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quinta-feira, fevereiro 29, 2024

'9 - A Salvação': de onde viemos? O que tornou o mundo do jeito que é?


Baseado no curta indicado ao Oscar em 2005, “9 – A Salvação” (9, 2009) foi lançado no dia 09/09/2009 para evocar a simbologia esotérica explorada pela animação. Dirigido Shane Arcker (talento descoberto por Tim Burton que produziu a animação), a crítica não entendeu muito bem o universo simbólico da história, reduzindo-o a um Wall-E sombrio. Nove pequenos bonecos de pano despertam em um mundo pós-apocalíptico no qual máquinas autorreplicantes dominam o planeta Terra arrasado, auxiliados por bestas metálicas que perseguem os pequenos heróis de pano que tomam consciência de serem prisioneiros naqueles cosmos hostil. Lutam para encontrar seu lugar no novo mundo enquanto tentam aprender sobre de onde vieram e o que aconteceu para tornar o mundo do jeito que ele é. Mais ou menos as mesmas perguntas básicas que todos nós fazemos a nós mesmos. A animação é repleta de alegorias ao misticismo dos bonecos e autômatos e à cosmogonia gnóstica.

quinta-feira, fevereiro 15, 2024

Cabala, Esoterismo e Tarô em 'Mestres do Universo: Salvando Eternia', por Claudio Siqueira


Mestres do Universo: Salvando Eternia, a continuação do antigo desenho que animou a infância dos anos 1980, deu o que falar na primeira temporada e angariou reclamações. Ante a iminente segunda temporada, o Cinegnose vem mostrar a principal eminência parda por trás da animação, independentemente da original ou atual: Os chamados Caminho da Mão Direita e Caminho da Mão Esquerda – Cabalá Hermética, esoterismo e Tarô, muito além do que as lições de moral dadas ao final por personagens loiros apolíneos.

quarta-feira, junho 15, 2022

'Mad God': de Star Wars e Jung ao Gnosticismo


Um projeto de animação que levou 30 anos para ser realizado sobre um mundo distópico que mistura visões infernais sobre a Natureza de William Blake e as composições fantásticas e diabólicas de Hieronymus Bosch. Com criaturas que, muitas delas, não foram aproveitadas na trilogia “Star Wars”. Esse é “Mad God” (2021), uma animação em stop-motion da lenda dos efeitos especiais dos anos 1970 a 1990 Phil Tippett (de Star Wars a Starship Troopers), uma viagem interior ao psiquismo do autor nos mesmos moldes do célebre “Livro Vermelho” do psicanalista suíço Carl Jung. “Mad God” é um pesadelo abstrato em que se misturam temas pós-apocalípticos em steampunk, citações bíblicas, alusões anarco-punk em um mundo subterrâneo com todos os tipos de criaturas grotescas. E que encontra o inconsciente coletivo gnóstico da suspeita de que vivemos sob o jugo de um Deus que não nos ama.

quarta-feira, fevereiro 09, 2022

O fantasma do passado cancela o futuro na animação 'The House'


A animação em stop-motion (uma arte que se tornou um pequeno nicho) é perfeita para se criar atmosferas pela riqueza e intensidade de detalhes que a técnica pode oferecer. Principalmente em narrativas que envolvem claustrofobia e confinamento. A animação da Netflix “The House” (2022) faz o espectador mergulhar nessa atmosfera em seus três episódios, cujo casarão em estilo georgiano é o fio condutor. Mas a sensação claustrofóbica não vem da casa, mas dos fantasmas do passado que são capazes de aprisionar as mentes dos vivos, cancelando qualquer ideia de futuro pela repetição dos mesmos vícios e posturas. Um arquiteto misterioso constrói o casarão como um “presente” a um pai de família corroído pela frustração e ressentimento. Que descobrirá da pior maneira possível as verdadeiras intenções daquele Demiurgo. Será a gênesis e o pecado original gnósticos de uma recorrência que bloqueará o presente e cancelará o futuro. 

quinta-feira, outubro 28, 2021

'Departamento de Conspirações': será que a própria série é um inside job do Estado Profundo?


