sexta-feira, janeiro 01, 2021

A história secreta do Natal e Réveillon: Jesus, Iemanjá e Cabala Hermética, por Claudio Siqueira


2020 foi um ano retratado como catastrófico de forma profética por várias obras distópicas como Blade Runner e a HQ Visões de 2020. E nesse primeiro dia do ano, o Cinegnose fala sobre os dois grandes acontecimentos de todo fim de ano: o Natal e o Réveillon. Porém, sem querer contar a origem do Natal ou do Papai Noel, como sempre o jornalismo tenta fazer nessa época do ano. Mas dessa vez vamos contar uma história secreta: três das muitas versões do mito de Jesus Cristo e a presença de Iemanjá e da cabala hermética nos tradicionais rituais de final de ano.

E chegamos ao final de 2020, Cinegnósticos, mas não ao final do ano do Sol, que só acaba no dia 20/03/2021. Não vou fazer como em outros blogues e contar a origem do Natal, do Papai Noel e do panetone. Após um imenso hiato, estou de volta (e devendo a análise do game Planetscape – Torment para o leitor Lucas, que a pediu na análise do game Samorost 3 - clique aqui) apresentando não a origem, mas três das muitas versões do mito de Jesus Cristo, o aniversariante do mês de dezembro, “zeitgastando”, e, de quebra, explicando o porquê do ritual para Iemanjá na virada do ano, do ponto de vista da cabala hermética.

O Mito Egípcio da Criação

Vamos começar com o mito egípcio que representa não só o arquétipo crístico como a origem da Santa Ceia. Todos os povos possuem o seu mito da criação e com os pitorescos egípcios não poderia ser diferente. 

No início, não havia nada, claro. Na verdade, no início havia apenas o nada, escuro. Nun, o oceano caótico e primordial e Atum, o Sol disforme como uma gema de ovo. Lacanianamente, Atum se percebe como um “Eu” separado do grande todo e exclama “Rá!”, a interjeição que acabou se tornando, por metonímia, o nome do deus em suas variantes (Atum-Rá, Amon-Rá, etc.). Rá também possuía outras variantes com outros nomes (que não tal interjeição) de acordo com a posição do sol, mas isso é assunto para outro artigo.

O fato é que Rá era “Aquele que criou a si mesmo”, sendo um sol e, portanto, um arquétipo do ego primordial, além de ser “O grande Ele e Ela”, também um arquétipo do Andrógino Primordial, como o Adão Cadmo. Fez emergir a Colina Primordial, a primeira matéria sólida de toda a Criação. Neste ínterim surgem Shu, o ar e Tefnut, a umidade. Deles nasceram Nuth, o Céu e Geb, a Terra. 

É interessante notar que, ao contrário da mitologia greco-romana, onde o aspecto masculino é representado pelo céu, Urano, e o feminino pela Terra, Gaia, a cosmogonia egípcia pressupõe que a abóbada celeste é feminina e as circunvoluções montanhosas, o corpo de Geb pegando um bronze. Como Rá proibira o casamento de ambos, ordenou que Shu separasse o casal, gerando a atmosfera necessária para a criação da vida. 

Da cópula da Céu com o Terra, nasceram os quadrigêmeos OsírisÍsisSeth e Néftis. Osíris desposou sua irmã Ísis e os outros dois formaram o segundo casal. Malandramente, Néftis se metamorfoseia em Ísis para transar com Osíris e consegue seu intento. Desse adultério incestuoso, nasce Anúbis, com cabeça de chacal. Embora Seth possua cabeça de cão, não se sabe como descobriu a traição da esposa irmã e escorpianamente planeja sua vingança. Convida Osíris para um banquete, mito que deu origem à história da Santa Ceia.



Dopado por seu irmão, Osíris acabou sendo esquartejado e não sabemos se estava consciente ou não. O fato é que Seth esquartejou Osíris e “desovou” (Despensar o cadáver ou os restos mortais da vítima, em carioquês) seus pedaços no Rio Nilo. Desesperada, Ísis chora o martírio de seu irmão esposo, a eminência parda por detrás da Paixão de Cristo.

Disposta a reviver seu irmão esposo, Ísis dá um rolé pelo Nilo com a barca comandada por Sobek, o deus com cabeça de crocodilo. Francamente nunca encontrei a origem do deus Sobek e talvez ele seja a própria representação do Rio Nilo em si. Ísis e Sobek conseguiram achar todas as peças do quebra-cabeças corporal, menos a parte essencial para a reprodução. 

