domingo, abril 29, 2018

Com elegância e decadência a modernidade aguarda o nazismo na série "Babylon Berlin"


A série mais cara de televisão alemã, a produção Netflix “Babylon Berlin” (2017-) cria para o espectador uma estranha sensação de atualidade. É ambientada na Berlin do final de década de 1920, coração da modernidade urbana do cinema e dos clubes de jazz. Mas também da hiperinflação, pobreza, racismo, drogas, filmes pornográficos e a ascensão de grupos proto-nazistas. Subprodutos do envenenamento psíquico da República de Weimar na qual comunista e bolcheviques são o pretexto para destruir uma jovem democracia. Um jovem inspetor de polícia dá uma batida e descobre um estúdio de cinema onde eram produzidas versões de contos bíblicos, com muito sexo e pedofilia. Mas o fio da meada que o policial puxará o levará a um obscuro submundo no qual se esconde todo o mal psíquico que fará um país cair nos braços do totalitarismo.

sábado, abril 28, 2018

Trompete invade link da Globo e abre perspectivas na guerra semiótica


A invasão de um solo de trompete num link ao vivo do “Jornal da Globo” entoando o refrão de “Olê, olê, olê, olá, Lula, Lula” é mais uma mostra da eficiência da estratégia de guerrilha antimídia do “culture jamming” (trolagem) – tática anárquica de criar ruídos, atrapalhar ou interferir no fluxo normal da informação. No atual cenário de guerra híbrida (demonstrado pela imediata criação de uma “cinderela de esquerda” pelo BBB18 após a ocupação do “tríplex do Lula”), a trolagem do link ao vivo da Globo demonstra seu poder de fogo por potencialmente mobilizar elementos semióticos de opinião pública fundamentais: clima de opinião, importância e ambiguidade, ironia e sarcasmo e trolagens multi-culturais. Eficácia que só aumentaria através de uma espécie de “temporada de caça aos links ao vivo da grande mídia”, ação de guerrilha midiática que atingiria o ponto fraco da TV atual: apesar do seu “tautismo” crônico, a TV tem necessidade de abrir pequenas janelas (blindadas) para o mundo. Afinal, ela vive do álibi da informação e entretenimento.

Cinegnose discute "bolhas virtuais" e obscurantismo no "Poros da Comunicação"


Por que a Internet deixou de ser uma janela aberta para o mundo para se converter numa bolha virtual dentro da qual cada um de nós vive uma realidade simulada? Por que os algoritmos que animam essa bolhas parecem conhecer mais de nós que nós mesmos? E de que forma a motivação mística tecnognóstica anima esse cenário tecnológico, ameaçando criar novas formas de obscurantismo? Essas foram as interrogações que esse humilde blogueiro levou para o sexto programa “Poros da Comunicação”, transmitido ao vivo pela TV FAPCOM na última quinta-feira (26)  com o tema “Tecnologias e o Sagrado: um Novo Obscurantismo?”. Assista à gravação do debate aqui no “Cinegnose”.

quarta-feira, abril 25, 2018

Editor do "Cinegnose" participa de debate sobre tecnologias, sagrado e obscurantismo


Nessa quinta-feira (26/04) esse humilde blogueiro participará de debate transmitido ao vivo pela TV FAPCOM – Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação cujo tema é “Tecnologias e o Sagrado: um novo obscurantismo? A transmissão ocorrerá pelo canal do YouTube da TV FAPCOM e terá início às 14h – clique aqui para acessar o canal da TV FAPCOM.

Também participarão do debate os professores e pesquisadores Ciro Marcondes Filho (mediador, ECA/USP/FiloCom), Carlos Eduardo de Souza Aguiar (FAPCOM), Marcella Faria (FAPCOM) e Jorge Miklos (PUC/SP).

