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terça-feira, setembro 01, 2015

A reencarnação é o inferno da repetição no filme "The Scopia Effect"


Ideia central presente em diversos sistemas filosóficos e religiosos, a reencarnação muitas vezes é concebida como oportunidade de aprendizado, jornada de evolução espiritual ou simplesmente a oportunidade de uma segunda chance. Ao contrário, o filme de estreia do diretor ingles Christopher Butler, “The Scopia Effect” (2014), apresenta uma visão bem diferente: uma regressão hipnótica faz uma jovem ter acesso a partes do cérebro que contém detalhes de suas vidas passadas. E o resultado é a descoberta, da pior maneira possível, do porquê esquecemos nossas vidas anteriores. Aproximando-se de uma concepção gnóstica sobre a reencarnação e inspirado em animes japoneses, “The Scopia Effect” mostra não só como esquecemos os fantasmas não resolvidos de outras vidas, como também o esquecimento nos condena a revive-los em um eterno retorno.

domingo, dezembro 21, 2014

Nossa consciência é uma ilusão no filme "Em Transe"

Uma gangue de ladrões que ao invés de assaltar um banco, tenta invadir a mente de alguém para reaver um valioso quadro de Goya perdido em uma frustrada tentativa de roubo a uma casa de leilões de artes. Com esse argumento que mistura os filmes de Nolan “A Origem” com “Amnésia”, o diretor Danny Boyle faz um interessante thriller psicológico noir no filme “Em Transe” (Trance, 2013). Boyle explora os principais ingredientes de um filme noir: homens durões, uma mulher fatal e um mundo de ilusões onde nada é o que parece ser. Nessa clássica receita de um thriller noir, Boyle acrescentou um ingrediente bem contemporâneo: a psicologia gnóstica – “Em Transe” faz uma espécie de engenharia reversa do processo de perda da nossa consciência na ilusão que conhecemos como “realidade”: quanto mais acreditamos que temos livre-arbítrio, menos percebemos que somos escravos de um estado hipnótico. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.

Quatro figuras semi-nuas estão se contorcendo no ar. Três delas usam chapéus pontudos, e estão segurando a quarta contra a sua vontade. Seu rosto está contorcido em uma careta agonizante e seus captores parecem chupar sua carne e sangue. Abaixo dessa imagem horrível está uma quinta figura que se esconde sob um cobertor com os punhos estendidos numa vã tentativa de afastar o tormento que paira acima dele – ou talvez no interior da sua própria cabeça.

Esta não é uma cena do thriller psicológico de Danny Boyle Em Transe (Trance, 2013): é na verdade uma descrição do quadro chamado Bruxas no Ar do pintor espanhol Goya, pivô de toda a trama do filme que gira em torno do seu roubo. Mas lá pela metade do filme, provavelmente o espectador vai se identificar com o personagem do quadro que tem o cobertor sobre a cabeça e compreender o porquê dessa obra ser o centro de tudo: o que entendemos como realidade pode ser nada mais do que a soma de todas as impressões, sugestões ou sentimentos criados por nós ou simplesmente inseridas em nossa cabeça – acreditamos no livre-arbítrio de nossas ações e, baseado nisso, construímos nossas vidas. Mas até que ponto isso é verdade?

quarta-feira, outubro 15, 2014

Aranhas, morte e identidade no filme "O Homem Duplicado"

Ver a si mesmo em uma réplica ou imagem sempre foi considerado um evento misterioso e mágico. Em muitas culturas, ver o próprio duplo pode ser um prenúncio da morte. Inspirado em livro do escritor português José Saramago, o filme “O Homem Duplicado” (Enemy, 2013) do diretor canadense Denis Villeneuve vai atualizar essa mitologia, trazendo-a para uma tradição de filmes que tematizam o problema da identidade: o que você faria se visse em um filme um ator que fosse uma réplica exata sua? Villeneuve vai explorar o tema psicanalítico da busca da identidade através do espelho. Uma jornada perigosa, pois nesse caminho podemos nos confrontar com os nossos desejos mais íntimos, criando uma nova ordem: caos é a ordem que ainda não foi decifrada.

Em um cultura atual de selfies e timelines das redes sociais repletas com nossas fotografias fica difícil imaginarmos um tempo onde as pessoas podiam ficar com medo das suas própria imagens.

