“Êxodo: Deuses e Reis” é mais um filme da tendência atual de
produções hollywoodianas de temas bíblicos. Os produtores escolheram o diretor certo: Ridley Scott, cujos filmes parecem ter um tema recorrente – a morte dos
deuses. Assim como no filme “Noé” de Aronofsky, o Deus do Velho Testamento bíblico é
apresentado de forma gnóstica como um Demiurgo – ciumento, rancoroso e
vingativo. O filme desperta protestos de teólogos e cristãos sobre essa visão
tão sombria de Deus: “Como um Moisés horrorizado pode acompanhar o Senhor?”.
Diretor: Ridley
Scott
Plot: A história de Moisés já ganhou as telas em
diversas oportunidades, do clássico Os
Dez Mandamentos de Cecil B. De Mille com Charlston Heston em 1956 até a
animação O Príncipe do Egito da
Dreamworks em 1998. A histórica e bíblica jornada do profeta Moisés, o mais
importante do judaísmo, responsável pela libertação do povo hebreu do regime de
escravidão no Antigo Egito, governado pelo Faraó Ramsés. Moisés guiou seu povo
através de um êxodo que cruzou desertos e o Mar Vermelho e, segundo a Bíblia,
recebeu do próprio Deus no alto do Monte
Senai as Tábuas da Lei, contendo os Dez Mandamentos.
Por que está “Em Observação” – A crítica
especializada, e principalmente críticos de cinema com um viés teológico, tem
chamado a atenção para a representação de Deus no filme Êxodos: ao lado dos
reis, o Deus de Abraão, Isaac e Jacob é o verdadeiro vilão! Ao contrário de Noé (2014) de Aronofsky que aborda a
figura de Deus com “perspicácia hermenêutica” e “discernimento sutil”, o Deus
“Yahweh” dos judeus é personificado na figura de um menino de 11 anos (Malak)
antipático, sem sorrisos, um adolescente impertinente, sanguinário, vingativo e
pirralho.
Essencialmente,
todos no filme parecem horrorizados com
o Senhor. E isso inclui o próprio Moisés. Enquanto Moisés tenta libertar o povo
hebreu com táticas de estratégia militar de insurgência, Deus literalmente
zomba de seus esforços – o mais eficiente é o autêntico terrorismo. E por isso,
Deus desencadeia pragas que culminam na morte de todos primogênitos egípcios,
sejam plebeus ou nobres. Tudo parece fugir do controle das mão de Moisés.
“Que
tipo de Deus faz isso? Que tipo de fanático segue esse Deus?”, protesta o
faraó. Para muitos críticos, essa é a própria voz do diretor que, como no filme
Prometheus (2012), desenvolveu toda
uma narrativa sobre a jornada de cientistas que vão ao mais distante planeta
para encontrar os criadores da espécie humana – para descobrir que nada mais
são como deuses que enlouqueceram, tal qual demiurgos psicopatas.
Ridley
Scott é ateu? Os melhores filmes religiosos na história do cinema foram feitos
por diretores ateus ou, no mínimo, céticos em relação à religiosidade. Mas
nesse filme pode haver algo mais.
Ao
longo do filme as funções proféticas de Moisés parecem que são diminuídas: os
eventos sugerem sempre uma justificativa plausível naturalista – Moisés
encontra Malak (Deus) após um golpe na cabeça (alucinação?); a abertura do Mar
Vermelho é contabilizado como a dramática drenagem do mar causada pela
proximidade de um tsunami que permitiria a passagem do povo hebreu e mataria
posteriormente o exército egípcio logo atrás; as pragas do Egito poderiam ter
relações de causa e efeito – se o rio Nilo se transformou em sangue, os peixes
morreram e as rãs naturalmente foram expulsas para a terra. Depois moscas, gado
doente e peste podem ser plausivelmente conectados.
Para
o Gnosticismo, o Deus do Velho Testamento é o Demiurgo, um deus inebriado de
poder, rancoroso, ciumento e vingativo. Isso parece ser reforçado pelas
opiniões dos analistas que veem no filme uma relação tensa e conflituosa entre
Deus e Moisés: “Tenho notado que você nem sempre concorda comigo... mas ainda
assim estamos aqui conversando”, diz Malak a Moisés enquanto os Dez Mandamentos
são esculpidos na pedra.
“Como
um Moisés horrorizado pode acompanhar o Senhor?”, indaga o teólogo Brian
Mattson em seu blog, numa análise
fílmica misturada com exegese do livro bíblico do Êxodos.
O
fato é que o blog Cinegnose passou a
se interessar por esse filme para análise mais aprofundada por dois motivos: além
da recorrência de elementos gnósticos nas produções hollywoodianas, observa-se
em filmes como Noé, Êxodo e ainda os que serão lançados proximamente (Gods and Kings de Ang Lee, The Redemption of Caim e Mary, Mother of God com Ben Kingsley) uma
tendência de produções que fazem releitura da própria Bíblia por um ponto de
vista gnóstico; e a o tema recorrente em Ridley Scott: por assim dizer, morte
dos deuses - Blade Runner (o criador
dos replicantes que não podia resolver o problema da mortalidade), Alien (a empresa demiurga que trai a
tripulação) e Prometheus (a
descoberta de que nossos criadores não passam de deuses enlouquecidos).
O
que esperar
- Este é o primeiro
retrato de Deus que eu já vi em que parece que Ele merece uma boa palmada”. (Christopher Orr, do The Atlantic).
“Como uma interpretação ficcional, de grande
orçamento, em 3D, da jornada de Moisés,Êxodo: Deuses e Reis é
espetacular”. (Richard Roeper, do Chicago Sun-Times).
“Espetacular e surpreendente como seria de se
esperar de Scott. Sua incerteza espiritual - e falta de triunfalismo - talvez
negue uma conclusão catártica e satisfatória à obra, mas também contribui para
construir uma obra bíblica verdadeiramente moderna”. (Nev Pierce,
da Empire).
“Scott dirige em uma escala adequadamente
bíblica e fundamenta seu espetáculo nas ótimas interpretações de Bale e
Edgerton”. (Jamie Graham, da Total Film).
“É possível acompanhar um filme, catalogando
mentalmente seus absurdos, e ainda sair deslumbrado da sessão? Porque isso
resume muito bem a minha experiência de assistir ao espetáculo visual de Ridley
Scott Êxodo: Deuses e Reis, um épico exagerado do Velho Testamento,
que é, essencialmente, Gladiador com Deus”. (Chris
Nashawaty, da Entertainment Weekly).
Leia a análise completa do filme: A Humanidade está no fogo cruzado entre deuses e reis no filme "Êxodo"
Leia a análise completa do filme: A Humanidade está no fogo cruzado entre deuses e reis no filme "Êxodo"