Como os leitores mais antigos do Cinegnose devem saber, este humilde blogueiro levará as reflexões em torno dos conceitos desenvolvidos aqui como Tecnognosticismo (o “pós-humano”) e Cartografias e Topografias da Mente – o esforço multidisciplinar envolvendo as neurociências, ciências cognitivas, Cibernética, Inteligência Artificial e Teoria da Informação para, além de desvendar o funcionamento da mente, também procurar um modelo de simulação que permita não só compreender a dinâmica dos processos mentais e da consciência, mas, principalmente, manipulá-la e controlá-la.

Além disso, compreender as motivações místicas ou religiosas por trás dessa nova forma de engenharia social – a religião do Vale do Silício (a “religião das máquinas”, a que se refere o cientista computacional Jaron Lanier), teurgia, alquimia e cabala.

Poderiam essas motivações políticas e imaginárias por trás das tecnologias atuais uma nova forma de obscurantismo? A racionalidade caindo sob o encanto do mito?



O Programa “Poros da Comunicação” (sempre transmitido ao vivo pelo YouTube, agora na sexta edição) é uma parceria da FAPCOM com o FiloCom, que é um núcleo de estudos filosóficos da comunicação da ECA/USP. Foi Fundado em 2000 com o objetivo de realizar pesquisas, encontros e publicações relativas ao modo filosófico de entender os fenômenos da comunicação.

A FiloCom tem vínculo internacional com pesquisadores brasileiros e estrangeiros na Europa e EUA.

Link para a TV FAPCOM: https://www.youtube.com/user/faculdadepaulus

terça-feira, abril 24, 2018

O império contra-ataca na guerra semiótica: Globo faz a Cinderela de esquerda no BBB18


Dentro da atual guerra semiótica, a Globo foi rápida após acusar o golpe da invasão tática do “tríplex do Lula” no Guarujá pelo MTST e Frente Povo Sem Medo. Três dias depois, a emissora simplesmente promoveu uma militante petista (Gleici Damasceno, a jovem acreana “feminista e militante”, como descreveu o programa) a nova milionária do BBB18. E de quebra, como vice, um refugiado sírio.  Resposta semiótica direta e incisiva: entrou no “controle de danos” após a prisão de Lula (compulsivamente a Globo tenta aparentar agora imparcialidade). Ao mesmo tempo em que utilizou a arma ideológica tão antiga quanto a própria televisão brasileira: narrativas da “Rainha por um Dia” e “Boa Noite Cinderela” do velho Silvio Santos desde décadas atrás – reciclar miseráveis (e agora também militantes de esquerda) em exemplos de imparcialidade e evidências do outro lado da moeda da meritocracia: a sorte e oportunidade. E a esquerda tenta pegar carona em Gleici: “Quando é no voto, a gente sempre ganha”, “Gleici campeã, deu PT” etc. Parece que a vitória da ocupação do triplex não ensinou nada...

domingo, abril 22, 2018

A família do século XXI em cacos na série Netflix "Perdidos no Espaço"


Toda refilmagem revela o espírito de época quando comparada com o original. É também o caso da série Netflix "Perdidos no Espaço" (Lost In Space, 2018), nova versão da série clássica de TV dos anos 1960 – que já contava com um longa-metragem em 1998. Agora os Robinsons não são mais a família nuclear perfeita do sonho americano, mas uma família à beira da separação que tenta reunir os cacos enquanto enfrenta os perigos de um planeta desconhecido. O novo “Perdidos no Espaço” revela o espírito de época do século XXI: o militarismo e a amoralidade do vilão. Além da relação histérica com o objeto do desejo, traço psíquico da cultura contemporânea: só voltamos a desejar aquilo que amamos na eminência da sua perda com a morte ou a destruição.

