quinta-feira, julho 11, 2013

Opinião: "Os cátaros, Paulo Coelho e o turismo esotérico" e "Drogas, discoteca e 3D"


Dentro da nossa sessão “Opinião” uma contribuição do nosso leitor “Anônimo” à postagem crítica sobre um texto de Paulo Coelho sobre os Cátaros: a história de Jules Doinel, arquivista francês e criador da primeira igreja gnóstica neocátara dos tempos modernos, a partir de uma carta encontrada de um chanceler epicospial chamado Etienne, que fora queimado por heresia em 1022. Essa carta mudou a vida de Doinel. E também um comentário sobre a conexão entre drogas lisérgicase a experiência mística da vivência da “teologia negativa”.  

terça-feira, julho 09, 2013

O documentário "Pax Americana" e o caso Edward Snowden


Nesse momento em que vemos em pleno horário nobre das emissoras o vazamento de documentos da NSA (Agência de Segurança nacional dos EUA) por Edward Snowden dando conta de que a privacidade das comunicações de indivíduos e nações pode ser a qualquer momento devassada por dispositivos eletrônicos, é oportuno assistir ao documentário “Pax Americana e a Militarização do Espaço” (2009) do francês Denis Delestrac. Principalmente porque a descrição que o documentário faz do modus operandi  da inteligência militar norte-americana e a noção de “espaço” pensada por ela é bem diferente da tradicional noção orwelliana de “espaço” que os analistas vem pensando o caso Snowden. Se os conteúdos revelados pelos documentos há décadas são conhecidos e divulgados por estudiosos de comunicação e teóricos da conspiração, por que só agora foram “vazados” de forma generalizada por todas as mídias?

Em 12 de junho de 1982 houve uma grande manifestação em Nova York. Quase um milhão protestaram contra as armas nucleares e a corrida armamentista. Era então o auge da Guerra Fria. Na TV falava o tenente-general Daniel Graham que era o chefe da Defesa Estratégica de Ronald Reagan. Perguntaram-lhe se estava preocupado com uma manifestação de um milhão de pessoas nas ruas protestando contra armas nucleares. Disse: “Parece-me fantástico! Estão protestando contra mísseis balísticos intercontinentais, enquanto nós vamos para o espaço. Eles não fazem ideia do que fazemos. Então, que continuem assim”.

Esse episódio descrito por “Pax Americana e a Militarização do Espaço” talvez seja o mais perturbador neste documentário dirigido pelo francês Denis Delestrac. Sugere que todo movimento de protestos, críticas ou denúncias estaria sempre aquém dos poderes que pretendem desmascarar. Como um jogo de “resta um”, parece que sempre falta o conhecimento de uma outra cena, de um outro passo que estaria sempre à frente do alvo das manifestações.

segunda-feira, julho 08, 2013

Em Observação: Sob Você, A Cidade (2010)


Dando continuidade ao Ciclo de Filmes Alemães no Clube Transatlântico em São Paulo, nesta quarta-feira (10/07) às 20h será exibido “Sob Você, A Cidade” (Unter Dir Die Stadt, 2010). Um filme oportuno em um momento de crise financeira internacional cujo epicentro está na Zona do Euro. O diretor Christoph Hochhäuser promete fazer um mergulho no vortex do capitalismo financeiro onde poder e dinheiro se confunde com jogos de sedução na vida afetiva e amorosa: jogos de aquisição e fusão de capitais na vida pública poderiam se confundir com os jogos de sedução na vida privada?

domingo, julho 07, 2013

A semiótica das fotografias de casamento


Cresce o número de divórcios no País, mas o mercado de casamentos é promissor com uma expectativa de movimentar 16 bilhões de reais em 2013. Como explicar o paradoxo de uma instituição que simbolicamente se esvazia diante de formas alternativas de relacionamentos afetivos, mas que economicamente cresce como mercado de consumo de bens e serviços? Talvez encontremos uma pista nas fotografias de casamento. Com a ajuda da Semiótica, podemos descobrir no sistema de significados dessas fotografias estratégias irônicas e de autodistanciamento que explicariam como noivos e familiares perpetuam uma instituição cada vez mais psiquicamente colocada em xeque.