Do espelho à fotografia, a contemplação de uma réplica de si mesmo sempre foi considerado um evento misterioso, como, por exemplo, todo o misticismo que cerca os espelhos ou os primórdios da fotografia – as pessoas ficaram assustadas com a fidelidade do resultado, só se tornando popular depois que descobriram que era possível retocá-las. Ou seja, depois de que elas passaram para o campo da simulação.

quinta-feira, agosto 21, 2014

Bonner e Poeta expõem o desespero tautista da TV Globo

A verborragia estudada e simulada de William Bonner e Patrícia Poeta (perguntas quilométricas e fisionomias treinadas em longos anos de experiência olhando para “teleprompters” nos estúdios de TV) na suposta entrevista com a candidata Dilma Roussef não quis dizer apenas que a TV Globo “não gosta dela”. A dupla de apresentadores do Jornal Nacional involuntariamente expôs a dramática situação atual da emissora: o desespero “tautista” (tautologia + autismo) – ter que ao mesmo tempo assumir o papel de oposição política servindo de câmara de eco da pauta da grande mídia e institutos de pesquisa e ter que demonstrar histericamente que ela é imparcial para tentar recuperar uma audiência em queda pela perda de credibilidade e relevância.  A resposta da emissora para seu dilema existencial não poderia ser mais autista quando utiliza a técnica de dissociação psíquica na entrevista, velha tática do Manual Kubark de Interrogatório e Contra-inteligência” da CIA.

Em 1985, no último bloco de debate dos candidatos à Prefeitura de São Paulo, o jornalista Boris Casoy disparou uma pergunta a Fernando Henrique Cardoso: “Senador, o sr. acredita em Deus? A reposta dessa pergunta simples e direta fez ele perder uma eleição que parecia ganha.

Um ano depois, durante a Copa do Mundo no México, o dublê de ator e jornalista Marcelo Tas, na pele do personagem cínico Ernesto Varela, conseguiu invadir a concentração da seleção brasileira para dar de cara com o cartola Nabi Chedid, então chefe da delegação. Varela foi direto: “depois da Copa, qual será a sua próxima jogada?”. Transtornado com a pergunta maliciosa, Nabi expulsou ele e o câmera Toniko Melo da concentração.

terça-feira, julho 15, 2014

Mídia esportiva sofre de transtorno semiótico bipolar

Entre as palavras e as coisas existe uma estrutura fixa, pronta, que tenta capturar a dinâmica das coisas para congela-las em mitos. Com a mídia esportiva não seria diferente: a cada Copa do Mundo entra em funcionamento um discurso bipolar pronto para explicar os fracassos do futebol brasileiro – ora nos falta racionalidade, organização e planejamento; ora precisamos retornar “às nossas raízes” sufocadas pela mesma “modernidade” defendida na Copa anterior. Essa mitologização do futebol teria duas funções: neutralizar o acaso e a incerteza, eliminando a natureza lúdica do esporte, e evaporar a História – deixar de fora desse discurso bipolar os fatores midiáticos e político-econômicos que parasitam o futebol.

Na postagem anterior discutíamos que a goleada acachapante sofrida pela Seleção no jogo contra a Alemanha tinha sido mais do que um evento, mas o sintoma de fatores de influência midiática (“efeito Heisenberg” e esquizofrenia midiática – clique aqui). Mas nessa discussão acabamos achando outra coisa: descobrimos que a imprensa esportiva parece ter um discurso pronto a cada fracasso do futebol brasileiro em copas.

Embora seja um discurso estruturado e fixo, também é dinâmico como fosse um pêndulo semiótico: ora os jornalistas especializados culpam as derrotas pelo atraso, desatualização e falta de “modernidade” do futebol brasileiro (que chamaremos de “fase 1”), ora falam de um excesso de pragmatismo que faria a Seleção abandonar suas “raízes” (“fase 2”).

terça-feira, junho 24, 2014

Curta "BlinkyTM" mostra as obscuras relações humanas com a tecnologia

O curta metragem “BlinkyTM - Bad Robot” (2011) dirigido pelo irlandês Ruairi Robinson segue a trilha temática análoga ao filme premiado pelo Oscar “Ela” de Spike Jonze: a relação mágica e fetichista com os gadgets tecnológicos. Se no filme de Jonze um usuário se apaixona por um sistema operacional, no curta de Robinson uma criança acredita na promessa de um anúncio publicitário de que um robô de estimação será capaz de reunificar a sua família, cujos pais estão em constantes brigas. O curta é uma ótima oportunidade para discutir os efeitos do descompasso entre os modelos de família perfeita apresentados pelo discurso publicitário e as relações reais entre pais e filhos. Curta sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.

Em um futuro próximo toda casa terá um robô ajudante capaz não só de entreter seu filho como de também fazer o almoço. Mas não se preocupe. É perfeitamente seguro... mas, cuidado com o que você pedir para ele: o robô poderá interpretar ao pé da letra o que você desejar e as consequências podem ser imprevisíveis.

O diretor e animador irlandês Ruairi Robinson (indicado ao Oscar em 2002 com o curta Fifty Percent Grey) com o curta BlinkyTM - Bad Robot nos sugere como pode ser perigosa a combinação dos velhos problemas humanos com a moderna tecnologia, não só incapaz de resolvê-los como ainda podendo ampliá-los. Máquinas e seus programadores são incapazes de inserir julgamentos éticos ou morais entre os O e 1 das codificações. Mas os usuários dos gadgets tecnológicos não veem dessa maneira e passam a ter uma relação fetichista ou mágica, acreditando que aplicativos, programas ou robôs irão misticamente encontrar soluções para nós.

sexta-feira, junho 20, 2014

Por que Nova York precisa ser destruída?

