sexta-feira, fevereiro 25, 2022

Hollywood ao resgate da Ucrânia: guinada geopolítica dos EUA e primeiro dominó multipolar



The Last Minute Rescue! Hollywood vem ao resgate da Ucrânia! Em meio à destruição das suas forças armadas sob a blitzkrieg russa, o presidente-ator-comediante Vlodimir Zelensky arrumou tempo para a canastrice diante da câmera de outro ator: Sean Penn, que faz um documentário sobre a crise ucraniana. Aparentemente nenhuma novidade: Hollywood é o braço imaginário armado dos EUA. Apenas aparentemente: por trás há uma guinada geopolítica dos EUA, iniciada com a saída do Afeganistão. E agora, abandonando a Ucrânia à própria sorte, como isca para atrair a guerra territorial russa. Mas não sem antes render uma boa mais-valia semiótica: a construção da narrativa da Guerra Fria 2.0 – Putin como um nostálgico da velha União Soviética. Uma guinada geopolítica que abandona a tática “boots on ground” para se dedicar à guerra híbrida e cibernética. Diante de uma nova ordem mundial multipolar que, por exemplo, prejudica as sanções contra a Rússia: se acontecerem, poderão ser o primeiro dominó da desdolarização da economia mundial.

Hollywood ao resgate! Se o presidente norte-americano “Sleep Joe” Biden e a OTAN largaram o presidente-ator-comediante Zelensky à própria sorte depois que o Ocidente despertou o grande urso do Leste e pulou fora, isso não significa que, mesmo no cadafalso de Putin, o presidente ucraniano ainda não renda uma boa mais-valia semiótica.

Enquanto as Forças Armadas eram destroçadas pela blitzkrieg russa, e o líder-ator ucraniano exortava pela TV a população a pegar em armas e ir às ruas enfrentar o invasor, Zelensky arrumou um tempinho para conceder uma entrevista ao ator Sean Penn. 

Rápido no gatilho e com o faro habitual de conseguir uma boa história, em pleno primeiro dia da invasão russa, lá estava Mister Penn (representante da “esquerda” de Hollywood) percorrendo escritórios do governo ucraniano e conversando com líderes militares.

Enquanto o mundo assistia perplexo a invasão russa, Penn, 61 anos, um perseguidor de dramas (já se meteu na linha de fogo do cartel em 2016 depois de entrar em contato com o traficante fugitivo El Chaposentou-se com seus óculos escuros na primeira fila da coletiva de imprensa nos escritórios do governo ucraniano, na noite de quinta-feira, horário local. 

Biden não enviou tropas americanas para o conflito. Não precisava: como sempre em períodos de guerra, Hollywood é a arma imaginária mais forte dos EUA. Mas isso não é novidade, desde a II Guerra Mundial.



Porém, a novidade é aquela que até agora a grande mídia não conseguiu entender, em seu costumeiro delay diante das repentinas mudanças geopolíticas: desde a retirada das tropas americanas no Afeganistão e a retomada da capital Cabul pelo Talibã, no ano passado, os EUA estão dando uma guinada geopolítica – no lugar de guerra eternas, “boots on ground”, o combate ao terror e o desgaste de ver sacos plásticos com corpos de soldados americanos voltando para casa, substitui-las por guerras híbridas e/ou cibernéticas.

Depois da retirada no Afeganistão, agora é a vez de abandonar a Ucrânia do presidente Zelensky, depois do Ocidente manter com armas e dinheiro as forças armadas e grupos neonazistas, além da promessa de integrar o país à OTAN – para instalar bases militares com mísseis apontados para Moscou.




O bom rendimento semiótico

Mas se a retirada do Afeganistão foi um fiasco (gerando comparações com a humilhante fuga das tropas norte-americanas em Saigon, na guerra do Vietnã nos anos 1970), dessa vez a retirada foi planejada para produzir um bom rendimento semiótico:

(a) A OTAN dificultou ao máximo as negociações com Putin, muitas vezes se fazendo de surda, além de descumprir a promessa feita após o fim da Guerra Fria de que a Organização do Tratado do Atlântico Norte não iria se expandir para o Leste Europeu;

(b) Acionou a correia de transmissão das agências de notícias ocidentais para criar uma suposta percepção de que era iminente a invasão russa na Ucrânia;

(c) Encheu o presidente-ator-comediante Zelensky com a esperança de que, em caso de invasão, não ficaria sozinho e que, no last minute rescue, a OTAN chegaria com a cavalaria;

(d) Grupos neonazistas foram atiçados a aumentarem os ataques às províncias separatistas, de etnia majoritária russa, de Donetski e Luhansk, na região de Donbass – especialmente oprimida por milícias neonazistas desde o golpe de 2014 (nos moldes de “Revolução Popular Híbrida” ocorrida no Brasil em 2016), proibindo a língua russa em todo o país.

Provocado, só restou a Putin a alternativa de invasão total da Ucrânia, confirmando a profecia autorrealizável da grande mídia ocidental. 