Acompanhamos um curioso fenômeno próprio de uma sociedade midiatizada como a que vivemos: a sobrevida de instituições sociais tradicionais por meio de uma espécie de “autoconsciência irônica”. Instituições que foram esvaziadas simbolicamente em sua autoridade, legitimidade e significado (seja social, econômico, religioso, metafísico etc.) pelas transformações sócio-históricas, mas que permanecem como “instituições zumbis” que ganham uma sobrevida ao serem mercantilizadas e transformadas em células de consumo dentro do sistema econômico.

A família seria uma dessas instituições, como já vimos em postagens anteriores (veja links abaixo): a perda da autoridade paterna tem uma relação direta com a idealização da família perfeita presente nos comerciais de produtos matinais e de sabão em pó. Ao mesmo tempo, acompanhamos o cultivo de um autodistanciamento irônico através da crítica corrosiva em animações como “Os Simpsons” ou “The Family Guy” onde pais e filhos riem de si mesmos.

sexta-feira, julho 05, 2013

Um espiritualismo eletromagnético no filme "Accumulator 1"


A engraçada ficção científica checa “Accumulator 1” (1994) se associa a uma longa tradição cinematográfica de representações da TV e do controle remoto como veículos de disseminação do Mal, portais multidimensionais ou como meio de conexão com mundos espirituais e virtuais que podemos ver em filmes como “Poltergeist”, “Videodrome” ou “Click”. Por trás desse imaginário estaria o fascínio pelos fenômenos eletromagnéticos que, desde a sua descoberta, sempre estiveram associados ao oculto e ao espiritualismo. Em “Accumulator 1”, por exemplo, a TV é um dispositivo que drena energias vitais dos espectadores que vão animar um universo alternativo espelhado.

quarta-feira, julho 03, 2013

Opinião: "Filme El Método e gameficação da realidade" e "Físicos afimam que Universo é simulação computacional finita"


Dando continuidade à nossa sessão “Opinião”, vamos postar aqui os melhores comentários do artigo sobre o filme espanhol “El Método” (no Brasil, “O Que Você Faria?”, 2005) e de outro artigo sobre a notícia de que físicos norte-americanos especulam seriamente sobre a possibilidade de o Universo ser uma simulação computacional finita.

segunda-feira, julho 01, 2013

Em Observação: "Under the Dome" (2013)


Sugerido pelo nosso leitor !3runo, a série "Under The Dome" estreiou dia 24 de junho da TV CBS nos EUA. Baseado no livro homônimo do escritor Stephen King, o episódio piloto nos mostra o estranho incidente que faz uma pequena cidade ficar isolada do resto do mundo: inexplicavelmente uma redoma gigantesca e transparente cai do céu, mantendo os habitantes de Chester's Mill prisioneiros. A série tem grande potencial em desenvolver temas caros aos filmes gnósticos: personagens prisioneiros em um microcosmo, atmosfera de conspirações governamentais ou alienígenas e clima de paranoia generalizada entre os habitantes da cidade: todos parecem esconder algum estranho segredo.

sábado, junho 29, 2013

Bombas semióticas explodem na mídia


Paralela à escalada de manifestações no País, nesse momento em cada redação de um veículo de comunicação e em cada cobertura jornalística nas ruas, está sendo travada uma verdadeira guerrilha semiótica: um enorme aparato de recursos bélicos retóricos, linguísticos e semiológicos está sendo mobilizado para saturar fotografias e vídeos com significações que apontam para uma estratégia discursiva bem evidente: a imagens devem ser testemunhas da instabilidade, caos e baderna que dominaria a Nação. Encontramos duas “bombas semióticas” (uma no Portal Terra e outra na autodenominada “edição histórica” da revista Veja) e tentamos desmontá-las em um exercício de engenharia reversa. Bombas camufladas em informação, mas que explodem para criar ondas de choque de um tipo de propaganda baseada no esvaziamento de dois símbolos: a da “bandeira nacional” e o do “manifestante”.

Junto com as manifestações nas ruas de várias cidades no País, está ocorrendo uma guerrilha de um tipo muita especial: uma guerrilha semiótica nas mídias. Depois da primeira semana em que se viram perplexos diante das manifestações que saíram do script do jogo político-institucional e reponderam de uma forma reflexa (taxando os manifestantes de “criminosos” e “politicamente burros”) os meios de comunicação monopolistas encontraram uma narrativa em que podiam ser encaixados os acontecimentos: o roteiro da escalada da instabilidade, descontrole e baderna que estaria minando o governo federal.

