quinta-feira, outubro 26, 2017

"Cinegnose" debate na UFRRJ como o País foi psiquicamente envenenado pela grande mídia


Como foi possível uma ação midiática organizada ter não só desestabilizado um governo para jogar o País numa surreal crise política, mas também ter envenenado psiquicamente a esfera pública de opinião, travando o debate político racional pelo ódio e intolerância. Esse foi o tema central das discussões durante a apresentação que esse humilde blogueiro proferiu na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, na cidade de Seropédica, nessa última terça-feira. Sob o tema “Mídia, Hegemonia Política e Intervenção Social”, este editor do “Cinegnose” procurou articular os conceitos de “Bomba Semiótica” e “Guerra Híbrida” para entender os momentos em que a grande mídia nacional interveio politicamente, desde o golpe militar de 1964 até os atuais movimentos táticos da Guerra Híbrida. Como se forma uma engenharia de opinião pública e as possíveis táticas de “guerrilha antimídia”. E como as novas tecnologias e a blogosfera podem ser os instrumentos desse tipo de ação direta.

Este humilde blogueiro participou da abertura do II Seminário de Qualidade de Vida, Sustentabilidade e Economia Alternativa na tarde de terça-feira (24/10) na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) no campus da cidade de Seropédica. Sob o tema de “Mídia, Hegemonia Política e Intervenção Social” apresentação foi seguida de perguntas e debates, girando em torno de dois conceitos bem conhecidos pelos leitores deste Cinegnose: Bombas Semióticas e Guerra Híbrida.

A apresentação buscou fazer uma reflexão sobre a atuação política da grande mídia brasileira no período de 2013-16, sobre as consequências políticas e culturais do monopólio dos meios de comunicação, além de relembrar oportunidades perdidas no passado para reverter essa realidade e apontar possibilidades futuras de uma ação antimídia.

Estiveram presentes na abertura do seminário o pró-reitor de Extensão Roberto Carlos Costa Lelis, o pró-reitor de Graduação Joecildo Francisco Rocha, a diretora do Instituto de Educação (IE/UFRRJ) Ana Cristina Souza dos Santos, a diretora do Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS/UFRRJ) Maria do Rosário Roxo, além de representantes da Organização das Cooperativas Brasileiras (Sescoop) e do Banco do Brasil. 


Tudo organizado pela incansável Profa. Dra. Lúcia Valadares do Instituto de Educação da UFRRJ. 

E já que os conceitos-chave do Seminário eram meio ambiente e sustentabilidade, nada mais oportuno do que abordar as relações da mídia e sociedade como um imenso ecossistema simbólico e psíquico: a “midiosfera” ou “semiosfera” – um contínuo midiático na qual se trata menos de comunicar informações, do que contaminar semioticamente a esfera pública: moldar a percepção com elaboradas táticas de engenharia de opinião.

O editor do "Cinegose", após estoicamente enfrentar o medo de avião na viagem até o Rio

Abrindo a caixa de ferramentas


A apresentação começou, por assim dizer, abrindo a caixa de ferramentas conceituais com os quais trabalharíamos naquela tarde: conceitos de monopólio da comunicação, hegemonia política, Guerra Híbrida, Estratégia Hipodérmica e Bomba Semiótica.

Monopólio midiático ocorre quando produção e distribuição estão concentrados em um grupo de comunicação. Descrevemos o caso brasileiro do monopólio não apenas da Globo, mas um monopólio televisivo pelo modelo de concentração publicitária nessa mídia – e o exemplar caso do chamado “Bonificação por Volume” (BV) da Globo.

Além das diferentes legislações e regulações de comunicação do Brasil e do mundo.

Depois, fizemos uma pequena comparação histórica entre dois períodos do papel midiático na intervenção política: o período 1962-64 culminando com a queda de João Goulart e o golpe militar; e o período 2013-16 concluindo com o impeachment da presidenta Dilma.

Dois períodos nos quais a grande mídia assumiu o papel de oposição política: no primeiro momento com uma “Estratégia Hipodérmica”, baseada na repetição e doutrinação político-ideológica – o anticomunismo numa geopolítica de Guerra Fria.