O rendimento semiótico foi notável: a construção narrativa da Guerra Fria 2.0 - Putin supostamente teria ambições expansionistas... um tirano que governa sozinho e que assusta o mundo...um autocrata que projeta o reerguimento da velha União Soviética. 

Em outras palavras, o Ocidente deixou o desgaste da guerra territorial (o desgaste de imagem, opinião pública etc.) para a Rússia, e, definitivamente, concretizando a guinada geopolítica da dupla EUA-OTAN: abandonar a guerra territorial para se especializarem na guerra orbital (manter os aliados unidos sob a angústia e terror da possibilidade da guerra mundial) e guerra híbrida.

Ucrânia bucha de canhão

Por outro lado, o jornalismo corporativo silencia diante do fato de que Zelensky e o povo ucraniano foram usados como buchas de canhão e, agora, entregues à própria sorte.

E, mesmo no último momento de desespero, a Ucrânia ainda deverá ter o bagaço espremido até a última gota semiótica: Zelensky, com sua formação canastríssima de ator (notabilizado pela série de TV “O Servo do Povo” que o catapultou à carreira política como típico produto de guerra híbrida – clique aqui), demonstrou toda a sua verve dramática em excelentes punch lines típicas dos filmes de ação: “Sou o alvo número um da Rússia... e a minha família o número dois”, “Não vou abandonar a Ucrânia, lutarei ao lado do meu povo”.




Como? Convocando a população a lutar com armas entregues pela OTAN através da fronteira polonesa e “coquetéis molotov”. No mundo da ficção pode ser romântico pois sempre terá um happy end. Mas no mundo real, Zelensky quer usar civis destreinados como escudos humanos. Que certamente serão massacrados diante da blitzkrieg russa... 

E o jornalismo corporativo silencia ou passa o pano, afirmando que nada mais são do que “declarações fortes”. Mas, certamente, imagens e notícias sobre civis mortos serão muito telegênicos para o Ocidente, rendendo bons escândalos moralistas, altas audiências e clickbaits.

Ordem multipolar e guinada geopolítica

Por que a guinada geopolítica dos EUA, notabilizado pela retirada do Afeganistão e Ucrânia? Porque os think tanks da Atlantic Council (lobby americano de grande penetração no Departamento de Estado dos EUA) sabem que a utopia do One Way World, (prometida pela Globalização desde a queda do Muro de Berlin e o regozijo do filósofo Francis Fukuyama sobre “O Fim da História”) não deu certo. 

E os sintomas dessa distopia começaram com o crash mexicano do chamado “Efeito Tequila” com repercussão mundial (1994), a crise dos Tigres Asiáticos (1997), o crash do estouro da bolha imobiliária de 2008, a crise da dívida pública da Zona do Euro (2009) e o que seria o maior crash da era da globalização em 2020, mitigado e ocultado pela pandemia global da Covid-19. 

O resultado é a nova ordem mundial multipolar que está se impondo – veja, por exemplo, as dificuldades em impor a sanção de expulsar a Rússia do SWIFT (rede global interbancária para transações). Principalmente a resistência dos EUA. As sanções SWIFT, em vez de atingirem mortalmente a Rússia, poderiam ser o primeiro dominó em uma sequência de eventos que reforçariam sistemas alternativos de pagamento digital apoiados pela China e pela Rússia. 




Essas sanções também poderiam, a longo prazo, direcionar os mercados emergentes para sistemas baseados em blockchain que reduziriam a dependência global do sistema monetário internacional centrado nos EUA. Em conjunto, as sanções SWIFT poderiam muito bem incitar a desdolarização da economia mundial.

O problema é que o jornalismo corporativo não consegue entender essa guinada, fascinada que sempre esteve pelas simplificações maniqueístas da luta do Bem contra o Mal.

Em tudo isso, a grande mídia parece estar ressentida: por décadas sustentou a narrativa da política norte-americana do combate ao terror pós atentados de 2001 dentro da ideologia do “choque de civilizações” entre Oriente e Ocidente – a propaganda da luta das sociedades liberais e democráticas contra o fundamentalismo islâmico e o terror fundamentalista religioso. Sempre viu nos milhares de soldados estacionados no Iraque e Afeganistão como um esforço do Ocidente em levar para as pobres mulheres, prisioneiras dentro das burcas, os costumes liberais dos países democráticos.

Para os “colonistas” sabujos do jornalismo corporativo, Biden parece ser “fraco”, um presidente que “não bota a cara na TV para tranquilizar o mundo... quem irá nos salvar!”, chegou a protestar ao vivo a “colonista” da GloboNews, em Nova Iorque, Sandra Coutinho no ideologicamente alinhado programa “Em Pauta” (24/02).

Mas não temam... Hollywood veio ao resgate, com Sean Penn entrevistando Zelensky que, apesar de estar no meio de uma guerra, consegue encontrar tempo para as câmeras de um futuro documentário.

Putin responde com a guerra territorial. EUA e OTAN com a guerra orbital – guerra híbrida + presunção da catástrofe.

 

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