Para tanto, nesse momento está sendo mobilizando um impressionante aparato retórico, linguístico e semiótico em fotografias e vídeos. Uma mobilização talvez somente comparável às estratégias discursivas de períodos de guerra como a propaganda política norte-americana e nazista durante a Segunda Guerra Mundial.

quarta-feira, junho 26, 2013

Lâmpadas e conspirações no curta argentino "Luminaris"


O mais premiado curta de animação argentino e que chegou a ficar entre os dez finalistas para concorrer ao Oscar da categoria, “Luminaris” (2011) de Juan Pablo Zaramella apresenta em seus seis minutos uma grande riqueza simbólica a partir da colagem de estilos que vai da arte Deco e Surrealismo ao Filme Noir e Neorrealismo. O que representaria a alegoria de um universo alternativo governado por uma estranha força magnética do Sol que arrasta todos para os seus trabalhos? Apesar de Zaramella desconversar sobre o simbolismo do seu curta, podemos fazer um pequeno exercício de leitura do conteúdo da narrativa a partir de três pontos de vista: o marxista, o conspiratório e o gnóstico.

O mais premiado curta argentino, “Luminaris” em 2012 foi pré-selecionado entre os dez finalistas para concorrer ao Oscar dentro de sua categoria. Feito com uma técnica de stop-motion denominada pixilation onde atores reais interagem com objetos inanimados - veja o curta abaixo.

Dirigido por Juan Pablo Zaramella, a narrativa de seis minutos é ambientada em uma Buenos Aires que parece o resultado do cruzamento entre filme noir, realismo fantástico, neorrealismo e surrealismo. O curta conta a história de um homem (Gustavo Cornillón) que vive em um universo alternativo onde o tempo, o trabalho e o cotidiano são controlados pela luz do sol que age como espécie de força magnética, despertando a todos para depois arrastá-los ao trabalho e trazê-los ao final do expediente de volta para casa. O protagonista tem um trabalho rotineiro e repetitivo na linha de montagem em uma fábrica de lâmpadas onde são produzidas de uma forma, digamos, não muito ortodoxa...

segunda-feira, junho 24, 2013

O tempo conspira contra os algoritmos no filme "Cosmópolis"


Baseado em livro homônimo de 2003, o filme “Cosmópolis” (2012) do diretor David Cronenberg ganha atualidade com os movimentos antiglobalização como Occupy Wall Street e o colapso do Euro: a bordo de uma limusine, que na verdade é uma alegoria do ciberespaço, um jovem multimilionário do mercado financeiro cruza uma Nova York caótica enquanto acompanha através das telas de computadores a falência dos seus algoritmos que não conseguem prever a sua derrocada financeira. Mais do que uma alegoria sobre uma geração que construiu uma arquitetura da informação abstrata e desconectada da humanidade, Cronenberg discute a morte dos novos deuses criados pelas tecnologias baseados na fé de que a matemática estaria por trás tanto de espirais galácticas quanto das operações financeiras. Deuses que esqueceram a principal falha cósmica: o tempo.

Eric Parker (Robert Pattinson), um multibilionário príncipe do mundo financeiro com seus vinte e poucos anos, atrás de seus óculos escuros, um rosto blasé e a bordo de uma limusine high tech, decide cruzar a cidade de Nova York para cortar o cabelo em uma antiga barbearia que remonta a sua infância.

Porém, a cidade vive o caos com a visita do presidente dos EUA. Um grupo de seguranças ao redor de Parker o alerta do perigo eminente de sofrer um atentado. Na verdade, ele e o presidente dos EUA parecem ser os alvos preferenciais em meio às ruas tomadas por protestos antiglobalização.

Todas as suas operações financeiras são monitoradas a partir da limusine através de diversas telas. Parker acompanha com ansiedade uma arriscada operação, uma aposta na queda da moeda chinesa, o Yuan. Ao longo do difícil e congestionado trajeto até o barbeiro, Parker acompanhará a valorização da moeda daquele país e a sua derrocada financeira pessoal até a falência.

quarta-feira, junho 19, 2013

Apertem os cintos... a Esquerda sumiu


A escalada de manifestações nas ruas em todo o país parece expressar um profundo mal estar dos jovens em relação não apenas à política (o jogo partidário), mas principalmente à instituição da Política como representação de qualquer demanda social. Desconfiam que por trás da Política ou do Poder não existe nada mais do que ardil, simulação, blefe. Mas a mídia tem horror ao vácuo: para manter o ardil da simulação os meios de comunicação precisam encaixar as manifestações em um script, assim como um novo roteiro de um filme publicitário que oferece mais do mesmo para o mercado.

