verdadeira homenagem à indústria do entretenimento – mostrou uma Broadway que não mais existe, reforçando a mitologia que ainda dá algum verniz “artístico” a Hollywood: atores autopiedosos, divas narcisistas que se entregam ao “Método” e críticos implacáveis que transformam artistas em “gênios incompreendidos”.

Conforme previsto por esse blog, Birdman confirmou o grande favoritismo para o Oscar de melhor filme, batendo outro grande favorito: Boyhood – sobre a análise do Cinegnose sobre Birdman clique aqui.

Em tempos bicudos de crise econômica global pós-explosão da bolha especulativa imobiliária dos EUA em 2008, o “derretimento” da Zona do Euro e escalada da propaganda anti-terror pela mídia internacional, Hollywood mais uma vez se mostra porque é o braço armado da política externa norte-americana. E sua grande arma é glamourização da própria natureza bélico-militar dos EUA e a homenagem metalinguística da sua própria indústria do entretenimento.

sábado, fevereiro 21, 2015

Em "O Destino de Júpiter" os Wachowski esquecem a pílula vermelha do Gnosticismo Pop

Com o filme “O Destino de Júpiter”, mais uma vez os irmãos Wachowski criam uma fábula gnóstica pop. E dessa vez sincronizando um evento astronômico (a ascensão do planeta Júpiter nos céus em fevereiro) com uma releitura do mito gnóstico da Criação, Queda e Ascensão do “Apócrifo de João” escrito em 150 DC. Tal como na “Trilogia Matrix”, a humanidade é prisioneira dos Demiurgos para ter sua energia drenada. Lá em Matrix presos em incubadoras.  Aqui em “O Destino de Júpiter” para serem semeados e colhidos por uma casta real alienígena em uma espécie de gigantesco latifúndio cósmico. Porém, dessa vez os Wachowski fizeram grandes concessões à Hollywood: a pílula vermelha da gnose que despertava para a Verdade da Matrix desapareceu para ser substituída pelo obediente retorno do espectador à ordem.

Originalmente O Destino de Júpiter (Jupiter Ascending, 2015) tinha lançamento previsto para junho do ano passado. Foi adiado e, “coincidentemente”, só entrou em cartaz em fevereiro desse ano, no momento em que o planeta Júpiter ascendeu à posição oposta ao Sol – Júpiter sobe no céu no momento em que o Sol se põe, brilha mais alto à meia-noite e se põe em torno do nascer do Sol. Júpiter nesse momento está mais próximo da Terra, aparecendo maior e mais brilhante.

Em se tratando dos irmãos Wachowski e pelo emaranhado de simbologias gnósticas e esotéricas que o filme explora, tudo NÃO é mera coincidência. Andy e Lana Wachowski sabem o que estão fazendo: com essa sincronia entre os eventos cinematográfico e astronômico, reforçam ainda mais a mitologia por trás do verdadeiro delírio visual de um filme que parece que fundiu Matrix, Star Wars e Flash Gordon dentro de uma gigantesca space opera.

quarta-feira, fevereiro 18, 2015

Vídeos de execuções do Estado Islâmico apontam para a "Hipótese Fox Mulder"

Certa vez o agente especial do FBI Fox Mulder, da série televisiva “Arquivo X”, criou uma instigante hipótese: Hollywood propositalmente encenaria nos plots de seus filmes conspirações políticas para que as críticas contra essas mesmas conspirações, dessa vez na realidade, fossem desmoralizadas como meras “ficções”. A série recente de vídeos do Estado Islâmico sobre supostas decapitações de reféns estaria repetindo como farsa os vídeos fakes mostrados em filmes como “Mera Coincidência” (1997) e Homem de Ferro 3 (2013)? Diferente de antigos vídeos jihadistas de execuções, os atuais apresentam estranhas “anomalias” para vídeos supostamente realistas do estilo de antigos vídeos VHS como “Faces da Morte” – ao contrário, possuem superproduções análogas a blockbusters hollywoodianos com Dolby Digital Surround e suspeitas de uso de Chroma Key 3 D.  

