segunda-feira, novembro 30, 2020

Cancelamento do debate da Globo e isolamento social: o Circuit Braker político da pandemia


O cancelamento no último instante, por razões sanitárias, do debate na TV Globo com os candidatos às eleições de São Paulo no segundo turno e a imagem de Boulos, em isolamento social, segurando uma cartolina estampada “Vamos Virar!” são emblemáticas. São instantâneos de mais uma janela de oportunidades que a pandemia Covid-19 está proporcionando ao “Estado de Segurança”: o “Circuit Braker” social e político – campanhas eleitorais frias e engessadas, desde as regras dos debates televisivos que evitam confrontos ao esvaziamento das ruas por razões sanitárias e que favorecem a continuidade do "status quo". Com as ruas vazias, como reverter cenários eleitorais adversos? No campo da Comunicação, esse "circuit braker" esvazia a própria alma das transformações políticas: o “acontecimento comunicacional”.

sexta-feira, novembro 27, 2020

A realidade é mais assustadora do que o sobrenatural em 'O Que Ficou Para Trás'


Dos filmes de ficção científica surgiu nos últimos anos o subgênero “alt.sci-fi” (plots tradicionais do gênero como pretexto para discutir temas existenciais e psicológicos). “O Que Ficou Para Trás” (“His House”, 2020 disponível na Netflix), ao lado do horror racial de “Corra!” (2017), ensaia da mesma maneira um novo subgênero, agora no gênero horror: o “alt.terror”, tradicionais plots do gênero como pano de fundo para temas existenciais e políticos. A partir do tema clássico da casa assombrada, “O Que Ficou Para Trás” discute os problemas existenciais em torno dos refugiados na Europa e o ressentimento contra os estrangeiros como resultante da geopolítica global que produz guerras híbridas em alvos políticos das grandes corporações petrolíferas – no caso, refugiados do Sudão do Sul. Um novo tipo de terror onde a realidade pode ser mais estranha e assustadora do que os elementos sobrenaturais.

segunda-feira, novembro 23, 2020

Não existe ficção científica no país do futuro em 'Branco Sai, Preto Fica'

O ano é 1986. Cidade-satélite de Ceilândia. Uma violenta repressão policial em um baile funk resulta em dois jovens negros com sérias sequelas: um, na cadeira de rodas; e o outro, andando com ajuda de uma prótese. Baseado nesse fato real, o filme “Branco Sai, Preto Fica” (2014), do documentarista Adirley Queirós, constrói uma curiosa ficção científica (gênero rarefeito no cinema brasileiro) “hipo-utópica”: o futuro não existe nem mesmo como distopia, sendo uma mera projeção hiperbólica do presente dos protagonistas – um apartheid racial e social em volta de uma Brasília sitiada. De um futuro que parece o Brasil atual, vem um “agente terceirizado do Estado brasileiro” investigar os responsáveis pela tragédia de 1986. A mistura de gêneros documentário e sci-fi é proposital: mostrar como no “País do Futuro”, passado, presente e futuro se estendem num estranho eterno presente. Sem existir o amanhã.

sábado, novembro 21, 2020

Guerra Híbrida: racismo, meganhacização e caos sistêmico

Os pronunciamentos do vice-presidente Mourão e do Governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, parecem querer salvaguardar alguma coisa no revoltante episódio de espancamento até a morte de um cliente negro por seguranças de uma unidade do supermercado Carrefour, em Porto Alegre. Para eles, tudo foi uma questão de “excesso” ou “despreparo”.  Ação necessária, porém “excessiva”. Protegem um ardil semiótico que foi decisivo para o envenenamento do psiquismo na guerra híbrida brasileira: a “meganhacização” do cotidiano através de anos de shows diários das conduções coercitivas cultuando policiais corpulentos armados com armas reluzentes e toucas ninjas. A violência policialesca amparada pela meganhacização da Justiça como única forma de “passar o país a limpo”. Tática indireta da guerra híbrida para gerar caos sistêmico ao aglutinar duas feridas abertas de uma nação fundada no esquecimento: racismo e militarismo. Enquanto isso, as ações do Carrefour fecharam em alta no Ibovespa. Por que? 

quinta-feira, novembro 19, 2020

Por que 'Utopia' é a série mais azarada do ano?

