terça-feira, janeiro 08, 2019

Os dez melhores filmes gnósticos analisados pelo Cinegnose em 2018


Desde 1995, com o filme “Dead Man” com Johnny Deep, a mitologia gnóstica começa a interessar roteiristas e produtores hollywoodianos, trazendo à cena da indústria do entretenimento o “Gnosticismo Pop”- Gnosticismo: conjunto de seitas sincréticas de religiões iniciatórias e escolas de conhecimento do início da Era Cristã, séculos III e IV, que apresentavam uma visão mística de Cristo. Por isso, nunca fizeram parte da cultura sancionada pelas instituições, sempre se mantendo em canais subterrâneos ao longo da História. Até o final do século XX. Dando continuidade às análises da presença de narrativas, argumentos e elementos da mitologia gnóstica, o “Cinegnose” apresenta a lista dos dez melhores filmes gnósticos resenhados pelo blog em 2018. Filmes AstroGnósticos, PsicoGnósticos, CronoGnósticos, CosmoGnósticos e TecnoGnósticos.

Cinegnose completou mais um ano (nove anos) da sua pesquisa principal, razão da existência do blog: análises sobre a presença de elementos, narrativas, argumentos em torno da mitologia gnóstica – sejam sua Cosmogonia ou Teogonia, sejam suas ramificações simbólicas na Alquimia, Cabala ou espiritualismo. 
Desde a descoberta da chamada Biblioteca de Nag Hammadi no Egito em 1945 (52 manuscritos gnósticos organizados em 13 códices encadernados em couro que reúnem uma visão bem diferente daquela descrita nos evangelhos bíblicos canônicos), sua narrativa transcendeu os estudos teológicos e históricos especializados para ocupar um submundo místico-mágico-religioso da subliteratura da cultura de massas (HQs, magazines, filmes B sci-fi, horror e fantasia), passando pela grande literatura de Philip K. Dick ou Isaac Asimov, até chegar nas mesas de produtores e roteiristas de Hollywood na fase do Gnosticismo Pop iniciada com Dead Man (1995) de Jim Jarmuch. E se consolidando com os clássicos Show de Truman e Matrix.
Dando início a mais um ano de trabalho, fizemos uma lista dos dez melhores “filmes gnósticos” que o Cinegnoseanalisou em 2018 – entre aspas, porque nem sempre são filmes com narrativas gnósticas na sua essência. Ou seja, filmes que apresentam os quatro pilares míticos do Gnosticismo: o mito do Demiurgo, o mito da Alma Decaída, o mito do Salvador, o mito do Feminino Divino. Como, por exemplo, Mãe (2017) de Darren Aronofsky – sobre esses mitos, clique aqui
Muitos dos filmes presentes nessa lista abordam simbologias alquímicas, cabalísticas e a gnose do protagonista, sem apresentar uma narrativa gnóstica completa – sobre a gnose do protagonista na narrativa cinematográfica, clique aqui
Por isso, o Cinegnose criou um conjunto de cinco categorias de filmes gnósticos que desse conta dessa variedade de abordagens: CosmoGnóstico, TecnoGnóstico, PsicoGnóstico, AstroGnóstico, CronoGnóstico– sobre essas categorias clique aqui.
  É importante salientar que essa lista de dez filmes de 2018 não é composta necessariamente por filmes exibidos ou lançados naquele ano. A lista refere-se unicamente aos filmes que foram analisados pelo blog em 2018 – por exemplo, Lunar(Moon), de Duncan Jones, é de 2009.



1. “Um Ponto Zero” (“One Point Zero” Aka “Paranoia”, 2004) – Categoria: Tecnognóstico

Cisão esquizofrênica? Falha da racionalidade? Em geral o cinema figura a paranoia dentro dessas representações. Mas é nesse filme que a paranoia evolui de simples transtorno mental para uma percepção especial: se em “Matrix” o déjà-vu era uma falha na realidade codificada, em “Um Ponto Zero” essa falha chama-se “paranoia” - aproximando-se do insight do pensador gnóstico Valentim, lá no distante século II DC. 
A paranoia não só como uma “falha na racionalidade”, mas como a percepção da falha na própria sintaxe que estrutura a realidade. Um solitário programador de computador começa a receber misteriosas caixas vazias que o farão mergulhar em um universo cercado de câmeras de vigilância em um edifício residencial em ruínas, nano tecnologia, redes de computadores, e-mails infectados, um estranho vírus bio-cibernético, obscuros interesses corporativos e um estranho experimento em Neuromarketing – Clique aqui.




