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sexta-feira, novembro 26, 2021

Medo e pecado são a matrix de todo totalitarismo na série 'Profecia do Inferno'


Milícias fundamentalistas, líderes de seitas e crentes cegos começam a girar em torno de um fenômeno inexplicável: de repente, um ser celestial visita uma pessoa para anunciar a data e hora da morte da vítima. No momento marcado surgem três imensas bestas peludas cinzentas que implacavelmente a perseguem até matá-la com crueldade, incinerá-la e levar embora a alma. Para o Inferno? Uma nova igreja se impõe racionalizando o fenômeno como a ira divina contra a humanidade pecadora. Aliado às mídias sociais cria um sistema totalitário sob a tolerância da polícia e Estado. A nova série sul-coreana da Netflix, “Profecia do Inferno” (Hellbound, 2021- ) mostra como o medo, pecado, delação, confissão e punição são a matrix imaginária que sustenta todos os regimes políticos ocidentais, sejam seculares ou religiosos. Porém, no século XXI, essa ancestralidade é turbinada pela desinformação espalhada pela Internet.  

terça-feira, outubro 26, 2021

Quando o amor vira totalitarismo tecnológico na série 'Made for Love'


O messianismo tecnológico da gigantes tecnológicas sempre foi cheio de boas intenções - dar às pessoas o que supostamente querem: o menor esforço, facilidades e conveniências. Por que pegar um ônibus até o trabalho se posso fazer um home office? Para quê encarar uma discussão de relacionamento se um aplicativo pode garantir um relacionamento amoroso transparente e sem mentiras? Mas também, abolir qualquer sigilo ou privacidade. Como as melhores intenções como amor, felicidade e comunhão podem resultar num pesadelo totalitário? Esse é o tema da sátira ao Vale do Silício “Made for Love” (2021- ), série de humor negro na qual acompanhamos uma jovem em fuga depois de dez anos de um relacionamento tóxico, cujo marido é um híbrido de Jeff Bezos, Elon Musk e a gigante Google. O problema é que ela é a “usuária número 1”, com chip implantado em seu cérebro, de um aplicativo revolucionário do amor, monitorada 24 horas a partir de um campus tecnológico chamado “The Hub”. 

quarta-feira, outubro 13, 2021

Sincronismos entre Nª Sª Aparecida, Vênus de Milo e Dia das Crianças, por Claudio Siqueira


12 de outubro comemora-se o Dia das Crianças. Curiosamente também é comemorada a data de Nossa Senhora de Aparecida. Mais curioso ainda é que a Vênus de Milo foi achada em condições semelhantes em 1830. Sincronicidade? “Quem conta um conto aumenta um ponto?” Ao invés de dar a resposta, o Cinegnose vem perscrutar a origem do mito de Nossa Senhora da Aparecida, bem como o da Vênus de Milo.

quarta-feira, julho 21, 2021

Ciência vs. Religião e a peste humana na série "Raised By Wolves"



Monstros à espreita, androides que parecem ser mais humanos do que os humanos, um planeta alienígena desolado, tudo somado a questões como o quanto a humanidade é solitária num universo sem propósito, as armadilhas da fé e as formas que o futuro distópico pode assumir. Criada por Aaron Guzilowski e com Ridley Scott como produtor executivo, é inegável que a série “Raised By Wolves” (2020-) tem alusões diretas à mitologia da filmografia sci-fi de Scott. Nos episódios da primeira temporada estão os replicantes de “Blade Runner” e os demiurgos e a monstruosidade de “Alien”, “Prometheus” e “Alien: Covenant”. Uma guerra entre ateus e religiosos fundamentalistas destrói a Terra e a última esperança é um exoplaneta. Mas junto com ateus e religiosos vem a peste: o choque Ciência versus Religião. Restando como esperança a missão de um casal de androides cuidar de um punhado de crianças que fuja de toda essa loucura. Ou será que não?

quinta-feira, março 18, 2021

O fantasma de Karl Marx ronda a cobertura midiática da pandemia e o 'lockdown tabajara'