Quantas vezes Nova York já foi destruída no cinema, literatura, rádio e TV? Monstros, alienígenas, catástrofes geológicas, climáticas, destruições provocadas por lutas de super-heróis com vilões.  Por que essa insistência das imagens de destruição da “Big Apple” na cultura norte-americana? Pode parecer uma questão supérflua de um cinéfilo diletante, mas se considerarmos que essas imagens são irradiadas para todo o planeta pela indústria do entretenimento norte-americana, passa a ser uma questão ideológica: o que na verdade Hollywood exporta para o mundo: paranoia? Motivação subliminar para a obsolescência de produtos? Ou a elaboração de um neoapocalipse necessário para a criação de uma nova religião global? Vamos explorar algumas hipóteses sobre os porquês dessa obsessão norte-americana.  

Meridth Blake, 28, vive no Brooklyn, Nova York. Ele relata uma insólita cena quando estava em uma estação do metrô: “Saí do trem e dei de cara com um pôster do filme Cloverfield com a Estátua da Liberdade decepada. Subi as escadas para, em seguida, ver o pôster do filme Eu Sou a Lenda com a ponte do Brooklin em ruínas. Pensei, ora! Outro filme que destrói Nova York!”.

Com uma diferença de um mês de lançamentos, ambos os filmes contavam as desventuras de protagonistas em uma Nova York destruída por monstros ou por epidemias. Isso foi em 2008, quando os nova-iorquinos ainda sentiam os ecos da queda das torres do WTC em 2001: “lembro-me da cena do filme Cloverfield com pessoas correndo para se esconder em uma delicatessen com poeira e escombros por toda parte. É tão obviamente uma alusão ao 11/09...”, destacou Blake - leia "Filmakers View New York as a Disaster Waiting to Happen".

sábado, fevereiro 22, 2014

A miséria da estética e da linguagem do trabalhador precarizado

No passado era o proletariado, os explorados e os excluídos. Hoje temos os precarizados: trabalhadores terceirizados, estagiários, temporários e todo um conjunto de profissionais treinados espontaneamente para suas funções através da manipulação de ícones em telas de celulares e mensageiros instantâneos usados no dia-a-dia, desde o velho ICQ até o atual Skype. Participantes incautos de uma ordem que foi secretamente gestada no interior de gigantescos prédios espelhados, com o apoio de uma estética e linguagem igualmente precarizadas criadas por planilhas eletrônicas e elegantes gráficos e tabelas projetadas em reuniões onde orgulhosos gestores professam discursos que misturam efeitos de ciência, religião, misticismo e fenômenos da natureza.

“Aquele que é duro consigo mesmo também é com os demais” (Theodor Adorno)

No início foi o gerundismo dos telemarketings e SACs de empresas que invadiu a fala cotidiana. Ao mesmo tempo, imensos prédios corporativos em concreto e vidros espelhados tomavam a paisagem urbana como fossem bunkers isolados do contato com o mundo exterior por meio de seguranças privados e sistemas centrais de climatização.

E no interior desses prédios foi secretamente gestada uma nova ordem estética e linguística para dar sentido imaginário a um novo tipo de organização de trabalho: a precarização – trabalhadores terceirizados, temporários, por tempo parcial, estagiários, trabalhadores da “economia subterrânea” etc.

terça-feira, dezembro 17, 2013

"A Classe Dominante": o mais estranho filme de Peter O'Toole


O Deus do Velho Testamento (o “messias elétrico”) faz um duelo surreal com o Deus do Novo Testamento; um sádico psiquiatra alemão faz experiências com “ratos esquizofrênicos”; uma família de aristocratas trama a internação de um conde esquizofrênico para conseguirem ficar com o seu título e fortuna. Com a recente morte aos 81 anos do grande ator inglês Peter O’Toole, não poderíamos deixar de reverenciar o filme mais estranho da sua carreira: “A Classe Dominante” (The Ruling Class, 1972). Uma comédia de humor negro repleta de ultraje moral e religioso que após ser restaurada e relançada em DVD, teve recuperados os 20 minutos cortados no lançamento comercial da época. Um filme profético ao mostrar que mesmo após todos os movimentos libertários da época, a aristocracia não morreu: persiste através de uma classe dominante que opta por um deus vingativo e intolerante.

Peter O’Toole para sempre será lembrado pelo filme Lawrence das Arábias. Mas temos também que pagar tributo ao mais estranho filme da sua carreira: A Classe Dominante (The Ruling Class, 1972) que desde o seu lançamento passou a ser seguido por um grupo restrito de fãs como um filme cult. Ainda mais que a versão para o lançamento nos EUA teve uma redução de 20 minutos para tornar o filme mais rentável, poupando ao público daquele país de algumas cenas bizarras e de extremo humor negro que chega, algumas vezes, as raias da violência e ultraje religioso. Pois o filme foi restaurado no relançamento em DVD pela  The Criterion Collection em 2001 e retornou às suas quase duas horas e meia da duração original.

