sexta-feira, fevereiro 18, 2022

Midiacentrismo da cobertura Bolsonaro-Putin oculta digitais do hackeamento eleitoral do PMiG



O jornalismo corporativo é midiacêntrico e tautista: os fatos só acontecem para serem transmitidos e noticiados, numa espécie de auto lisonja do jornalismo corporativo. Disso decorre uma perigosa ingenuidade: acreditam que a verdade só pode estar no próprio fato que noticiam. Ignoram que muitas vezes os acontecimentos são diversionistas (simulações, não-acontecimentos, factoides etc.) para desviar a atenção de todos da verdadeira cena. A escalada da crise Rússia-OTAN-EUA e a visita de Bolsonaro ao líder russo Putin revelou tudo isso: como jornalistas e “colonistas” são capazes de acreditar em qualquer coisa. Até em canastrices. Dia da invasão na Ucrânia com data marcada? Uma operação de hackeamento russo das eleições brasileiras feito às vistas da imprensa num encontro oficial de presidentes? Como sempre, a operação psicológica da dobradinha PMiG (Partido Militar Golpista) e mídia corporativa (no modo Alarme!). Para ocultar as digitais que comprovariam que o PMiG já deu um golpe híbrido (por isso, a mídia não viu) e que as eleições já foram hackeadas, desde 2018 – mesmo com as “pontes” construídas entre militares e civis no STF e TSE para “as instituições funcionarem”...

“Jornalistas são perigosamente ingênuos... não se interessam pela verdade, mas apenas por uma boa história”, afirmou Joey Skaggs, principal criador da estratégia antimídia chamada “media prank” (“pegadinha”) – costuma enganar jornalistas ao fazê-los acreditar em personagens e histórias fictícias, clique aqui.

Em outros termos, podemos dizer que jornalistas são mediacêntricos: ingenuamente acreditam que os fatos somente ocorrem para que eles possam noticiar. Baseado numa espécie de empirismo grosseiro, acreditam que a verdade só pode estar no próprio fato que estejam noticiando. Por isso, confundem apuração com investigação – incansavelmente apuram as notícias como se a verdade só pudesse estar no acontecimento narrado.

Ignoram que muitas vezes os acontecimentos são diversionistas (simulações, não-acontecimentos, factoides etc.) para desviar a atenção de todos da verdadeira cena.

Essas últimas semanas da escalada da “tensão” no conflito Rússia-Ucrânia-OTAN-EUA, culminando com o surto midiático pelo encontro de Bolsonaro com Putin e, depois, com o “irmão” primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, foram exemplares para entender essa modus operandi vicioso dos jornalistas.

 Diariamente as manchetes internacionais do jornalismo corporativo davam conta de que “a qualquer momento” a Rússia poderia invadir a Ucrânia. Nos telejornais, essas manchetes diárias são invariavelmente acompanhadas com imagens de arquivo em loop mostrando movimentação de tropas e blindados russos, com ênfase em tanques disparando – na verdade imagens aleatórias de exercícios militares russos cuja contaminação metonímica induz à percepção que são imagens atualizadas do avanço russo em direção às fronteiras ucranianas.



Invasão com data marcada

Como a conflagração real nunca acontece, deu-se início a uma estratégia retórica absurda, mas, principalmente, canastrona: a invasão com data marcada! Primeiro, que a conflagração final ocorreria durante as Olimpíadas de Inverno que estão sendo realizadas na China. Depois, de que Putin estava apenas aguardando o final das Olimpíadas para dar a ordem de ataque.

E para reforçar a canastrice desse teatro, a recorrente notícia (semanal) de que a Inteligência norte-americana descobriu que a Rússia planeja criar false flags para justificar a invasão – vídeos fakes simulando agressões da OTAN nas fronteiras russas, com o requinte de contar com atores e efeitos especiais. Aliás, prática comum dos canais de notícias ocidentais, como, por exemplo, a simulação feita por repórteres e produtores de supostos protestos muçulmanos nas ruas de Londres contra o Estado Islâmico - clique aqui.