A famosa abertura do “Manifesto Comunista” (“um fantasma ronda a Europa, o fantasma do comunismo”) repete-se em inúmeras paráfrases desde que foi escrito. E a última é proporcionada pela forma como a grande mídia vem cobrindo a crise econômica e humanitária provocada pela pandemia no País. Aglomerar para se divertir não pode! Mas ficar apinhado em ônibus e trens para trabalhar é tolerável... O Governo deve liberar o auxílio emergencial? Sim, mas desde que dentro do estreito limite do “teto de gastos”. O que está por trás desse duplo vínculo esquizoide do jornalismo corporativo? Daí ressurge mais uma vez o fantasma de Karl Marx e sua obra “O Capital”: esse malabarismo retórico em cada telejornal é a expressão da própria tensão da reprodução do capital criada pela pandemia com a necessidade de manter o fluxo da produção de mais-valia e valor num cenário de restrições econômicas e isolamento social. O resultado é o “lockdown tabajara”.

terça-feira, janeiro 26, 2021

A fé é uma bomba semiótica da guerra híbrida na série "Messiah"


Certamente a série “Messiah” (2020), produção original da Netflix, é uma das produções audiovisuais recentes que melhor detalha o fenômeno de psicologia de massas de como fé, religião e propaganda podem intencionalmente convergir numa bomba semiótica capaz de aglutinar as dores individuais em um denominador comum, criando um sentido coletivo: o acontecimento comunicacional. Surge um homem misterioso em pleno ataque do Estado Islâmico na Síria, que a pessoas acreditam ser o verdadeiro Messias. Ganha as manchetes internacionais para reaparecer nos EUA e provocar comoção cultural e política. Uma farsa? Um terrorista cultural? Mas se for verdade, é um Messias do quê? Católicos, Evangélicos, Muçulmanos, Judeus, CIA, FBI, governos de Israel, EUA, Estado Islâmico, Hamas, cada qual cria interpretações numa espiral alucinante. Provocando polarização, confusão e caos político e social. Os reais objetivos de uma Guerra Híbrida. Mas de quem? Da Rússia? De algum trabalho interno do próprio governo norte-americano? Ou será mesmo o final dos tempos?

domingo, junho 14, 2020

Filme "1BR": quando a Ciência vira um pesadelo religioso totalitário


Se aprendemos alguma coisa com a História é que duas ideias não costumam terminar bem: primeiro, a ideia de um Deus demiúrgico, sempre presente por trás de religiões que estimularam cismas, guerras, genocídios e conquistas; e a outra, a propaganda dos valores da comunidade e da família que sempre desagua no totalitarismo. O thriller “1BR” (2019) transforma um condomínio de apartamentos em Los Angeles no microcosmo dessa trágica recorrência histórica: uma jovem solitária vai morar num condomínio de apartamentos que é uma comunidade incrivelmente perfeita – multicultural, inclusiva e acolhedora Mas aos poucos descobrirá que essa pequena utopia é de fato uma prisão – um brutal sistema de condicionamento que busca a conformidade absoluta. Outra seita de malucos ao estilo Charles Mason? Ou um sofisticado experimento de psicologia comportamental na qual Deus baixa à Terra sob a forma de Ciência? Filme sugerido pelo nosso colaborador Felipe Resende.

quinta-feira, março 26, 2020

Filme "O Poço" explicado: a arapuca cósmica que tira o pior de nós


Nesses dias de confinamento obrigatório por conta da pandemia do coronavírus, assistir ao filme espanhol “O Poço” (“El Hoyo”, 2019), disponível na plataforma Netflix, é uma boa pedida: um filme repleto de referências, alusões e simbologias sociais, políticas e religiosas. E com um final enigmático que faz você se perguntar: “perdi alguma coisa?”. E com tempo sobrando, assistir ao filme outra vez ou correr cenas específicas. Protagonistas presos em uma espécie de experimento psicossocial sádico: uma prisão vertical com uma cela em cada nível. Duas pessoas por cela. E uma plataforma com comida que desce por um poço central. Cada nível terá dois minutos por dia para comer o que puder. Até não sobrar nada para os níveis mais inferiores. Uma gigantesca armadilha que cria um pesadelo sem fim, mas que simboliza a própria condição humana que nos aguarda quando chegamos a essa vida: medo, solidão e desespero que tira o pior de nós. 