quinta-feira, abril 19, 2018

Ocupação do triplex: pontos para a esquerda na guerra semiótica



Finalmente a esquerda marca pontos na atual guerra semiótica no front do campo simbólico da sociedade (grande mídia + opinião pública): a ocupação do indefectível “triplex do Lula” no Guarujá pelo MTST e a Frente Povo Sem Medo apresentou todas as características de um petardo semiótico: Detonação, Letalidade, Dilema Midiático e Dissonância Cognitiva. Uma ocupação curta (pouco menos de quatro horas), mas o suficiente para a grande mídia viver um dilema e dar uma guinada gramatical no seu discurso, como se sentisse o golpe. Mas o melhor dessa bomba semiótica foi como a mídia corporativa mordeu a isca (o álibi) para a ocupação revelar o seu verdadeiro propósito: a filmagem no interior da verdadeira caixa preta em que se tornou o imóvel. Revelando a dissonância entra as narrativas jurídico-midiática e da oposição. Uma ação simbólica bem-sucedida que revela outras questões. Entre elas, a possível criação de um grupo de inteligência semiótica para multiplicar essa ação prototípica.

segunda-feira, abril 16, 2018

Niall Ferguson: baixa educação e ressentimento alimentam extremismo e guerra híbrida


Historiador escocês, professor de Harvard e nome que esteve na lista das 100 pessoas mais influentes do mundo pela revista “Time”, Niall Ferguson afirmou: parcelas menos educadas da população tendem a aderir a discursos extremistas de direita como solução para crise. Em passagem em evento promovido pelo banco Itaú em São Paulo, Ferguson referiu-se como a baixa qualidade educacional cria a percepção de que “o mundo não funciona” e a fácil aceitação de que pessoas sozinhas com soluções extremistas resolveriam problemas como criminalidade e imigração. Apesar de ser um intelectual muito solicitado como palestrante em eventos corporativos, a fala de Ferguson revelou como a baixa qualidade educacional cria o ressentimento: a matéria-prima psíquica da qual se aproveitou a guerra híbrida brasileira. Mas agora, discursos extremistas de direita brasileiros estão prontos para oferecer novos bodes expiatórios para direcionar o ressentimento de jovens universitários que sentem que o “mundo não funciona”: a distância entre o diploma conquistado com esforço e a realidade profissional precarizada. Pauta sugerida pelo nosso leitor Paulo Manetta.  
  
Niall Ferguson não é apenas um historiador escocês, professor na Universidade de Harvard e palestrante bastante requisitado na Europa e Estados Unidos. E que passou esse mês aqui pelo Brasil no evento Macro Vision, promovido pelo banco Itaú em São Paulo. Ele também é um “think tank” (instituição ou personalidade especializada em influenciar a opinião pública e decisões políticas), que já esteve na lista das 100 pessoas mais influentes da revista americana Time.

Ferguson costuma vender o diagnóstico de que o mundo ocidental está em decadência: a democracia, o capitalismo, o respeito às leis e a sociedade civil estão em crise e que as políticas dos governos dos EUA e Europa só pioram a situação.

Como não poderia deixar de ser, por onde passa diz que a solução é aquilo que as atentas audiências formadas por CEOs e banqueiros já pensam: limitar o governo e desregulamentar o mercado. Em outras palavras, Niall Ferguson é aquele que atira primeiro a pedra na vidraça para depois tocar a campainha da casa para vender seguro – a estratégia da “vidraça quebrada”.

Mas às vezes devemos ficar atentos às falas desses intelectuais insiders que acenam soluções neoliberais para a banca. Muitas vezes apresentam dados cuja interpretação é “invertida”: apontam para tendências e fenômenos sociais muitas vezes verdadeiras, porém não como denúncia de uma realidade que precisa ser mudada. Mas como prospecção de matéria-prima para futuras ações de guerra híbrida.

Niall Ferguson

Baixa educação e populismo de direita


Em declaração ao jornal Valor Econômico, Ferguson apontou que as experiências recentes do Brexit e das eleições americanas de 2016 sugerem que a parcela menos educada da população tende ao populismo de direita como solução para as crises – clique aqui.

