sábado, dezembro 28, 2024

Governo confunde comunicação com propaganda. Mídia e Faria Lima apostam nisso!


Por que, não mais que de repente, os “colonistas” do jornalismo corporativo resolveram dar pitacos sobre a comunicação do Governo? Cinicamente até admitem os bem-feitos de Lula na área econômica. Mas, segundo eles, Lula não está conseguindo transmitir para o povo e o mercado. Qual o ardil dessa súbita preocupação? A resposta está no costumeiro comportamento reativo do Governo e do PT: colocar um marqueteiro na Secom. Reativamente, confunde comunicação com propaganda. Dentro da atual arapuca de ataques especulativos da Faria Lima, a questão não é mais a excelência da informação transmitida à sociedade. Os recentes sincericídios da economista Zeina Latif e do banqueiro André Esteves revelam o ardil mídia-Faria Lima: fazer o governo continuar a confundir comunicação com propaganda, enquanto eles operam a comunicação no verdadeiro patamar epistemológico dessa ciência – a comunicação como acontecimento, que cria uma pauta ou agenda autorrealizável na qual o Governo está prisioneiro. Nesse momento, o Governo deve pensar a comunicação interdisciplinarmente.

A “questão da comunicação” do governo Lula, a suposta ineficiência da comunicação governamental incapaz de criar uma percepção positiva no populacho (apesar dos bons auspícios no front econômico), deve ser abordada a partir de duas afirmações crípticas de dois personagens – um na mídia hegemônica especializada; e o outro nos bastidores sem filtro da Faria Lima.

No jornal “O Globo” (20/12/2024), a ex economista-chefe da XP Investimentos e colunista do jornal, Zeina Latif, disparou: “Partido de esquerda tendo de mexer em salário-mínimo e abono deve doer na pele”. Latif vê um “simbolismo” nisso: a dor sentida por um governo de esquerda ao ser obrigado a cortar a própria carne – para bom entendimento político, arriscar-se a se inviabilizar para as eleições de 2016.

A “colonista” da grande mídia e insider da Faria Lima cometeu uma espécie de sincericídio: revelou que a atual crise do dólar, a perda de confiança do mercado com a “gastança” do governo e a insistência da mídia com o cenário de derrocada e inflação descontrolada nada têm de racionalidade baseada em leis econômicas... é uma questão SIMBÓLICA.

Parafraseando aquele comercial de cartão de crédito: ver Lula cortar a própria carne não tem preço!... para todas as outras, tem as eleições de 2026. 

Em outras palavras, Zeina Latif confessou que o que ela e a Banca querem é ver o Governo de joelhos, se auto imolando em praça pública. Para que, humilhado e combalido, não chegue viável em 2026.

Um pouco tempo antes, em um daqueles portentosos eventos fechados do mercado, o banqueiro André Esteves (BTG Pactual), com a autoconfiança debochada dos vencedores, foi ainda mais incisivo. 

Se autoelogiando por ter participado da privatização de três grandes estatais (Sabesp, a Copel e a Eletrobrás), Esteves foi incisivo: 

“Há dez anos a maioria de nós acharia isso impossível acontecer... a três meses antes das eleições, privatizamos a Eletrobrás sem nenhum protesto... não apareceu ninguém na sede da BTG com um cartaz de cartolina dizendo ‘sou contra’... vimos as privatizações no final dos anos 1990... no Rio de Janeiro, na Praça XV, virava uma praça de guerra, gás lacrimogênio, investidor tomando pancada... dessa vez privatizamos e não apareceu ninguém... então, a sociedade brasileira mudou...” – clique aqui na Live Extra Cinegnose 360 #79, a partir de 1:55:19.

Aqui o banqueiro André Esteves mostrou a outra faceta desse “simbolismo” a que Zeina Latif se refere: enquanto assistimos à grande mídia batendo o bumbo da crise e da derrocada econômica (supostamente baseada na racionalidade econômica), tranquila e silenciosamente a agenda do tripé neoliberal (privatizações, superávit primário e câmbio flutuante) é colocada em ação. 



Parece que secretamente ou numa espécie de universo paralelo, invisível para todos. Enquanto a opinião pública parece sedada, alheia.  Ou melhor, ocupada com alguma outra coisa. 

Naquela mesma semana em que André Esteves ostentava seu orgulho mesclado com deboche, no Allianz Park (a arena do Palmeiras) o público que assistia ao show de Maria Bethânia e Caetano Veloso puxava o coro: “Anistia não! Anistia não!”.

Talvez sedada e alheia não sejam as palavras certas. Talvez a atenção e energia dessa opinião pública esteja sendo desviada para uma outra cena: o palco do teatro do 8/1 e seus sucessivos spin-offs em cartaz há quase dois anos – agora, assistimos ao thriller da ameaça da anistia aos golpistas, a épica defesa da Democracia pelo ministro Xandão e a peça “Esperando Godot”, ou melhor, esperando o Procurador da República Gonet fazer alguma coisa em relação ao inquérito do golpe no ano que vem.