sábado, setembro 14, 2019

Satanás é o último dos humanistas na série "Lucifer"


Séculos de desinformação e mentiras, das religiões até filmes e livros, fizeram nos confundir a figura de Lúcifer com o próprio Mal – com “Satanás” ou o “Diabo”, o príncipe dos infernos e da perdição. Como um produto audiovisual mainstream, a série “Lucifer” (2015-) parte dessa visão estereotipada para, ao longo dos episódios das quatro temporadas, retornar ao significado original dos antigos ensinamentos gnósticos: Lúcifer como a “Estrela da Manhã”, “o portador da Luz” – o anjo da Luz que com seu intelecto individual se rebela contra autoridades obscuras externas. Na série, Lúcifer volta à Terra depois de se entediar como governante do Inferno, um castigo imposto pelo seu Pai, o Criador. Vai para Los Angeles e se torna dono de uma badalada casa noturna e consultor de uma detetive da LAPD. Torna-se então um estudioso da natureza humana, um "humanista": seus crimes e sentimentos de culpa. Ou seja, aquilo que nos faz criar o Inferno dentro de nós mesmos.

domingo, julho 28, 2019

Vaza Jato: a religião do dinheiro da banca é a eminência parda brasileira


Um “bate-papo” secreto de um servidor público passando informações privilegiadas, em ano eleitoral, num evento secreto para empresas nacionais e internacionais do setor financeiro. As novas informações vazadas pelo “Intercept” sobre a bem remunerada participação do coordenador da Lava Jato, Deltan Dallagnol, não apenas revelam as relações promíscuas de procuradores e juízes com o mundo político e empresarial. Também mostra como a banca é uma eminência parda: por todo o espectro político, as críticas ao sistema financeiro são apenas pontuais ou genéricas. Nunca está sob o foco da mídia. No máximo, denuncia-se “bad guys” gananciosos, enquanto a estrutura do sistema nunca é questionada – dinheiro, valor, débito, crédito etc. são conceitos naturalizados, reverenciados quase religiosamente. A banca age secretamente como uma religião, com seus templos (sagrados e pagãos) e com seus padres e alto sacerdotes. Dois livros lançam uma luz sobre o fenômeno: “The Theology of Money” do filósofo Philip Goodchild; e “The Cult of Money”, de Chris Lehmann.

domingo, julho 07, 2019

Super-herói do mal revela amoralidade dos super-heróis da América no filme "Brightburn"

Talvez poucos conheçam a primeira versão do icônico super-herói norte-americano Superman: no começa da década de 1930, ele era um vilão com poderes psíquicos usados para dominar a humanidade. Mais tarde foi repaginado, cujos poderes passaram a ser usados para o “Bem”, e utilizado depois como herói da propaganda política na Segunda Guerra Mundial. O terror/sci-fi “Brightburn – O Filho das Trevas” (“Brightburn”, 2019) vai não só se inspirar nessa antiga versão do Superman como, através da iconografia heroica (com máscara e capa, só que agora vestindo o “Mal”}, jogar com a essência da galeria dos super-heróis dos EUA: a amoralidade, como uma “vontade de potência” que está acima do Bem e do Mal – tudo que é feito com uma boa intenção, não pode ser mau. É apenas o “destino manifesto”. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.

sábado, junho 15, 2019

Um ensaio poético sobre a morte e perdas em "Onirica"


“Onirica” (2014), do diretor e poeta polonês Lech Majewski, é uma produção que entra na categoria de “filme estranho”: com densas linhas de diálogo filosóficas, inspirado na “Divina Comédia” de Dante Aligheri e uma narrativa surreal e enigmática, acompanhamos a história de Adam – ele perdeu em um acidente de carro aqueles que mais amava e agora se encontra perdido entre a realidade e os sonhos com fortes simbologias sobre Deus, pecado e redenção. Sem encontrar na religião uma explicação para a impotência humana diante da perda e da morte, Adam encontrará na filosofia de Heidegger e Sêneca a redenção que o levará do Purgatório ao Paraíso.

quarta-feira, maio 01, 2019

O Mal jamais conjurado pela civilização em "Suspiria: A Dança do Medo"