Embora o filme seja um mix de sátira, farsa, musical, drama shakespeariano e muito humor negro, a narrativa é uma descida sombria na loucura, caos e simbolismos religiosos nas tramas envolvendo cobiça e poder no seio de uma elite aristocrática apodrecida, mas que tenta manter sua fleugma e pompa: um conde esquizofrênico, um bispo anglicano sem fé, um sádico psiquiatra alemão, um mordomo comunista que vive em um constante estado de embriaguez, e toda uma galeria de personagens inesquecíveis.

sábado, novembro 16, 2013

Revisitando a paranoia gnóstica do filme "O Segundo Rosto"


Terceiro filme da trilogia da paranoia do diretor John Frankenheimer, “O Segundo Rosto” (Seconds, 1966) é uma obra que merece ser revisitada com cuidado, 47 anos depois. Isso porque a sua estranha fotografia granulada em preto e branco com bizarros e claustrofóbicos planos de câmera acabaram criando um verdadeiro clássico da paranoia e da esquizofrenia. Marca de uma década que vivia o auge da Guerra Fria e um filme dotado de uma misteriosa sensibilidade gnóstica que, mais tarde, produções como “Show de Truman”, “Matrix” e “Cidade das Sombras” explorariam: uma sinistra “Companhia” promete fazer pessoas “renascerem” em novas identidades, sob uma suposta promessa de liberdade e autorrealização. Porém, o jogo é desigual e seus “clientes” descobrirão isso de uma terrível maneira.

Um filme para ser revisitado com todo cuidado. “O Segundo Rosto” (Seconds, 1966) de John Frankenheimer é o terceiro filme da sua trilogia da paranoia, depois de “O Candidato da Manchúria”, (The Manchurian Candidate, 1962) e “Sete Dias em Maio” (Seven Days in May, 1964). Sua estranha e fascinante fotografia em preto e branco granulada, os bizarros ângulos de câmera conseguidos através de lentes grande angular (“olho de peixe”) e a utilização de câmera manual dão um aspecto doentio e paranoico que muitos críticos chamaram de estilo sci fi noir. O visual é expressionista: é como se tivessem pego o quadro “O Grito” de Edward Munch e dado vida cinematograficamente.

                O filme deve ser revisitado com cuidado porque, voltando a assisti-lo 47 anos depois, percebemos que sua narrativa possui diversas camadas de interpretação. Se nos filmes anteriores da trilogia a paranoia era imediatamente política, aqui o diretor mergulha no psiquismo de um indivíduo com a suspeita de que o mundo ao redor pode ser falso e conspirador. Essa é a primeira camada narrativa de o “Segundo Rosto”, que faz lembrar a paranoia de personagens como os de Jim Carey em “Show de Truman” ou de Keanu Reeves em “Matrix”.

domingo, agosto 25, 2013

O gnosticismo cult de "Donnie Darko"

Desde o seu lançamento em 2001, o filme “Donnie Darko” do diretor Richard Kelly tornou-se um fenômeno cult: é um dos filmes mais pesquisados e acessados na Internet (atualmente ocupa a 185° do Top 250 do IMDB), em geral espectadores que buscam uma explicação para enigmática narrativa sobre um adolescente problemático com misteriosas visões de um coelho de dois metros de altura chamado Frank que faz uma espécie de contagem regressiva para o fim do mundo. “Donnie Darko” é um exemplo de filme que se tornou atemporal por amarrar em um inteligente roteiro arquétipos contemporâneos e milenares sobre o tempo, destino e redenção.

As primeiras cenas parecem ter todos os ícones dos filmes convencionais sobre adolescentes que moram em subúrbios com problemas existenciais na high school envolvendo namoradas e jovens valentões. Mas aos poucos vamos descobrindo que estamos diante de um filme incomum: uma parábola em humor negro da angústia da Geração X? Um drama sobre um adolescente psicopata? Um filme de ficção científica e fantasia ao estilo da série “Além da Imaginação”? Alguma coisa entre David Lynch e Arquivo X? Nenhuma dessas alternativas consegue dar o tom exato à estranha narrativa. Mas uma coisa é certa: “Donnie Darko” é um desses filmes com inteligentes linhas de diálogo e personagens realistas imersos em uma narrativa com uma atmosfera fantástica que nos compele a ver o filme mais de uma vez.

sábado, junho 29, 2013

Bombas semióticas explodem na mídia


Paralela à escalada de manifestações no País, nesse momento em cada redação de um veículo de comunicação e em cada cobertura jornalística nas ruas, está sendo travada uma verdadeira guerrilha semiótica: um enorme aparato de recursos bélicos retóricos, linguísticos e semiológicos está sendo mobilizado para saturar fotografias e vídeos com significações que apontam para uma estratégia discursiva bem evidente: a imagens devem ser testemunhas da instabilidade, caos e baderna que dominaria a Nação. Encontramos duas “bombas semióticas” (uma no Portal Terra e outra na autodenominada “edição histórica” da revista Veja) e tentamos desmontá-las em um exercício de engenharia reversa. Bombas camufladas em informação, mas que explodem para criar ondas de choque de um tipo de propaganda baseada no esvaziamento de dois símbolos: a da “bandeira nacional” e o do “manifestante”.