Estratégia baseada no paradigma da Teoria Hipodérmica ou “Bala Mágica”, de Harold Lasswell. do período entre guerras, no qual as teses da psicologia behaviorista (condicionamento psicológico e comportamental) eram aplicadas na ações midiáticas.

E no segundo, a recente, a estratégia mais sofisticada da Guerra Híbrida dentro da qual manipula-se a cognição e a percepção da realidade. O objetivo não é tanto a inculcação ideológica, mas criar um horizonte de eventos, percepções e sentimentos que legitima determinada agenda política através de uma atmosfera de desestabilização, insegurança, medo, ressentimento e ódio. 


Quatro passos da contaminação psíquica nacional


Apresentei os quatro passos através dos quais as “bombas semióticas” contaminaram a semiosfera brasileira – “bombas semióticas”: Armas retóricas, linguísticas e semiológicas, não para doutrinação partidária ou ideológica. Mas para criar ondas de choque e impor a narrativa de que o País naquela oportunidade estava à beira do abismo, mergulhado no caos, baderna, na crise política e econômica.

Passo 1: Caos (por meio da retórica visual e textual, conotar que o País estava à beira do abismo econômico e moral com a corrupção endêmica); passo 2: etnografia do neoconservadorismo (a criação de jovens com valores neoconservadores inspirados nos valores da meritocracia e empreendedorismo que, mais tarde, sairiam nas ruas com as camisas amarelas da CBF); passo 3: Teledramaturgia e agenda política (legitimação da agenda política por meio de novelas e minisséries da Globo); passo 4: radicalização e polarização (açodamento do protofascismo, politicamente incorreto por meio de trolls, web robots e espaço na mídia ao chamado “baixo clero” do Congresso – bancada da bala, Bíblia e Boi. Com isso, envenenar a esfera pública, impedindo qualquer debate político racional).

Em seguida, o debate expandiu o conceito de Guerra Híbrida, baseada nas técnicas de Agenda Setting e Espiral do Silêncio.

A partir do exemplo de filmes como Mera Coincidência (Wag The Dog, 1997) e Obrigado Por Fumar (Thank You For Smoking, 2005), vimos como funciona um fluxograma de engenharia de opinião na Agenda Setting e os processos de criação artificial da “espiral do silêncio” e profecias autorrealizáveis” – veja slides no final dessa postagem.

Também foi apresentado como em contextos como o brasileiro de forte concentração midiática, os efeitos dessa engenharia se tornam ainda mais rápidos e nefastos – mais rapidamente atinge o triplo objetivo de hegemonia política na mídia: acumulação, consonância e onipresença.










O roteiro de uma Guerra Híbrida


Em seguida, vimos o roteiro completo de uma Guerra Híbrida, aplicado nas diversas “primaveras” em torno do planeta até chegar no Brasil em 2013, dentro da geopolítica do Departamento de Estado norte-americano. Um roteiro composto por oito passos, podendo se estender a um nono quando necessário: sair do confronto das armas simbólicas e partir para as armas reais – armadas rebeldes ou sanções econômicas a países recalcitrantes.

A apresentação desse humilde blogueiro terminou explorando as possibilidades de uma espécie de “guerrilha antimídia” (inspirado no conceito de “gerrilhas semiológicas” do italiano Umberto Eco), com ações já existentes e colocado em prática por muitos ativistas anti-globalização.

 Duas táticas: media prank (pegadinhas) e culture jamming (trolagem) e dois exemplos brasileiros – o documentário O Abraço Corporativo (2014, sobre um jornalista que criou um personagem que enganou a grande mídia) e a experiência seminal do personagem “Ernesto Varela” (Marcelo Tas), nos anos 1980, onde “trolava” entrevistas com políticos e autoridades.


Os debates finais com a plateia foram bem positivos: a midiosfera e as novas tecnologias como dispositivos para furar esse bloqueio da grande mídia.

Mas também resgatar uma variedade cultural e linguística perdida, principalmente no Brasil onde o monopólio midiático impôs o “globês” no lugar do português e sua variedade regional e linguística.

Terminamos comparando o Brasil com os de outros países latino-americanos, e a excepcionalidade do caso brasileiro: aqui, a concentração publicitária na TV conseguiu o ineditismo de massificar uma grade de programação única num país de dimensões continentais e com uma variedade regional riquíssima.


  

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