As interpretações dos cientistas e comentaristas políticos crescem na mesma proporção que os protestos nas ruas. Em toda essa espiral interpretativa há um ponto que todos parecem concordar: a incrível flexibilidade e rapidez da logística das mobilizações nas ruas através das redes sociais contrasta com os lentos canais de comunicação representativos de partidos políticos, Executivo e organizações classistas. A UNE, por exemplo, desapareceu. Qualquer identificação partidária no meio das passeatas é vista com maus olhos e rejeitada pelos manifestantes.

Mas essa questão logística de comunicação é apenas o sintoma: os jovens na rua estão expressando um profundo mal estar em relação não apenas à política (o jogo partidário), mas principalmente à Política – o questionamento da própria ideologia política como representação de qualquer demanda social. Em outras palavras, os jovens desconfiam que por trás da Política ou da ideologia não existe nada e que tudo é um ardil, uma simulação, um blefe.

terça-feira, junho 18, 2013

OVNIs e parapolítica no filme "Wavelength"


Um prato cheio de mistérios, OVNIs, coincidências e conspirações. “Wavelength” (1983) de Mike Gray (documentarista e ativista político) e produzido por um advogado não menos ativista é um daqueles filmes estranhamente esquecidos por críticos e cinéfilos. No momento atual em que autoridades vêm a público cobrar dos governos que o fenômeno OVNI seja assumido oficialmente, “Wavelength” é relembrado como um filme supostamente baseado em um caso real ocorrido em Hunter Liggett, sul da Califórnia. Principalmente após declaração de um físico que trabalhava em laboratório de pesquisas do governo dos EUA e uma testemunha do incidente que se diz surpreendido com a precisão da narrativa do filme: “Quem fez esse filme estava lá ou conheceu alguém que esteve lá”.

O filme “Wavelength” é um prato cheio para os teóricos da conspiração especializados nas conexões entre OVNIs e governos, a chamada “parapolítica”. Tanto pelo conteúdo da narrativa do filme e, principalmente, pelos eventos e coincidências que cercaram a sua produção que pesquisadores como Christopher Knowles qualificam como “sincromísticos”.

Esse sci-fi independente e de baixo orçamento foi esquecido pelo público e até mesmo pelos cinéfilos ao longo dos anos. Relembrar desse obscuro filme e dos eventos em torno dele é oportuno, principalmente depois que duas autoridades que ocuparam posições-chave em governos manifestaram a necessidade de ser assumido oficialmente a existência dos OVNIs: o ex-ministro de defesa do Canadá, Paul Heyller (acusou os EUA de “acobertamento”), e o ex-presidente russo Dmitry Medvedev que falou sobre “arquivos secretos oficiais sobre o assunto” em um rede de TV daquele país.

sábado, junho 15, 2013

O oportuno "Moonrise Kingdom" em tempos de jovens protestando nas ruas


Partindo do princípio de que o mix emocional de exaltação e melancolia da adolescência representa o último grito de um espírito que nega a adaptação ao futuro, “Moonrise Kingdom” (2012) constrói uma elaborada fábula sobre a inadaptabilidade do jovem a um mundo onde os adultos dizem “somos tudo o que vocês têm”. Enquanto filmes como a da franquia “Crepúsculo” ou “Harry Potter” representam esses aspectos depressivos da adolescência de forma solipsista e platônica (a felicidade só poderia ser alcançada nos sonhos ou em mundos mágicos e sobrenaturais), “Moonrise Kingdom” constrói um elaborado simbolismo permeado de misticismo e gnosticismo que não só desconstrói as formas de “cura” da revolta adolescente como aponta para a felicidade como uma chama interior que deve ser mantida acesa no mundo adulto que o aguarda. Um filme oportuno em tempos em que jovens estão tomando as ruas em protestos.

O diretor Wes Anderson é conhecido por criar um universo bem particular: em todos os seus filmes anteriores como “Os Excêntricos Tenembauns” (2001) ou “O Fantástico Sr. Raposo (2009) ele é capaz de criar um microcosmo onde os eventos e ações começam a ocorrer dentro de suas própria regras e tudo começa a ser impulsionado por emoções e desejos tão convincentes que se tornam mágicos.

