sexta-feira, outubro 31, 2025

A bomba semiótica do caos com timing e sincronismo no Rio

 


Um ato falho ao vivo da Globo News revelou a verdadeira natureza da “Megaoperação” sangrenta no Rio: enquanto imagens de corpos enfileirados na Penha tomavam o ar, a âncora e a equipe tentavam sem êxito contatar o presidente Lula — incomunicável em voo pelo fato de o avião da FAB não dispor de Internet. A ansiedade do jornalismo corporativo só se equipara a do governador Claudio Castro que na primeira coletiva (com a Operação ainda em andamento) já botava a culpa no governo federal. Como se aguardasse o desfecho letal recorde da Operação. Afinal, o principal planejamento das ações policiais foi midiático – uma bomba semiótica, com timing e sincronismo: na ausência de Lula que voltava com uma vitória da Malásia, vésperas da pré-COP30 no Rio e a expressão “terrorismo” reforçada por três fetiches das imagens televisivas: drones-bomba, blindados e GLO. Essa é a nova guerra híbrida dos EUA: sai o lawfare, entra o “big stick” da “guerra ao terrorismo” no quintal geopolítico da América Latina.

Em meio à cobertura da chamada “Megaoperação” (a operação da segurança pública do Rio de Janeiro nos complexos do Alemão e da Penha, desencadeada nas primeiras horas desta terça-feira (28), no combate ao tráfico nas áreas dominadas pelo Comando Vermelho) da Globo News, a apresentadora Julia Duailibi conseguiu acrescentar mais uma perplexidade diante de notícias e imagens de corpos enfileirados no asfalto em uma rua do Complexo da Penha.

Desta vez, foi sobre as tentativas de fazer contato com o presidente Lula, naquele momento no avião da FAB retornava da Malásia de uma reunião da 47ª Cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) e do Fórum Bilateral Brasil-Malásia.

Queriam algo como uma declaração ou posicionamento em meio à crise no Rio. O avião em que Lula está não oferecia internet nem telefone a bordo. Assim, tanto o petista quanto o restante da comitiva, formada por ministros e demais autoridades, estavam incomunicáveis. 

Ao lado do jornalista Otávio Guedes, até tentou ensaiar algum tipo de indignação cívica - como assim? Um presidente incomunicável em meio a uma crise segurança pública?

Mas, as imagens dos corpos da Penha e o tsunami de vídeos que chegavam sobre barricadas e rolos de fumaça preta que se multiplicavam por toda a cidade, acabaram soterrando o script do escândalo midiático que pretendiam dar início.

Essa cena en passant revelando a ansiedade dos apresentares obterem uma resposta de Lula em meio à crise, poderia passar até desapercebida. Mas esse pequeno detalhe talvez revele todo o propósito da chamada “Megaoperação” do governador bolsonarista Cláudio Castro: a operação que envolveu cerca de 2.500 agentes da Polícia Civil e Militar para frear o avanço territorial do CV, a mais letal da história do Rio.

Trata-se menos de “contenção territorial do crime organizado” do que criar um acontecimento comunicacional com timing e sincronismo – uma bomba semiótica. Em um final de ano pré-eleitoral em que, para a surpresa da extrema direita, o governo Lula acabou saindo das cordas e entrando num ciclo virtuoso midiático – a defesa da democracia, da soberania e, por fim, a foto de Lula com Trump batendo recorde de engajamento nas redes.

Se houve algo de planejado nessa Operação (e as autoridades da segurança se regozijam de um suposto planejamento de seis meses) foi a repercussão midiática: a Operação voltou-se muito mais para a mídia do que um confronto contra o CV.

A própria imprensa foi surpreendida quando, na primeira declaração (tomado por uma gagueira nervosa), com homens ainda em campo e a contabilização de mortos que só aumentava, Cláudio Castro já disparava: “a culpa é do Planalto” porque ações do tipo “não são de segurança urbana, mas sim de defesa” o que seria “responsabilidade das Forças Armadas”.

Depois, reclamou de que o Estado do Rio “estava sozinho” e que o Governo federal havia negado pedidos de ajuda.


Cadê Lula?

O timing da “Megaoperação” foi visível: a poucos dias do Fórum de Líderes Locais da COP 30 na cidade do Rio de Janeiro, de 3 a 5 de novembro - encontro preparatório para a COP 30, de Belém (PA), que reunirá centenas de prefeitos, governadores e líderes subnacionais para destacar soluções climáticas locais.

Numa perfeita sinergia (este Cinegnose defende que a extrema direita temo seu próprio Gabinete de Inteligência Semiótica: o jornalismo corporativo), o jornalão Estadão estampa a seguinte manchete: “‘Pior dia de violência do Rio’: mídia internacional destaca operação contra CV às vésperas da COP-30”.

Enquanto o sucesso da reunião de Lula na Malásia repercutia na mídia, caia a ficha do bolsonarismo de que a pauta da PL da Anistia e a suposta crise diplomática das sanções e tarifaços dos EUA já tinha se esgotado.

Na primeira hora, o jornalão Folha de São Paulo dava uma chamada na primeira página para a coluna de Igor Gielow, já antecipando a estratégia da extrema direita: “Operação coloca a segurança no centro da campanha de 2026”.

No dia seguinte, era a vez dos canais fechados de notícia abrirem a nova pauta para 2026, mandando às favas o tema “Democracia e Soberania: “Direita aposta no tema da segurança para 2026 – Governadores, cotados como presidenciáveis, debatem medidas após operação no Rio”.

