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sábado, novembro 02, 2013
Estudante implode bomba semiótica do Enem
sábado, novembro 02, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Sem querer o estudante da USP que simulou ser um candidato atrasado do
Enem, cujas fotos ocuparam primeiras páginas de jornais e portais de Internet,
acabou abrindo uma perspectiva de contra-ataque na verdadeira guerrilha semiológica que
toma conta da opinião pública brasileira: contra a manipulação midiática, a
simulação; contra a mentira, o seu paroxismo: o simulacro! É a “bomba
pós-moderna”, que ajudou não só a implodir como colocou a nu o processo de
construção de bombas semióticas, como as que a mídia detona contra o Enem. A estratégia irônica do
contra-ataque através da simulação como forma de desmoralizar a mídia segue a tática como a do agitador cultural Joey Skaggs (famoso nos EUA por "pegadinhas" contra a
TV e jornais) e de manifestantes em Portugal contra as políticas de austeridade.
Nessa semana, uma pessoa fez
mais estragos que dezenas de black blocks depredando fachadas de bancos e de lanchonetes multinacionais. Trata-se de um aluno do curso de Ciências
Contábeis da USP, Flávio de Queiroz, que simulou diante de fotógrafos e
jornalistas ser um candidato atrasado na prova do Enem realizado no último domingo. A
foto dele dramaticamente tentando escalar as grades da Uninove, na Barra Funda,
São Paulo, saiu em portais da Internet e primeira página do jornal Folha de São
Paulo ao lado de uma sombria manchete: “Quase um terço dos candidatos não faz
Enem”.
Ao lado
da barrigada da rádio CBN em que uma ansiosa repórter confundiu um aviso de um
curso de alemão na USP como um aviso cifrado da bandidagem sobre a chegada da
polícia para apressadamente confirmar uma pauta estipulada pela reportagem (veja links abaixo), o
episódio da simulação do aluno atrasado do Enem pôs a nu o processo de montagem
da notícia com a finalidade de torná-la uma bomba semiótica.
domingo, julho 07, 2013
A semiótica das fotografias de casamento
domingo, julho 07, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Cresce o número de
divórcios no País, mas o mercado de casamentos é promissor com uma expectativa
de movimentar 16 bilhões de reais em 2013. Como explicar o paradoxo de uma
instituição que simbolicamente se esvazia diante de formas alternativas de
relacionamentos afetivos, mas que economicamente cresce como mercado de consumo
de bens e serviços? Talvez encontremos uma pista nas fotografias de casamento.
Com a ajuda da Semiótica, podemos descobrir no sistema de significados dessas
fotografias estratégias irônicas e de autodistanciamento que explicariam como
noivos e familiares perpetuam uma instituição cada vez mais psiquicamente
colocada em xeque.
Acompanhamos um curioso fenômeno
próprio de uma sociedade midiatizada como a que vivemos: a sobrevida de
instituições sociais tradicionais por meio de uma espécie de “autoconsciência
irônica”. Instituições que foram esvaziadas simbolicamente em sua autoridade,
legitimidade e significado (seja social, econômico, religioso, metafísico etc.)
pelas transformações sócio-históricas, mas que permanecem como “instituições
zumbis” que ganham uma sobrevida ao serem mercantilizadas e transformadas em
células de consumo dentro do sistema econômico.
