quinta-feira, dezembro 15, 2016

Pesquisa coloca Brasil entre países mais "ignorantes" do planeta


Certa vez o sociólogo francês Pierre Bourdieu provocou: “a opinião pública não existe”. A pesquisa “Perils of Perception 2016” (Perigos da Percepção) do instituto britânico Ipsos Mori parece confirmar isso: na verdade a opinião confunde-se com percepção, assim como nos telejornais atuais as notícias são confundidas com “sensações”, seja dos jornalistas ou dos telespectadores. O resultado da pesquisa foi a criação do “Ranking da Ignorância” – a distância entre a percepção que as pessoas têm da realidade em que vivem e os dados oficiais de cada país. O Brasil ocupa os primeiros lugares, atrás da Índia, China e EUA. Entre os países menos “ignorantes”, Holanda e Coréia do Sul. Incapacidade de entender estatísticas, preconceito, atalhos mentais, ignorância racional e o “poder das anedotas” das mídias estão entre os fatores apontados pela disparidade entre percepção e realidade. Também há um fator comum entre os países primeiros colocados: o monopólio midiático.

quarta-feira, dezembro 14, 2016

"Elle Brasil" une Cabala e Tecnognosticismo com modelo robô


Na edição de dezembro a revista de moda “Elle Brasil” figurou na capa a robô Sophia, um dos projetos de inteligência artificial mais avançados do mundo. Clicada pelo fotografo Bob Wolfeson, a ideia do editorial era apontar versões para o futuro da indústria da moda. Mas um robô vestindo roupas vitorianas nada mais fez do que revelar as arquetípicas e milenares origens da Moda, Estilismo e manequins na longa tradição esotérica e hermética da Teurgia, Alquimia e a Cabala Extática – uma longa e secreta história de seres artificiais mágicos como homúnculos, golens e frankensteins. Até chegar aos atuais manequins das vitrinas de shoppings e modelos vivos das passarelas – seres ainda “não formados”, à espera do “espírito” (o Estilo) que lhes dê vida. Assim como o código binário que dá "vida" à robô Sophia. A atual agenda tecnognóstica se encontra com a Moda.  Pauta sugerida pelo nosso leitor Nelson Job.

segunda-feira, dezembro 12, 2016

Em "A Chegada" o homem está incomunicável no Universo


A exemplo de “Interestelar”, o filme “A Chegada” ("Arrival", 2016) é uma ficção-científica desafiadora. Enquanto no filme de Nolan a física quântica e a relatividade buscavam conciliação num ponto distante da galáxia, em “A Chegada” o desafio está naquilo que nos mantêm presos à Terra, assim como a gravidade: a linguagem. Como nos comunicar com visitantes vindos de um ponto distante do Universo através de uma linguagem que nos aprisiona a um tempo-espaço tridimensional? De repente o homem descobre que está incomunicável no Universo. A linguagem não serve apenas para dar nome a coisas e acontecimentos. Traz consequências: nos aprisiona no tempo e memórias. E para nos libertar da realidade construída pela linguagem, somente um salto de fé. Mas não existe almoço grátis. Mesmo um filme tão intelectualmente ambicioso, teve que pagar o preço político-ideológico de uma produção hollywoodiana.  

domingo, dezembro 11, 2016

Curta da Semana: "World Wide Woven Bodies" - sexo e Internet nos anos 90


Muitos ainda devem lembrar do indefectível som do dial-up fazendo a conexão com a Internet ou daquele protetor de tela no qual apareciam canos em 3D. Eram os anos 1990 e a Internet começava a chegar nos lugares mais recônditos do mundo. No interior da Noruega, um jovem começa simultaneamente a descobrir a sexualidade e a Internet. E encontra na seminal rede de computadores um mundo livre de censura que desperta ainda mais a curiosidade sexual instintiva. Esse é o curta norueguês “World Wide Woven Bodies” (2015) com um design de produção que reconstitui de forma precisa aquela época. Um momento único na história onde o tecnológico e o espiritual se fundiram, no qual foi vivido mais plenamente do que hoje a tensão entre os reinos analógico e o digital.