Dessa vez o novo mundo criado por Anderson é uma ilha em algum lugar na costa da Nova Inglaterra nos EUA, onde as casas, fazendas, faróis, barcos parecem ser reproduções ampliadas de pequenos modelos ou miniaturas. A composição dos enquandramentos é cheia de simetrias, o movimento da câmera calculadíssimo e os personagens propositalmente estereotipados e contidos. Por isso, Anderson é muito criticado pelo estilo dito “maneirista”. Aqui, pelo menos, esse estilo passa a ter todo sentido: em uma ilha cujo artificialismo dos personagens, paisagens urbanas e naturais lembram muito a ilha de Seahaven do filme “Show de Truman” (The Truman Show, 1998) criam uma sufocante atmosfera de ordem, disciplina e hierarquia, um casal de adolescentes se rebela e planeja cuidadosamente e executa uma fuga: ela para fugir da crise conjugal dos seus pais e ele da disciplina e mediocridade de um campo de escotismo.

quinta-feira, junho 13, 2013

Em Observação: "Mahler no Divã" (2010)



Percy Adlon é um diretor conhecido por esse blog, principalmente pela comédia “Rosalie Vai às Compras” que já foi tema de postagem. O filme “Mahler no Divã” (2010) não trata de um divã real: o compositor Gustav Mahler jamais esteve no divã de Freud, mas foi analisado por ele de uma forma bem diferente para a ortodoxia do pai da psicanálise: caminhando. Caminhar como forma de descobrir a si mesmo tem profundos significados esotéricos e filosóficos. Assim como a própria figura de Mahler na história da música, considerado como um “romântico tardio”, pela sua morte prematura e sua música misturar exaltação e depressão. O filme será exibido dia 19 em São Paulo no Ciclo de Filmes Alemães no Clube Transatlântico.

terça-feira, junho 11, 2013

Físicos afirmam que o Universo é uma simulação computacional finita


“Partindo do princípio que o Universo é finito e que, portanto, os recursos de potenciais simuladores também o são, há sempre a possibilidade de o simulado conhecer os simuladores”. Essas são as últimas linhas de um artigo publicado por físicos da Universidade de Cornell, EUA, onde criam as diretrizes iniciais para a comprovação da hipótese de que o Universo é uma gigantesca simulação computacional a partir de uma simulação numérica da chamada “grade cromodinâmica quântica”, associada às forças básicas da natureza que unem prótons e nêutrons no núcleo do átomo. Tal conclusão leva a importantes implicações filosóficas gnósticas como, por exemplo, a atualização por meio da tecnologia de uma ambição humana revelada pela Teurgia e Alquimia na Antiguidade: imitar Deus para tentar encontrá-lo. Dessa vez, por meio da simulação algorítmica.

Talvez Deus não queira ser observado. Acho que Ele não gosta de curiosos” (Einstein)

Dessa vez é um grupo de físicos da Universidade de Cornell, nos EUA, que afirma que conseguiu aperfeiçoar as diretrizes iniciais de um método que comprovará que o Universo é uma gigantesca simulação computacional. Não fosse o fato de que pesquisadores da Universidade de Washington concordaram após investigar os dados da equipe de Cornell, poderíamos dizer que tudo isso não passa de um boato.

Em novembro do ano passado, físicos da Universidade de Bonn, Alemanha, anunciaram que procuravam uma “assinatura cósmica” a partir de uma simulação computacional por meio de minúsculos espaços cúbicos (grade de Gauge) que forneceria uma nova visão das partículas de alta energia. Dessa maneira, eles levariam à frente a hipótese do professor da Universidade de Oxford, o filósofo e matemático Nick Bostrom, que em artigo publicado em 2003 sustentava uma fórmula probabilística de que uma outra civilização poderia ter simulado o nosso Universo (veja links abaixo).

