segunda-feira, março 08, 2021

China nega que está fazendo uma 'máquina do tempo' em meio a sincronismos


Vazado de uma plataforma de informação de financiamentos, uma apresentação em Power Point detalha um estranho projeto envolvendo o laboratório estatal de física de partículas da China e uma startup chinesa chamada Ruitai, intitulado “Dispositivo Experimental de Geração de Túnel no Espaço-Tempo” que seria utilizado para “viagens no tempo, viagens interestelares, extensão da vida, etc.”. Será que a reação de uma superpotência em desmentir o projeto de forma tão rápida e veemente entraria nos anais do “não há nada para ver aqui”? O fato é que essa notícia esta cercada de sincronismos: em 2011, o governo já havia proibido a produção de filmes sobre viagem no tempo no país. Além de que, desde o início da civilização chinesa, prever, dominar o futuro e subjugar o tempo foram os objetivos estratégicos principais - Fo-Hi (mítico imperador da China e considerado o mestre do tempo) criou o “I Ching” ou “O Livro das Mutações”, forma de entender as diversas ramificações do tempo, lembrando conceitos da física quântica como os de entrelaçamento e sobreposição. 

Em postagem anterior, em 2011, este Cinegnose noticiava que autoridades chinesas estavam proibindo a produção de filmes sobre o tema viagem no tempo, no ano do 90o aniversário do Partido Comunista chinês. Na oportunidade, discutíamos a notícia no sentido estrito da linguagem cinematográfica: o governo chinês cobrava produções audiovisuais e cinematográficas com maior realismo, seja no campo ficcional ou documental. E temas de ficção como viagem no tempo seriam por demais “escapistas” – clique aqui.

Agora, de uma maneira sincrônica, novamente temos uma notícia que envolve o governo chinês com o tema da viagem no tempo. Porém, agora no sentido literal!

O maior laboratório estatal de física de partículas da China refutou de forma enfática uma informação que passou a circular a partir de uma apresentação em Power Point vazado on line de uma plataforma de informação de financiamentos Tourongjie. O documento sugere que o Instituto de Física de Altas Energias da Academia Chinesa de Ciências estaria fazendo parceria com a Ruitai Technology Development Technology Co. em algo chamado "Dispositivo Experimental de Geração de Túnel no Espaço-Tempo".




O noticioso chinês The Paper Journalist, via 6Park News, vazou as informações do projeto com uma seguinte descrição do aparelho:

O dispositivo pode distorcer o tempo e o espaço, controlar a taxa de fluxo do tempo, romper a barreira do tempo e do espaço e pode ser amplamente utilizado para viagens no tempo, viagens interestelares, extensão da vida, etc. O projeto planeja selecionar um local na China, e arrendar uma área de cerca de 16 acres para construir uma base de experimentos científicos. Espera-se que o dispositivo seja capaz de transportar com sucesso o experimento espaço-tempo de 7 a 12 meses após os fundos estarem disponíveis.

O PowerPoint também afirma que a equipe por trás do projeto "chegou a um acordo de cooperação preliminar com uma equipe de pesquisa e desenvolvimento composta por renomados especialistas e acadêmicos do Instituto de Física de Altas Energias da Academia Chinesa de Ciências", e que o Prêmio Nobel Charles Kao “reconheceu e elogiou” o dispositivo, além de outros conceituados cientistas como Li Jing, Zhao Guangheng e Niu Shuqiang.



De acordo com o plano, a Ruitai pretendia levantar US $ 200 milhões (US$ 30,9 milhões) para o projeto que estava "conservadoramente" avaliado em US$ 838,2 bilhões. 

Não muito tempo depois que o documento do PowerPoint vazou, o Instituto de Física de Altas Energias da Academia Chinesa de Ciências emitiu um comunicado negando veementemente seu envolvimento no projeto:

Não é verdade que nosso instituto e a 'Shanxi Ruitai Technology' mencionada no artigo Development Technology Co., tiveram algum contato ou cooperação, e nossa empresa não assumirá qualquer responsabilidade legal por quaisquer perdas causadas por sua falsa propaganda. 

A Ruitai também negou seu envolvimento com a estatal chinesa. A empresa alegou que a plataforma de informações de financiamento “gerou por engano” a apresentação, o que faz a Ruitai encerrar a cooperação com a plataforma, como informou o presidente Guo Weiwei, segundo o Chongqing Morning News – clique aqui

Instituto de Física de Altas Energias da Academia Chinesa


“Não há nada para se ver!”

