sexta-feira, setembro 03, 2021

Grande burguesia vai abandonar Bolsonaro? Esquerda tenta fazer oposição por procuração


A esquerda parece aquele penetra animado que fica na porta da festa tentando entrar de qualquer jeito, enquanto vê, lá dentro, a direita e extrema-direita bebendo e se divertindo. Essa condição faz a esquerda criar aliados imaginários, para inventar uma espécie de oposição por procuração: Biden, Mourão, OEA, Rodrigo Maia etc. Frustrada, agora esquerda comemora um suposto abandono da elite econômica diante de uma “tempestade perfeita” da inflação, desemprego e crise econômica crônica. O “manifesto” Fiesp-Febraban seria uma evidência... só que não:  a grande burguesia (banca financeira, agronegócio e exportadores de commodities) está lucrando ainda mais, desconectada da crise que atinge “apenas” o povão. Imersa na guerra criptografada de informações, a esquerda não percebe a nova reconfiguração do capitalismo: numa “banana plantation” da quarta revolução industrial, grande massa da população nem para ser explorada servirá. O que a esquerda vai fazer?

Bolsonaro pode ser julgado em Haia? A vitória de Joe Biden deixará Bolsonaro isolado, depois da perda do apoio de Trump? A Organização dos Estados Americanos (OEA) vai punir o Governo Bolsonaro pelo negacionismo no combate à pandemia? A União Europeia boicotará produtos brasileiros devido à política de desmatamento? Manifesto da Febraban e Fiesp ignifica que a elite brasileira está pulando fora do Governo Bolsonaro?

A esquerda brasileira parece viver num estado bipolar: entre a euforia do wishiful thinking e a depressão distópica de sentir como se tivesse do lado de fora de uma festa, observado tudo através de uma fresta na janela. Tenta compensar essa bipolaridade agindo sempre reativamente, com o fígado, o que a faz ficar ainda mais prisioneira e vítima da tática de controle total de espectro da guerra criptografada de informações implementada pela PsyOp militar.

Para esconder a sua impotência, tenta fazer uma espécie de oposição por procuração: se ela é incapaz de ter alguma relevância política no confronto com o Governo Bolsonaro, tenta encontrar algum aliado imaginário. Um aliado que fará o serviço que ela é incapaz de fazer.

Fora da “festa” e assistindo de fora o bate boca entre extrema-direita e direita (Bolsonaro vs. Doria Jr.; Bolsonaro vs. Wilson Witzel et caterva), desde o início quis apostar em aliados imaginários. No início eram as supostas “caneladas” do vice general Mourão em Bolsonaro. “Eu não sou ventríloquo do presidente!”, esbravejou para jornalistas. Prontamente, a esquerda parlamentar imaginou uma ala “legalista” militar que poderia intervir.

Depois, Bolsonaro chamou o presidente da Câmara, na época Rodrigo Maia, de “Nhoho”. Em revide, Maia disparou: “Não satisfeito em destruir o meio ambiente, agora resolveu destruir o próprio Governo”. Tudo pelas redes sociais, claro. Mas o suficiente para, com o posterior conflito Ricardo Salles vs. Maia, assanhar a esquerda e começar a comemorar um suposto “isolamento” de Bolsonaro. Enquanto Maia trancava a gaveta com os pedidos de impeachment e levava a chave...

Depois, veio a fase de a esquerda alimentar a esperança de alguma intervenção externa: o Tribunal de Haia ocupa o topo da lista do wishful thinking esquerdista: destruição ambiental, mortos na pandemia pelo negacionismo do presidente, genocídio de povos originários. Crimes contra a humanidade! Protesta a esquerda. 

A Organização dos Estados Americanos (OEA) também assanhou a esquerda: um relatório da Organização que apontava “o desmonte de políticas de direitos humanos no Brasil”. Comemorou as “críticas duras” da Comissão Interamericana da OEA, quando sabemos que o conceito de “direitos humanos” para essas organizações multilaterais é dúbio e abstrato, em geral justificando a intervenção do Império do Caos norte-americano em qualquer país no planeta. Tudo em nome da “democracia” e “liberdade”.



Em seguida, a esperança voltou-se para a Europa: grandes supermercados e empresas europeias estariam supostamente ameaçando boicotar produtos brasileiros pela política de desmatamento. As empresas teriam feito uma “carta aberta” a senadores e deputados e... ficou nisso mesmo.