Pois em novembro do ano passado Silas Beane, Zohreh Davoudi e Martin Savage publicaram o artigo “Contraints on the Universe as a Numerical Simulation” (Cornell University Library, arXiv.org) onde observam as consequências da hipótese do Universo como simulação numérica a partir da possibilidade de que a próxima geração de computadores de alta performance possa simular a chamada “grade de cromodinâmica quântica” e, dessa forma, observar como os raios cósmico se refletem nessa estrutura.

quinta-feira, junho 06, 2013

Opinião: "Argo", "Ghost Army", "O Mágico de Oz" e "Cristo de Nag Hammadi"


Iniciamos com essa postagem uma nova sessão do blog “Cinema Secreto: Cinegnose”: “Opinião”. Estamos percebendo que nos últimos meses o nível dos comentários dos nossos leitores vem crescendo, deixando de ser muitas vezes um “comentário” (intervenções pontuais que são sempre bem vindas para esquentar o debate) para se tornar “opinião”, fundamentada em referências e informações que, acreditamos, pode ser de interesse para toda a comunidade de leitores desse blog.

Por isso, essa nova sessão dará destaque aos melhores comentários dos nossos leitores-comentaristas. Para começar, aqui estão as primeiras opiniões:

terça-feira, junho 04, 2013

O "efeito Heisenberg" na irrealidade midiática cotidiana


A transmissão televisiva da final do Novo Basquete Brasil parece confirmar aquilo que Neal Gabler chama de “efeito Heisenberg”, paradoxo quântico onde a mídia, na verdade, está cada vez mais cobrindo a si mesma e o seu impacto sobre a vida: ao mobilizar uma serie de signos que forçavam uma analogia com o show business esportivo norte-americano, a transmissão celebrou muito mais o sucesso da parceria da TV Globo com a nova liga oficial de basquete do que a transmissão de uma “jornada esportiva”. E para ficar mais evidente isso, o barulho ensurdecedor da torcida nas arquibancadas era menos pelos lances na quadra, do que pelo vai-e-vem das câmeras que comandavam as reações dos torcedores.

Neste último final de semana assisti pela TV a final do NBB (Novo Basquete Brasil, a liga oficial de Basquete brasileiro) entre Flamengo e Uberlândia na Arena da Barra no Rio de Janeiro.  Para além dos aspectos técnicos do jogo, começou a me chamar a atenção a forma como a partida se promovia para os espectadores e, além, disso, o próprio comportamento dos torcedores nas arquibancadas.

As belas imagens da arena e da quadra pareciam forçar uma semelhança com os imensos ginásios esportivos da Liga de Basquete norte-americana: o placar eletrônico onipresente suspenso sobre o centro da quadra, mascotes saltitando a cada parada técnica, notas musicais em som de órgão entoadas a cada anúncio de troca de jogadores, shows musicais com cantores nos intervalos etc. Uma atmosfera de show business, muito mais do que esporte: entretenimento.

Somado a isso o tom do comportamento da plateia parecia ser dados pelas câmeras que deslizavam por sobre as arquibancadas. Percebia-se que uma área da plateia, antes formada por torcedores sentados e concentrados no jogo, ao verem a proximidade da câmera se levantavam, pulavam e torciam de forma mais enérgica. Alguns homens mais empolgados beijavam suas companheiras ao serem surpreendidos pela proximidade da câmera...

domingo, junho 02, 2013

Sobre realidade, jardins e TVs no filme "Muito Além do Jardim"


“Muito Além do Jardim” (Being There, 1979), um clássico com Peter Sellers, teve sérios problemas para ser finalizado: o diretor Hal Ashby entrou em sério desentendimento com a produtora Lorimar Films para impor um final que seria um dos mais polêmicos da história do cinema (o final "andando sobre as águas"), um final tão cético que beira o ateísmo, isso após uma sequência onde aparecem símbolos maçônicos no mausoléu de um dos protagonistas. Mas “Muito Além do Jardim” é antes de tudo um filme sobre como a TV é capaz de moldar nossa percepção do real, assim como todos projetam suas percepções e interesses no protagonista. Uma fábula sobre a paradoxal incomunicabilidade em uma cultura moldada pelos meios de comunicação.

Nunca um filme teve um título em português tão bem acertado: “Muito Além do Jardim”. O título designado para “Being There” do diretor Hal Ashby, é perfeito porque a narrativa de quase duas horas em um ritmo elegante (ou lento, de acordo com a referência cinematográfica do espectador) vai pouco a pouco aprofundando as consequências na vida de um homem que se vê de repente despejado na rua após perder o emprego de uma vida inteira (jardineiro) e como o acaso vai construindo o seu destino em uma trajetória que o faz adentrar acidentalmente em círculos cada vez poderosos até chegar ao presidente dos EUA.