Sem contraditório

Numa cobertura jornalística como essa (em que defendeu a necessidade de operações de “contenção” às expensas dos corpos alinhados no asfalto e revolta de familiares e moradores) não se deve esperar mesmo o contraditório.

Em nenhum momento observou-se que Cláudio Castro e os governadores (Caiado, Zema et caterva) que agora estendem a mão para não o deixar sozinho na suposta luta contra o crime organizado, foram contra a PEC da Segurança Pública ou qualquer forma da integração com o governo federal.




E nem que o governador do Rio, dominado pela gagueira nervosa, dificultou a Operação Carbono Oculto da PF no Estado e luta na Justiça para que a Refinaria de Manguinhos (fechada pela PF sob indícios de ligações com o crime organizado no ramo de combustíveis) volte a funcionar normalmente.

Mas há uma motivação ainda mais profunda essa Operação: a crise da Semiótica Nem-Nem - a estratégia semiótica de criar uma equivalência simbólica entre Lula e Bolsonaro, supostamente as extremidades ideológicas no espectro político polarizado. Na busca pela despolarização na busca de uma suposta terceira via “técnica”, sem ideologias e despolarizada.

Com os sincericídios (ou Síndrome de Dr. Fantástico – clique aqui) do governador Tarcísio de Freitas, parece que começa a ser aceita a inevitabilidade de mais uma vitória de Lula.

E o direcionamento das energias para as eleições proporcionais para as casas do Congresso – a meta passaria a ser agora o domínio parlamentar total da extrema direita para transformar Lula reeleito numa espécie de Rainha da Inglaterra.

E, sabemos, o tema da segurança pública é muito mais sensível a esse tipo de eleição do que para o voto majoritário. Aguarde para o próximo ano uma cascata de candidatos “capitão”, “sargento” e assim por diante, com a retórica da “bala, bomba e porrada” como política de Estado.


Eleições 2026 e Semiótica Nem-Nem

Enquanto a grande mídia fica propositalmente presa a uma discussão bizantina (se a Operação de Cláudio Castro foi “planejada” ou “improvisada”), o planejamento da chamada “Operação Contenção” está em outro nível, semiótico.

Ações do tipo “bala, bomba e porrada” idealizadas pela extrema direita precisam necessariamente gerar mortes exemplares. A foto que a Agência Reuters distribuiu para todo o planeta dos corpos perfilados em uma rua do Complexo da Penha produziu a mais-valia semiótica necessária.

Para quê? Para produzir a reação esperada do campo progressista: os protestos contra “a letalidade policial que não seguiu princípios legais e de direitos humanos”. “Chacina”, “massacre” são as acusações mais comuns, enquanto o jornalismo corporativo reforça o clichê de um suposto “mal-estar” da esquerda quando trata o tema da violência e segurança pública.

O clichê da “defesa dos direitos humanos dos bandidos” imputado sempre à esquerda, reforçado pelo seminal filme da guerra híbrida brasileira Tropa de Elite.

Fetiches e a geopolítica “Big Stick”

Dois fetiches dominaram a cobertura ao vivo do caos carioca: os drones-bomba e os carros blindados que Cláudio Castro teria pedido ao Governo federal.

As imagens de um drone no instante em que arremessava bombas contra a polícia foram repetidas ad-nauseum. Ao lado da obsessão por discutir a necessidade blindados (assim como a inevitabilidade do “confronto” para “tomar território”, como repetia o “colonista” Joel Pinheiro, o Copolla para a Globo News chamar de seu...)

Por que essa fixação do jornalismo corporativo por bombas lançadas de drones e blindados militares de uma suposta GLO? Como se estivesse cobrindo um teatro de guerra, e não a tragédia urbana quando moradores saiam para o trabalho e crianças para a escola.



Para além do rendimento midiático, a Operação buscou um certo tipo de rendimento geopolítico: o governo do Rio de Janeiro enviou, há cerca de oito meses, um relatório ao governo Trump que apontava o Comando Vermelho como uma organização com atuação internacional e características de grupo terrorista.

O documento foi produzido pela área de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública fluminense e entregue ao Consulado dos Estados Unidos no Rio de Janeiro.

A coletiva de imprensa no Palácio da Guanabara de cinco governadores bolsonaristas (Caiado, Zema, Jorginho Mello, Tarcísio, Celina Leão) para anunciar, ao lado de Cláudio Castro, a formação do “Consorcio da Paz” (a linguagem orwelliana é evidente) para combater o crime organizado completou o ardil: a expressão mais repetida foi “terrorismo”.

A tipificação do crime organizado como “terrorismo” é a justificativa para a guinada geopolítica do governo dos EUA para a América Latina: sai o lawfare e os golpes de Estado “de veludo” dos chamados Novos Democratas para o “Big Stick” dos republicanos – tomando como pretexto defender a segurança nacional dos cidadãos americanos, combater militarmente os narcoterroristas da AL com ataques militares a rotas e instalações ou ações conjuntas dos EUA com autoridades policiais e militares latino-americanas.

Não por menos o senador Flávio Bolsonaro escreveu ter “inveja” dos ataques realizados pelos Estados Unidos no mar do Caribe e, em resposta a uma postagem do secretário de Defesa Pete Hegseth, questionou se os americanos “não gostariam de passar alguns meses aqui nos ajudando a combater essas organizações terroristas” no Rio de Janeiro.

E bombardeando barcos de transporte de drogas na Baia da Guanabara.

A esquerda tratou essa fala como uma bravata de um filho desesperado na iminência de ver o pai atrás das grades.

Mas a aposta alta do governador Cláudio Castro numa operação policial calculadamente sangrenta, contando com a normalização da grande mídia, comprova que é muito mais do que isso.

 

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