Criada em 2013 e transmitida pelo canal britânico Channel 4, “Utopia” era uma série inventiva e inquietante: conseguiu elevar o olhar conspiratório para a realidade a um nível crítico e de relevância cultural. Mas o seu remake da Amazon Prime Video “Utopia” (2020) não teve a mesma sorte. No contexto da atual pandemia, “Utopia” teve um destino amargo: o enredo conspiratório parece ter saído de alguma fábrica de memes negacionistas de extrema-direita e seus protagonistas um grupo de crentes QAnon. Fãs de uma HQ acreditam que nas suas páginas estão codificados pistas e símbolos que de alguma forma previram uma série de pandemias, do Ebola à SARS. E também a atual pandemia de vírus que invade a América, originada em morcegos no Peru. Um magnata da Big Pharma está por trás de uma conspiração global através de uma misteriosa vacina. E começa a perseguir e matar os fãs da HQ que descobriram a verdade... O grande azar da série “Utopia”: a propaganda da “direita-alternativa” apropriou-se do discurso conspiratório da série de 2013, conseguindo fazer ruir as noções de Crítica e Verdade.  

terça-feira, novembro 17, 2020

Eleições 2018 e 2020: Bolsonaro foi um 'candidato manchuriano'?


O termo “Candidato Manchuriano” (superespião com Desordem Dissociativa de Identidade artificialmente criado pela CIA e Inteligência militar na Guerra Fria; programado para matar, ativado mediante um sinal aparentemente prosaico, sem conservar alguma recordação disso) foi popularizado no cinema pelo filme “Sob o domínio do Mal”, nas duas versões de 1962 e 2004. Candidato cuidadosamente criado da Inteligência militar brasileira, Bolsonaro não chega à dramaticidade das manipulações neurocientíficas da Guerra Fria: sua Desordem Dissociativa está ao nível discursivo como bomba semiótica de guerra criptografada – Bolsonaro foi programado para rodar três programas que se tornaram mais visíveis nesse ano eleitoral: (a) “Manchuriano Entertainer”; (b) “Guerra Cultural Despolitizadora”; (c) “Aloprar o Cenário Político”: criar o medo antes de vender a bomba.

sábado, novembro 14, 2020

A nova Guerra Fria quântica divide a humanidade na série "Counterpart"


Em todas as culturas, conhecer o seu duplo (o “doppelgänger”) é uma experiência terrível e talvez prenúncio da morte. Tema recorrente no cinema, a série “Counterpart: Mundo paralelo” (2017-2019) leva esse tema para outra direção: e se você descobrisse que cada um de nós possui um duplo que vai muito além de um doppelgänger? Um duplo que partilha da mesma genética, memórias e experiências. Mas que criou uma personalidade e uma linha do tempo muito diferente da sua. Qual seria o impacto nas nossas vidas e no nosso mundo ao descobrirmos o segredo da existência de um mundo duplicado (efeito de um experimento científico durante a Guerra Fria que criou acidentalmente uma Terra Paralela) no qual, por exemplo, as torres gêmeas jamais foram derrubadas em 2001 e que o cantor Prince continua lançando CDs?  “Counterpart” explora as consequências existenciais e políticas em uma nova Guerra Fria envolvendo espionagem e novas formas de terrorismo, dessa vez a partir de um acidente quântico que dividiu a humanidade.

terça-feira, novembro 10, 2020

Deixa esse mundo Ciro Marcondes Filho, o escavador de silêncios


Faleceu nesse domingo (08) aos 72 anos um dos mais importantes teóricos brasileiros da Comunicação e Jornalismo, Ciro Marcondes Filho. Um pesquisador, professor e educador para o qual rótulos não eram coisas bem-vindas: silenciosamente, à margem do mainstream acadêmico da mera replicação das teorias tradicionais, construiu uma nova metodologia e filosofia da comunicação a partir do resgate do pensamento dos estoicos à crítica contemporânea da Metafísica e a Fenomenologia de nomes como Bergson e Merleau-Ponty. Ciro não era um escavador de coisas fossilizadas como dinossauros (que, aliás, queria envenená-los...). Queria escavar o novo cujas ferramentas de prospecção, ironicamente, se esconderiam nas camadas do passado. Professor e orientador desse humilde blogueiro, a existência desse blog deve-se diretamente à sugestão de Ciro e da professora Glória Kreinz em conversas pós aulas: “por que não faz um blog?”... Nada mais gnóstico! Como Theodor Adorno, Ciro parecia querer resgatar aquilo que foi esquecido para se tornar em ensinamento que auxiliasse na construção daquilo que é novo: o acontecimento comunicacional. 