“O que vimos é que pessoas de mais baixa educação têm maior probabilidade de votar no populismo de direita. Isso se mostrou verdadeiro em eleições europeias recentes”. Para Ferguson, “pessoas com maior educação tendem ao centro, seja de esquerda ou direita, porque o mundo funciona para essa parcela da população, que por isso é favorável à manutenção do status quo”.

E completou: “As pessoas que não se beneficiam do status quo são atraídas por quem diz que pode mudar o sistema, que pode sozinha resolver o problema, seja de imigração ou criminalidade”.

Segundo Ferguson, sempre após as crises o populismo de direita tende a ter bom desempenho. E alerta os brasileiros: “imagino que o pesadelo de vocês seja, com a ausência de Lula, uma disputa entre Bolsonaro e o substituto de Lula”.


“O mundo não funciona”


Fica claro que o conceito de “baixa educação” não se refere a uma insuficiência de nível escolaridade formal, mas à precarização da qualidade. Por exemplo, conseguir um diploma de ensino superior em faculdades privadas de baixo nível ou em cursos EAD acessíveis ao nível de renda. Como o pesquisador escocês aborda no livro “The Great Degeneration: How Institutions Decay and Economies Die” – veja “US education and economy are on the skids, says britsh historian” In: Mercatornet, clique aqui.

Isso talvez explique o porquê de Bolsonaro ter melhor resultado entre os mais escolarizados (aqueles que completaram o ensino superior) segundo pesquisa Datafolha (clique aqui e aqui). Além da pesquisa apontar que 60% dos eleitores do parlamentar de direita serem jovens – entre 16 e 34 anos.

Nem tampouco essa “baixa educação” tem a ver exclusivamente com a desinformação que levariam jovens a serem seduzidos pelo canto da sereia dos discursos extremistas – repostas simples baseadas em soluções finais do tipo “subir a Rocinha dando tiros” como defendeu certa vez Jair Bolsonaro.

A chave de compreensão do diagnóstico de Niall Ferguson está na percepção dessas pessoas de que, para elas, “o mundo não funciona”, apesar da escolaridade superior conquistada a muito custo e motivada pela crença da justiça do sistema meritocrático.

A percepção de que “o mundo não funciona” deixa de ser uma questão eminentemente sociológica para entrarmos no campo explosivo psicossocial – campo embrionário do fascismo que sempre esteve vinculado com o ressentimento do indivíduo contra uma sociedade injusta que parece sempre burlar as regras do jogo.

Os anos de governos lulopetistas das políticas de inclusão de estudantes no ensino superior (crescimento de 65%,  e destes 75% em instituições privadas, setor que se tornou um parceiro do governo federal) criaram expectativas para a chamada “Classe C” de que estava entrando no jogo da meritocracia em condições de igualdade. Como reza a boa ideologia do mérito e do empreendedorismo.

Mas essa inclusão quantitativa não foi acompanhada pela qualificação das escolas de ensino superior. O que significa que a conquista do diploma universitário não significou necessariamente a conquista de empregos qualificados ou uma carreira bem remunerada com perspectivas de crescimento profissional.


Ressentimento e precarização


Pesquisadores como Giovanni Alves observaram que o modelo neodesenvolvimentista conduzido pelos governos do PT basearam a inclusão social através do mercado de consumo e da precarização do trabalho. Uma nova geração de trabalhadores cujas noções de cidadania e trabalho passaram muito mais pelas ambições por consumo do que pelos valores de classe social, direitos de trabalho e sindicalização – leia ALVEZ, Giovanni, “Neodesenvolvimentismo e precarização do trabalho no Brasil” – clique aqui.

E os diplomas conquistados em faculdades com educação também precarizada fechou essa conta que mais ampliou expectativas do que as satisfez. Jovens diplomados foram jogados em um mercado de trabalho que confundiu ícones de softwares, sistemas operacionais e aplicativos como um verdadeiro saber profissional. Quando na verdade não passavam de trabalho simplificado, rotinizado e fragmentado, pronto para ser controlado e monitorado por gestores.