A hipótese Fox Mulder: em um dos episódios da série Arquivo X vemos o agente especial do FBI, Fox William Mulder, participando como convidado de um congresso de ufólogos. A certa altura alguém lhe pergunta o motivo de ao mesmo tempo em que o governo dos EUA tenta esconder o fenômeno UFO, permite que Hollywood produza tantos filmes sobre contatos com aliens. E Mulder responde: “para que todos pensem que os contatos com UFOs e aliens são do mundo da ficção, coisas de cinema. Por isso, quando surgem notícias verdadeiras, ninguém acredita”.

Nas últimas décadas, Cinema e Guerra estão se tornando uma espécie de sala de espelhos que se refletem mutuamente, até não sabermos distinguir o reflexo daquilo que é refletido. No Oscar 2013  Michelle Obama aparece em link ao vivo direto da Casa Branca abrindo o envelope do prêmio de Melhor Filme para Argo, cujo plot narra uma estratégia militar norte-americana de simulação de produção de um filme para libertar reféns do Irã nos anos 70;

domingo, fevereiro 15, 2015

Por que "Birdman" é o favorito ao Oscar?

Não é por acaso que “Birdman” é o grande favorito ao Oscar. O filme promete discussões profundas sobre a importância de se sentir amado nesse mundo. Mas tudo o que o diretor mexicano Alejandro Iñárritu nos entrega é uma agradecida homenagem à indústria de entretenimento dos EUA que lhe abriu as portas: um filme supersaturado de metalinguagem e colagens de auto-referências que acabou resultando em uma produção complacente, auto-indulgente e subserviente. Iñarritu faz homenagem a uma Broadway que não mais existe, reforçando a mitologia que ainda dá algum verniz “artístico” a Hollywood: atores autopiedosos, divas narcisistas que se entregam ao “Método” e críticos implacáveis que transformam artistas em “gênios incompreendidos”. Com isso, o diretor mexicano parece ter um grande futuro na noite do Oscar. 

Alejandro Gonzáles Iñárritu é um diretor mexicano que já conta com uma sólida e bem sucedida carreira em Hollywood (21 Gramas, Babel, Biutiful). Por isso, é chegado o momento de Iñárritu prestar uma homenagem à indústria do entretenimento que lhe abriu às portas para aquele país. E como sempre, a melhor forma é através da metalinguagem, alusões e paráfrases.

Birdman é um filme supersaturado que obriga o espectador a caminhar por um desfile interminável de colagens e referencias que acaba se tornando tão claustrofóbico quanto os corredores dos bastidores de uma peça da Broadway onde a maior parte da trama acontece. O filme engata longos planos-sequências que simulam um filme totalmente sem montagem, mas com sutis cortes que separam os atos.

quinta-feira, fevereiro 12, 2015

Dez filmes arruinados pelas novas tecnologias


Com as novas tecnologias cada vez mais intrusivas e onipresentes, o Cinema vive um paradoxo: os filmes não têm o menor problema para fazer o público acreditar em fantasmas, gremlins, maníacos sobrenaturais, feiticeiros, vampiros, poltergeists ou extraterrestres. Mas está cada vez mais difícil fazê-los aceitarem que o herói de um filme não esteja munido com a tecnologia necessária (smartphones, Ipads, GPS etc.) para frustrar as intenções do Mal. O avanço tecnológico está criando um impasse entre roteiristas e diretores: muitos plots de filmes do passado, hoje seriam impossíveis de serem realizados como “Esqueceram de Mim”, “Psicose” etc. Internet e dispositivos móveis estão cada vez mais inviabilizando os arquétipos clássicos do cinema que tornavam dramática a jornada do herói. Por isso, os roteiristas ou se voltam para filmes ambientados em décadas passadas ou fazem de tudo para anular esses dispositivos – perda de sinal etc., o que pode tornar o roteiro inverossímil. Vamos analisar uma lista de dez filmes cujos plots hoje seriam impossíveis de serem filmados.

terça-feira, fevereiro 10, 2015

Tecnologias de comunicação escondem o isolamento no filme "Bird People"