Ísis estava disposta a copular com Osíris uma última vez antes que “subisse aos céus” e decepou um de seus polegares para servir de enxerto. Na quiromancia, o dedo polegar é considerado o dedo de Vênus, a versão romana de Afrodite, deusa das águas e da fertilidade, na mitologia grega.

Ressuscitado, ou ao menos recauchutado e todo remendado, Osíris era agora uma múmia procriadora e conseguiu engravidar Ísis, que deu à luz Hórus, o deus com cabeça de falcão. Disposto a vingar seu pai, Hórus chama seu tio Seth para um duelo, que demorou eras. Nesta batalha, perdeu seu olho esquerdo, que passou a ser conhecido como o Olho de Hórus.

A ideia de morte e ressurreição de Osíris constitui a fórmula aeônica da Era de Peixes. Sendo Osíris uma das representações do deus Sol, a ideia de morte e ressurreição permeava as civilizações antigas, que viam o sol se pôr e não tinham certeza se viria a nascer no dia seguinte. 

As civilizações pré-colombianas, que também construíam pirâmides (embora trapezoidais) realizavam rituais de sacrifício para incentivar o sol a nascer na manhã seguinte. Assim como no feng shui, onde cada ponto cardeal (Norte, Sul, Leste, Oeste) possui uma cor e corresponde a um elemento, no Calendário Maia o Leste corresponde a Água e sua cor é o vermelho. O simbolismo se dá pela cor do sangue, que é líquido e o deus sol só ressurgiria mediante um sacrifício de sangue, que, no caso, consistia em extrair o coração. Não por acaso, a sexta sephira da cabala, Tiphareth (o Sol) se situa no chackra do plexo solar, numa correlação corporal.


A morte de Osíris e sua substituição por Hórus tipifica a mudança de paradigma da Era de Peixes para a de Aquário, onde o sacrifício, representado no esquartejamento de Osíris, na castração de Urano e na crucificação do Cristo dá lugar a um paradigma que não é mais teocêntrico (os deuses fizeram o ser humano às suas imagens e semelhança) nem antropocêntrico (a humanidade criou os deuses à sua), mas uma fusão de ambos onde os seres humanos se veem como deuses criadores da realidade já que cada pessoa está limitada a sua própria percepção individual.

Antes de crescer e se tornar apto a enfrentar seu tio Seth, o menino Hórus se chama Harpócrates e aparece no colo de Ísis, imagem mimetizada pela Igreja Católica na figura de Maria com o menino Jesus.


O Mito Grego da Criação

O mito grego possui duas passagens, uma semelhante à traição de Judas e ao esquartejamento de Osíris e outra – a principal – semelhante à fuga para o Egito.

No início, havia apenas o céu, a terra, o oceano e o tempo. Respectivamente, UranoGaiaOceano e Cronos. Urano e Gaia tiveram vários filhos: o Sol (Héios), Mercúrio (Hermes), Marte (Ares), Netuno (Poseidon), Plutão (Hades) e Júpiter (Zeus). O velho Saturno (Cronos) exasperado com a felicidade do jovem casal decide pôr fim àquela putaria celestial e decide castrar Urano para que não mais nasçam deuses. 

Ao arrancar o falo de Urano deixa-o cair em Oceano, do qual emerge Vênus (Afrodite). O mito lembra a história da Vênus de Milo e de Nossa Senhora de Aparecida, como num evento místico-sincrônico e em 12 de outubro de 2021 postarei um artigo sobre ela.  

Não satisfeito, Cronos começa a devorar os deuses-netos um a um, episódio que se assemelha à matança de Herodes aos primogênitos (Mateus 2, 13): “Levante-se, tome o menino e sua mãe, e fuja para o Egito. Fique lá até que eu lhe diga, pois Herodes vai procurar o menino para matá-lo.”

Não sei se alguém avisou à Gaia, mas a Grande Mãe escondeu Zeus em Hiperbóreas, onde o menino cresceu sem que Cronos o encontrasse. Assim como há o hiato entre a infância do Menino Jesus e sua idade adulta e entre Harpócrates e Hórus, também Zeus desaparece neste episódio para ressurgir adulto e enfrentar seu tio Cronos, rasgando seu ventre e libertando seus irmãos.


