sexta-feira, outubro 31, 2014
Em "Amantes Eternos" a melancolia dos vampiros denuncia a decadência dos vivos
sexta-feira, outubro 31, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Conhecido pelos seus protagonistas que vivem sempre à margem da
sociedade, arrebatados pelo vazio existencial e, por isso, capazes de um olhar mais
crítico e verdadeiro, o diretor Jim Jarmusch (“Estranhos no Paraíso”, “Down By
Law”, “Dead Man”, “Flores Partidas”) agora acrescenta os vampiros a sua
galeria de anti-heróis. Em “Amantes Eternos” (Only Lovers Left Alive, 2013) Jarmusch questiona
como seria viver eternamente em um mundo de seres mortais. Como seres que atravessaram séculos por todas as cenas culturais, científicas e artísticas
poderiam viver num mundo que parece ter esquecido de tudo que de mais
importante a História ofereceu (como, por exemplo, o trágico destino das ideias do
cientista Nikola Tesla), e vê no You Tube a sua única fonte de cultura e
entretenimento. Ironicamente, para os
vampiros os mortais não passariam de “zumbis” – seres condenados
pela morte a recomeçarem sempre do zero do esquecimento.
Parecia que
o cinema já tinha mostrado tudo sobre os vampiros: seres da noite, mortos
vivos, encarnação do próprio Mal, seres dotados de perigoso poder de sedução,
amores platônicos entre vampiros e mortais, amaldiçoados com a imortalidade,
doentes contagiosos etc. Mas faltava um diretor como Jim Jarmusch para trazer
esse personagem para a sua galeria de anti-heróis underground, aqueles que
vivem à margem da sociedade e que, por isso, são capazes de um olhar crítico
para uma sociedade de resignados.
terça-feira, outubro 28, 2014
O humano, demasiado humano no filme "Relatos Selvagens"
terça-feira, outubro 28, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
O homem atual seria um Sísifo moderno? Assim como o personagem da mitologia grega, condenado a carregar eternamente uma enorme pedra ao topo da montanha, o homem estaria condenado a não encontrar Deus, sentido ou propósito na existência, a não ser encontrar a si próprio – o humano, demasiado humano. Esse é a desconcertante co-produção Argentina/Espanha “Relatos Selvagens”, seis curtos relatos de pessoas comuns diante de circunstância incomuns: situações extremas com muito humor negro (e bota negro nisso) onde acabam sendo despertados em cada um os instintos mais básicos de vingança e violência. Em falso tom de comédia, o diretor Damián Szifrón parece querer brincar com o espectador: afinal, estamos rindo do quê?
domingo, outubro 26, 2014
A grande mídia ameaça: meu ódio será a sua herança
domingo, outubro 26, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Tal qual uma serpente, um muro cinza escuro serpenteia o
Brasil dividindo o País do Acre ao litoral. É com essa sinistra animação que o
infográfico do site da “Folha de São Paulo” chamado “Folhacóptero” explica o
cenário eleitoral brasileiro, em um previsível silogismo cuja conclusão é a de
que somente os pobres e ignorantes mantêm a candidata Dilma Rousseff na frente
das pesquisas eleitorais. Divisão e Muro são as metáforas que a grande mídia
sistematicamente vem utilizando para explicar o cenário político. Enquanto
publicações estrangeiras como a “The Economist” usam infográficos mais neutros
e elegantes para explicar as desigualdades históricas do Brasil, nossa grande
mídia usa a imagem do muro, simbolicamente carregada de ódio e separatismo. A
grande mídia sabe que vive o fim do seu poder político-financeiro e parece
querer deixar para a História o ódio como a sua única herança.
Quem não se
lembra do filme clássico do mestre da violência, Sam Peckimpah, Meu Ódio Será Sua Herança (The Wild Bunch, 1969)? Considerado o
sexto melhor western de todos os tempos pela American Film Institute (AFI). O
filme é um hino ao crepúsculo da era do Velho Oeste e da figura mítica do
cowboy, com um general mexicano aparecendo em um carro vermelho no lugar do
cavalo e metralhadoras e pistolas automáticas substituindo o tradicional
revólver de seis tiros.