No meio do caminho entre o realismo documental e o sobrenatural, o filme “Bird People” (2014) do francês Pascale Ferran nos mostra os dilemas dos momentos da vida em que precisamos assumir riscos e dar saltos no vazio. Pessoas que transitam em espaços impessoais como aeroportos e hotéis e que tentam mascarar o isolamento por meio de tecnologias de comunicação como dispositivos móveis e computadores. Ferran nos mostra a contradição de como pessoas cercadas de interfaces de comunicação podem, ao mesmo tempo, sofrerem do mal da incomunicabilidade. Escondem o isolamento, mas sofrem os sintomas da claustrofobia e alienação. E sentem a necessidade de darem um salto nas suas vidas, assim como os pássaros e aviões.

"Garota Exemplar" e a tragédia como delineadora da vida, por Sonielson de Sousa

Grande favorito ao Oscar (provavelmente nas categorias Melhor Filme, Melhor Ator/Atriz, Melhor Roteiro e Melhor Diretor, dentre outros) “Garota Exemplar” (Gone Girl, 2014) é um suspense de aproximadamente duas horas e meia que tem a habilidade de mostrar a tênue linha entre a normalidade e a face nebulosa das pessoas - a “Sombra” de que fala Jung.

"O Homem é o lobo do homem, em guerra de todos contra todos" (Thomas Hobbes)

Baseado no livro homônimo escrito por Gillian Flynn, o filme trata da estória de Amy Dunne (Rosamund Pike), que na infância é tratada pelos pais e por todos à sua volta com extrema excepcionalidade e que, depois de casada, é obrigada a ter uma vida mediana e a morar no interior para acompanhar o marido. Dunne desaparece no dia do seu quinto aniversário de casamento, deixando o esposo Nick (Ben Affleck) em apuros. Neste ínterim, Nick torna-se o principal suspeito do desaparecimento, e conta com a ajuda da irmã para tentar provar sua inocência.

O diretor David Fincher (de Millennium – Os Homens Que Não Amavam as Mulheres) transpôs para as telas, dentre outras coisas, o chamado “fruto tardio do romantismo”, traduzido essencialmente como o que alguns intelectuais chamam de “fracasso afetivo”, tema amplamente debatido pelos filósofos Luiz Felipe Pondé (PUC-SP) e Daniel Omar Perez (Unicamp), e pelo pensador Michael Foley, só para citar alguns. Neste processo, o amante é “incompleto e errante” e, no fundo, procura “um encontro consigo mesmo sem ter a menor ideia do que procura de si no outro” (PEREZ, 2014). No percurso, pode-se descobrir de forma dolorosa que não é nada fácil (re)conhecer o outro (e, de quebra, a si mesmo).

domingo, fevereiro 08, 2015

Ligações perigosas nas séries "Felizes Para Sempre?" e "Questão de Família"

As séries televisivas “Felizes Para Sempre?” e “Questão de Família” (Globo e GNT) apresentam sincronismos e insólitas coincidências envolvendo autor, diretor e o timing dos episódios que parecem espelhar na teledramaturgia notícias e imagens do telejornalismo da grande mídia . Estaria a todo vapor funcionando uma correia de transmissão entre os núcleos de novelas e o jornalismo da emissora? O sincronismo seria favorecido pelo vazamento antecipado de informações das investigações do Judiciário? Por outro lado poderia ser um sintoma do tautismo da TV Globo que, em crise, injeta realismo na teledramaturgia para recuperar a relevância perdida? Ou são apenas eventos sincromísticos?


Em 1982 ia ao ar na TV Globo a minissérie Quem Ama Não Mata, escrita por Euclydes Marinho. Eram épocas de abertura política na ditadura militar. O título fazia alusão a pichações nos muros de Belo Horizonte por conta do julgamento do playboy Doca Street, acusado de ter matado a mulher Ângela Diniz. A minissérie foi polêmica e contribuiu para o debate sobre os direitos da mulher numa sociedade que procurava o caminho para a democracia.