A série de animação adulta da Netflix “Departamento de Conspirações” (“Inside Job”, 2021-) navega pelo atual mar revolto das teorias das conspirações. Principalmente depois que elas foram apropriadas pela extrema direita “alt-right” e se transformaram em ferramenta política de desinformação. A série tem um difícil desafio: transformar reptilianos e governos das sombras em uma espécie de meta-humor – fazer paródias em cima de algo que, em si, já são paródias. Ou melhor, psyops para neutralizar o perigo do crescente número de pessoas que historicamente começaram a contestar versões oficiais. “Departamento de Conspirações” lembra a “Hipótese Fox Mulder”: por que o governo, ao mesmo tempo que encobre o fenômeno OVNI, também permite que se faça tantos filmes sobre o assunto? Para que todos pensem que é coisa de cinema e, quando surgirem notícias verdadeiras, ninguém acreditar. Será que a própria série é um “inside job” do “Estado Profundo”?

quinta-feira, maio 27, 2021

'When The Wind Blows': nada mudou do holocausto nuclear à pandemia global


O impacto cultural da animação “When The Wind Blows” (1986) foi esquecido por décadas. Mas o seu relançamento em DVD revela uma estranha sensação de que as coisas nada mudaram: a Guerra Fria e a ameaça do Holocausto Nuclear podem ter passado, mas foram apenas substituídos pelo medo do terrorismo e da escalada das pandemias – sejam virais ou digitais. Com músicas de Roger Waters e David Bowie, a animação é muito mais do que um libelo pacifista: mostra como a propaganda e a desinformação, aliados à nostalgia nacionalista, nos tornam cegos e motivados mesmo diante das políticas de extermínio. Num lugar remoto no interior da Inglaterra, um doce casal de velhinhos tenta sobreviver aos primeiros impactos de uma explosão nuclear. Com fleuma e patriotismo acreditam na propaganda governamental que parece ocultar algo de muito mais sinistro. Como se sabe, a primeira vítima da guerra é a verdade.

terça-feira, abril 20, 2021

Curta da Semana: 'Coda' - por que a morte é impaciente?


Poucas produções fílmicas ou audiovisuais escapam da tradicional representação do pós-morte, como uma espécie de julgamento que poderá nos levar para o Céu ou Inferno, entre a punição e a gratificação. O curta de animação “Coda” (2013), de Alan Holly, nos oferece um olhar entre o esotérico e o gnóstico: embriagado após sair de uma balada, acompanhamos o protagonista distraído ser mortalmente atropelado para depois tentar fazer um acordo com a Morte, na sua tradicional representação sombria do Ceifador. Ele quer mais tempo, mas a Morte é impaciente. Para o quê? A resposta está entre o Budismo e o Gnosticismo, muito próximo ao ciclo vicioso da vida-morte-reencarnação que nos prende a esse mundo. 

Passamos 1/3 das nossas vidas dormindo e sonhando, enquanto a morte nos rodeia a cada respiração, não importa o quão vigilantes sejamos – o destino é a nossa constante companhia, mas tentamos não pensar que num simples piscar de olhos a existência como a conhecemos pode desaparecer até o nada, levando-nos junto.

Por isso, é incrível como o sono e a morte sempre foram relegados na cultura ou a um segundo plano, ou simplesmente negados ou neutralizados. Sono e sonhos são racionalizados através da ciência (a “Ciência do Sono”) ou pela Psicanálise popular ou de autoajuda que promete decodificar os simbolismos dos sonhos. Enquanto a morte é ocultada por uma cultura da positividade da indústria da cosmética, da saúde e da eterna juventude  cujas imagens promocionais celebrizam “idosos que nem parecem velhos”.

Quando a morte vira tema na cinematografia, ela é restrita aos cânones da moralidade religiosa, dentro da polaridade culpa/gratificação: ou encontra a punição pelos pecados ou a premiação pela boa índole e legado terrestre.

Poucas são as produções audiovisuais que escapam dessa polarização, buscando um viés mais esotérico, ou, por que não, gnóstico – o pós-morte não como a busca de punição ou redenção, mas de iluminação como caminho fuga da matrix terrestre.



O curta de animação Coda (2013, indicado ao Oscar de Melhor Curta de Animação em 2015) é um exemplo desse olhar alternativo para a morte. Dirigido por Alan Holly e produzido pelo estúdio irlandês And Maps And Plans, Coda nos mostra a tradicional representação icônica da morte como o Ceifador: uma figura esguia, envolta num manto negro aguardando o espírito se desfazer do corpo para capturá-lo e conduzi-lo, mesmo que seja a força. Para onde? Céu? Inferno? Algum Tribunal? Ou algum limbo entre a vida e a morte no qual o espírito pagará suas dívidas? Nenhuma dessas opções. Alan Holly e o co-roteirista Rory Byrne propõem uma abordagem mais esotérica, simultaneamente doce, triste e melancólica: o Ceifador quer apenas nos reconduzir de volta à esfera terrestre, nos preparando para a reencarnação.