Junto com as manifestações nas ruas de várias cidades no País, está ocorrendo uma guerrilha de um tipo muita especial: uma guerrilha semiótica nas mídias. Depois da primeira semana em que se viram perplexos diante das manifestações que saíram do script do jogo político-institucional e reponderam de uma forma reflexa (taxando os manifestantes de “criminosos” e “politicamente burros”) os meios de comunicação monopolistas encontraram uma narrativa em que podiam ser encaixados os acontecimentos: o roteiro da escalada da instabilidade, descontrole e baderna que estaria minando o governo federal.

Para tanto, nesse momento está sendo mobilizando um impressionante aparato retórico, linguístico e semiótico em fotografias e vídeos. Uma mobilização talvez somente comparável às estratégias discursivas de períodos de guerra como a propaganda política norte-americana e nazista durante a Segunda Guerra Mundial.

sexta-feira, maio 10, 2013

Hollywood e o fetiche das armas no filme "God Bless America"

"God Bless America" (2011) do diretor Bobcat Goldthwait parece ser um filme que segue a linha do chamado "cinema esquizo" com personagens paranoicos, psiquicamente instáveis e marcados pela revolta e cinismo contra uma sociedade racista, medíocre e xenófoba - a "América profunda". O filme faz um diagnóstico perfeito sobre uma cultura onde reality shows e programas como "American Superstars" são o objeto do desejo de milhões. Porém, Goldthwait parece cair vítima da fetichização das armas que Hollywood promove na atualidade: se o cigarro e as bebidas alcoólicas são extirpados da tela ou colocados somente nas mãos e bocas de vilões, com as armas é o contrário. Observamos uma fila interminável de armas lubrificadas, reluzentes, coldres e metralhadoras empunhadas ao nível da virilha prontas para entrar em ação com muito sex appeal. 
Compare dois filmes clássicos com Vincent Price (O Abominável Dr. Phibes de 1971 e As Sete Máscaras da Morte – Theater of Blood, 1973) com o “God Bless America”. Nesses filmes com Vincent Price o protagonista vinga-se de pessoas medíocres, indiferentes, arrogantes com requintes cruéis, sádicos e com muito humor negro: vinga-se dos médicos que mataram sua esposa por um erro na mesa de cirurgia e um ator shakespeariano que despeja sua fúria em cima dos críticos de teatro que o atormentam.
Em “God Bless America” vemos também protagonistas que querem vingar-se de uma classe média americana racista, sexista, xenófoba e alheia a valores culturais. As situações de humor negro e as mortes com requintes cruéis são parecidas. Porém, com uma diferença fundamental: Vincente Price não usa arma de fogo uma única vez, preferindo armadilhas e ardis perversamente elaborados; enquanto em “God Bless America” as armas são a grande estrela do extermínio. Mais do que isso: no filme a arma se reveste de um valor fetichista como instrumento de justiça, ordem e sex appeal.

quinta-feira, outubro 04, 2012

Em busca do Cinema Acontecimento

Uma época em que o cinema não era apenas entretenimento, mas um acontecimento capaz de transformar vidas. Do início do cinema lembramos principalmente dos Irmãos Lumière e de Meliés. Mas poucos pesquisadores dão espaço para relatos sobre uma produção cinematográfica norte-americana do começo do século XX que tematizava os conflitos capital-trabalho, o sindicalismo e a dura vida de imigrantes e trabalhadores em fábricas e minas. O maravilhamento do primeiro público do cinema formado pelos estratos inferiores da sociedade ao se ver representado na tela transformava as primeiras salas de cinema em eletrizantes acontecimentos de participação e interatividade. Logo esses verdadeiros filmes-acontecimentos foram reprimidos e enquadrados por Hollywood e, a partir de 1924, considerados "anti-americanos" (comunistas) pelo Bureau of Investigation de Edgar Hoover. Desses primeiros tempos ficou o desejo da ruptura da ordem e da rotina que nos acompanha a cada ida ao cinema, o anseio pelo Acontecimento. 

Para a maioria dos espectadores, ir ao cinema não é uma atividade que esteja associada ao perigo e comportamentos transgressivos. Tido como um local onde fantasias podem ser vividas e tudo pode acontecer em um universo ficional, está mais comumente associado ao entretenimento ou, no mínimo, a uma fuga dos problemas ou do esquecimento momentâneo dos aborrecimentos do dia-a-dia.