O mau
presságio para os protagonistas do filme começa com a célebre cena quando
entram em uma cidade e avistam um grupo de crianças que empurram dois
escorpiões para um formigueiro para se divertirem com a imagem da violência no
meio natural.
sábado, outubro 25, 2014
A "bala de prata" é sintoma do "tautismo" da revista Veja
sábado, outubro 25, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Motivo de piadas e memes nas redes sociais, o verdadeiro remake do layout
da capa de 2012 sobre a novela Avenida Brasil em mais uma “bala de prata” da
revista “Veja” (matéria de capa sobre suposta denúncia de que Dilma e Lula
sabiam de todos os esquemas na Petrobrás) é muito mais do que falta de
criatividade ou preguiça de uma revista que definha financeiramente. É um
sintoma do “tautismo” (tautologia + tautismo), fenômeno de fechamento da mídia
em si mesma, a tal ponto que desaparecem as diferenças entre ficção e não-ficção,
telenovela e notícia. A própria resposta dada pela “Veja” às críticas comfirma
aquilo que pretende negar: através de um raciocínio tautológico diz que os acontecimentos
são verdadeiros porque “teimosamente” têm relevância eleitoral... e por isso sempre
acontecem na reta final das eleições!
O programa Redação Sport TV recebeu na semana
passada o ex-presidente do Fluminense Francisco Horta. Famoso nos anos 1970 por
ter montado a chamada “máquina tricolor” na base do “troca-troca” (intercâmbio
ao invés de compra de jogadores), ele era entrevistado por André Rizek e Xico
Sá. Para demonstrar a relevância do entrevistado, foram mostrados para os
espectadores fac-símiles de edições do Jornal O Globo da época, com manchetes sobre o ex-dirigente.
Rizek, então,
passou a fazer uma rápida contabilização do número de manchetes que o
Fluminense gerava no jornal entre 1975-77. Para o jornalista, o sucesso da
estratégia de Horta passou a ser discutido não pela sua contribuição para o
futebol brasileiro, mas pela capacidade de Horta tinha em produzir manchetes
para O Globo. Auto-referência: o
jornal toma a si mesmo como medida para avaliação da realidade. O jornalista
passou a confundir relevância midiática com relevância histórica.
sexta-feira, outubro 24, 2014
Em Observação: "Amantes Eternos" (2013) - por que os vampiros são melancólicos?
sexta-feira, outubro 24, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Profundos
conhecedores de arte, literatura, música e cinema. Aristocráticos, vintages, sensíveis,
e... melancólicos. Esses são os vampiros do diretor Jim Jarmusch em “Amantes
Eternos” (Only Lovers Left Alive, 2013). Por que seres imortais e tão poderosos
podem ser tão tristes e melancólicos? Esqueça os clichês de maldições,
insaciabilidade por sangue e amores platônicos tão comuns nos vampiros para
adolescentes da franquia “Crepúsculo”. Jarmusch recoloca o mito do vampiro na
sua tradição romântica e literária. Mas tem algo mais: o toque gnóstico ao ver
o vampiro como um ser privilegiado – ele jamais esquece, ao contrário dos
mortais presos no ciclo vicioso morte-reencarnação-esquecimento.
quinta-feira, outubro 16, 2014
A simplicidade descolada, coxinhas 2.0 e o novo neoconservadorismo
quinta-feira, outubro 16, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Diga
adeus a nomes de pratos requintados e ornamentais da culinária francesa, se
despeça de bikes de alta performance, abandone esportes de elite. Agora prefira
osso buco e rabada, bicicletas caloi 10 dos anos 1970 reformadas e peladas
regadas a cervejas artesanais. O coxinha evoluiu para a sua versão
“sustentável”: a simplicidade descolada. Eles são os novos tradicionalistas,
uma simplicidade estudada e “descolada”, isto é, de grande valor agregado no
mercado cultural. Sua psicografia é hoje explorada pelo marketing tanto
político como de consumo – ele aspira à simplicidade, pureza e renovação, muito
mais por atitudes do que por ações. Por isso, é campo fértil para crescer o
neoconservadorismo: a aversão à Política como algo complicado e, por isso,
suspeito e corrupto.
