“Uma história deve ter um começo, um meio e um fim, mas não necessariamente nessa ordem”, disse Goddard. E o diretor de cinema mais surrealista da atualidade, o francês Quantin Dupieux, levou ao limite essa frase no filme sobre o gênio surrealista Salvador Dalí. “Daaaaaalí!” (2023) não é um filme biográfico – Dupieux ele adotou na montagem e edição fílmica a mesma abordagem do pintor surrealista para entregar um conto particularmente louco. Os surrealistas viam no cinema a expressão do inconsciente que revolucionaria uma sociedade burguesa e careta. Ironicamente, virou a matéria-prima da revolução publicitária, do pop e entretenimento. E ao ver a realidade superando o surrealismo de suas telas, no final da vida Dalí agarrou-se no personagem que criou para si mesmo.