sexta-feira, dezembro 09, 2016

A estranha "linguagem crepuscular" no acidente aéreo da Chapecoense


Assim como trágicos eventos como o Massacre do Colorado, o atentado à Maratona de Boston e os ataques na França, o acidente aéreo que vitimou o clube Chapecoense na Colômbia também está cercado de coincidências ou sincronismos envolvendo mídia, nomes e lugares. Momentos que antecedem trágicos eventos parecem sempre revelar coincidências envolvendo nomes, aniversários e simbolismos. Para o senso comum, não passariam de conexões causais aleatórias. Seria como se a realidade sofresse algum “espasmo” momentâneo antes da tragédia, para depois voltar ao “normal”. Para a chamada hipótese sincromística esses “espasmos” escondem uma rede  formada pelo inconsciente coletivo cuja dinâmica é baseada nas chamadas formas-pensamento e arquétipos. É a “linguagem crepuscular”, conhecida pelo budismo tibetano (por meio de mandalas, mantras etc.) e que no Ocidente pesquisadores em Sincromisticismo buscam estudá-la através da Onomatologia (estudos da origem dos nomes) e Toponímia (origem dos nomes dos lugares) procuram recorrências e padrões nos acontecimentos. O que a tragédia aérea do clube brasileiro poderia revelar?

quarta-feira, dezembro 07, 2016

As oportunidades perdidas na série "Under The Dome"


Tinha tudo para dar certo: uma adaptação de livro do célebre Stephen King e narrativa repleta de alusões gnósticas, esotéricas e políticas. De repente, de um profundo céu azul, cai sobre Chester’s Mill uma gigantesca redoma invisível que isola a cidade do resto do planeta. A redoma testará seus habitantes, retirando deles o melhor e o pior que a natureza humana pode oferecer. Essa é a série “Under The Dome” (2013-2015), do mesmo produtor de “Lost”. Mas o intrigante argumento (com a marca de King ao explorar culpa, medo e o pecado dos personagens) não suportou ao roteiro: uma colcha de retalhos repleta de eventos aleatórios e ricas alusões gnósticas e religiosas que foram apenas jogadas para esticar a série por três temporadas, sem desenvolver de forma consequente nenhuma ideia. O “Cinegnose” analisa as oportunidades perdidas de uma adaptação mal sucedida de Stephen King.

terça-feira, dezembro 06, 2016

Globo expõe metástase do tautismo na tragédia da Chapecoense


Invasão de privacidade e exploração sensacionalista das emoções são traços generalizados na cobertura de grandes tragédias pela mídia. Porém, com a Globo há um elemento mais insidioso: depois de décadas exercendo o monopólio político e comunicacional no País, sua auto-centralidade entrou em metástase através do tautismo (autismo + tautologia). A extensa cobertura da tragédia do desastre aéreo do time da Chapecoense deixou mais explícito esse estado patológico no qual a emissora só consegue olhar para além dos muros cenográficos do Projac através de referências que faz de si mesma. Do “turbilhão de emoções” da narração  do velório coletivo por Galvão Bueno à insistência como repórteres e locutores tiveram que demonstrar a si mesmos emocionados (chegando a fazer “selfies” com celulares), chorando e até consolados pela mãe de um dos jogadores, é como se o tempo todo repetissem: “tenho emoções, logo a tragédia é real!”. Chegando a um surreal “Efeito Heisenberg”: o global Galvão Bueno narrando o outro global Cid Moreira lendo a Bíblia com a mesma inflexão de voz com que lia as notícias do “Jornal Nacional” e narrava as peripécias do Mister M.

domingo, dezembro 04, 2016

O "momento decisivo" na foto símbolo da aprovação da PEC 55


Nos dias recentes uma foto por câmera de telefone celular viralizou na Internet e redes sociais: no salão da Câmara dos Deputados alegres convivas entre comes e bebes, aparentemente indiferentes ao que estava acontecendo para além da ampla vidraça: do outro lado do espelho d’água a violenta repressão aos manifestantes contrários à PEC 55, em meio à fumaça das bombas de gás. Sua autora, proprietária de uma empresa de comunicação acostumada ao meio corporativo e relações com autoridades, não tinha a menor intenção de fazer uma foto de denúncia. Mas, involuntariamente, atingiu aquilo que o fotógrafo Cartier-Bresson chamava de “momento decisivo” e o semiólogo Roland Barthes de “punctum” -  produtos visuais ou audiovisuais podem, dadas certas condições, ganhar vida própria, tornarem-se autônomos e se desvencilhar das pretensões informativas ou propagandísticas dos seus emissores. E no Cinema e na Pintura também há vários exemplos disso. 