Assim como
os Pokemons evoluem para se adaptar melhor às batalhas nos game cards, da mesma forma o chamado “coxinha” parece ter evoluído
para fazer frente às críticas e rejeições que sempre marcaram a sua cena social:
evoluiu para a “simplicidade descolada”, um novo tipo humano aparentemente mais
“consciente”, antenado e sintonizado aos novos tempos mais politicamente
corretos e sustentáveis.
Essa sua
nova roupagem, esse verdadeiro coxinha 2.0 é o protagonista de uma série de
programas da grande mídia e seguido por um séquito de fiéis jovens que se distribuem em inúmeras áreas onde exibem seus requintados gostos pela
“simplicidade”: gastronomia, bebidas, futebol, bicicletas, moda etc.
quarta-feira, outubro 15, 2014
Aranhas, morte e identidade no filme "O Homem Duplicado"
quarta-feira, outubro 15, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Ver a si mesmo em uma réplica ou imagem sempre foi
considerado um evento misterioso e mágico. Em muitas culturas, ver o próprio
duplo pode ser um prenúncio da morte. Inspirado em livro do escritor português
José Saramago, o filme “O Homem Duplicado” (Enemy, 2013) do diretor canadense
Denis Villeneuve vai atualizar essa mitologia, trazendo-a para uma tradição de
filmes que tematizam o problema da identidade: o que você faria se visse em um
filme um ator que fosse uma réplica exata sua? Villeneuve vai explorar o
tema psicanalítico da busca da identidade através do espelho. Uma jornada
perigosa, pois nesse caminho podemos nos confrontar com os nossos desejos mais
íntimos, criando uma nova ordem: caos é a ordem que ainda não foi decifrada.
Em um
cultura atual de selfies e timelines das redes sociais repletas com
nossas fotografias fica difícil imaginarmos um tempo onde as pessoas podiam
ficar com medo das suas própria imagens.
Do espelho à
fotografia, a contemplação de uma réplica de si mesmo sempre foi considerado um
evento misterioso, como, por exemplo, todo o misticismo que cerca os espelhos
ou os primórdios da fotografia – as pessoas ficaram assustadas com a fidelidade
do resultado, só se tornando popular depois que descobriram que era possível
retocá-las. Ou seja, depois de que elas passaram para o campo da simulação.
domingo, outubro 12, 2014
Ebola é bomba biológica ou semiótica?
domingo, outubro 12, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Desde que os nazistas elaboraram as primeiras peças de
propaganda antitabagistas durante a Segunda Guerra Mundial, sabe-se que a
questão da saúde é uma poderosa arma semiótica. Ebola, vaca louca, gripe
aviária, gripe suína e outras ameaças sazonais de pandemias, mais do que
ameaças biológicas, tornaram-se bombas semióticas arquitetadas para criar
vitimização, culpa e segregação. O ebola é agora a pandemia da moda onde, no
Brasil, surge em um “timing” perfeito: o segundo turno das eleições
presidenciais. A grande mídia cinicamente anuncia que a informação é a única
forma para “tranquilizar a população”. Um pouco de teoria semiótica revela que
as manchetes da grande mídia são tudo, menos informativas: elas são “performativas”,
desenvolvem uma ação – ambiguidade, boatos, medo e segregação.
Nos anos
1990 e no auge da carreira como técnico do Palmeiras na chamada vitoriosa era
Parmalat, Vanderlei Luxemburgo sabia como ninguém manipular os jornalistas
esportivos e as mesas redondas de debates da TV. Após mais um jogo do
Palmeiras, Luxemburgo, no meio de uma coletiva para a imprensa, disparava do
nada: “quero aproveitar esse momento e dizer que eu jamais fui sondado pelo
Corinthians. É tudo mentira!”. Os jornalistas se entreolhavam: quem disse isso?
De onde partiu essa informação?