Trinta e três anos depois, Euclydes Marinho escreve a minissérie Felizes Para Sempre?, retornando ao tema dos dramas de relacionamentos de vários casais de uma mesma família da série de 1982. Somente que agora num contexto bem diferente: numa TV Globo que tenta reverter a sua crise de audiência e que simultaneamente assumiu o papel de oposição ao Governo Federal.

sexta-feira, fevereiro 06, 2015

Uma crítica irônica ao racismo europeu em "Charleston Parade"

Estamos em 2028. A Europa foi arrasada por uma guerra mundial e Paris está em ruínas com poucos sobreviventes. Um explorador desce numa esfera voadora e descobre um dos sobreviventes. Ela é uma mulher selvagem que, com seu gorila de estimação, dança nas ruas um ritmo estranho chamado Charleston. Esse explorador é negro e vem da África que se tornou o centro da civilização, enquanto a Europa branca tornou-se arruinada e selvagem. Estamos falando de algum filme distópico atual? Não, esse é um estranho e irônico curta de ficção científica francês de 1927 “Charleston Parade” (Sur Un Air De Charleston) de Jean Renoir, filho do famoso pintor impressionista. O curta é uma engraçada crítica politicamente incorreta ao racismo e colonialismo europeu. A produção tornou-se obscura e esquecida pelas diversas coletâneas do diretor. Mas o “Cinegnose” descobriu e mostra para os leitores.

Filho do pintor impressionista francês Pierre-Auguste Renoir, Jean Renoir foi um dos menos conhecidos pioneiros do cinema. A carreira dele resultaria mais tarde em filmes realistas convencionais como A Grande Ilusão (1935) e Regras do Jogo (1937). Mas a sua primeira fase composta por filmes mudos foi subestimada e incompreendida no seu tempo, obrigando Renoir a vender quadros do pai famoso para financiar seus filmes.

Essa primeira fase composta de nove filmes mudos é marcada pelo experimentalismo e temas engraçados e bizarros. Uma amostra dessa fase é o surpreendente curta de ficção científica Charleston Parade (1927) realizado em uma tacada só em três dias.

quinta-feira, fevereiro 05, 2015

O enigma da calma estoica de Alckmin

Enquanto a crise hídrica é anexada à energética pela grande mídia, nacionalizando a pauta e sobrando as medidas impopulares para a presidenta Dilma, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, passa incólume pela crise.  Alckmin tira vantagem de uma blindagem midiática? A resposta não é assim tão simples, onde a grande mídia supostamente teria poderes para operar uma lavagem cerebral em um Estado inteiro. Uma pista talvez esteja no impagável apelido dado pelo colunista José Simão ao governador em 2001: “picolé de chuchu diet”. O colunista foi profético – pressentiu o papel que Alckmin desempenharia no futuro onde essa imagem “diet” junto à opinião pública seria fundamental: o papel de líder de um Estado que, de locomotiva da Nação, se transformaria em laboratório sócio-econômico de dolorosas experiências neoliberais. Com sua “calma estoica”, Alckmin reflete um novo conservadorismo baseado num mecanismo de defesa psíquico para os tempos difíceis anunciados diariamente pela mídia.

Quando em 2001 o então vice Geraldo Alckmin assumiu interinamente o cargo de governador de São Paulo em decorrência do agravamento de saúde e posterior morte de Mário Covas, o colunista da Folha José Simão o apelidou de “picolé de chuchu diet”.

Mal sabia o colunista que esse apelido seria profético: Simão conseguiu sintetizar nessa impagável analogia a physic du rôle necessária a um político para o papel que desempenharia no futuro – o de líder de um Estado que, de locomotiva da Nação, se transformaria em laboratório social e econômico das experiências neoliberais.

terça-feira, fevereiro 03, 2015

A mecânica quântica nas relações humanas no filme "Coherence"


Em uma noite amigos se reúnem para um jantar regado a vinho. Um cometa cruza o céu. O físico austríaco Schrödinger em 1935 imaginou a famosa experiência do gato preso em uma caixa para ilustrar os paradoxos da mecânica quântica. O filme "indie" “Coherence” (2013) junta esses três elementos para criar um dos mais inventivos roteiros dos últimos anos. Complexos conceitos da física quântica como “sobreposição”, “entrelaçamento” e “decoerência” são transferidos do mundo subatômico para as tensões das relações humanas. E se todos naquele noite estiverem na mesma situação angustiante do gato de Schrödinger? Mas também pode ser a oportunidade de realizar o sonho da segunda chance e corrigir as escolhas erradas de uma vida.

sábado, janeiro 31, 2015

Série "Mundo da Lua" previu crise atual da água em 1991?