sexta-feira, dezembro 02, 2016

"Abandone a esperança aquele que por aqui entrar", diz o filme "Évolution"


Um menino chamado Nicolas vive em uma pequena comunidade à beira do mar onde só existem mulheres adultas, todas estranhamente inexpressivas, que cuidam de seus filhos, todos masculinos e da mesma faixa etária. Ele desenha em seu caderno esboços de experiências que jamais poderia ter vivido naquela comunidade. Junto com essas memórias, cresce a suspeita de que todas aquelas mães escondem um terrível segredo: a obsolescência sacrificial dos jovens. É o filme “Évolution” (2015, co-produção França, Bélgica, Espanha), uma produção europeia que reúne os cinco elementos básicos de uma narrativa gnóstica: estranhamento, esquecimento, paranoia e conspiração de um sistema que não ama aquelas crianças. Lembrando o famoso aviso na entrada do Inferno da "Divina Comédia" de Dante Alighieri: “Abandone toda a esperança aquele que por aqui entrar”.

quarta-feira, novembro 30, 2016

Grande mídia no limiar da Parapolítica com Doria Jr. e Justus


Em 2010, no programa “Show Business”, João Doria Jr e Roberto Justus especulavam a possibilidade de ambos serem candidatos a algum cargo público. Tudo em tom de brincadeira. Hoje, o primeiro já é prefeito e o segundo cogita ser candidato à presidência em 2018, na esteira de Trump, também ex-apresentador do reality Show “O Aprendiz”. Enquanto isso, a crise política criada pelo demissionário ministro do MinC, Marcelo Calero, repercute na vida real o drama ficcional do filme “Aquarius” – Calero tentou faturar politicamente na entrevista concedida ao “Fantástico” da Globo. Em política não há coincidências: há conspiração ou sincronismo. E a junção estratégica desses dois elementos chama-se Parapolítica. Enquanto a Política faz isso de maneira empírica e irrefletida, a Mídia e Indústria do Entretenimento conseguem fazer esse alinhamento de forma consciente. Justus, Trump e Doria Jr. têm a interpretação naturalista: falam o tempo inteiro que não são políticos. São “gestores” e “administradores”, assim como um ator faz o chamado “laboratório” de um personagem para representar de forma naturalista o papel. Tão naturalista, que passa acreditar na própria interpretação. Ao contrário do político tradicional, que ainda vive a tensão entre a verdade e a mentira – a dissimulação. É o limiar de um momento histórico: a guinada para a midiatização da Política (Parapolítica), sem intermediários ainda apegados ao jogo cênico teatral das aparências dissimuladas.

segunda-feira, novembro 28, 2016

Curta da Semana: "Poet Anderson: The Dream Walker" - como escapar das armadilhas dos sonhos?


O cinema sempre mostrou um interesse pelo mundo dos sonhos. Certamente por que o dispositivo cinematográfico (projetor e tela) simula a “tela mental” dos sonhos - o mundo onírico como projeções dos nossos próprios medos, desejos e fantasias. Porém, a inconsciência dessa tela mental pode nos tornar prisioneiros do “terror noturno” ou das formas-pensamento plasmadas no mundo etérico. Esse é o tema do curta de animação “Poet Anderson – The Dream Walker” (2014) dirigido por Tom DeLonge, ex-guitarrista da banda Blink-182. O curta é mais um exemplo da tendência recente da abordagem dos sonhos no cinema e audiovisual: a abordagem mais hermética e esotérica sobre os sonhos lúcidos. Curta sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.

sábado, novembro 26, 2016

Filme chinês "Kaili Blues" desafia espectador ocidental com sensibilidade budista


Numa dos mais ousados planos-sequência do cinema recente, 40 minutos acompanhando a viagem do protagonista no interior de pequenos povoados da China, o diretor Gan Bi busca uma sensibilidade budista mística sobre os pequenos eventos do cotidiano. O filme “Kaili Blues” (2015) é um desafio para um espectador ocidental: enquanto estamos acostumados com um cinema que tematiza as crises existenciais e da perda de identidade, o cinema chinês de Gan Bi busca, ao contrário, o fluxo e a superfície das águas de um rio – a crise surge quando tentamos buscar a permanência nas memórias e na própria identidade. Ilusões que escondem o fluxo contínuo (“samsara”) da vida. Fluxo tão desafiador como o plano-sequência no qual acompanhamos a viagem de um médico que retorna a sua terra natal passando por uma estranha cidade.  

quinta-feira, novembro 24, 2016

Por que Wall Street investe na deficitária indústria de Hollywood?