Mas nem sempre foi assim ou, talvez, nunca tenha sido. De um lado há uma história descrita por pesquisadores que localiza no chamado primeiro cinema um tipo de experiência estética que não se resumia unicamente a uma forma de entretenimento: pelo contrário, era uma forma de experiência que poderia transformar vidas; de outro, pesquisas críticas que descrevem o cinema e a própria experiência estética como uma arena de tumulto e contenção, quebras e retornos à ordem, crítica e reação. Para esses pesquisadores, desde o primeiro cinema e a posterior industrialização, enquadramento e controle, o cinema traria ainda dentro de si a potencialidade em transcender a si mesmo, mudar vidas de espectadores, transformar a experiência estética em um acontecimento.

domingo, setembro 23, 2012

Desconstruindo o yuppie em "Depois de Horas"

Depois da experiência da direção do filme “O Rei da Comédia” com um amargo Jerry Lewis e um esquizofrênico Robert De Niro, Martin Scorsese mergulhou de cabeça na paranoia e ansiedade em “Depois de Horas” (After Hours, 1985). O filme tornou-se o paradigma de um curioso subgênero da década de 1980, o “Desconstruindo o Yuppie” onde um protagonista certinho e bem sucedido é vítima de uma sequência de eventos em cadeia exponencialmente perigosos. Forma e conteúdo do filme coincidem com a própria experiência estética do espectador que caracteriza o cinema: o “deixar se perder” no fluxo da edição e montagem. Porém, “Depois de Horas” não consegue transformar-se em “cinema acontecimento”, limitando-se a um terapêutico “cinema recuperativo” que nos prepara a voltar para a realidade quando são acesas as luzes do cinema.

A vivência da experiência estética de produtos ficcionais do cinema ou da TV é totalmente distinta do assistir um telejornal, da leitura da imprensa escrita ou do radiojornalismo. O jornalismo estaria no campo do profano, dos discursos racionais, enquanto os produtos ficcionais estariam no campo do sagrado (festas e envolvimento coletivo e emocional) onde os participantes consentem em se “perder”.

Desde o primeiro cinema o perigo, a ansiedade, a paranoia, a vertigem e a perseguição se constituíram na essência de uma mídia onde a sensação de desorientação e quebra da ordem passou a ser o elemento definidor da experiência estética – não é à toa que o primeiro gênero de sucesso popular no cinema foi o filme de perseguição com o “The Great Train Robbery” de 1903.

Talvez um dos filmes que melhor exemplifique essa natureza da experiência do cinema seja “Depois de Horas” de Martin Scorsese. Nele acompanhamos um protagonista em uma situação tal e qual Alice de Lewis Carroll: ele irá escorregar por um buraco urbano que o fará encontrar um submundo onde “após a meia-noite as leis mudam”, como afirma um dos alucinados personagens que ele encontrará em sua jornada.

sexta-feira, agosto 24, 2012

A paranoia gnóstico-noir do filme "Ilha do Medo"

Para quem lida com pesquisa sobre a recorrência de temas gnósticos na produção cinematográfica atual, ver Ilha do Medo (Shutter Island, 2010) faz lembrar de toda uma gama de filmes (Matrix, Cidade das Sombras, Show de Truman, Amnésia, Décimo Terceiro Andar etc.) que tematizam a paranoia e a esquizofrenia como caminhos para o despertar da consciência frente à realidade ilusória artificialmente criada por uma trama conspiratória.

Scorsese constrói uma pesada e tensa atmosfera típica dos filmes noir (gêneros de filme norte-americano dos anos 1940-50 notabilizado pela fotografia em preto e branco com alto contraste e personagens com motivações cínicas em um mundo que se desfaz em névoas e chuva) , com toda a iconografia e simbologia do gênero (neblina, fogs, fumaça de cigarros, chuvas e tempestades, overcoats, vidros e espelhos) sobre a estória de dois policiais federais (Teddy – Di Caprio e Chuck – Mark Ruffalo) que desembarcam numa ilha onde está instalado um manicômio judiciário. Estão lá para desvendar o mistério do desaparecimento de uma prisioneira em uma ilha cuja fuga é impossível. 

O detalhe importante é que a narrativa se situa no ano de 1952, no auge da paranoia da opinião pública norte–americana sobre a Guerra Fria e o anti-comunismo, contexto que potencializa ainda mais a vertigem paranoica do filme.