A canastrice e o overacting em tudo isso está na inverossimilhança que parece passar batido para jornalistas: que estratégia militar é essa em que a invasão tem data marcada e divulgada pelas mídias? Inteligência militar deixando vazar informações estratégicas? Cenário de ações militares sem o fator surpresa?

É quando a informação e propaganda se confundem. Mas para os jornalistas é “notícia”. Por quê? Pelo tautismo dos sistemas de comunicação, pela forma como as mídias noticiam o mundo exterior a partir da autodescrição que o jornalismo faz de si próprio. Se o secretário de Estado Antony Blinken convoca a imprensa para alertar false flags russas ou se o governo ucraniano chama cinegrafistas e repórteres para mostrar como “cidadãos” comuns treinam tiros em prédios abandonados para enfrentarem os invasores russos (na verdade esses “cidadãos” não passam de milícias de extrema-direita), o jornalismo corporativo sente-se “lisonjeado” ao confirmar a natureza midiacêntrica dos acontecimentos – os fatos acontecem para que possam ser transmitidos. 

Portanto, tautismo: tautologia + autismo midiático.

Os malvados favoritos

O que Bolsonaro foi fazer na Rússia? Essa era a pergunta dos “colonistas” da grande mídia que atravessou toda a semana. E as operações psicológicas do PMiG (Partido Militar Golpista) entraram em cena – na verdade, todo o tour do presidente foi composto por bem calculados não-acontecimentos à espera de que a grande mídia lhes desse pernas.




Tudo começou com o próprio significado simbólico da visita de Bolsonaro ao líder russo Vladimir Putin. O PMiG ofereceu para a mídia um prato cheio: dois malvados favoritos, nacional e internacional, juntos, apertando as mãos, sorrindo.  

De imediato, foi um acontecimento para colocar mais energia no desfibrilador que tenta ressuscitar a “esperança branca” da terceira via, ou melhor, o ex-juiz Sérgo Moro. Para dez em cada dez “colonistas”, foi a evidência que Lula e Bolsonaro, esquerda e direita, se equivalem: Putin que apoia Venezuela que era aliado de Lula no BRICS que aperta as mãos de Bolsonaro que vai visitar o monumento de homenagem soviéticos mortos durante a Segunda Guerra Mundial, e assim por diante. O reforço semiótico da narrativa da “polarização dos extremos”.

Acrescente a isso, a típica estratégia semiótica alt-right de “sequestro da pauta”: Bolsonaro emplaca na grande mídia a imagem de “amigo do Putin”... o que restará à esquerda? Apoiar a think tank norte-americana Atlantic Council? 

Os fantasmas dos hackers russos

Porém, o mais canastrão ou overacting foi como propositalmente foram criadas ambiguidades e informações para que o jornalismo corporativo, tal qual naquele passa-tempo de ligar os pontos em revistas de palavras-cruzadas, juntasse os pontos dissonantes para construir a narrativa-clichê do “hackeamento russo”. Supostamente decisivo na vitória de Trump – como muito bem demonstrou o documentário Fake News Fairytale (2018), os russos não têm o privilégio de ser a pátria dos hackers – clique aqui.




Como dar pernas a um não-acontecimento? Com ambiguidade, dissonância e uma estudada falta de transparência.

De um lado, a comitiva brasileira divulgou que o tema da segurança cibernética foi abordado com autoridades russas. Mas de outro, Bolsonaro era taxativo: “Esse (tema de segurança nas eleições) não é assunto para tratar fora do Brasil, com todo o respeito”. 

Ao mesmo tempo, a imprensa teve apenas acesso a memorandos de acordos e cartas de intenções. Tudo estudadamente reticente, nada preciso, para alimentar a paranoia do golpismo eleitoral de um presidente que vem sistematicamente atacando a segurança das urnas eletrônicas.

Mais uma vez, a ingenuidade e midiacentrismo tautista dos jornalistas corporativos: é simplesmente inverossímil uma operação de hackeamento ser planejada diante da cobertura de repórteres e cinegrafistas, com agentes do núcleo do Estado (comandantes da três Forças Armadas etc.) assinando “memorandos” diante toda a imprensa.