Franquias hollywoodianas como “Jurassic World”, “Star Wars” e “Velozes e Furiosos” são celebradas pela grande mídia como responsáveis por supostos recordes históricos na indústria do cinema dos EUA. Porém, essa é a superfície de uma auto-imagem que Hollywood faz questão de criar, girando em torno do glamour do Red Carpet e mansões de atores-celebridades nas colinas de Beverly Hills. Porém, a realidade é outra: apenas 5% dos filmes a cada ano são rentáveis. O restantes fica entre pesadas perdas e a falência. Mas desde os anos 1980 cresce o investimento dos fundos de Wall Street nos grandes estúdios e independentes, apesar do negócio ser incerto e com lucros decrescentes diante de filmes com orçamentos e retorno imprevisíveis. Por que os ricos fundos de investimento de Wall Street continuam a financiar produções do cinema, quando poderiam investir em negócios mais seguros? É a pergunta que faz o artigo “The Hollywood Economics” de Sophie Leech, do site “The Market Mogul”. Afinal, qual é o tipo de lucro procurado por Wall Street? Financeiro ou ideológico e político?

quarta-feira, novembro 23, 2016

Em "As Filhas do Fogo" o mundo dos mortos encontra os vivos em plena ditadura militar



Muitas vezes acusado de fazer filmes “vazios” ou “sem brasilidade”, em pleno processo da abertura política na ditadura militar o cineasta Walter Hugo Khouri escreveu e dirigiu o filme “As Filhas do Fogo” (1978) com um casal lésbico como protagonista em uma clássica trama gótica na qual os universos dos vivos e dos mortos se encontram, sob a trilha musical sombria e hipnótica do maestro Rogério Duprat. Um momento onde a abertura a temas espiritualistas, místicos e parapsíquicos andou ao lado da abertura política brasileira. Um filme que vale à pena ser revisto, principalmente pela forma como Khouri constrói uma trama que aspira à universalidade nas locações de Gramado e Canela/RS – objetos, personagens e a natureza circundante que parecem encarnar arquétipos tanto freudianos quanto gnósticos. Tudo isso no momento em que a ditadura militar desmontava o cinema brasileiro por meio da Embrafilmes.

segunda-feira, novembro 21, 2016

Vídeo revela surto semiótico-esquizofrênico que se espalha pelo País


Compenetrada e em tom de grave denúncia, um dos manifestantes que invadiram a plenária da Câmara dos Deputados na semana da passada, pedindo “intervenção militar institucional” no País, gravou um vídeo no qual aponta para um painel dos 100 anos da imigração japonesa dizendo: “cena nojenta, a nossa bandeira com o símbolo vermelho...”, numa alusão a um suposto complô comunista para alterar a bandeira nacional. Na verdade a bandeira era do Japão. E o círculo vermelho, o simbólico Sol Nascente. O vídeo da manifestante viralizou nas redes sociais como uma insólita gafe que, no máximo, provocaria apenas vergonha alheia. Porém, é mais do que isso: é um sintoma de um País doente, um surto semiótico-esquizofrênico. Patologia que, recentemente, acometeu até uma emérita professora de Semiótica que viu nas ciclofaixas pintadas de vermelho uma cilada subliminar do Comunismo em São Paulo. Originado no próprio cotidiano esquizoide das classes médias (submetidas a mensagens contraditórias da sociedade de consumo), e após ser açodada pela grande mídia para apoiar o recente golpe político, hoje a patologia espalha-se endemicamente na sociedade expondo três sintomas principais: paranoia, hebefrenia e catatonia.