Será que a China está construindo uma máquina do tempo? A notícia gerou muitas piadas e memes geeks nas redes sociais como, por exemplo, que se a China tem a tecnologia 5G é porque teria roubado dos americanos no futuro para trazê-la ao presente...

Para além desse folclore, jornalistas como Caroline Delbert, da revista norte-americana de ciência e tecnologia Popular Mechanics, considerou a estranheza de um desmentido tão rápido e veemente de um laboratório estatal: entraria nos anais do “não há nada para ver aqui!” – clique aqui. Quando uma superpotência faz um esforço especial para negar que está fazendo algo, o desmentido passaria a ter uma natureza ambígua. Produzindo uma espiral especulativa. Um plano de negócios em uma apresentação supostamente gerado “acidentalmente” e “vazado” por uma plataforma de informações de financiamentos poderia gerar uma negação tão forte de uma superpotência?

A estranheza é que nem mesmo diante da “teologia do COVID-19” espalhado pela mídia ocidental (um vírus chinês que se espalhou pelo mundo) o governo chinês foi menos enfático em desmentir ou criar sua própria narrativa do que veículos noticiosos do Japão e Taiwan que começaram a levantar evidências de que o novo coronavírus teria sua origem nos EUA – clique aqui. Menos enfático do que o atual desmentido de um vazamento de em estranho plano de negócios vazado na Internet.

I Ching e o mestre do tempo

Além desse sincronismo do governo proibir o tema específico “viagem no tempo” na produção fílmica e televisiva em 2011 e, agora, o vazamento de um estranho plano de negócios em torno da construção de “túnel no espaço-tempo” com uma startup chinesa, temos outra conexão sincrônica: tudo ocorre num país que que sempre se interessou muito mais pelo tempo do que pelo espaço – a geometria só entrou na cultura chinesa por meio de missionários ocidentais.



Algumas das teorias sobre o tempo datam  de mais de três mil anos e atualmente retomada por cientistas chineses. Esse conhecimento milenar afirma que o espaço não existe e que os objetos podem atuar uns sobre os outros a distâncias absolutamente fantásticas. Lembrando conceitos da física quântica como os de entrelaçamento e sobreposição. 

Portanto, prever e dominar o futuro e subjugar o tempo forma desde o início os objetivos da civilização chinesa.

Fo-Hi, a enigmática personalidade (imperador da China que pertencia ao reino Xia), foi considerado o mestre do tempo pelas crônicas chinesas dando a data do seu nascimento entre 5000 e 5000 A.C. 

Ele foi o criador do I Ching ou O Livro das Mutações. A tradição atribui a Fo-Hi a aplicação de oito trigramas essenciais de forma a desvelar fenômenos celestes que se desenvolvem na natureza, e tudo compreender. Esses trigramas compreendem duas linhas fundamentais: a linha contínua que representa o céu (yang) e a linha quebrada que representa a terra (yin).

I Ching  foi concebido para ser uma ferramenta à disposição do homem para desvendar as ramificações do tempo e basear suas ações nas informações no mais profundo inconsciente coletivo. O curioso é que a base do I Ching corresponde à moderna concepção quântica do tempo: a cada ponto do seu percurso, o tempo se separa em ramificações diferentes, das quais poderíamos dispor segundo a nossa vontade. Consequentemente, o Livro das Mutações fornece orientações para a escolha de uma decisão, de uma das ramificações do tempo.

Pela sua importância, foi estudado por Confúcio, pelo filósofo Leibniz, pela psicologia profunda de Carl Jung. O I Ching teria servido igualmente ao almirante japonês que tomou a decisão para o ataque a Pearl Harbor na Segunda Guerra Mundial.

I Ching teria sido a primeira conquista do tempo pelo homem. Para Jung, as escolhas em torno dos 64 hexagramas que compõem o I Ching seriam comandadas pelo fenômeno da sincronicidade – determinados eventos se influenciam também perpendicularmente a um fluxo temporal, como ondas produzidas na água por um navio, cujas ondas podem perturbar a trajetória de outros navios, ou de outras ondas.

Portanto, seria mera coincidência ou sincronismo  essas especulações em torno de um misterioso projeto de viagem no tempo justamente numa potência geopolítica tão obcecada pelo controle tático e político do tempo? 

Com informações de Popular Mechanics, Yicai Global, The Debrief, Planeta, Weird Theory, 6Park News.

 

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