O Curta

Coda acompanha alguém que está saindo de uma boate, bêbado e com um copo na mão. Distraído, atravessa a rua procurando em seus bolsos alguns trocados para pagar alguma coisa para comer no caminho de volta para casa. Até ser acertado em cheio por um carro, e jogado para longe até cair já sem vida. 




Pessoas se reúnem em torno dele, enquanto seu espírito levanta e começa a vaguear pelas ruas às cegas, ainda sentindo os efeitos da embriagues.  Sem saber que a Morte, uma figura alta, esguia e ameaçadora, já está no seu encalço. 

Cansado de vagar sem destino, o protagonista entra num parque e senta-se num banco para descansar, quando a Morte também se senta ao seu lado. Assustado, as expectativas do protagonista são as piores possíveis. Ele implora por mais tempo e tenta negociar com aquela figura sombria e ameaçadora que o encara.

Com um estilo de animação minimalista, a música e até mesmo as vozes dos personagens passam uma sensação de tranquilidade ao longo dos 9 minutos de narrativa. A sensação inicial para o espectador é de felicidade e aceitação. Mas há uma melancolia e fatalismo sutis a partir do momento em que o espírito desencarnado do protagonista transforma-se em um bebê e o sombrio Ceifador em uma mãe que abraça amorosamente sua cria.

É o início de um aprendizado no qual o protagonista aceitará o seu destino: retornar à vida como um novo humano reencarnado. Ou não! O final ambíguo revela uma oposição entre as intenções do espírito convertido em bebê (ele sempre pede mais tempo para “relembrar” de sua existência terrena – por quê não conversava com seu avô, por exemplo), enquanto a Morte, impaciente, sempre fala “agora”, como se quisesse levá-lo definitivamente para a inexistência.

Numa leitura budista, o protagonista está experimentando o seu “Bardo”: estados de existência dentro do fluxo contínuo da vida, da morte e da reencarnação. Palavra tibetana que quer dizer “transição” ou “intermediário”. A apresentação mais simples no livro budista tibetano Bardo Thodói (“Libertação do Estado Intermediário”), conhecido também como “Livro Tibetano dos Mortos”, descreve quatro bardos: o da vida, o do momento da morte, o bardo da vacuidade (a consciência fundamental da luz do próprio espírito) e o do renascimento.




Mas para o Gnosticismo, o bardo da vacuidade é o mais importante – após a morte vivemos as ilusões cármicas: o conteúdo da mente é projetado, tornando-se visível como num sonho.

Criamos uma tela mental com imagens em fluxo dentro do qual a vida parece continuar em outra dimensão, e nos perdemos na confusão entre a realidade e as alucinações. Sem lucidez, o “sonhador” não consegue se abrir à realidade dos mundos para além dos sonhos e nem para a própria luz espiritual. Perde-se num padrão repetitivo, para renascer e continuar o mesmo padrão sem autoconsciência ou auto distanciamento – a “gnosis”.

“Coda” (traduzido do italiano para o português significa “cauda”) é a seção em que termina uma música, na qual o compositor utiliza ideias musicais já apresentadas durante a composição. Na animação, é a representação do senso comum de que no momento transitório entre a vida e a morte é como se assistíssemos a uma espécie de “vídeo-clip” com os momentos mais importantes da nossa vida terrena. 

Mas do ponto de vista gnóstico, seria uma tela mental (ou um “air bag” emocional criado pela nossa mente) na qual imergimos inconsciente no fluxo de imagens, sem conseguir o auto distanciamento necessário para escaparmos da ilusão. Até sermos capturados pelo “Ceifador” ou a “Morte” personificada pelo ícone tradicional na animação. Na mitologia gnóstico, um Arconte (“Archon”), entidade “demoníaca” (na verdade, seres criados juntamente com o mundo material subordinada a divindade chamada Demiurgo) que bloqueia o caminho da elevação espiritual após a morte através dos diversos “céus”, mantendo-nos prisioneiros ao mundo material.