Em um cenário aparentemente acolhedor escondem-se terríveis segredos do passado que estão vivos e ameaçadores até hoje. Desde “O Bebê de Rosemary” (1968), de Roman Polanski, o gênero terror repetidas vezes aborda esse tema. Mas em “Suspiria: A Dança do Medo” (2018), remake do clássico de terror de 1977 de Dario Argento, o tema é elevado a uma jornada pelo inconsciente coletivo: em plena modernidade urbana, o ancestral, o mítico e o arquetípico retornam de forma explosiva e perversa. O Mal, ignorado e jamais conjurado ou expiado pelo mundo contemporâneo. Apenas esquecido.  Uma bailarina se torna aluna de uma prestigiosa escola de dança em Berlim, que esconde um milenar propósito ocultista assassino num país que tenta se recuperar dos traumas do nazismo em plena Guerra Fria.  Mas os problemas é que as pessoas teimam sempre em acreditar que o pior já passou. 

domingo, abril 28, 2019

Nos profundos vales da galáxia e da solidão humana em "High Life"


Uma nave em algum lugar no espaço profundo, para além do sistema solar, ruma a 99% da velocidade da luz na direção de um buraco negro. Um homem dedica-se a cuidar da sua pequena bebê, em meio aos corredores escuros e um desordenado jardim de onde tira alimentação e oxigênio. Como pararam ali? De quem são os cadáveres mantidos em uma câmara criogênica? Quais os efeitos da viagem na velocidade da luz em uma tripulação perdida no vazio em uma missão potencialmente suicida? High Life (2018), da diretora francesa Claire Denis, não é propriamente um sci-fi convencional: em uma narrativa elíptica e em flash-backs tentamos reconstituir o passado e estimar o futuro daquela estranha missão. Uma viagem estranha e surreal pelos profundos vales da galáxia e da solidão humana. No espaço cósmico o homem nada descobrirá, a não ser a si mesmo. E isso pode não ser uma boa coisa.

domingo, fevereiro 17, 2019

Deus e o Diabo querem nossas memórias e identidades em "Coração Satânico"


Em 1987 o filme “Coração Satânico” (Angel Heart) de Alan Parker (“Pink Floyd - The Wall” e “Fama”) alcançou o mesmo impacto de “O Sexto Sentido” de Shymalan: violentas viradas narrativas que comprovam como as nossas certezas em relação à realidade podem sumir em um instante. Porém, no thriller de horror “Coração Satânico” o problema fica mais complexo quando as próprias memórias e a identidade podem nos enganar. Um detetive particular é contratado para encontrar uma pessoa desaparecida. A investigação leva a um mergulho no obscuro mundo de religiões, magia negra e vodu. Mostrando que tanto Deus como o Diabo nos iludem ao criar a impressão de que nossos cultos e rituais nos mantém sob o controle do caos em que vivemos. Filme sugerido pelo nosso leitor infatigável Felipe Resende. 

terça-feira, fevereiro 05, 2019

A Ciência é a última resistência contra a onda conservadora em "Boy Erased"


O cancelamento da Universal Pictures em exibir o filme “Boy Erased – Uma Verdade Anulada” nos cinemas brasileiros, mesmo sob a justificativa comercial de baixa perspectiva de bilheteria, acendeu a suspeita de autocensura – numa atmosfera política atual pesada e conservadora, uma produção que contesta a chamada “cura gay” não seria conveniente para a distribuidora. Mas o filme “Boy Erased” levanta outra questão tão sombria quanto a “conversão gay”: o projeto “científico” que está por trás – reescrever a própria história da Ciência, assim como o nazismo tentou ao criar um bizarro mix Ciência, Religião e Ocultismo. Depois da economia (neoliberalismo pentecostal) e a política (a direita nacionalista), a Ciência (escolas e universidades) é a última resistência. Da “Terra Plana” à “cura gay”, hoje ridicularizados, agora necessitam do verniz “científico”. Por isso, “Boy Erased” dá um alerta em suas entrelinhas: a Ciência poderá ser reescrita pela Religião.