sexta-feira, novembro 18, 2016

Em "Sid & Nancy" lixo e fúria no drama gnóstico do Punk Rock


Poucos meses depois da suspeita de ter matado a própria namorada, Nancy Spungen, o baixista da banda punk Sex Pistols, Sid Vicious, morreu numa overdose de heroína aos 21 anos. O que lhe valeu um lugar no panteão dos ícones trágicos, ao lado de James Dean, Marilyn Monroe e Elvis Presley. Nele, lixo e fúria se encontraram em um drama muito maior do que a história de um menino que não estava preparado para a fama. “Sid & Nancy – O Amor Mata” (1986), de Alex Cox, mais do que um Romeu e Julieta entre cuspes e palavrões, expõe um drama arquetípico para todas as sociedades: o drama gnóstico do último grito de revolta do jovem antes de ser sacrificado nos rituais de passagem para a vida adulta sem esperança. E como a Luz espiritual do jovem (alegria, confiança, boa fé, fúria e revolta) é roubada como combustível que dá vida a uma indústria de entretenimento vazia, assim como mostrado em filmes gnósticos como “Show de Truman” e “Matrix” – protagonistas prisioneiros para servirem de estoque de energia para manter funcionando seja um reality show ou um mundo virtual.

quarta-feira, novembro 16, 2016

"Doutor Estranho" submete elementos místico-gnósticos ao clichê da quebra e retorno à ordem


Por um lado, “Doutor Estranho” é uma evolução no universo Marvel: no lugar de super-soldados e playboys tecnológicos, a magia e a inteligência. Mas do outro, a magia (com referencias gnósticas e budistas) não é libertária mas destinada a manter a “ordem natural”: a seta do Tempo, a entropia e a morte – justamente as falhas cósmicas que o Gnosticismo de produções como “Matrix” ou “Sense8” e o budismo tibetano (uma fonte de inspiração do personagem) denunciam como prisões na “Roda do Samsara” – ciclo vicioso da morte/reencarnação. Em "Doutor Estranho" quem pretende romper com a ilusão são os vilões (a “Dimensão Negra” ) e os heróis são aqueles que punem quem pretende quebrar a Ordem. "Doutor Estranho" explicita o clichê narrativo hollywoodiano que é o cerne ideológico do entretenimento comercial: "quebra-da-ordem-e-retorno-à-ordem" – a luta para que a ordem seja mantida. Mas o que realmente fascina o público no filme é o show da possibilidade de que a ordem será toda mandada pelos ares. Até a magia colocar tudo no lugar.

segunda-feira, novembro 14, 2016

"Enter The Void", drogas e o Livro Tibetano dos Mortos


Um cineasta ateu que não crê em reencarnação faz um filme inspirado no “Livro Tibetano dos Mortos”. Essa é a principal virtude de “Viagem Alucinante” (“Enter The Void”, 2009) do diretor argentino Gaspar Noé. Dessa maneira, o diretor consegue demarcar a diferença entre filmes religiosos e doutrinários daqueles que nos desafiam a pensar. “Enter The Void” é tão extremo, sincero e desafiador como a produção anterior “Irreversível” (2002): as visões flutuantes sobre Tóquio a partir da alma do protagonista que foi mortalmente baleado sob efeito da droga DMT, acompanhando os três níveis de consciência pós-morte tais como descritas no livro tibetano. Neon e profusão de luzes de uma Tóquio que mais parece uma máquina de pinball vão acompanhar uma jornada espiritual de autoconhecimento em meio a sexo e violência.

domingo, novembro 13, 2016

Curta da Semana: "Are You Lost In The World Like Me?" - o espelho negro do smartphone


Mais um protesto antissistema que parte do interior do próprio mainstream musical. É o vídeo-clip “Are You Lost In The World Like Me?” do DJ norte-americano Moby. Uma animação onde Disney parece se encontrar com Aldous Huxley. Um mundo distópico de tecno-fatalismo no qual todos são escravos dos verdadeiros espelhos negros narcísicos atuais representados pelas telas dos smartphones. Como todo produto industrializado que quer ser anti-establishment, forma e conteúdo estão em conflito – invoca o arquétipo do Estrangeiro (alienação e estranhamento) mas, ao mesmo tempo, cria um melancólico conformismo com a previsível estética da animação vintage e o retrô musical dos anos 1980. É a “Adgnose” na Publicidade atual.