Ou mais precisamente, aos Bardos que compõem os sucessivos estados do fluxo de vida-morte-reencarnação. Submetido ao esquecimento: o protagonista tenta lembrar-se, recordar, diante da Morte impaciente que quer levá-lo o mais rapidamente possível.  


 

Ficha Técnica 

Título: Coda (Curta de animação)

Diretor: Alan Holly

Roteiro: Alan Holly, Rory Byrne

Elenco: Joseph Dermody, Orla Fitzgerald, Brian Glesson

Produção: And Maps And Plans

Distribuição:  The Criterion Channel (digital)

Ano: 2013

País: Irlanda

 

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terça-feira, março 30, 2021

Tatuagens e conspiração alien na animação argentina 'Lava'


O que tem a ver tatuagens e HQs com uma invasão alienígena através do hackeamento das transmissões de celulares e mídias de massa? A nossa própria pele, porque ela se tornou mais uma forma midiática de tela na cultura tattoo, através da qual queremos nos auto-expressar. Esse é a analogia que a estranha animação argentina “Lava” (2019) pretende fazer ao acompanhar uma bizarra invasão de gatos, serpentes e bruxas gigantes na cidade de Buenos Aires. E tudo começa com uma transmissão hipnótica nas telas de celulares e TVs. “Lava” acompanha essa invasão numa atmosfera lisérgica e onírica com uma crítica social: a obsessão da humanidade pelas mídias e como os dispositivos absorvem totalmente nossa atenção. 

sábado, fevereiro 27, 2021

Nos abismos metalinguísticos e gnósticos da série 'WandaVision'


Não fosse a vinheta que abre cada episódio, com o logotipo da Marvel Studios e o desfile da galeria de super-heróis acompanhado de uma orquestração épica, acharíamos que estamos assistindo à série errada – saem super-heróis esculpidos de forma épica, violência bombástica e música enfática sinalizando alguma reviravolta catastrófica, e temos agora elementos gnósticos e psicanalíticos para narrar os traumas interiores de um super-herói. A série “WandaVision” (2021- ) coloca, dessa vez, dois super-heróis do Universo Marvel (a  Feiticeira Escarlate e Visão) nos abismos metalinguísticos de um pastiche das sitcoms dos anos 1950 e 1960, explorando altos conceitos já vistos em produções como “A Vida em Preto e Branco” (“Pleasantville”) e “Show de Truman”.

terça-feira, dezembro 29, 2020

A gnose é o jazz da vida na animação da Pixar 'Soul'


Por que sentimos as emoções que sentimos? Há vida após a morte? Um rato pode fazer uma refeição de três pratos? Após tentar responder a essas perguntas nas animações “Divertida Mente”, “A Vida é uma Festa” e “Ratatouille”, agora o estúdio Pixar vai direto ao ponto: qual o sentido da própria vida? Esse é “Soul” (2020), a narrativa mais esotérica e mística do estúdio. Principalmente porque vai buscar a resposta no conceito de “spark” - palavra explicitamente gnóstica: “centelha” ou “faísca” como contraparte divina da alma). Um conceito incompreendido nas traduções em legendas e dublagens brasileiras, traduzido ora como “propósito”, ora como “missão”. O gênio de “Soul” é representar esse tema esotérico por meio do Jazz: um professor de música tem uma experiência de quase morte no dia mais importante da sua vida para ser levado ao plano da existência do trânsito das almas entre o Céu e a Terra.  Para alcançar a gnose na qual a centelha da vida é como o Jazz: para realmente apreciá-lo, é necessário que coração e a mente estejam imersos na música... assim como na vida.

domingo, maio 31, 2020

Na série "The Midnight Gospel" zen-budismo é a filosofia perfeita para nosso universo simulado


Cada episódio da série de animação “The Midnight Gospel” (2020-) é um intensivo exercício pop de meditação: tentamos acompanhar os longos diálogos sobre vida e a aceitação da morte sobre o ponto de vista zen-budista, enquanto os protagonistas estão em mundos de colorido intenso e muitas vezes com violência gráfica pesada que tenta desviar nossa atenção. Como se a narrativa nos obrigasse a buscar o silêncio interior perante o caos barulhento da realidade. O protagonista Clancy faz entrevistas para um “spacecast” em um Universo dentro de simuladores cuja interface é análoga a games de computadores. É exatamente essa a ironia metalinguística central do filme: seres de um universo simulado cujas reflexões zen-budistas de que “tudo é um vazio de qualidade inerente” ou de que “vivemos em uma ilusão” é a filosofia perfeita para entidades digitais vazias e sem alma. A série flerta com o niilismo e solipsismo: seriam as filosofias orientais perfeitas para a nossa condição existencial de vivermos num Universo simulado análogo aos mundos de “Midnight Gospel”?