Da história de um homem simples cuja percepção da realidade foi moldada pela TV, passando pela forma como inesperadamente se torna um “insider” dos altos círculos do poder de Washington até o final onde símbolos esotéricos sugerem teorias conspiratórias na política e um inesperado, ambíguo e perturbador final que potencialmente pode por em xeque tudo que acabamos de assistir.

Como veremos adiante (aviso de spoiler) a sequência final, que quase custou o emprego do diretor Hal Ashby que insistiu em colocá-la na edição final do filme mesmo sob ameaça de demissão pela produtora Lorimar, é uma das mais polêmicas da história do cinema: podemos interpretá-la ou como um final poético sobre a pureza do protagonista ou como um brutal ceticismo que confirmaria as intenções do diretor em inserir algumas simbologias esotéricas na narrativa.

quinta-feira, maio 30, 2013

"Argo" e "Ghost Army": a simulação uniu Guerra e Cinema


Os inimigos dos EUA sempre os atacaram ou com o fundamentalismo religioso-ideológico (islamismo, comunismo etc.) ou com a tática da guerra total (os nazis na Segunda Guerra Mundial). E os americanos responderam com sua principal arma: a simulação. Diferente das táticas ideológico-militares de dissimulação, os EUA encontraram uma arma ainda mais insidiosa no interior da sua própria cultura: do “Studio System” de Hollywood às mesas de pôquer de Las Vegas a arma da simulação e do blefe. Os casos históricos de “Argo” em 1979 no Irã e a inusitada tática de uma unidade militar chamada “Ghost Army” na Segunda Guerra Mundial ilustram bem essa complexa conexão entre Guerra e Cinema que explica porque a simulação conquistou o mundo.

Estamos acostumados a pensar o cinema hollywoodiano como instrumento ideológico do complexo governo-militar-diplomático dos EUA. Exemplos não faltam das evidências disso: desde os filmes patrióticos, a promoção dos novos heróis pós-depressão econômica de um país revitalizado pela vitória na Segunda Guerra Mundial e a “política de Boa Vizinhança” com Carmem Miranda e Zé Carioca para agradar e cooptar os países da América do Sul na época da Guerra Fria e a ameaça comunista; até os filmes e minisséries dos anos 1960-70 que tornaram o american way of life desejáveis para nós e os filmes de ação de Rambo e Braddock da era Reagan para levantar a imagem militar de um país derrotado no Vietnã.

Nesses casos temos a submissão da produção cinematográfica às estratégias de dissimulação dos interesses do Estado. É importante entender esse conceito de dissimulação: é a situação onde alguém afirma não possuir algo que, na verdade, está escondendo. É o campo da mentira, da manipulação e da ideologia.

Mas ao longo da história das complexas conexões entre Cinema e Estado podemos encontrar uma situação inversa onde o complexo governo-militar-diplomático se submete à lógica do sistema cinematográfico, procurando imitá-lo em uma estratégia de simulação.

quinta-feira, maio 23, 2013

O espectro do tautismo ronda a TV Globo


A linguagem da TV Globo sempre abusou das metalinguagens como exercício de demonstração do seu poder tecnológico e financeiro: passar a maior parte do tempo transmitindo a sua própria transmissão. Porém, nessa semana percebemos a recorrência de um fenômeno novo, desde a notícia da morte de turistas brasileiros na Turquia. Um fenômeno que o pesquisador francês Lucien Sfez chama de “tautismo”: um processo de comunicação sem personagens que só leva em conta a si mesmo, resultando em uma situação simultânea de autismo e tautologia. Isso seria o resultado final de todo sistema complexo que começa a fechar-se em si mesmo, tornando-se cego ao ambiente externo. Sem conseguir estabelecer a diferença entre “dentro” e “fora”, “ficção” e “realidade”, o sistema torna-se autofágico. O tautismo poderia ser o sinal decisivo do fim da hegemonia da TV Globo?    
Um fantasma ronda os corredores da TV Globo. É o espectro do tautismo. Esse neologismo criado pelo pesquisador francês Lucien Sfez através da combinação das palavras “tautologia” (do grego tauto, o mesmo) e “autismo” (autos, si mesmo) talvez nomeie uma estranha recorrência nesses últimos dias na programação da emissora.
Em um espaço de menos de uma semana em uma amostragem bem aleatória, encontrei uma repetição de eventos, sejam eles conteúdos de ficção ou não-ficção, onde sempre há um princípio de auto-referência.