Joe Biden derrotou o extremista Trump, apoiador? A esquerda comemorou o “isolamento” de Bolsonaro no cenário internacional. 

Mas depois Biden envia o homem forte da Cia, William Burns, para uma conversa com o presidente. Enquanto aviões dos EUA pousaram em agosto no Brasil para o “Exercício Conjunto Tápio 2021” com a FAB. Cerca de 30 aeronaves e 16 Unidades Aéreas e de Infantaria foram deslocadas para o treinamento na capital sul-matogrossense. Durante o treinamento, militares e vetores são dispostos em cenário de guerra não convencional, no qual o combate é contra forças insurgentes ou paramilitares e não entre estados constituídos... treinamento para guerra interna?




Assim como Obama, Biden revela-se um novo senhor da guerra (dessa vez, híbrida) e o Brasil de Bolsonaro é o parceiro perfeito para manter a geopolítica Norte/Sul. Mais uma desilusão para a esquerda...

A grande burguesia quer mesmo abandonar Bolsonaro?

Porém, nos últimos dias pareceu ter surgido uma luz no fim do túnel: “Elite começa a abandonar Bolsonaro e centrão discute pular do barco”. Manchete repercutida pela mídia progressista encheu de esperança os “corações solitários do Sargento Pimenta”, carentes por finalmente encontrarem uma fresta para poderem entrar na festa. 

Quais a evidência? O “Manifesto Febraban e Fiesp” e as pesquisas da XP Investimentos que supostamente mostrariam que o “Condado da Faria Lima” não confiaria mais em Bolsonaro e Guedes.

Freak Out! Caixa Econômica e Banco do Brasil ameaçaram sair da Febraban se esse manifesto fosse publicado. Crise! Bolsonaro intervem em bancos estatais como reação à perda de apoio das elites econômicas. Bolsonaro está isolado!

Só que não... a luz no fim do túnel pode ser um trem vindo na contramão...O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, disse que o Manifesto “A Praça é dos Três Poderes” ficaria para depois de 7 de setembro. Enquanto a Febraban fez uma declaração anódina à imprensa nesta segunda-feira (30), dizendo que o assunto está encerrado e que já foi cumprida a função pela repercussão midiática. Disse que “não participou da elaboração de texto que contivesse ataques ao governo ou oposição a atual política econômica”

Para o economista Guilherme Melo, da Unicamp, o pretenso “desembarque” da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) do governo Bolsonaro é irreal. Assim como o propalado manifesto por pacificação entre poderes, da Fiesp de Paulo Skaf, pouco significa, a não ser “vamos parar de turbulências”.

Para o economista, o capital – Febraban e boa parte da “grande burguesia” – não indicam qualquer intenção de pular fora do barco de Bolsonaro. Até porque, para a rentabilidade do capital, a coisa vai bem. Isso apesar da pandemia, da crise industrial e do desemprego galopante, que atinge quase 15 milhões de pessoas no país – clique aqui

Os lucros de Bradesco, Banco do Brasil, Itaú e Santander chegaram a R$ 22,1 bilhões no segundo trimestre deste ano, com aumento de 63,6% na comparação com o mesmo período do ano passado.




As expectativas dos exportadores, principalmente do agronegócio, também estão longe de ser desanimadoras, considerando o impressionante crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) da China, de 7,9% no segundo trimestre sobre o mesmo período de 2020. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), as exportações do agronegócio cresceram 20,9% no primeiro semestre de 2021.

Para o professor da Unicamp, “Depois de 600 mil mortos na pandemia, inflação beirando a 10%, fome, miséria, desemprego, o máximo que conseguem é um manifesto pela ‘pacificação’. Aliás, nem citam o nome Bolsonaro nem cogitam impeachment. O desembarque só vai ocorrer quando eles encontrarem um novo barco, viável, e que atenda seus interesses. Estão procurando a terceira via, mas ainda não encontraram”.

Mais um aliado para a esquerda fazer oposição por procuração se comprovou imaginário, alimentado pelo tradicional wishiful thinking oposicionista. Loucos para que, magicamente, o Governo Bolsonaro desmorone por si mesmo.

Nova configuração do capitalismo

Na descrição feita pelo professor da Unicamp está uma das características mais perversas do chamado “Grande Reset Global” ou “Quarta Revolução Industrial”, cuja realidade ainda a esquerda não compreendeu: a total desconexão da elite econômica da realidade “chão de fábrica” - inflação, juros elevados, desemprego etc. 