domingo, maio 10, 2020

A humanidade tenta voltar para a casa que esqueceu na série gnóstica "O Vazio"


Nos primeiros minutos do primeiro episódio três adolescentes acordam em uma sala vazia, sem memória de quem eles são ou de como chegaram lá. Há uma máquina de escrever bem visível no canto e gás verde venenoso está saindo do chão. Cães demoníacos aparecem do nada para persegui-los, e um homem com questionável senso de moda oferece sua ajuda mística, mas com um custo ambíguo. Assim começa a série de animação “O Vazio” (“The Hollow”, 2018-20), disponível na Netflix. Protagonistas tentam encontrar o caminho de volta para casa. Mas como encontrar se não lembram do caminho ou sequer o que ela é? Esse é o paralelo que a série faz entre a Jornada do Herói a e condição existencial gnóstica humana, do nascimento até a morte – somos exilados em um mundo paralelo? Em algum limbo pós-morte? Prisioneiros em um game cósmico?

sábado, março 14, 2020

Série "Rick e Morty": qual bateria o nosso universo alimenta?


Rick and Morty (2013-) é uma das séries de animação atuais que mais explora a complexidade da mitologia gnóstica. Mas não apenas como um simples sci-fy: fã da dupla Doc e Marty do filme clássico “De Volta Para o Futuro”, o criador Justin Roiland queria fazer uma releitura, mas sem viagens no tempo e indo mais além - como a descoberta de infinitos planetas e multiversos (às vezes com versões melhoradas de nós mesmos) nos leva à amoralidade, o niilismo e o relativismo existencial. Mas é no episódio “The Ricks Must Be Crazy” que a série consegue materializar a totalidade da cosmologia gnóstica: mundos dentro de mundos criados com uma única finalidade – manter a bateria do veículo de Rick funcionando. E o nosso mundo, gera energia para quem? Teurgia, Alquimia e Vale do Silício se encontram num dos melhores episódios da série.

quinta-feira, fevereiro 20, 2020

Curta da Semana: "World of Tomorrow" - clonagem, memória e esquecimento


Em um futuro próximo uma criança atende um chamado em um videofone. É ela própria, 227 anos no futuro. Na verdade, um clone seu na terceira geração. Na busca da imortalidade, uma elite abastada passou a clonar corpos e memórias. Cópias de cópias, copiando-se a si mesmas. Mas alguma coisa se perde na sucessão de gerações de clones – eles nunca são autênticos: o futuro é tomado por uma nostalgia daquilo que não se consegue mais lembrar. Indicado ao Oscar de melhor curta de animação em 2016, “World of Tomorrow” é uma narrativa criativa comovente e engraçada de um tema melancólico. Na busca da imortalidade, a tecnologia tenta traduzir digitalmente aquilo que nos torna humanos: as memórias. Assim como a arte perde a “aura” na reprodutibilidade técnica, também corpos e memórias clonadas perderão algo que jamais conseguiremos lembrar. 

quarta-feira, novembro 20, 2019

Curta da Semana: "Animal Behaviour" - animais humanizados, sociedade animalizada


Estamos em mais uma sessão semanal de psicoterapia. Só que ao invés de humanos, encontramos animais atormentados por obsessões, compulsões, culpa, agressividade e ansiedade. E o terapeuta é o Dr. Clement, um cão que conseguiu sublimar muitos impulsos instintivos como, por exemplo, cheirar o traseiro de outros cachorros. Até que chega um novo paciente: um macaco agressivo e antissocial que irá inverter todos os papéis daquela sessão. Esse é o curta de animação, indicado ao Oscar desse ano, “Animal Behaviour” (2018) – uma narrativa em tom adulto de uma fórmula que o selo Disney/Pixar explora costumeiramente em suas animações: a antropomorfização dos animais. Porém aqui os animais funcionam como o nosso reflexo invertido: enquanto humanizamos os animais, animalizamos os distúrbios psíquicos na sociedade.