Como em todo filme noir onde nada é o que aparenta ser, Teddy encarna o personagem arquetípico do Detetive: ele tem que resolver um enigma proposto, sem saber que a solução final desse enigma levará à própria identidade perdida ou esquecida. Esta perda cria o estado de paranoia: em quem confiar? Como distinguir a verdade da mentira, a ilusão da realidade? Por que os fatos se sucedem sem causalidade? Como saber se o que ele sente é sanidade ou loucura?

terça-feira, agosto 21, 2012

Nova versão de "O Vingador do Futuro" neutraliza visões de Philip K. Dick

A versão atual de “O Vingador do Futuro” (Total Recall, 2012) à primeira vista parece ser mais fiel ao conto de Philip K. Dick ao adotar uma narrativa mais séria, grave e sombria do que o original de 1990 de Paul Verhoeven. Mero engano. Como é possível um filme hollywoodiano assumir a virulência de um escritor que denunciava conspirações cósmicas e pregava a revolta contra sistemas autoritários de controle em nome de ideais ocultistas e esotéricos? Por meio de sutis estratégias que neutralizam as visões radicais de K. Dick permitindo ao espectador voltar para a sua rotina como se nada tivesse acontecido depois que as luzes do cinema forem acesas.

Desde que o escritor norte-americano Philip K. Dick atendeu à campainha da sua casa em março de 1974 e surgiu uma menina de entrega de uma farmácia usando um delicado colar de onde pendia um peixe dourado, sua vida nunca mais foi a mesma. Se desde a década de 1950 K. Dick escrevia livros e contos sobre conspirações cósmicas, universos paralelos, amnésia, paranoia, estados ambivalentes entre a realidade e ilusão e revolta contra sistemas autoritários de controle, essa prosaica experiência de atender a uma entrega confirmou tudo o que imaginava: viu um raio cor de rosa sair do peixe (símbolo do Cristianismo primitivo) e atingi-lo na região do terceiro olho (sobre esse episódio da gnose do escritor veja links abaixo).

A partir daí, o tecido da realidade se esgarçou para K. Dick que passou a vislumbrá-la como um constructu a partir de memórias artificiais implantadas em cada um de nós: descobriu em uma espécie de epifania religiosa que seu verdadeiro eu estava em uma realidade alternativa, arquetípica, negada pela artificialidade dessa realidade.

O conto “We Can Remember it for You Wholesale” (“Recordações por Atacado”) publicado em 1966 é um dessas visões de K. Dick sobre a fragilidade da noção de realidade (como escreve no conto “um conjunto de reações bioquímicas do cérebro estimuladas por impulsos visuais”). Após o grande sucesso de “Blade Runner – O Caçado de Andróides” de 1982, baseado em um livro de K. Dick (Do Androids Dream of Eletric Sheeps?), Hollywood interessou-se pelos insights assumidamente gnósticos do escritor.

terça-feira, julho 24, 2012

O Coringa e o massacre do Colorado

“Os pensamentos são coisas”
(antigo aforismo oriental)

Desde que o ator Jack Nicholson falou “Eu o avisei!” após a morte do ator Heath Ledger pouco depois de interpretar o Coringa no filme “Batman: o Cavaleiro das Trevas”, estranhas “coincidências” passaram a cercar esse personagem. Nicholson havia interpretado o Coringa em versão anterior do Batman do diretor Tim Burton. Parecia que ele já havia experimentado a estranha força desse personagem, espécie de alter ego invertido do protagonista Batman. O massacre provocado por um atirador na estreia do novo filme do Batman em um cinema em Aurora, Colorado (EUA), reabre essa discussão: será que esse episódio é um eco de uma realidade mais profunda que se tenta esconder?

James Holmes foi preso pouco depois dos disparos e afirmou ser o Coringa para os policiais. O fato de que muitos fãs foram fantasiados à estreia de “Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge”, permitiu ao agressor passar despercebido com máscara de gás e uma escopeta AR-15.

O próprio pai de Heath Ledger, Kim Ledger, apressou-se a dizer que “não devemos culpar Heath Ledger ou o personagem”. A pressa com que Kim Ledger fez essa declaração e o próprio interesse imediato dos jornalistas em saber o que ele pensava sobre tudo isso revelam um ato falho: há algo de mais profundo nesse episódio, para além do controle de armas e munições. Ainda estamos em uma discussão sobre as relações de causa-efeito. A “loucura” de Holmes encontrou farta disponibilidade de armas e bombas para se materializar. Mas fica em suspenso a questão: que espécie de “loucura” é essa?

