Um estranho vortex abalou o Ocidente na virada do século XIX para o XX: mudanças radicais na vida urbana, nas ciências, tecnologias, artes, filosofia e costumes. E com o cinema não poderia ser diferente, pois estava no centro desse vortex – criou uma experiência perceptiva e sensorial absolutamente nova. O dispositivo cinematográfico acabou se tornando a metáfora do próprio funcionamento da mente na filosofia e ciências, criando uma crise na percepção e na maneira de nós encararmos o tempo e a permanência. Porém, enquanto o cinema revolucionava, ele próprio continuou prisioneiro da Caverna de Platão – um instrumento para a manutenção da ilusão do que entendemos como “realidade”. O surgimento do cinema gnóstico na virada do século XX para o XXI criou a possibilidade dessa emancipação. Esse tema será discutido por esse editor do “Cinegnose” no Simpósio “A Transfiguração em 1900”, nessa sexta-feira, 12/04, no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, no Rio de Janeiro.
Este humilde blogueiro participará nessa sexta-feira do Simpósio “A Transfiguração em 1900” com o tema “Cinema 1900/2000: da Caverna de Platão à Matrix”. O evento, promovido pela revista “Cosmos e Contexto”, ocorrerá no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), na Rua Dr. Xavier Singaud, 150, Urca, Rio de Janeiro, às 14h.
O conjunto de palestras (veja programação abaixo) procurará refletir que estranho vortex emergiu na virada do século XIX para o XX. Fenômeno que mudou radicalmente a vida nas cidades, ciências, artes, filosofia, antropologia e costumes. O Simpósio pretende imergir na vertigem desse importante momento histórico através de um viés metodológico transdisciplinar.
O evento, organizado por Mario Novello e Nelson Job, será gratuito e sem inscrição e fornecerá certificado sob solicitação à revista Cosmos e Contexto pelo e-mail contato@cosmosecontexto.org.br - maiores informações clique aqui.
Esse é o resumo da palestra que será proferida por este editor do “Cinegnose”:
O ano de 1895 foi um marco no espírito do tempo de virada de século. As trinta e poucas pessoas que assistiram à “Arrivé d’un train gare à La Ciotat” (“A Chegada de um Trem a Ciotat”) estavam diante de uma experiência perceptiva e sensorial absolutamente nova. Sem noção do que estava ocorrendo, muitas correram para o fundo da sala com medo de serem atropeladas. O dispositivo cinematográfico mudou não só da sensibilidade humana, mas a própria definição intelectual das categorias de realidade, tempo, mudança e permanência.
Antes do cinema já haviam sido inventados alguns aparelhos de gravação como a fotografia (1820) ou o fonógrafo (1865), mas em nenhum deles era registrado o movimento de máquinas e seres humanos.
Em pouco tempo, esse experimento de final do século XIX dos irmãos Lumière causou profundo impacto. Primeiro em jornalistas, escritores e cronistas da época. Para depois impactar a filosofia, com Henri Bergson (a mente que opera como uma película cinematográfica), Edmund Husserl (a percepção da “realidade evidente” sem o conceito) ou Alfred Whitehead (o “universo que fotografa”).
O físico alemão Robert Jungk disse que a maior crise da virada do século foi a da percepção.
Ao mesmo tempo, muitos pesquisadores acreditam que o dispositivo cinematográfico descende diretamente do Mito da Caverna de Platão: partilharia da construção da irrealidade do mundo. Mas também o dispositivo fílmico poderia ser uma porta da saída dessa caverna com o seu potencial estético antirrealista, como demonstrou Meliés, contrapondo-se ao realismo dos irmãos Lumière.
Se o cinema foi capaz de impactar a filosofia e a cultura na virada de século, por outro lado o destino do cinema no século XX foi transformar-se em indústria, assumindo o realismo cinematográfico hollywoodiano e integrando-se à “caverna” da qual pretendia escapar.
Cem anos depois, o mesmo drive “espiritual” de final do século XIX (Teosofia, Espiritismo etc.) simultâneo a descoberta do eletromagnetismo e a transformação da eletricidade em informação com o telégrafo, também explode na virada do ano 2000 com o gnosticismo pop no cinema – cosmogonias e teogonias gnósticas do início da era cristã como matéria-prima de produtores e roteiristas no cinema.
Se o cinema impactou a filosofia e a cultura no século passado, o filme gnóstico tem o potencial de finalmente tirar o cinema da caverna de Platão. Caverna que no século XXI foi transformada numa Matrix com a tecnologia computacional.
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PROGRAMAÇÃO:
11 de abril (quinta-feira)
09:30 – Virginia Fontes (história)
10:30 – José Helayël (mecânica quântica)
11:30 – Gregory Chaitin (lógica)
14:00 – Octavio Bonet (antropologia)
15:00 – Nelson Job (transaberes)
16:00 – Mario Novello (teoria da relatividade)
12 de abril (sexta-feira)
09:00 – Carlos Eduardo (sociologia)
10:00 – Paloma Carvalho (artes plásticas)
11:00 – Luis Granato (psicologia)
14:00 - Wilson Ferreira (cinema)
15:00 – Auterives Maciel (filosofia)
11 de abril (quinta-feira)
09:30 – Virginia Fontes (história)
10:30 – José Helayël (mecânica quântica)
11:30 – Gregory Chaitin (lógica)
14:00 – Octavio Bonet (antropologia)
15:00 – Nelson Job (transaberes)
16:00 – Mario Novello (teoria da relatividade)
12 de abril (sexta-feira)
09:00 – Carlos Eduardo (sociologia)
10:00 – Paloma Carvalho (artes plásticas)
11:00 – Luis Granato (psicologia)
14:00 - Wilson Ferreira (cinema)
15:00 – Auterives Maciel (filosofia)