Pronto! Era
tudo o que Luxemburgo queria. O seu balão de ensaio corria como fogo em
rastilho de pólvora pelos debates nas TVs. E os desmentidos da diretoria do
Corinthians só alimentavam ainda mais os boatos.
Luxemburgo
nada mais fazia do que explorar a natureza performática da linguagem: os signos
não apenas existem para designar o mundo – eles são proferidos dentro de um
contexto, o que resulta numa ação performativa. Segue-se que toda comunicação
tem uma função constatativa (o
enunciado, a informação, o relato factual) e outra performativa - a enunciação onde implicitamente podem estar
comandos como ordens, pedidos, ofensas, promessas, apostas etc.
sábado, outubro 11, 2014
"Jogo de Cena" embaralha cartas da ficção e do real
sábado, outubro 11, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Câmeras
de vigilância, celulares através dos quais performamos constantes selfies,
telas de computador, de TVs e de cinema, imagens dos indivíduos captas pelas
câmeras de vitrines nos shoppings e exibidas para os próprios consumidores etc.
Estamos cercados de dispositivos visuais que acabaram criando uma espécie de
saber inconsciente audiovisual: criamos nossas próprias auto-mis-en-scènes.
Sabemos criar personas através do cinema e fotografia, de tal maneira que
ficção e História, ilusão e realismo acabaram se fundindo na modernidade. Esse é o tema latente no
documentário “Jogo de Cena”(2007) de Eduardo Coutinho: anônimos contam suas
histórias, enquanto atores tentam reencenar essas narrativas anônimas. Quem é
ator e quem é anônimo, quem é profissional e quem é amador diante da câmera?
Esse é o vertiginoso jogo proposto por Eduardo Coutinho.
Na banalidade do cotidiano
estão os rastros da verdade. Esta parece que foi a grande revolução estética
trazida pela modernidade, desde que Vitor Hugo escreveu que uma sociedade se
conhece através do seu esgoto, ou quando Marcel Proust descobre as memórias
involuntárias em cheiros, flagrâncias e sons do dia-a-dia na sua obra-prima Em Busca do Tempo Perdido.
Graças a essa revolução na
sensibilidade moderna, desviamos nossa atenção artística das grandes narrativas
dos gêneros tradicionais (tragédia, comédia, drama etc.) com seus temas
elevados sobre heróis, nobres ou pícaros, para a vida dos esquecidos nas
multidões. A fórmula foi invertida: o anônimo tornou-se o objeto artístico e o
seu registro através da fotografia e o cinema como as novas obras de arte.
Por isso, o documentário Jogo de Cena de Eduardo Coutinho se
inscreve nessa tradição modernista da linha de Dziga Vertov e seu filme O Homem da Câmera de 1929 ou Berlin –
Sinfonia de uma Metrópole (1927) de Walther Huttmann: trazer para a cena
artísticas as massas e os anônimos.
quarta-feira, outubro 08, 2014
Adendo ao post "Sociedade de Consumo e o ovo da serpente do PT": César Tralli, MasterChef e o metrô
quarta-feira, outubro 08, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Após a publicação da
postagem anterior “Sociedade de Consumo e o ovo da serpente do PT” uma curiosa
sequência de eventos sincrônicos em questão de horas foram vivenciados por
esse humilde blogueiro. Suspeitas de supostas mensagens subliminares do PT no metrô
de São Paulo, palestra do jornalista César Tralli em uma Universidade, leituras
de time lines do Facebook no metrô e as humilhantes “lições de vida”
meritocráticas do reality MasterChef da Band. O ovo está se quebrando e através
da fresta um olho ameaçador observa o futuro.
Cinco horas da tarde na
conexão CPTM/linha amarela do metrô na Estação Pinheiros em São Paulo. Seguindo
a multidão que se aperta preparo-me para descer mais uma escada rolante. Dou de
cara com um cartaz de viagens turísticas para Cuba. O nome do país em destaque com uma estrela logo abaixo com a
foto de uma paradisíaca praia dominado o anúncio.