Dentro do histórico de atiradores e serial killers na cultura norte-americana, dois elementos chamam a atenção: primeiro, o atirador não se matou (ou pelo menos não houve tempo para isso); segundo, faltou o elemento narcísico: o atirador não deixou nenhum vídeo destinado à divulgação pelas mídias sobre “explicações” do porquê do seu ato. Parece que o caso do massacre do Colorado não se enquadra no script de casos anteriores como Columbine. Podemos formular uma hipótese: e se esse caso do Colorado for a expressão mais dramática e mortal de um fato que é mais corriqueiro do que imaginamos? Explicando melhor, será que Holmes levou a sua performance ao extremo em uma sala de cinema onde muitos estavam fantasiados com os personagens do filme Batman? Ele levou à sério demais seu personagem?

domingo, maio 06, 2012

Um conto sombrio sobre o vazio moral do consumo no filme "Rosalie Vai Às Compras"

“Quando deve 100.000 o problema é seu, mas se você deve um milhão o problema é do banco”. É essa linha de diálogo solta no meio do filme “Rosalie Vai Às Compras” (Rosalie Goes Shopping, 1989) que sintetiza toda a crítica que o diretor alemão Percy Adlon faz da “doença contemporânea”: o cartão de crédito. Apesar da fotografia com muita luz e cores, uma trilha musical composta originalmente para o filme e muito bom humor, Adlon faz um conto sombrio sobre uma sociedade de consumo onde a única barreira para a realização dos desejos não é mais moral ou religiosa, mas financeira.

“Rosalie Vai às Compras é uma sátira ao consumismo, ao materialismo yuppie de uma década de 1980 conservadora de Ronald Reagan e Margareth Thatcher, e que terminou em um violento crash da Bolsa de Nova York em 1988. Mas que continua ainda muito atual em uma época de crises financeiras globais, mais uma vez após outra década de conservadorismo neoliberal.

Rosalie (Marianne Sägerbrecht) é uma dona de casa alemã que vive dentro do sonho americano, morando interior do estado do Arkansas: tem um marido perfeito (um aviador de dedetização aérea), uma família maravilhosa com sete filhos e uma coleção de cartões de créditos falsos e talões de cheques “borrachas” tão vasta que consegue alimentar seus filhos como reis e comprar qualquer produto que ela vê nos comerciais sem fim que toda a família adora (preferem ver os intervalos comerciais e canais de televendas a filmes ou shows).

Rosalie é uma simpática e carismática tranbiqueira que sozinha com seus golpes na praça sustenta os desejos de uma família excêntrica que lembra a de filmes recentes como “Pequena Miss Sunshine” e “Os Excêntricos Tanembauns”: duas gêmeas limítrofes, um jovem cujo sonho e torna-se um "chef" (Rosalie colabora comprando as mais caras iguarias de gastronomia), outro com um irritante tique de bater um pé nas refeições, o marido fanático por aviação que grava sons de motores de aviões para todos ouvirem  e vive dando voos rasantes sobre a casa, e assim por diante.

Todos com um inquebrantável otimismo no sonho americano transmitido pelos histéricos canais de televendas diante dos quais a família toda se reúne para acompanhar os jingles e antecipar os slogans. Para eles todo sonho ou desejo tem o dever de ser realizado pelo consumo. Se a única barreira que impede isso é a financeira, Rosalie vai dar conta desse empecilho.

sábado, março 24, 2012

°°°°°°°°°A Paranoia Gnóstica de Philip K. Dick no Filme "O Homem Duplo"

Baseado no livro escrito por Philip K. Dick em 1977, o filme “O Homem Duplo” (A Scanner Darkly, 2006) foi profético, principalmente após as recentes notícias do projeto da CIA em fazer uma “Internet das coisas” a partir da tecnologia de “computação em nuvem”: o monitoramento total a partir dos objetos que utilizamos no dia-a-dia. “O Homem Duplo” narra uma sociedade devastada por uma droga sintética e monitorada integralmente por um “scanner holográfico” e apresenta a paranoia como a única possibilidade de encontrar a “centelha interior” em um mundo onde a tecnologia supera todos os pesadelos criados pela literatura ou pelo mundo onírico. 

 Desde 1982 com o filme “Blade Runner – O Caçador de Andróides” roteiristas e produtores de Hollywood passaram a ter um nítido interesse pela obra do escritor de sci fi assumidamente gnóstico Philip K. Dick. As diversas adaptações posteriores dos livros do autor (“O Vingador do Futuro”, “Minority Report”, “O Pagamento” etc.) sempre acabaram ressaltando os atributos heroicos dos protagonistas em tramas movimentadas para se conformar aos ditames de Hollywood. 

Em “O Homem Duplo”, adaptação do livro de 1977 “A Scanner Darkly”, encontramos o mesmo protagonista dividido, tema recorrente em sua obra – como era o próprio autor que tinha a vida marcada pela divisão esquizofrênica: a ambiguidade que as pessoas devem assumir em uma sociedade de vigilância total onde a paranoia diante de um inimigo invisível rege a vida de todos. 

Temos um filme focado não mais nas ações hollywoodianamente heroicas dos protagonistas, mas na paranoia de “losers” imersos em uma sociedade totalitária.

No caso do livro “A Scanner Darkly”, K. Dick foi profético ao mostrar uma sociedade monitorada integralmente por um “scanner holográfico” e ao apresentar a percepção paranoica como a única possibilidade de verdade em um mundo onde a tecnologia supera todos os pesadelos criados pela literatura ou pelo mundo onírico. 

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