segunda-feira, junho 06, 2016

Curta da Semana: "ZZZZZZZ" - sonhos e as múltiplas realidades quânticas


Um casal perambula pelas ruas na madrugada como fossem sonâmbulos. Mas aos poucos vão ganhando vida ao experimentar visões, sons e sensações. Durante o dia são solitários, mas nos sonhos se encontram e tentam enviar algum tipo de sinal para a “realidade”. Esse é curta “ZZZZZZZ” (2013) de Tarik Karam, com um argumento que se aproxima da discussão atual onde filósofos e psicólogos tentam aproximar a questão dos sonhos da hipótese da “Interpretação dos Muitos Mundos” (MWI) derivada da mecânica quântica: os sonhos seriam simulações contra-factuais de nossos homólogos em mundos alternativos? Cada evento nesse mundo poderia criar diversas ramificações possíveis e poderíamos estar sonhando com cada uma delas. Ou nós somos os sonhos de cada um desses mundos.



Além de “Big Apple”, também Nova York também é conhecida como “a cidade que nunca dorme”. Essa imagem da grande metrópole acabou se tornando o parâmetro civilizatório para as outras grandes cidades do mundo: vida intensa, com muitos acontecimentos e serviços disponíveis 24 horas.

Mas também há muito tempo a sociologia descobriu que por trás dessa vida intensa onde parece que todos estão interagindo com todos esconde-se a solidão e frustração. A multidão é solitária, afirmava David Riesman na década de 1950.

O curta ZZZZZZZ (2013) de Tarik Karam tematiza esse problema escondido pela intensidade de uma cidade como Nova York e vai mais além: propõe o sonho como forma de verdadeiro encontro entre as pessoas, já que fora desse mundo onírico reina distância e frieza.

Henry e Lucy, um casal de namorados, passeia na madrugada pelas ruas de Nova York. A princípio parecem sonâmbulos, mas aos poucos vão ganhando vida na medida em que experimentam sensações, sons e visões. Durante o dia são solitários, não se conhecem e têm uma vida tediosa. Mas à noite, em sonhos, parecem sempre se encontrar, como namorados que já se conhecem há muito tempo.


Quando sonhamos?


O curioso nesse curta é que Henry e Lucy não se conhecem no mundo real. Talvez sejam vizinhos e mal chegam a trocar olhares. Mas nos sonhos vivem experiências de prazer e descobertas e se entristecem quando a noite vai acabando e chegando do fim do encontro. Mas, deixam uma mensagem cifrada na esperança de que, no mundo real, Henry e Lucy juntem as peças e relembrem de tudo.

Quando realmente estamos dormindo? Quando sonhamos ou quando acordados? Os sonhos poderiam ser portais para uma outra realidade? Uma existência paralela onde fizemos escolhas diferentes e vivemos uma linha do tempo alternativa?

 O argumento do curta ZZZZZZZ lembra bastante uma linha de diálogo do filme A Origem (Inception, 2010) onde os protagonistas vão para Mombasa em busca de um especialista em drogas pesadas para auxiliá-los em uma missão e encontram um porão com dezenas de pessoas adormecidas. Vão para lá diariamente para vivenciarem seus sonhos como uma realidade paralela.

“Eles vêm aqui não para dormir, mas para despertar!”, diz o responsável pelo local.


Sonhos e a MWI


Atualmente filósofos e psicólogos como o Ph.D. Patrick McNamara estão abordando a questão dos sonhos como portas ou a contraparte de mundos paralelos, aproximando a realidade onírica da realidade quântica - sobre isso leia "Dreams and The Many Worlds Interpretation of Quantum Physics" - clique aqui.

A possibilidade da existência de universos paralelos a partir da mecânica quântica não é nova. A chamada Interpretação de Muitos Mundos (Many Worlds Interpretation – MWI) foi feita em 1957 por Hugh Everett. Para ele, a famosa experiência do Gato de Schrödinger teria demonstrado que seria possível que cada fenômeno produzisse diversos resultados simultaneamente, enquanto estamos limitados a observar apenas um deles – seria a chamada “decoerência quântica”.

Existiriam muitos mundos invisíveis, como múltiplos resultados, escolhas ou ramificações surgidas em cada evento. A cada decoerência ocorreria um evento de ramificação e um novo mundo nasceria.

A questão é: a MWI permitiria a hipótese de que esses mundos possam interagir ou que sinais possam ser trocados entre os mundos? O Cinegnose já discutiu essa questão (clique aqui), mas apenas dentro da hipótese dos Mundos em Choque no âmbito do mundo microfísico quântico.

Mas o que atualmente busca-se é aproximar a MWI dos sonhos. Se o quadro dos MWI for correto, os sonhos poderiam ser simulações contra-factuais do que poderia ter sido o sonhador em um mundo que se ramificou de algum evento. Seria possível que os sonhos realmente retratem o que está acontecendo na vida do meu colega no mundo alternativo em que vive? Se for esse o caso, então os sonhos seriam portais para a vida de um desses mundos ramificados previstos pela MWI.

Sob este cenário o conteúdo dos sonhos seria composto por percepções da vida dos nossos homólogos que vivem em mundos alternativos e a interpretação dos sonhos seria uma simples questão de check-in sobre o que está ocorrendo na vida dos nossos colegas e como eles são criados a cada vez que ocorre um evento de ramificação. Sonhos lúcidos seriam tentativas de alterar as histórias de um mundo alternativo e assim por diante ...

Essa teoria onírica quântica sugere que o sonho antes de tudo é um processo perceptivo, muito mais do que é um processo de memória. Assim como sugere o argumento do curta ZZZZZZZ: sonhamos com nossas contrapartes em mundos alternativos que decorreram ramificações. No curta, nossas duplicatas tentam trocar sinais com esse mundo “real”. Estariam também eles sonhando conosco? 

Clique no link abaixo e assista ao curta no Vimeo.




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