E nesse gap entre o diploma e a realidade precarizada (carreira frustrante de baixa remuneração) está o mal estar psíquico do ressentimento – a humilhação e revolta de que “o mundo não funciona”, a percepção genérica de que “tudo que está aí” está errado.

Pronto! Temos a atmosfera psíquica perfeita que busca bodes expiatórios. Apenas aguardando uma tradução em uma bomba semiótica, em um slogan, em uma guerra híbrida.

Em postagens anteriores este Cinegnose vem apontando que a combinação explosiva de meritocracia com ressentimento motiva a atual guerra simbólica empreendida pelo complexo jurídico-policial-midiático cujo ápice foi a prisão de Lula e a sua tradução cinematográfica: o rebento de José Padilha, a série Netflix O Mecanismo – veja links abaixo.


Para o ressentido, o bode expiatório da corrupção é mais atraente do que as críticas dos  juros altos, das políticas econômicas antinacionalistas, do neoliberalismo ou do sucateamento proposital do patrimônio público para as privatizações serem aceitas como fato consumado – de novo, a “estratégia da vidraça quebrada”.

A vantagem é que a corrupção pode ser midiaticamente personalizada em políticos com rostos, partidos etc. – serem demonizados, caçados, presos em espetáculos de meganhagem policial ao vivo na TV, com armas e carros negros reluzentes. Alívio psíquico regressivo (sádico-masoquista) para o ressentimento.

Crítica ao juros alto ou perda da soberania nacional são abstratas demais para um ressentido.

Com a prisão de Lula (vendida a um preço simbólico muito baixo, sob a égide da “rendição”) como o epílogo ideológico da Lava Jato, restam os discursos extremistas de direita, como o de Jair Bolsonaro, herdarem o ressentimento de uma massa de jovens universitários. Frustrados porque o “mundo não funciona”.

De tudo isso, ficam duas questões que sempre atormentaram pesquisadores como esse humilde blogueiro: por que historicamente a frustração social sempre foi melhor traduzida politicamente como ressentimento pelos discursos extremistas de direita? Por que até aqui o ressentimento nunca foi revertido em frustração que motivasse uma crítica ao verdadeiro mecanismo, o sistema reprodutor da desigualdade?

O fato é que diagnósticos como os de Niall Ferguson não são usados para a transformação social. Mas para a prospecção de novas oportunidades no atual quadro de guerra híbrida em escala planetária. 


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sábado, abril 14, 2018

Filme "Thelma" faz versão muito além do terror de "Carrie - A Estranha"


Em uma nova produção do cineasta dinamarquês Joachim Trier (de filmes cult como “Oslo” e “Mais Forte Que Bombas”), dessa vez o diretor  cria sua própria versão de “Carrie – A Estranha” (1976) do mestre Brian De Palma. Em “Thelma” (2017) vemos o despertar da sexualidade e do desejo de uma jovem educada por toda vida para ser uma cristã devota. Longe de casa, estudando em uma universidade Thelma vê crescer uma atração homoafetiva por uma colega, ao mesmo tempo que crises epiléticas prenunciam poderes paranormais que eventualmente descobrirá. Mas ao contrário do clássico de Brian De Palma, marcado pelo terror, “Thelma” se desloca para o gênero fantástico: o despertar emocional de uma jovem extremamente reprimida cuja luta interior criará emoções tão estressantes que romperão o próprio tecido da realidade. Filme sugerido pelo nosso incansável leitor Felipe Resende.