Hércules, o Jesus da Mitologia Grega


Agora, o mito que mais se assemelha ao de Jesus Cristo é o de Hércules, o semideus grego. Autoproclamado soberano do Olimpo, Zeus vez por outra ludibriava uma mulher humana, frequentemente casada, para deitar-se com ela. Foi assim com Leda, esposa de Tíndaro, do qual nasceram Castor e Pólux [link para o artigo de Cosme e Damião] e com Alcmena, esposa de Anfitrião.

Acontece que Anfitrião estava na Guerra de Tebas com seu servo Sósia. Não que o deus precisasse de uma oportunidade, mas era mais interessante fazê-lo de forma furtiva, mesmo porque, do contrário, configuraria estupro. Apolo não tentara violentar Cassandra, apenas amaldiçoou-a por não aceita-lo; Hades sequestrou Perséfone, mas que eu me lembre só Dionísio violentou Ariadne após ter sido deixada em uma ilha por Teseu.

Mancomunado com Hermes (que provavelmente arquitetou tudo), Zeus ordenou que Apolo estacionasse sua biga (o sol) durante três dias (assim como no Solstício do Natal). Hermes tomou a forma do escravo (de onde deriva o termo sósia) e anunciou a Alcmena o retorno de seu marido, na verdade Zeus transformado em Anfitrião (de onde se originou o termo também).

Ao regressar da guerra, o verdadeiro Anfitrião percebeu que Alcmena sabia de detalhes da guerra que ele mesmo desconhecia. Pra completar, ela estava grávida de gêmeos, sendo um, seu filho, Íficles e o outro, filho de Zeus, Hércules. A Anunciação da concepção imaculada de Maria de Nazaré (Lc 1, 26 a 35) é uma mimesis da concepção de Hércules. Leia-se:

Anfitrião- José

Alcmena- Maria

Zeus- Deus

Hermes (Sósia)- Anjo Gabriel, sendo Hermes (Mercúrio), o deus comunicador e o Anjo Gabriel, o responsável pela anunciação. No mito grego ele ludibria a mulher humana e nem avisa que a concepção é divina.

Hércules- Jesus, o filho de Deus com uma mulher humana.




O Ritual para Iemanjá

Pra finalizar, por que oferecer flores para Iemanjá no fim do ano? No dia 31 de dezembro, o Sol (planeta da astrologia, não a estrela) está em Capricórnio e muda poucos graus em sua transição para 1º de janeiro. 

Na Cabala Hermética cada sephirah, com exceção de Kether (1)Chockmah (2) e Malkuth (10), é associada a um planeta e possui um título, sendo Binah (3) associada a Saturno e chamada de A Grande Mãe. O ato de levar rosas a Iemanjá constitui uma oferenda à Grande Mãe, Binah. já que esta é associada a Saturno, regente de Capricórnio. 

As rosas são o símbolo de outra sephirah, a sétima, Netzach, associada a Vênus. Lembremos que Vênus emergiu do mar após a queda do falo de Urano no Oceano. Embora a cor de Saturno seja o preto, o ato de nos vestirmos de branco serve tanto para equilibrar quanto para dramatizar a fecundação da Grande Mãe. 

O produto de 3 x 7 é igual a 21, a letra hebraica Shin, associada ao elemento Fogo, dando a ignição necessária ao “novo ano,” já que o mesmo só se dá no dia 20 de março. 

Sem mais, cinegnósticos, aproveitem a conjunção de Júpiter e Saturno em Aquário desde 17 e 19 de dezembro deste ano e por todo o ano de 2021. No dia 12 de fevereiro, se encerrará o Ano do Rato (profícuo em proliferação de doenças) e se iniciará o Ano do Boi no calendário Chinês. É provável que o Primeiro CavaleiroA Peste, se extinga ou ao menos nos dê uma trégua. A partir do segundo semestre, termina o Ano da Tormenta e se inicia o Ano da Semente no Calendário Maia. Façam figa, não façam guerra!

Claudio Siqueira é Estudante de Jornalismo, escritor, poeta, pesquisador de Etimologia, Astrologia e Religião Comparada. Considera os personagens de quadrinhos, games e cartoons como os panteões atuais; ou ao menos arquétipos repaginados.


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