A família seria uma dessas
instituições, como já vimos em postagens anteriores (veja links abaixo): a
perda da autoridade paterna tem uma relação direta com a idealização da família
perfeita presente nos comerciais de produtos matinais e de sabão em pó. Ao
mesmo tempo, acompanhamos o cultivo de um autodistanciamento irônico através da
crítica corrosiva em animações como “Os Simpsons” ou “The Family Guy” onde pais
e filhos riem de si mesmos.
sábado, junho 29, 2013
Bombas semióticas explodem na mídia
sábado, junho 29, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Paralela à escalada de manifestações no País, nesse momento em cada
redação de um veículo de comunicação e em cada cobertura jornalística nas ruas,
está sendo travada uma verdadeira guerrilha semiótica: um enorme aparato de
recursos bélicos retóricos, linguísticos e semiológicos está sendo mobilizado
para saturar fotografias e vídeos com significações que apontam para uma
estratégia discursiva bem evidente: a imagens devem ser testemunhas da
instabilidade, caos e baderna que dominaria a Nação. Encontramos duas “bombas
semióticas” (uma no Portal Terra e outra na autodenominada “edição histórica”
da revista Veja) e tentamos desmontá-las em um exercício de engenharia reversa.
Bombas camufladas em informação, mas que explodem para criar ondas de choque de
um tipo de propaganda baseada no esvaziamento de dois símbolos: a da “bandeira
nacional” e o do “manifestante”.
Junto com as manifestações nas ruas de várias
cidades no País, está ocorrendo uma guerrilha de um tipo muita especial: uma
guerrilha semiótica nas mídias. Depois da primeira semana em que se viram
perplexos diante das manifestações que saíram do script do jogo
político-institucional e reponderam de uma forma reflexa (taxando os
manifestantes de “criminosos” e “politicamente burros”) os meios de comunicação
monopolistas encontraram uma narrativa em que podiam ser encaixados os
acontecimentos: o roteiro da escalada da instabilidade, descontrole e baderna
que estaria minando o governo federal.
Para tanto, nesse momento está sendo mobilizando um
impressionante aparato retórico, linguístico e semiótico em fotografias e
vídeos. Uma mobilização talvez somente comparável às estratégias discursivas de
períodos de guerra como a propaganda política norte-americana e nazista durante
a Segunda Guerra Mundial.
domingo, maio 05, 2013
A Semiótica de Che Guevara
domingo, maio 05, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Quando o fotógrafo
Alberto Korda selecionou o fotograma de número 40 do rolo Kodak com uma série de
fotos de um evento em Havana, Cuba, em 1960 e deu o nome para ele de “Guerrilheiro
Heroico”, jamais imaginava o destino do personagem Ernesto Che Guevara na
mitologia contemporânea. O ícone atual em alto contraste em carros, baús de
motoqueiros ou bandeiras de torcida de futebol é o resultado de sucessivos
sistemas linguísticos parasitários que foram se sobrepondo e se sedimentando na
cultura de massas, até o simbolismo ideológico se converter em mensagem
motivacional e autoajuda.
Pedalava pela rodovia Raposo
Tavares voltando de mais uma manhã de aulas na Universidade Anhembi Morumbi/São Paulo quando passou por mim um desses carros estilo off road esportivo importado com o pneu estepe na traseira do
veículo. Não pude deixar de perceber na capa protetora que envolvia o pneu
estampada a clássica fotografia de Che Guevara como “Guerrilheiro Heroico”,
estilizada em alto contraste. A subida era acentuada, mas a fadiga pelas
pedaladas mais pesadas não diminuiu a minha perplexidade: o que está fazendo um
ícone político-ideológico revolucionário no estepe de um carro destinado para
motoristas de alto poder aquisitivo? Será que o motorista era algum “burguês
esclarecido”? Alguma coisa estava fora do lugar.
Nessa mesma semana passei,
então, a prestar mais atenção às versões e outros lugares inusitados onde
apareceria a foto do “Guerrilheiro Heroico”. Vi em um baú de entregas de um
motoqueiro, na camisa de um aluno na versão “Chê Madruga” (Seu Madruga da série
cult “Chaves” travestido de boina e o mesmo olhar compenetrado) e na TV em
bandeiras de uma torcida organizada de futebol do time Internacional de Porto
Alegre.