quarta-feira, abril 11, 2018

Vazamento de áudio de Chico Pinheiro foi um não-acontecimento



Dentro da caixa de ferramentas da guerra semiótica, o dispositivo do vazamento é o mais manjado. Porém, continua eficiente, como demonstraram os vazamentos de Edward Sowden e o papel que desempenharam na guerra hibrida brasileira. Vazamentos sugerem espontaneidade, acidente ou um escorregão de alguém boquirroto. Na verdade, criam dissuasão, cortina de fumaça e, se voltada diretamente para o oponente, desmobilização. Como simulação para conseguir um determinado efeito midiático na opinião pública e um perfeito não-acontecimento. Depois do “vazamento” do áudio do jornalista global Chico Pinheiro no WhatsApp, criticando a cobertura da emissora e elogiando Lula, a esquerda se alvoroçou: Pinheiro detonou a Globo! Uma voz dissonante! etc. Tal como o “vazamento” do vídeo de William Waack, este do Chico Pinheiro tem timing e um conteúdo que ajuda ainda mais a iconificar a figura de Lula, para retirá-lo do campo da guerra simbólica.

domingo, abril 08, 2018

Na prisão de Lula mais uma vez a esquerda perde a guerra semiótica



Do significado da data da prisão de Lula determinada por Moro (06/04, dia da morte do “Patriarca da Independência”, José Bonifácio); passando pelo destino do comboio que levava Lula para a PF no bairro da Lapa (ao invés de Congonhas, evitando que a militância petista entrasse em rede nacional fazendo protestos na entrada do aeroporto); e chegando aos planos de câmera de TV do helicóptero decolando, conduzindo o prisioneiro e no segundo plano prédios com luzes piscando em apartamentos que comemoravam o desfecho. Todos os detalhes revelaram a elaborada guerra semiótica do complexo jurídico-policial-midiático. A resposta de Lula e do PT foi rápida e promissora: se encastelar no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, sugerindo a estratégia de empate e desobediência civil. Para cobrar um alto preço simbólico pela rendição. Mas acabou cedendo à indefectível narrativa da “luta e resistência” e abandonou o campo de batalha semiótico, em rede nacional. Mas os eventos deixaram mais uma vez nu o jornalismo da TV Globo ao dificultarem o acesso da emissora às informações diretas do centro da crise em São Bernardo.

sábado, abril 07, 2018

A última interface da humanidade no filme "OtherLife"


“OtherLife” (2017) é um filme australiano independente (disponível na Netflix) que aborda o tema da realidade virtual, mas não através da perspectiva da simulação através de um software. Mas a realidade virtual como uma ideia química e biológica. Mais precisamente, por meio de um “software biológico”: se as nossas memórias são resultantes de complexas reações químicas, poderiam ser codificadas e transformadas na última interface da história da tecnologia: a bioquímica-digital. Uma droga na qual a realidade virtual comprime o tempo-espaço, lembrando a abordagem de “A Origem” de Nolan: um minuto do tempo real corresponderia a um ano de “férias” virtuais em praias paradisíacas ou nas montanhas nevadas de cartão postal. Para pessoas “sem tempo para ter tempo livre”, como anuncia a startup que promove o produto “OtherLife”. Mas conflitos corporativos, além do drama pessoal da cientista criadora da droga virtual, tornarão a interface “OtherLife” em um jogo perigoso. Filme sugerido pelo nosso emérito leitor Felipe Resende.

domingo, abril 01, 2018

Curta da Semana: "The Kiosk" - a crítica da vida cotidiana


Um curta que é inspirado da própria experiência de vida da diretora, Anete Melece. “The Kiosk” (2013) é um curta de animação sobre a difícil busca do equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal. E a ainda mais difícil busca da satisfação no trabalho. Com um raro senso de comédia estética e visual, “The Kiosk” nos mostra uma protagonista literalmente presa no seu local de um trabalho alienante, monótono e sem sentido. Um acidente força a protagonista enfrentar uma jornada que transformará sua vida. Ou será que apenas realizou um sonho dirigido pela mídia e o turismo? O curta aborda temas que envolvem a “sociologia do cotidiano” do francês Henri Lefebvre – a “cotidianidade” como um fenômeno das sociedades modernas: de um lado a rotina, tédio e monotonia dos dias de trabalho. E do outro, as fantasias e compensatórias do que foi outrora o “tempo livre”, hoje chamado “lazer”.

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