domingo, novembro 08, 2020

Blog lança versão impressa de 'Cinema Secreto' no Encontro Internacional de Cultura Gnóstica

Neste domingo (08/11) este editor do “Cinegnose” participou do evento on line Encontro Internacional de Cultura Gnóstica, quando lançou a versão impressa do livro “Cinema Secreto: Temas Gnósticos, Alquímicos e Quânticos no Cinema, Audiovisual e Cultura Pop” – já lançado no mês passado na versão e-book Kindle. Abordando o tem “O Divino Casal: Autoiniciação e Autoconhecimento através do Cinema Gnóstico, este humilde blogueiro resumiu as principais teses contidas no livro. Veja o vídeo.

sexta-feira, novembro 06, 2020

Será Trump o Coringa agente do caos?

Para a grande mídia brasileira as eleições dos EUA são “eletrizantes”, o sistema eleitoral daquele país “complexo” e as bravatas de Trump “polêmicas”. Na sua síndrome de vira-lata tenta salvaguardar o mito da América como a maior democracia do mundo, enquanto dão às costas para um evento histórico que está sendo transmitido ao vivo: assim como foi a queda do Muro de Berlim, vemos agora a derrocada da democracia liberal, transformada em pleito plebiscitário – seja qual for o resultado, a extrema-direita “alt-right” já venceu: como é do seu “modus operandi”, tensionou os pontos fracos de um sistema eleitoral elitista criado por proprietários de terras e de escravos. Implodiu o sistema por dentro ao criar polarizações baseadas na pauta identitária e de costumes, impedindo a opinião pública criar algum consenso a partir de um debate racional. Tal como o Coringa em “The Dark Knight” de Christopher Nolan, poderíamos considerar Trump o “agente do caos” que explora as fraquezas do sistema? Assim como o Coringa que explorou os pontos fracos da moralidade de Gotham City? 

segunda-feira, novembro 02, 2020

Cinegnose participa do 'Encontro Internacional de Cultura Gnóstica' discutindo como fugir da Matrix

Quem éramos, o que nos tornamos, onde estávamos, para onde fomos lançados, para onde estamos indo, do que estamos libertos, o que é o nascimento e o que é renascimento. Como essa jornada espiritual de autoconhecimento (rota de fuga da Matrix) é representada através do filme gnóstico, seja pela simbologia e narrativas, seja pela própria experiência em assistir a um filme. Esse é o tema que esse editor do “Cinegnose” discutirá no Encontro Internacional de Cultura Gnóstica que terá como tema geral “A jornada iniciática do arquétipo de Parsifal presente em nossa vida diária”. O evento totalmente online acontece nos próximos dias 07 (sábado) e 08 (domingo) de novembro.

domingo, novembro 01, 2020

Outra semana de guerra híbrida: fechamento da pauta midiática e do universo de locução

Depois do dinheiro na cueca, traficante do PCC sendo libertado pelo STF e jogador condenado por estupro contratado no futebol, o show não pode parar: mais uma semana de “crises” com o “Caso Nhonho”, o “Boi Bombeiro” ganhando status de “tese” nos telejornais e Bolsonaro fazendo piada homofóbica com o Guaraná Jesus no Maranhão. Cenas de uma recorrente guerra semiótica criptografada, que se intensifica na proximidade das eleições e aprofundamento da recessão econômica. Os chamados “fatos diversos” (outrora confinados nas colunas de “drops da política”) agora trancam a pauta como fossem temas relevantes para a opinião pública. Mas a eficácia desse fechamento noticioso não vem do nada: foram necessários anos de bombas semióticas para criar o “fechamento do universo da locução”, uma nova espécie de “novilíngua”. Afinal, é por meio das palavras que uma sociedade aceita ou rejeita os “novos normais”.

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