quarta-feira, abril 24, 2013
A ficção midiática contamina o atentado de Boston
quarta-feira, abril 24, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Para quem lida com análise
fílmica e estrutura de roteiro como esse autor, é impossível não perceber um
estranho mix entre ficção e realidade no incidente das bombas detonadas junto à
linha de chegada na Maratona de Boston: o timing de todos os acontecimentos
subsequentes até a captura dos “suspeitos” (estranha expressão porque desde já
estão condenados à morte), os fatos encadeados como em um clássico roteiro com
a narrativa dividida em três atos (atentado/perseguição/captura) com timing de
filme de ação hollywoodiano, a facilidade de captação de imagens de toda a ação
pelas mídias, e, por fim, as clássicas e emotivas imagens de velas sendo
erguidas em homenagem à vítimas e pessoas histéricas gritando “USA! USA!”
enquanto o “suspeito” sobrevivente era levado preso.
Impressiona como a ambiguidade
dessas imagens (jornalísticas e, ao mesmo tempo, com forte carga retórica como
o detalhe em close de uma sacola com a bandeira dos EUA em uma calçada manchada
de sangue) acaba produzindo uma espiral de interpretações tanto conspiratórias
(a “operação false flag” ou autoterrorismo) quanto um atentado arquitetado por “facções
radicais”.
domingo, março 24, 2013
A canastrice dos sete dispositivos da propaganda
domingo, março 24, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
"Mera coincidência" (Wag The Dog, 1997) |
Em 1940 um artigo denunciava
os chamados “sete dispositivos da Propaganda” e exortava os leitores a detectá-los por ser uma necessidade absolutamente vital para não serem enganados. Setenta e três anos
depois esses dispositivos continuam ativos apesar da absoluta obviedade,
exagero, “overacting” e, principalmente, canastrice dos intérpretes desses
verdadeiros scripts que são reeditados sob uma roupagem moderna e descolada por
marqueteiros e publicitários. Como é possível que depois de tanto tempo esses
dispositivos continuem na linguagem da mídia, da Política, do Marketing e da
Publicidade? E, apesar da explícita natureza fake e não-espontânea desses
dispositivos, continuam a pautar a sociedade e conquistar corações e mentes. Qual
a causa dessa invasão da canastrice na política e na esfera pública?
Nesse final de semana um amigo
mostrou-me um antigo exemplar de uma revista de artes gráficas norte-americana
chamada “Print - A Quartely Journal of the Graphic Arts” de setembro de 1940. É
muito mais do que uma revista, pois combina delícias visuais e belíssimas
fotografias com textos pesados e com foco sério.
A revista abre com um ensaio
intitulado “Propaganda e Artes Gráficas – a influência na opinião pública para
a Unidade Nacional” de William E. Rudge. O texto nos oferece diversos exemplos
de “mensagens positivas”, abordando como o design gráfico pode ser uma
ferramenta para “condicionar o comportamento humano”. Rudge escreve: “é
absolutamente vital distinguir, através da compreensão e análise, a boa e a má
propaganda. Não se deixe enganar!”.
quinta-feira, fevereiro 14, 2013
A Semiótica das fotografias corporativas
quinta-feira, fevereiro 14, 2013
Wilson Roberto Vieira Ferreira
As chamadas
fotografias corporativas acabaram se tornando um subgênero fotográfico,
onipresentes em banco de imagens, templates de blogs e sites, slides de
apresentações de qualquer natureza e, claro, no endomarketing de empresas.
Fotos onde são mostradas pessoas em situações positivas, motivadas, otimistas e
de boa fé. De “tecnologia de poder” que busca criar a autoimagem e justificativa
de instituições totais como empresas, hoje esse estilo de composição
fotográfica invade outros campos como educação, saúde, internet e publicidade. São
tidas como fotos “inspiradoras” e “motivacionais” em apresentações e
treinamentos de Recursos Humanos. Porém, não resistem a uma análise semiótica,
capaz de explicitar toda a carga de mitologia, estereótipo e retórica a partir
da qual são estruturadas.
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