Banca financeira, agronegócio e exportadores de commodities (que, não por acaso, são os patrocinadores da grande mídia) estão lucrando loucamente num país que assume o papel “banana plantation” na cadeia produtiva global. Esse é o fim do chamado capitalismo de escala, no qual o desemprego e a perda do poder aquisitivo eram um risco sistêmico para a produção em massa de uma sociedade de consumo.




A nova configuração do capitalismo não precisa mais de um grande contingente de força de trabalho e/ou exército industrial de reserva. Uma grande massa populacional nem para ser explorada servirá. Daí a imposição de necropolíticas e a precarização do trabalho através do Necrocapitalismo: mesmo antes de morrerem em trabalhos uberizados (caracterizados pela insalubridade, vulnerabilidade etc.), ainda assim produzirão lucro como mão de obra com prazo de validade curto.

E a pandemia global caiu como uma luva para acelerar essa urgente reconfiguração capitalista.

Trocando em miúdos: seja Bolsonaro ou um candidato da “terceira via”, para a grande burguesia e o capital são opções meramente estilísticas. Permanecendo Bolsonaro, apenas fecharão seus narizes para não sentirem o mal cheiro da putrefação da democracia – e da massa desempregada que terá como única oportunidade de trabalho as milícias ou crime organizado. Ou tomar bala perdida de um dos dois...

O que fazer?

A esquerda deveria assumir o espírito da filosofia de um dos ícones da contracultura, Timothy Leary: “Ligue-se, sintonize e caia fora”. 

modus operandi da guerra criptografada demonstrado nesse affair Fiesp-Febraban (Bolsonaro ameaça tirar os bancos públicos da Febraban, Skaf liga para dizer que não é nada disso, que não quer atacar ninguém; e a Febraban declara de forma ambígua que o caso “está encerrado”) ficou bem claro: visa unicamente criar um quadro de dissonância cognitiva para domínio total de espectro: enredar tanto a situação e oposição (turbinado pelo alarme da grande mídia) numa pauta sequestrada, enquanto dá as costas para o povo.


Leary: "Ligue-se, sintonize, caia fora!"


No fundo, a esquerda tem uma concepção mágica da política, de uma ação a distância: espera que o governo sangre ou desmorone por si mesmo. Porém, é justamente isso que a guerra criptografada quer fazer todos pensarem.

Portanto, a esquerda tem que cair fora desse espectro e voltar-se para um esforço pedagógico popular. 

Aliás, o mesmo que a grande mídia está fazendo nesse momento: diante da disparada dos preços e do desemprego, o jornalismo corporativo criou a linha editorial da “composição dos preços”, para apontar como vilão os impostos e a marcha lenta das reformas neoliberais como a principal responsável pela crise econômica – crise para o povão, não para a grande burguesia.

Um esforço pedagógico em mostrar para o povão como ligar “lé-com-cré”: como a política neoliberal é a causa da inflação e desemprego. Por exemplo, como por trás da crise energética estão empresas que lucram ainda mais com o esvaziamento dos reservatórios das hidrelétricas.

"A lógica do setor é a seguinte: quanto mais vazios os reservatórios, mais altas as tarifas", assevera Gilberto Cervinski, da coordenação nacional do MAB – Movimento dos Atingidos por Barragens.  

Com base na análise de dados públicos sobre a geração de energia no Brasil, ele faz uma denúncia grave. Quando já havia sinais de uma seca histórica, grandes hidrelétricas teriam esvaziado os reservatórios com o objetivo de aumentar os lucros de geradoras privadas. Isso em meio à pandemia, que provocou queda de 10% da demanda energética no país. 

Esses fatos deveriam ser didaticamente explicados para a população. Como? Nos anos 1970-80 havia as Comunidades Eclesiais de Base, comunidades inclusivistas ligadas a Igreja Católica que seguiam a “Opção preferencial dos pobres” (deliberação da CELAM de Medelin) e que favoreceu o trabalho de formação política da esquerda junto a locais carentes e miseráveis. 

E hoje? Sem essas comunidades que hoje se tornaram hierarquizadas e superados pela ação midiática da Canção Nova e Renovação Carismática, caberia a esquerda, com ajuda da estrutura de centrais sindicais, criar essa ação pedagógica capilarizada.

A ação político-semiótica “Bolsocaro” poderia ter sido o começo de algo muito maior. Mas, por enquanto, ficou apenas na manifestação iconoclasta – clique aqui.

 

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