Esses são os dois lados da moeda do “simbolismo” de Zeina Latif: de um lado, através do método de agenda setting CAOs (Consonâncias, Acumulações e Onipresenças midiáticas – sobre isso, clique aqui) cria a atmosfera de medo generalizada – medo dos vilões serem anistiados, medo de um golpe que possa vir de qualquer lado, medo da derrocada inflacionária etc., sugando como um buraco negro a energia atenção dos agentes sociais e da maioria silenciosa.

E do outro, o orgulhoso deboche da Faria Lima que placidamente agita o mercado das privatizações, ao mesmo tempo que fatura em dólares a especulação do medo enquanto paradoxalmente aposta contra o País.

 O método CAOs é uma arma diversionista apontada para dois públicos: a esquerda, criando um misto de medo e o efeito Pavlov de vingança – ver os golpistas (principalmente Bolsonaro) atrás das grandes, como forma de compensação pela prostração diante da Operação Lava Jato. E a chamada “maioria silenciosa” (sobre esse conceito, clique aqui), cuja percepção é modelada pelo medo do descontrole inflacionário – por exemplo, com o bate bumbo midiático, ver em aumentos de preços sazonais provas de uma ameaçadora inflação estrutural.



Comunicação não é propaganda

O que a “questão da comunicação” do Governo Lula tem a ver com tudo isso? 

Talvez a resposta esteja no súbito interesse da grande mídia (em particular, dos “colonistas” do grupo Globo) em dar pitacos nas estratégias de comunicação do Governo. Por que agora a mídia hegemônica se arvora em querer dar assessoria a Lula em Marketing e Comunicação?

Porque a grande mídia quer que o Governo continue insistindo em um mal-entendido teórico e epistemológico que esse humilde blogueiro define como “conteudismo: a doença infantil da comunicação” – fazer acreditar que comunicação e propaganda são a mesma coisa.

Cinicamente, esses “colonistas” até admitem os bons feitos do Governo na área econômica (Pibão, queda histórica da taxa de desemprego etc.). Alguns até demonstram certo mal-estar, como Miriam Leitão, de que os esperneios da Faria Lima não seria para tanto.

Então, o que está errado? Só pode ser a “comunicação” do Governo que não consegue transmitir as boas notícias para o povo e para o mercado.

O problema é que, ao fazer o Governo incorrer nessa confusão epistemológica, faz ele cair no ciclo vicioso estimulado pelo jornalismo econômico corporativo: fazer o Governo criar peças publicitárias para dar respostas às crises artificiais midiáticas. Isto é, manter nesse ciclo vicioso o Governo sempre na posição reativa, sempre tentando dar uma resposta à pauta ou agenda imposta pela grande mídia enquanto ventríloquo da Faria Lima.

O conteudismo nos faz confundir a comunicação com a informação. 

Dentro da atual arapuca na qual o Governo Lula está metido, a questão não é mais a excelência da informação transmitida à sociedade – resumir a comunicação como uma informação que pego do ponto A e levo para o ponto B.



Os sincericídios de Zeina Latif e André Esteves revelam que a turma deles, sim, está na vanguarda da comunicação. Com o método CAOs eles criam acontecimentos que acabam gerando uma pauta ou agenda que acabam sequestrando a atenção do Governo e da sociedade.

Comunicação não é transmissão de uma informação. Comunicação passa pela capacidade de gerar acontecimentos para se contrapor a outros acontecimentos continuamente produzidos na usina de crises autorrealizáveis do método CAOs.

A comunicação alt-right é expert nessa estratégia que denominamos como “alopragem política” - estratégia de criação de factoides, pseudo-eventos ou não-acontecimentos que criam aquele efeito de espuma midiática – muito próximo a outro conceito, o “efeito Firehose”: a criação de uma espiral interpretativa até o momento em que a diferença entre verdade e mentira desaparece. Para tudo permanecer na função performática: o barulho criado, a confusão, o escândalo etc. – clique aqui.

Bolsonaro governou (?) quatro anos aloprando politicamente, gerando crises contínuas, polêmicas semanais, monopolizando a pauta midiática – como faz até hoje, mesmo inelegível e sem cargo.

A questão da comunicação do Governo não é Lula, a Secom ou a ausência de um marqueteiro que tenha a fórmula mágica da excelência. 

Pensar a comunicação como acontecimento é pensar proativamente, além de interdisciplinarmente. Não se limita à Secom, ao Marketing ou a peças de propaganda. Trata-se de também criar não-acontecimentos, factoides e, por que não, crises que prendam a atenção da grande mídia. 

A mídia hegemônica tem seus interesses políticos, além de desempenhar o papel de ventríloquo do mercado. Mas é, principalmente, sedenta por conteúdos para ocupar seus canais de notícias 24 horas.

 Está na hora do Governo e o PT também pensar no caos como método. Reapropriar semioticamente as estratégias de comunicação alt-right. Porém, invertendo o sinal.

Por que não também gerar crises artificiais? Deixar de ser institucional, republicano, sempre reativamente preocupado a dar respostas à mídia, andando de reboque a uma pauta anteriormente criada e imposta.

Como um pitbull, o mercado sente o cheiro do medo. E precifica o medo do Governo de ser mordido.


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