Atrás de mim, dois jovens
trajados com roupas sociais e mochilas, indicando que estão saindo do trabalho.
Param de conversar entre si e olham para o grande cartaz. “Olha lá: Cuba... e
uma estrela vermelha embaixo... não lembra coisa do PT?”. Trocam rapidamente
sugestões de um possível propaganda subliminar do partido. E voltam a conversar
sobre empresas para trabalhar, falando daquelas “que te achincalham” e daquelas
“que te tratam bem”, nas palavras dos jovens.
terça-feira, outubro 07, 2014
Sociedade de Consumo e o ovo da serpente do PT
terça-feira, outubro 07, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Qual o significado de uma comédia brasileira chamada “O Candidato Honesto” (sobre um candidato à
presidência popular, corrupto e mentiroso) ser lançada nos cinemas em plena
reta final das eleições? Mais do que senso de oportunismo mercadológico, a
produção surfa na onda da aversão popular à Política e o fenômeno da
despolitização. A inclusão de grande parte dos brasileiros na sociedade de
consumo implementada pelo neodesenvolvimentismo dos governos do PT parece
mandar a conta: chocou o ovo da serpente que agora arma o bote. Sem educação
política, a sociedade de consumo brasileira produz os efeitos ideológicos do
próprio consumismo verificados desde o pós-guerra – ideologia meritocrática,
ilusão de mobilidade social por meio do consumo de gadgets e aparatos
tecnológicos, a competitividade e o
ressentimento. Combustíveis para o discurso midiático da corrupção que ironicamente só
cola no PT.
O cinema tem uma longa
tradição de representar os políticos (assim como os jornalistas) como
personagens corruptos, que abusam da autoridade e sempre metidos em narrativas
conspiratórias de negociações obscuras ou figurados como fantoches de
interesses inconfessáveis.
A comédia brasileira O Candidato Honesto, de Roberto
Santucci, é o último exemplo desse clichê cinematográfico. Pelo oportunismo de
ser lançado em plena reta final da campanha eleitoral, o filme se reveste de
significado político inegável – o reforço de um sentimento anti-política alimentado pela oposição ao Governo Federal como arma de
impedir a reeleição de Dilma Rouseff.
sábado, outubro 04, 2014
"O Doador de Memórias" e a terceira onda do Gnosticismo Pop no cinema
sábado, outubro 04, 2014
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Com o filme “O Doador de
Memórias” (The Giver, 2014) Hollywood acrescenta mais uma produção a uma série
de filmes sobre mundos distópicos dominados por estados policiais totalitários.
Essas produções vem retomando símbolos e narrativas gnósticas, mas dessa vez em
uma nova fórmula: um mix de Gnosticismo
com “1984” de Orwell e “Admirável Mundo Novo” de Huxley. Essa terceira onda de
Gnosticismo pop no cinema, assim como nas ondas anteriores, está relacionada
com alterações nos paradigmas tecnológicos. Na atualidade, o projeto da
Internet das Coisas e a nanotecnologia, criando
possibilidades de geolocalização e controle total da privacidade. A obsessão
atual de Hollywood por essas distopias faz surgir teorias conspiratórias como a
chamada “hipótese Fox Mulder”, extraída de um episódio da série “Arquivo X”.
O
Doador de Memórias,
adaptação do livro de 1993 The Giver
de Lois Lowry (premiado best seller
de ficção científica para o público jovem) é o último filme de uma série de
produções recentes que exploram distopias futuristas totalitárias: Snowpiercer (2013), No Limite do Amanhã (Edge of
Tomorrow, 2014), Elysium (2013), Jogos Vorazes (The Hunger Games, 2013), A Viagem (Cloud Atlas, 2012), Oblivion (2013), Capitão América 2: O Soldado Invernal (2014) etc.
Por que o público está sendo
inundado com essas narrativas futuristas sobre novas ordens mundiais e estados
policiais despóticos? Por que esse súbito interesse de Hollywood em nos fazer
torcer por heróis que lutam por escapar de sistemas totalitários enquanto
tentam encorajar a todos (inclusive o espectador) a fazer o mesmo?
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