quarta-feira, janeiro 30, 2019

No filme "Apóstolo" o assassinato e a mentira fundam seitas e religiões

Há um “modus operandi” na fundação de seitas e religiões: um assassinato que se transforma no sofrimento necessário do mártir; e a mentira decorrente dessa narrativa. Em consequência, o Sagrado mistura-se com o profano, e o Divino com a violência. Como é possível emergir amor e compaixão nesse modelo psíquico doentio? Essa é a questão principal do filme “Apóstolo” (“Apostle”, 2018). Um jovem ex-religioso, descrente de tudo após um passado traumático, tem a missão de resgatar sua irmã, raptada por uma estranha seita reclusa em uma ilha. Ele se infiltra entre os seguidores de um profeta enlouquecido, mas estranhamente não consegue determinar, afinal, o quê aquela seita adora. Através do horror gore (nada gratuito, já que o tema do filme é como sangue e violência são a outra face das seitas e religiões), o protagonista mergulha em uma sociedade que se pretendia utópica, mas que revela uma questão bem atual: o flerte da religião com o poder político por meio do Estado Teocrático. Filme sugerido pelo nosso incansável leitor Felipe Resende.

sábado, janeiro 19, 2019

"Tempo Compartilhado": Marketing e Publicidade criam a religião do Capitalismo Pentecostal

O pensador alemão Karl Marx teve que escrever muitas páginas para demonstrar que por trás da racionalidade do Capitalismo existia uma gigantesca fantasmagoria – mercadoria, capital e dinheiro apareciam como entidades-fetiches autônomas aos nossos olhos. Hoje, o Marketing e a Publicidade, sem maiores rodeios, diariamente nos mostram que a gestão corporativa e o discurso publicitário se tornaram análogos a seitas ou cultos. O Capitalismo sempre foi uma religião, mas hoje ele é “pentecostal” – é o “american way of management”. O filme mexicano “Tempo Compartilhado” (“Tiempo Compartido”, 2018) mostra as férias frustradas de uma típica família de classe média que acreditava ser possível comprar o Paraíso a preços módicos em suaves prestações. Um resort internacional esconde um propósito sinistro: transformar tanto seus “colaboradores” como clientes em membros de um tipo de seita messiânica no qual o Paraíso religioso se confunde com o próprio turismo.  

domingo, dezembro 16, 2018

Como envenenar psiquicamente um povo no filme "Os Demônios"


“Os Demônios” (“The Devils”), de Ken Russel, é um filme tão blasfemo, obsceno e relevante hoje quanto foi em 1971. Um terror religioso épico e uma contundente crítica do abuso do poder político. Um filme sobre fatos históricos ocorrido no século XVII (um padre condenado à fogueira acusado de bruxaria), filmado no século XX, mas que continua atual no século XXI: os tribunais eclesiásticos da Inquisição foram muito mais do que produtos do fanatismo religioso. Foram instrumentos de “lawfare” para a dominação política da Igreja. Em “Os Demônios” a Inquisição é um instrumento de uma estratégia mais ampla que hoje chamamos de “Guerra Híbrida”: como envenenar psiquicamente uma cidade através da sua maior vulnerabilidade: um Convento de freiras dominadas pela histeria de massa é o pretexto para derrubar a liderança do padre Urbain Grandier, opositor à monarquia absolutista de Luís XIII e do Cardeal Richelieu.

domingo, agosto 19, 2018

Em "A Harmonia Werckmeister" o eclipse da Razão que antecede tempos sombrios


Um circo, cuja principal atração é uma enorme carcaça de baleia empalhada, chega a um remoto vilarejo no interior da Hungria, gélido e envolto numa permanente neblina. E junto com o circo, medo e presságios de crise e escassez de carvão para aquecer as casas. E o oportunismo político espreita as incertezas e o obscurantismo local. Por que? Para um velho musicólogo porque desde que o compositor barroco Andreas Werckmeister ofereceu ao mundo a afinação temperada (base do sistema tonal), o mundo quebrou a harmonia com as músicas das esferas celestes trazendo o desencanto e a desesperança. Esse é o filme “A Harmonia Werckmeister” (Werckmeister Harmoniák, 2000) do diretor húngaro Béla Tarr. Uma fábula política sombria filmada em longos planos-sequência descrevendo como o mal pode se esgueirar numa comunidade aparentemente pacífica. E a Razão ser eclipsada pelo desencantamento do mundo.  

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