Assistir ao episódio “Esquadrão do Sabonete” da série de TV brasileira “Mundo da Lua” apresentado em 1991 é a oportunidade de ter uma desconcertante experiência de "dèjá vu": teria lá no passado o protagonista Lucas previsto a atual crise da água? O episódio reserva estranhas conexões entre passado e futuro – coincidências ou sincronicidades? Essas possíveis conexões trazem a discussão sobre as fronteiras entre ficção e realidade tal como propostas por escritores como Charles Bukowski e Philip K. Dick: para o primeiro, a realidade consegue superar a ficção em bizarrice, por isso a literatura deve ser mais estranha que o real; para o segundo, a realidade é o futuro como profecia auto-realizável. É a hipótese sincromística: haveria um subtexto com linhas sincrônicas que dariam um sentido (natural ou conspiratório) a uma realidade aparentemente caótica? Pauta sugerida pelo nosso leitor Carlos Vinícius.

Certa vez o escritor underground e maldito Charles Bukowski (1920-1994) foi questionado sobre o porquê do seu estilo bizarro e exagerado de escrever, para começar os títulos que costumava a dar aos seus contos (“A Máquina de Foder”, “Kid Foguete no Matadouro, “Doze Macacos Alados não conseguem trepar sossegados” etc.): “em um mundo onde notícias e acontecimentos são tão estranhos, somente uma ficção literária bizarra pode tentar superar a realidade”.

Essa estranha percepção de Bukowsky sobre o limiar entre a ficção e a realidade vai de encontro a atual hipótese do Sincromisticismo: a onipresença do contínuo midiático e a forma como os meios de comunicação exploram verdadeiras egrégoras de formas-pensamento e arquétipos, torna os limites entre ficção e realidade cada vez mais tênues e confusos – a vida imita a ficção ou vice-e-versa?

sexta-feira, janeiro 30, 2015

Conteudismo: a doença infantil da comunicação

As estruturas de comunicação de instituições públicas são lentas para reagir a ambientes midiáticos negativos. Mas no caso atual do Governo Federal o problema não é de “timing”, mas principalmente do paradigma que orienta suas estratégias: o Conteudismo, a doença infantil da Comunicação. Da vulgarização da utilização de filmes em sala de aula para ilustrar de maneira linear conteúdos curriculares à ordem da presidenta Dilma para que os ministros sejam “claros e precisos” e “comuniquem iniciativas e acertos” para enfrentar a “batalha da comunicação”, todos partilham de um mesmo equívoco: de que a questão da Comunicação se trata unicamente de transmissão de conteúdos. O cenário midiático atual não se identifica mais com uma “batalha da comunicação”, mas com verdadeiras “guerrilhas semióticas” – recursos formais de linguagem que visam muito mais corações do que mentes, muito mais construção de percepções do que transmissão de conteúdos. Guerrilhas semióticas têm a ver com batalhas de percepções e não de informações.

Quando o videocassete surgiu no Brasil nos anos 1980, foi recebido com euforia pelos professores. A imediata disponibilidade de filmes que até então somente era possível de serem assistidos no cinema, vislumbrou a imediata aplicação em sala de aula.

Assim como os espectadores comuns, os professores se fixaram no conteúdo temático dos filmes que poderia ser associado linearmente aos conteúdos programáticos de cada disciplina: aula sobre a independência do Brasil? Exiba Independência ou Morte com Tarcísio Meira para os alunos; algo sobre a Idade Média? O Nome da Rosa; Ditadura Militar? O filme O Que é Isso Companheiro? E ainda teve professor que para ilustrar o porquê da queda do Império Romano apresentou o controvertido filme Calígula – com o previsível escândalo do diretores, coordenadores e pais de alunos.

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