sábado, novembro 12, 2016

Tautismo e Sincromisticismo na profecia de "Os Simpsons"


Em 2000, o cenário com Donald Trump presidente era o mais insano e ridículo que os criadores de “Os Simpsons” poderiam imaginar. Para o criador Matt Groening “estava além da sátira”. O episódio “Bart To The Future”, há 16 anos, mostrando uma Lisa Simpson adulta eleita presidenta para tentar consertar o país após um catastrófico governo Trump, viralizou nos últimos dias como uma estranha profecia. A lembrança desse episódio fez parte de uma série de reações tautistas (autismo + tautologia) ao inesperado terremoto Trump que parece ter desligado alguma espécie de Matrix: depois de toda uma geração viver no interior de um “efeito-bolha” liberal, globalizado e cosmopolita criado pelos algoritmos da Internet e grande mídia (cujos centro espiritual são as startups do Vale do Silício), de repente descobriu uma América profunda vivendo no deserto do real – “hillbillies”, “rednecks”, “Hicks” e toda sorte de “white trash”. E, como sempre, a grande mídia brasileira tautista tenta enxergar nos EUA a repetição da crise política brasileira que ela própria ajudou a criar.

quinta-feira, novembro 10, 2016

Por que "O Aprendiz" está por trás das vitórias de Trump e Doria Jr.?


Depois da vitória de Doria Jr. nas eleições à prefeitura em São Paulo, o reality show “O Aprendiz” faz mais um vitorioso: Donald Trump, eleito presidente dos EUA para surpresa da grande mídia. Mera coincidência? Principalmente em política, não há causalidades, mas sincronismos. Há um gênio por trás desse evento sincrônico: o britânico Mark Burnett, atualmente a figura mais poderosa no mercado global dos reality shows televisivos, idealizador e produtor de franquias como “No Limite” (“Survivor”), “O Aprendiz” (“The Apprentice”) e “The Voice”. Mas é na trajetória de Burnett que podemos encontrar sincronismos entre a vida pessoal, a narrativa desses reality shows e os seus subprodutos famosos: Dória Jr. e Donald Trump. O gênio de Burnett foi expressar sua experiência de vida nos shows televisivos que ele idealizou e produziu.

quarta-feira, novembro 09, 2016

O drama sobrenatural de uma perda inexplicável em "Absentia"


A cada ano milhares de pessoas simplesmente desaparecem no mundo sem deixar pistas. Misture esse dado estatístico real à influência do horror fantástico de H.P. Lovecraft com a simbologia arquetípica dos túneis. O diretor independente Mike Flanagan fez isso e resultou no filme “Absentia” (2011), um “terror silencioso” que pode causar estranheza aos espectadores incautos acostumados ao “gore” da violência e sangue. Como a dor psicológica da perda inexplicável evolui para o medo do sobrenatural, em uma narrativa que mistura dramas familiares e conjugais  com o sobrenatural que jaz em um túnel para pedestres no final da rua de um subúrbio de Los Angeles. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.

segunda-feira, novembro 07, 2016

Tautismo da Globo "prevê" resultado de sorteio de mando da final da Copa do Brasil


Repercutido nas redes sociais e dando a oportunidade para toda sorte de especulações, na semana passada o noticioso da Globo “Hora 1” "previu" o mando da partida final da Copa do Brasil, mais de 24 horas antes do sorteio público realizado na sede da CBF no Rio de Janeiro. E a Globo “acertou” o resultado – a finalíssima será em Porto Alegre. De jornalismo “de hipóteses”, a emissora passou para o jornalismo “de previsões”? Parajornalismo? Ou o tautismo (autismo + tautologia) da Globo, que atualmente contamina o jornalismo, telenovelas e esporte da emissora, banalizou-se? Ao ponto de ficção e realidade se confundirem com a própria descrição que a emissora faz de si mesma, levando a apresentadora Monalisa Perrone a espontaneamente externar o que já era corrente nos bastidores do jornalismo global. Seria para a Globo (dona do futebol brasileiro) a “previsão” mais conveniente a seus interesses políticos e comerciais? Principalmente depois do resultado das eleições em Belo Horizonte?

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