quarta-feira, maio 22, 2013

Em Observação: "Muito Além do Jardim" (1979)


Um filme que merece ser revisitado por esse blog. Há muito tempo assisti ao filme e, pelo que parece, passei tanto tempo sem assisti-lo de novo talvez porque a própria crítica especializada o esqueceu: raramente encontramos o filme "Muito Além do Jardim" em listas dos melhores filmes. Embora a própria crítica reconheça que seja uma das melhores críticas à sociedade e à mídia feita pelo Cinema. Peter Sellers faz essa comédia dramática tentando separá-lo da imagem do Inspetor Closeau depois do sucesso comercial da série "A Pantera Cor de Rosa" nos anos 1970. Muitos o associam ao tema do filme "Forrest Gump" (1994), porém com uma diferença: se no filme com Tom Hanks as tiradas filosóficas sobre o nada são levadas à sério, aqui Peter Sellers utiliza todo cinismo e ironia para mostrar como as pessoas começam a levar à sério alguém que unicamente repete os clichês despejados pela TV. 

terça-feira, maio 21, 2013

A lógica publicitária do "Papai Noel" no filme "Gente Louca"


Em crise criativa, um publicitário bem sucedido descobre que passou grande parte da vida mentindo para ganhar dinheiro. Começa então a fazer o que ele chamará de “Publicidade honesta”: “Linhas Aéreas United: nossos aviões caem menos que o da concorrência” ou “Cigarros Amalfi: Câncer? Talvez. Sabor? Com Certeza!” são algumas das pérolas que são vistas por todos na Agência da Madson Avenue como criações de alguém que enlouqueceu. Logo o protagonista se vê internado em um manicômio, onde fará uma nova agência de publicidade, dessa vez com os pacientes do hospital. “Gente Louca” (Crazy People, 1990) com o comediante britânico Dudley Moore é uma comédia romântica sem pretensões, mas que desenvolve um supreendente pano de fundo crítico. O filme é uma ótima oportunidade para ilustrar a irônica natureza da lógica da crença publicitária sugerida pelo pensador francês Jean Baudrillard: a “Lógica do Papai Noel”.

Um filme despretensioso, uma comédia romântica daquelas que passavam nas sessões da tarde da TV brasileira quando espectadores ociosos (e talvez desempregados) ficam preguiçosamente na frente da televisão digerindo o almoço. “Muito Loucos” (Crazy People, 1990) certamente passaria despercebido pelo blog e nem faria parte do nosso foco de interesse se ele não contivesse um brilhante insight: e se um publicitário resolvesse da noite para o dia contar apenas a verdade dos produtos que anuncia e da própria Publicidade?

Mais do que isso, e se ele começasse a mostrar ao consumidor a verdadeira motivação que o faz querer comprar determinados produtos, motivação que nada tem a ver com necessidades reais ou racionalidades? Que o consumidor adquire muita coisa pela sua própria inutilidade?

Pois essa é o argumento provocativo no interior de um filme que é obviamente estruturado pelas convenções do gênero e se perde nos clichês da comédia romântica com desencontros amorosos que têm uma reconciliação final.

domingo, maio 19, 2013

O paradoxo de um prisioneiro no curta "Room 8"


Premiado no Tribeca Film Festival desse ano, o curta “Room 8” desafia o protagonista e o espectador a um paradoxo lógico: qual a verdadeira prisão em que os personagens se encontram? Quando uma caixa é aberta no interior de uma cela, eventos surreais começam a acontecer que colocam em xeque a natureza não só da prisão como a da própria realidade. O paradoxo lógico proposto pelo curta teria solução?

Situado em uma cela de prisão russa em um momento qualquer da Guerra Fria, um prisioneiro britânico é transferido para uma nova cela (“sala 8”) onde encontra um compatriota e uma misteriosa caixa vermelha sobre a cama. Quando a caixa é aberta uma série de acontecimentos surreais e incríveis oferecem a ele a oportunidade de escapar.

A trama nos remete diretamente à atmosfera das narrativas da antiga série “Além da Imaginação”. Dirigido pelo inglês James W. Griffiths e tendo como base o roteiro do vencedor de um Oscar, Geoffrey Fletcher, a trama de sete minutos tem uma parte de thriller, uma parte de ficção científica e uma parte de horror.

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