2. “Infinity Chamber” (2016) – Categoria: Tecnognóstico

Desde o duelo mortal entre o astronauta Dave Bowman e o computador HAL-9000 no filme “2001” de Kubrick, o cinema não havia conseguido repetir uma luta tão icônica entre a inteligência humana e a artificial. Isso até o filme “Inifinity Chamber”, no qual o homem enfrenta a nova geração da IA: os aplicativos e algoritmos capazes de aprender até o ponto em que poderiam saber mais sobre nós do que nós mesmos. 
Um homem é raptado em uma cafeteria, para acordar em uma cela high tech observado por uma câmera de teto: é o olho artificial de um computador chamado Howard. Sua função: mantê-lo vivo, para escanear suas memórias e fazê-lo repetir mentalmente em infinitas vezes o mesmo dia em que foi raptado, para tentar achar a evidência da sua ligação com um grupo terrorista. 
Um filme sobre tecnologia, sonhos e memória. Uma metáfora de como atuais aplicativos que fazem a mediação dos nossos relacionamentos são apenas pretextos para escanear nossos sonhos e pensamentos – Clique aqui.



3. “O Culto” (The Endless, 2017) – Categoria: CronoGnóstico

Uma boa ideia, com um roteiro inteligente e um elenco forte são capazes de fazer filmes convincentes, mesmo com pouco dinheiro. O filme “O Culto” é mais um filme independente que comprova a capacidade inventiva de renovar subgêneros do horror e da ficção científica. Dessa vez a dupla de diretores Justin Benson e Aaron Moorhead (“Resolution”, 2012) faz um inteligente meta-horror em torna do tema das anomalias tempo-espaço. 
Dois irmãos (interpretados pelos próprios diretores), depois de terem fugido de uma suposta seita suicida em uma floresta montanhosa, decidem retornar depois de receberem um estranho vídeo. “O Culto” não se limita a fazer uma desconstrução do tema “paradoxos temporais” no cinema. Num insight gnóstico, estende esses paradoxos para a nossa realidade cotidiana: e se nossas próprias vidas já fossem gigantescos paradoxos tempo-espaço, que nos aprisionam nesse cosmos, obrigando-nos a repetir uma mesma narrativa indefinidamente? Clique aqui.



4. “Altered Carbon” (série 2018-) – Categoria: TecnoGnóstico

O sonho tecnognóstico por séculos, desde a Teurgia e Alquimia, foi transcender a matéria – abandonar os nossos corpos como condição para a verdadeira evolução espiritual. Mas como Santo Irineu de Lyon alertou no século II, “O que não é assumido não pode ser redimido”. 
E o sonho milenar pode se transformar em pesadelo com uma tecnologia que promete a imortalidade: a consciência digitalizada em “pilhas cervicais” que podem, a qualquer momento, serem transferidas para qualquer corpo (ou “capa”). Mas isso acabou provocando uma sociedade tremendamente desigual e violenta. 
Essa é a série Netflix “Altered Carbon”, um cyberpunk-noir que suscita profundas reflexões teológicas: se pudermos ser ressuscitados após a morte em uma nova “capa”, a alma persistirá entre os códigos que transcreveram nossa consciência e memórias? Ou nos transformaremos em “capas” ocas manipuladas por uma elite amoral? Uma elite que alcançou a verdadeira imortalidade – fazer backups da própria consciência via satélite – Clique aqui.



5. “Upgrade” (2018) – Categoria: TecnoGnóstico

A crítica vem definindo a produção australiana “Upgrade” (2018) como alguma coisa entre a série britânica “Black Mirror” e o clássico “Robocop” de 1987: em um futuro próximo, um tecnofóbico (alguém que sempre gostou de “fazer as coisas com as próprias mãos”) tem sua vida virada de ponta cabeça ao ficar tetraplégico e receber o implante de um chip de computador que o fará andar novamente, porém com algumas “atualizações”. 
Tudo que deseja agora é vingança contra os assassinos de sua esposa, quando descobre estar em um plot conspiratório envolvendo algum tipo de espionagem industrial. “Upgrade” é um filme que revela o atual imaginário que anima o desenvolvimento computacional – Inteligência Artificial e Singularidade, o momento em que a tecnologia deixa de ser a extensão do corpo humano para se tornar sua própria negação – Clique aqui.


6. “Lucky” (2017) – Categoria: CosmoGnóstico

Um homem solitário e ranzinza confronta a chegada da morte. Com quase 90 anos, ele segue uma rotina espartana: faz alguns exercícios de ioga pela manhã, depois pega o chapéu e caminha através de uma paisagem árida de cactos numa cidadezinha no meio do nada. Trava conversas aleatórias sobre religião, filosofia, moral, game shows da TV, saúde e a morte numa cafeteria e num bar.
Enquanto fuma muitos, muito cigarros. E entre seus interlocutores está o famoso diretor David Lynch, que faz um homem que tem uma tartaruga chamada “Presidente Roosevelt”. Esse é o filme “Lucky” (2017) sobre um protagonista ateu que entra na lista de produções sobre personagens excêntricos de uma América profunda. 
Mas Lucky tem um ateísmo de natureza muito especial – é dotado de um niilismo gnóstico. Ele não crê num propósito ou sentido para a vida. Pelo menos, não para esse mundo – Clique aqui.



