segunda-feira, dezembro 24, 2018

"Cinegnose" faz nove anos, na direção da primeira década

Em dezembro, o “Cinegnose” completa nove anos de existência, aproximando-se da primeira década de intensas atividades – postagens, cursos e palestras. Em todo esse tempo, o “Cinegnose” passou por dois momentos de mudança: no terceiro aniversário (2012), quando deixamos de ser um site “sobre Gnosticismo” para se tornar “Gnóstico” – a criação de um olhar gnóstico (ontológico, sincromístico, irônico e sintomático) mais amplo para Cinema, Cultura e Sociedade. E agora no seu nono aniversário: esse “olhar gnóstico” coverte-se num pressuposto metodológico para a Teoria da Comunicação, Semiótica e Crítica Ideológica. Por quê?  Porque a realidade é uma ilusão. Mas não uma ilusão qualquer, como “mentira” ou “falsa consciência”. Mas porque a realidade cada vez mais imita roteiros cinematográficos e narrativas ficcionais. Cada vez mais se aproxima do Cinema, a moderna Caverna de Platão.

Nesse mês de dezembro, o “Cinema Secreto: Cinegnose” faz nove anos. Até aqui foram mais de 500 filmes analisados, num total de 1.297 postagens. Nesses anos de trajetória, o blog passou por dois momentos de inflexão bem definidos.
Na comemoração do terceiro ano, o Cinegnose discutia se o blog era “gnóstico” ou “sobre Gnosticismo”: os dois primeiros anos foram marcados por postagens sobre os fundamentos filosóficos do Gnosticismo. E mesmo a análise fílmica, era o ponto de partida para desenvolver pontos axiais do Gnosticismo – clique aqui
Foram tempos, por assim dizer, “doutrinários”, cujo blog poderia ser definido como sobre Gnosticismo. Este humilde blogueiro avaliou naquele momento que já estava cumprida a missão inicial do blog – definir o que era a filosofia do Gnosticismo. Para além desse ponto, o blog corria o risco de se tornar hermético ou, para muitos leitores, um site religioso. E não propriamente sobre cinema.


Olhar gnóstico

A partir do terceiro ano de existência, o Cinegnose criou aquele que foi definido como um “olhar gnóstico” para o cinema. E esse olhar se abriu para temas mais gerais sobre sociedade, cultura e política. Um olhar que pode ser sintetizado pelos seguintes princípios: 
(a) contraste entre análise ontológica e moralista(Toda análise moralista pretende combater os excessos do mal, mas não eliminar a causa. Parte do princípio de que esses excessos se originam em comportamentos e motivações corrompidas puramente individuais. Diferente disso, uma análise ontológica vai à radicalidade ao ver o mal não nos excessos, mas na própria estrutura que confina os indivíduos.
(b) Princípio dos eventos irônicos: Há uma ironia na estrutura desse cosmos físico em que vivemos: nele encontram-se inconciliáveis e, ao mesmo tempo, inseparáveis, o Bem e o Mal. Dessa forma, para cada ato bom produz-se um efeito perverso: a produção reverte-se em destruição, a paz produz a guerra, a realidade a ilusão, e assim por diante. Um princípio irônico que tornaria todos eventos sociais, políticos e econômicos simulações de fatos com um lastro real, funcional e racional. 
(c) Princípio do sintoma – Filmes e produtos audiovisuais não seriam meros produtos de entretenimento, mas documentos vivos do imaginário coletivo e sintomas do mal-estar dos indivíduos em determinada época.
(d) Princípio sincromístico - A hipótese sincromística baseia-se em três conceitos: formas-pensamento, arquétipos e sincronicidade. Haveria um texto invisível no Universo, conexões significativas entre eventos que, vistos superficialmente, parecem ter causalidade dispare. Na verdade, os eventos estariam imersos em uma rede formada pelo inconsciente coletivo cuja dinâmica é baseada nas chamadas formas-pensamento e arquétipos. O pensamento atuante seria capaz de gerar uma forma em um campo etérico ou astral. Quando combinadas com emoções interiores elas tenderiam a se potencializar.


Muito além do Cinema

Com esse olhar, o blog estendeu as análises para além dos produtos cinematográficos – mas também como os princípios da linguagem fílmica (roteiro, narrativa ficcional, verossimilhança etc.) começou a invadir os eventos “reais” políticos e econômicos. 
A série de postagens sobres as “bombas semióticas” (no jornalismo de guerra brasileiro que culminou com o impeachment de 2016), sobre os “não-acontecimentos” (as sequências de atentados terroristas na Europa que seguiam um script recorrente) e, recentemente, sobre a “guerra híbrida” (que conduziu a vitoriosa campanha da extrema direita brasileira através da combinação das táticas de agendamento na grande mídia e estratégias meméticas nas mídias de convergência), foram análises decorrentes desse olhar gnóstico na qual a ilusão cinematográfica transborda para a própria realidade.
Razão pela qual, muitos leitores em comentários começaram a demonstrar um estranhamento quanto aos rumos das postagens do Cinegnose: afinal, esse é um blog de cinema ou de política?  O Cinegnose estaria perdendo a “coerência”? Estaria se tornando “ideológico” (como se existisse alguma forma de pensamento “pura” e, portanto, “não-ideológica”...) ou partidário?
É claro que dentro do auge da polarização política insana que foi induzida na opinião pública (parte da tática de guerra híbrida), esse blog perdeu muitos leitores que nos acusaram de “petralhas”, ou qualquer coisa financiada pelo “Fórum de São Paulo” ou até diretamente pelo “ouro de Cuba”!
Isso sem falar nos “terra-planistas” (ao lado dos neo-malthusianos, eugenistas e lombrosianos, mais uma esquesitice do século XIX que ressuscitou no século XXI com a reação neoconservadora) que nos infernizaram graças a duas postagens em que procurávamos entender à razão do revival das teorias da “Terra Plana” – além de “petralhas”, ainda fomos acusados de participar de uma suposta “conspiração da NASA”...
Rumando para uma década, o blog vem conseguindo ir muito além de uma discussão puramente diletante ou hermética do Gnosticismo. Seguindo o exemplo de pensadores contemporâneos como Jean Baudrillard, Theodor Adorno e Cioran, que transformaram a influência gnóstica em pressuposto metodológico para compreender a realidade, o Cinegnose procura levar os princípios ontológicos do Gnosticismo para a Semiótica, Teoria da Comunicação e Cinema.

Jean Baudrillard e Theodor Adorno - "cabeças" do Cinegnose

Influência gnóstica

 Mas o quê ganharia essas áreas da linguística, comunicação e audiovisual com a influência gnóstica?
Para o Gnosticismo a realidade é ilusão. Mas não apenas por uma questão moral, filosófica ou ideológica no sentido de “falsa realidade”. Quanto mais os eventos políticos, econômicos, e até mesmo naturais, são mediados pelos meios de comunicação de massas e de convergência (dispositivos móveis, plataformas, aplicativos etc.), mais a realidade parece querer copiar as imagens e narrativas que esses meios fizeram anteriormente sobre a própria realidade.
No sentido baudrillardiano, a realidade se transforma em hiper-realidade. Por isso, a urgência da crítica da comunicação se valer da ontologia gnóstica para furar a ilusão de uma realidade cujo ponto de partida (o seu “vir-a-ser”) já é falso.
Mas ainda o Cinema é o eixo principal das reflexões do Cinegnose. Se o cinema é um dispositivo que descende diretamente do Mito da Caverna de Platão e a realidade tenta cada vez mais ficar parecida com o Cinema, então a análise fílmica é a chave para entender esse mundo gnóstico de ilusões.

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