domingo, outubro 20, 2019

Curta da Semana: "Garden Party" - Sapos, semiótica e humor negro


Um sapo pula em uma piscina cheia de detritos. Logo se juntam outros sapos que exploram uma mansão aparentemente abandonada. Enquanto acompanhamos os batráquios curiosos explorando a cozinha, quartos e jardim, percebemos que há algo mais: por todos os lados há indícios de que algo sinistro aconteceu ali. O curta de animação indicado ao Oscar de 2018, “Garden Party” (2017) foi um trabalho de conclusão de curso de uma escola de cinema francesa. Produção surpreendente: hilária e com refinado humor negro – incita o raciocínio semiótico indutivo do espectador além do argumento se inspirar na simbologia arquetípica dos sapos: a grande cadeia simbólica água-noite.

domingo, junho 30, 2019

Curta da Semana: "Dolls Don't Cry" - Somos fantoches em um mundo simulado


Premiado por melhor roteiro no Festival de Animação de Ottawa, o curta-metragem em “stop-motion” canadense “Dolls Don’t Cry” (Toutes Les Poupées Ne Pleurent Pas, 2017) nos apresenta a clássica cosmologia gnóstica ao convergir duas teses: o esotérico fascínio humano por fantoches, bonecos, robôs e autômatos e a hipótese do Universo como uma gigantesca simulação. Desde a antiga Alquimia, passando pelo cinema e animação, até chegarmos aos games de computador o homem simula a criação de mundos. Como se tentasse imitar Deus, simulando vidas. Por que esse fascínio? Será que tentamos nos tornar sencientes dentro de um Universo simulado no qual somos prisioneiros?

quarta-feira, março 06, 2019

Curta da Semana: "Animals" - Smartphone e solidão nos tornam selvagens


Um dia como outro qualquer de pessoas comuns viajando em um trem. Cada um perdido em seus próprios pensamentos e preocupações. Até que surge o inesperado: a porta do vagão não abre, e o trem permanece em movimento para as próximas estações.  Aquelas nove pessoas começarão a fazer uma rápida descida para o caos, a irracionalidade e, por fim, a selvageria – tudo registrado por um smartphone de um passageiro que apenas se preocupa em postar o vídeo em redes sociais, ao invés de tomar uma atitude de ajuda. Esse é o curta-metragem “Animals”(2019), trabalho de conclusão do “Animation Workshop” do animador dinamarquês Tue Sanggaard. Seis minutos que resumem as principais teses clássicas da psicologia social sobre o comportamento do homem na multidão. Porém, no século XXI, turbinadas pelas novas tecnologias.

quinta-feira, janeiro 24, 2019

Ano 2019 é um Vortex Temporal? Como modular a atenção em tempos extremos, por Nelson Job

Este ano de 2019 aparece com recorrência no imaginário especulativo como um ano de "turning point". Parece ter sido privilegiado por obras do passado de cineastas, escritores e médiuns que o elegeram como um ano marcante. Os filmes “Blade Runner” e “O Sobrevivente”, o animê “Akira”, as previsões de Isaac Asimov e de Chico Xavier, todos fazem referência a este ano. Quais as razões disso? 2019 será, de fato, o trampolim de uma Nova Era, como astrólogos e esotéricos do mundo inteiro anunciam, ou será uma completa catástrofe? Podemos entender o ano de 2019 como uma espécie de vortex transtemporal? Forças dos acontecimentos anteriores e do futuro estariam de auto-organizando no tempoNeste artigo, investigaremos essas ocorrências e traçaremos um desdobramento delas.

sábado, setembro 01, 2018

Curta da Semana: "O Futuro Será Careca" - Por que temos horror ao vazio em nossas cabeças?


Vivemos uma sociedade de consumo que ama tudo aquilo que está cheio: sonhos, sacolas de compras, cabelos. Odeia o vazio porque cria uma “incontrolável sensação de desgosto”. E os carecas seriam a síntese de tudo isso que as pessoas temem: carregam o vazio sobre suas cabeças. Esse é o tema do surreal curta francês “O Futuro Será Careca” (“Le Futur Sera Chauve”, 2016), de Paul Cabon. Um jovem protagonista cabeludo descobre numa refeição em família o futuro que lhe espera: a calvície hereditária. E revela o sintoma de uma sociedade que criou o mito da juventude como estratégia publicitária sedutora e pervasiva – a inabilidade de crescer e envelhecer.

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