Para os jornalistas, tudo isso massageia o ego de profissionais que acreditam estar no centro dos acontecimentos mais importantes da História.

Mas tudo o que fazem é exercer a função de correia de transmissão de um jogo semiótico de simulação, qual seja: retroalimentar a percepção de que é o “isolado” Bolsonaro que tenta um golpe militar (Com Zé Trovão, os 300 de Brasília, os Clubes de Atiradores e Colecionadores e com tudo...).

Como candidato manchuriano teleguiado (visível em suas lives, praticamente ensaiado e dirigido) ajuda a criar a percepção na opinião pública de que os militares (supostamente legalistas) não têm controle sobre qualquer coisa.

Jogo combinado, ao mesmo tempo o general e ex-ministro da Defesa Fernando Azevedo e Silva anunciou sua desistência de assumir a Diretoria-Geral do TSE. Para a grande mídia, Azevedo e Silva é “legalista” – não obstante o fato de ter participado de manifestações antidemocráticas ao lado do presidente e ter afirmado que o golpe militar de 1964 foi necessário para defender a Democracia...

É o arremate perfeito para a narrativa paranoica diversionista do jornalismo corporativo: um militar legalista que não quer participar das conspirações que Bolsonaro trama com os facínoras hackers russos.

O problema de todo esse midiacentrismo, decorrente de um tautismo estrutural nos sistemas de comunicação, é que o empirismo grosseiro nunca permite perceber que sempre a verdade ocorre em outra cena – não naquela enquadrada pelas câmeras e com microfones fazendo sonoras.




Como assim? Ora, o golpe militar já ocorreu e não foi televisionado porque foi híbrido. As eleições já foram hackeadas, desde 2018 – veja o destino da denuncia do jornal Folha de São Paulo nas eleições de 2018 denunciando esquema de compra de envio de mensagens em massa no aplicativo WhatsApp que seria bancado por empresários favoráveis a Bolsonaro. Com ameaças a repórteres do veículo, o jornal entrou com representações no TSE... e não deu em nada.

O golpe híbrido resultou em tutelagem militar no STF e TSE. Que a grande mídia eufemisticamente definiu como “construção de pontes” entre militares e o poder civil, como forma de “comprovar a lisura” das funções do judiciário – papel jamais previsto na Constituição.

Contaminação metonímica

E para fechar uma semana de operações psicológicas do PMiG a todo vapor, o recorrente jogo de morde e assopra da grande mídia, supostamente crítica à incursões de Bolsonaro no Leste europeu.

De um lado, os “colonistas” da grande mídia, agora em modo Alarme, criticando o “populismo eleitoral” do presidente ao querer explorar a “coincidência” da Rússia retirar suas tropas quando a comitiva brasileira chegava à Rússia. 

Porém, a estratégia metonímica 1 + 1= 3 entrou em ação, mostrando de forma didática o jogo semiótico entre o plano manifesto e latente das notícias.

Marotamente, os telejornais colocavam em sequência duas notícias absolutamente sem vínculo causal: o anúncio de retirada de tropas e blindados russos e a chegada de Bolsonaro à Rússia. Um evidente exemplo de contaminação semiótica por metonímia – esse é o plano latente, criando significações, por assim dizer, subliminares.

Para depois a contaminação se consumar com a repercussão da expressão “coincidência ou não”, usada pelo chefe do Executivo para o criar todo o whishful thinking de que foi ele quem influenciou a distensão da crise.

Na verdade, o que Bolsonaro e a grande mídia fizeram foi acionar o “apito de cachorro” para açodar ainda mais as bases sociais bolsomínias (com postagens do ministro Ricardo Salles sendo compartilhadas dando parabéns ao presidente e lançando-o ao Nobel da Paz).

Afinal, o capitão da reserva continua sendo o único Plano B... Nunca se sabe quando a grande mídia terá que, mais uma vez, “construir pontes” com o PMiG. 

 


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