7. “Upstream Colour” (2014) – Categoria: PsicoGnóstico

Um filme inclassificável. Pode ser um romance com uma racionalização sci-fi. Uma jovem engole uma capsula medicinal contendo um estranho verme cuidadosamente cultivado em estufa, tornando-se hospedeira tanto da larva como do controle mental de alguém que a transformou numa cobaia involuntária de um experimento. 
Agora ela terá flashbacks, flashfowards e flahs periféricos tornando o filme “Upstream Colour” , de Shane Carruth (“Primer”) num filme estranho, surreal. Num verdadeiro quebra-cabeças que cobra do espectador esforço cognitivo para restabelecer a linearidade. 
Uma experiência enigmática, única, hipnótica e surreal. “Upstream Colour” nos dá a sensação de, através de um microscópio, estarmos vendo a matéria-prima das nossas memórias e identidades: as sensações mais básicas dos nossos cinco sentidos. Tão efêmeras e frágeis que podem ser roubadas quando menos esperamos – Clique aqui.



8. “A Dark Song” (2016) – Categoria: PsicoGnóstico, CosmoGnóstico

Algumas vezes não é a casa que está assombrada, mas as pessoas dentro dela. Inspirado num “grimório”, uma coleção medieval de feitiços, rituais e encantamentos mágicos cabalísticos chamado “O Livro de Abramelin” (escrito entre os séculos XIV e XV), A Dark Song (2016) é um conto sobre a aceitação da perda e da morte. 
Duas pessoas em uma remota casa no interior do País de Gales ficarão trancados por meses executando um intrincado ritual que os forçará aos limites físicos e psicológicos. Ambos lidando com o luto – a perda de um filho e a perda do interesse na própria vida. 
Um ritual gnóstico e herético: não se trata de lidar com o divino, mas abrir portais para alguém ou algo totalmente desconhecido que pode ser reflexo de nós mesmos ou de estranhas entidades. E sabermos reconhecer que, sejam “bons” ou “maus”, todos não são filho de Deus, mas prisioneiros de uma mesma Criação – Clique aqui.



9. “Últimos Dias no Deserto” (2015) – Categoria: AstroGnóstico

A maior história AstroGnóstica de todos os tempos. De “Jesus Cristo Superstar” a “A Última Tentação de Cristo”, Jesus já foi humanizado de todas as maneiras: dúvidas, tentações, medos etc. Mas nada igual ao despretensioso filme “Últimos Dias no Deserto” (2015) de Rodrigo Garcia. Nos 40 dias que Jesus passou no deserto orando, jejuando e pedido orientação do seu Pai, a única voz que ouviu foi a de Satanás. 
Logicamente, o demônio no início vai explorar as fraquezas de uma divindade prisioneira em um corpo humano. Mas Satanás fará (e se revelará) muito mais do que isso. Enquanto Jesus tenta minimizar os conflitos da relação pai e filho de uma família que lhe deu água e abrigo, Satanás mostrará que está sempre um passo à frente. Como se antecipasse todos os pequenos detalhes de uma história que parece já conhecer de antemão. 
Como se a Criação fosse uma repetição na qual, curioso, Satanás tenta entender o propósito de tudo. Olhando pelo ponto de vista da humanidade prisioneira em uma repetição cósmica. Seria Satanás o último dos humanistas em “Últimos Dias no Deserto”? –Clique aqui.



10. “Lunar” (Moon, 2009) – Categoria: TecnoGnóstico, PsicoGnóstico

No filme “2001” de Kubrick o computador HAL 9000 queria matar toda a tripulação da nave Discovery a caminho de Júpiter. Já no filme de estreia do diretor Duncan Jones, “Lunar” (“Moon”, 2009), o computador Gerty de uma estação lunar automatizada é mais amigável, sempre com um “smile” no monitor. Mas não menos perigoso: ele representa o atual estágio algorítmico da inteligência artificial – sempre com uma voz amigável, é como se jogasse migalhas de pão em um labirinto para que o sigamos. Até nos perder de nós mesmos e esquecermos do que foi um dia a noção de “inteligência humana”, envolvidos que somos em bolhas virtuais que acreditamos ser a realidade. 
É o que acontece com Sam Bell em “Lunar” - um solitário astronauta em uma estação lunar de mineração que, após três anos na Lua, espera o final do contrato de trabalho com uma empresa, para retornar à Terra. Mas seu único companheiro, o computador Gerty, criou o seu próprio labirinto para Sam se perder.    Clique aqui

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