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sexta-feira, junho 30, 2023

Na série 'Mrs. Davis' a vida com algoritmos é um gigantesco "McGuffin"


Durante séculos os seres humanos permitiram que aspectos vitais da sua vida fossem impulsionados e organizados pela religião. Mas o que aconteceria se algoritmos e a inteligência artificial passassem a ter esse mesmo tipo de poder de moldar o mundo? A vida se tornaria um gigantesco “McGuffin” - dispositivo narrativo na forma de algum objetivo ou objeto desejado que o protagonista persegue sem nenhuma explicação narrativa ou importância. Essa é a série cômica “Mrs. Davis” (2023- ): uma IA torna-se o tecido da vida cotidiana. Mas uma freira acha que há algo errado com algo tão onisciente e onipresente – seria como adorar um falso Deus. E planeja desligá-la, após encontrar o Santo Graal. “Mrs. Davis” é a série mais comicamente niilista da temporada: e se religião e tecnologia forem a mesma coisa?

quinta-feira, maio 25, 2023

O Capitalismo nos levará à nova Idade Média em 'Vesper'


“Vesper” (2022), co-produção franco-belga-lituana, não é apenas mais um ficção científica pós-apocalipse. Contrastando com o realismo capitalista das produções do gênero (é mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim do Capitalismo) em Vesper a maior ameaça foi o próprio Capitalismo: as formas artificiais de criar escassez para agregar valor cada vez maior às mercadorias acabaram com o meio ambiente e com o próprio Capitalismo, jogando o mundo em uma nova Idade Média. Uma ameaça muito maior do que a queima de combustível fóssil: a manipulação genética de sementes. Em seu pequeno laboratório, uma jovem tenta desbloquear o código DNA de sementes que produzem colheitas estéreis. Para todos ficarem dependentes de novas sementes vendidas por uma elite de cidades fortificadas. Exatamente como faz hoje conglomerados agroquímicos como a Monsanto e Bayer. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende. 

quinta-feira, abril 20, 2023

Série 'Devs': uma Big Tech em busca de um "Rosebud" quântico


Causalidade versus acaso; determinismo versus livre-arbítrio. O velho dilema da Filosofia resolvido deterministicamente por um supercomputador quântico que consiga processar todas as variáveis possíveis do Universo até se transformarem em informações quânticas computáveis, prevendo todas as causas e efeitos. Até o momento em que o mapa se confunda com o próprio território, lembrando o clássico conto de Jorge Luís Borges. É a série de Alex Garland “Devs” (2020), na qual o gênio dono de uma Big Tech está em busca de seu “Rosebud”: secretamente reencontrar a pequena filha falecida manipulando o mapa da linha do tempo de todas as causas e efeitos. E em torno de tudo isso, espionagem industrial, assassinatos e a Inteligência do governo.

quinta-feira, abril 13, 2023

Filme 'Cidadão Kane', marcianos e pânico


“Cidadão Kane” (Citizen Kane, 1941) foi um milagre no cinema: um diretor estreante; um escritor cínico e alcoólatra; um diretor de fotografia inovador e um grupo de atores de teatro e rádio de Nova York receberam carta branca e controle total, e fizeram uma obra-prima. Da transmissão de rádio sobre uma invasão marciana que levou os EUA ao pânico em 1938, a um filme sobre um magnata da mídia, Orson Welles estimulou a reflexão sobre duas formas de poder: o da influência midiática e da propriedade das mídias. Na primeira, a descoberta de que o século XX estava preparado para o pânico; e na segunda, uma exploração freudiana do desejo pelo poder – basicamente poderia ser a busca para recuperar algo perdido na infância. O Poder como fantasia adulta regressiva a uma forma neurótica e compulsiva.

quinta-feira, março 16, 2023

Realismo capitalista e hipo-passado no filme '65 - Ameaça Pré-Histórica'


Se no final do século XX falava-se no “fim da História” (o triunfo do liberalismo político e econômico), agora nesse século temos uma ideologia mais expansiva e fluida, na cultura, entretenimento, jornalismo e publicidade: o “realismo capitalista” - uma percepção fluida, desesperançosa e impotente de que a realidade é incontornável. Tão incontornável que o realismo do presente pode ser projetado no passado, mesmo que seja em 65 milhões de anos atrás. Um astronauta cai na Terra, em pleno final do período Cretáceo, no meio de uma cadeia alimentar na qual os dinossauros dominam. Não, não é viagem no tempo. Ele vem de uma avançada civilização extraterrestre. Tão avançada que possui as mesmas mazelas econômicas da nossa Terra atual. É o filme “65 – Ameaça Pré-Histórica” (65, 2023), um thriller enxuto e direto de sobrevivência. Tão direto que as mazelas econômicas do presente estão em todo Universo, na pré-história. O capitalismo tão realista que se tornou interplanetário. Bem-vindo ao hipo-passado.

segunda-feira, março 13, 2023

'Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo': Matrix na era quântica vence Oscar 2023


Passamos metade da nossa vida cometendo erros, e a outra metade tentando corrigi-los. O impacto da física quântica na cultura moderna foi estender ainda mais a angústia existencial: e se tivéssemos feito outras escolhas? Quais teriam sido minhas outras linhas do tempo? Viagens exponenciais no tempo e multiversos são os impactos na cultura pop de paradoxos quânticos como “o gato de Schrödinger” e a Interpretação dos Muitos Mundos de Hugh Everett. “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” (2022) é uma rara visão cinemática que extrapola ao limite esses paradoxos, levando sete dos 11 prêmios que concorria no Oscar 2023: uma estressada sino-americana dona de uma lavanderia quase falida e com relações familiares em crise é arrastada para uma batalha cósmica em um anárquico redemoinho narrativo de multiversos - uma verdadeira Matrix da próxima era da computação quântica.

quarta-feira, fevereiro 22, 2023

Série 'Olá, Amanhã!': a ideia de futuro é o que faz a sociedade parecer avançada


Olhar o estilo retrofuturista otimista, brilhante e ensolarado dos anos 1950-60, ao estilo “Os Jetsons”, ainda nos fascina. Olhamos com a nostalgia do futuro do passado do século XXI: e se tivesse dado certo? Mas a série Apple TV+ de comédia dramática “Olá, Amanhã!” (Hello Tomorrow!, 2023-) suspeita que todo esse tecno-otimismo esconde algo muito mais sombrio: uma sociedade (tanto no passado como no presente) repleta de produtos avançados que apenas fazem a sociedade parecer avançada – um futuro que nada mais foi do que uma ilusão de fuga do tédio e angústia existencial numa sociedade que impõe a rotina e padronização. Uma empresa vende um projeto inédito: um condomínio de classe média na Lua, prometendo aos felizes compradores abandonar a Terra e fugir dos seus próprios problemas. Mas tudo parece ser um castelo de cartas pronto para desabar.

quinta-feira, fevereiro 09, 2023

O horror da destruição da alma em 'Infinity Pool'


Hotéis, resorts e assemelhados sempre renderam no cinema narrativas de mistério e terror. Sob uma infraestrutura de entretenimento e prazer sempre se oculta algum tipo de submundo ou subcultura. “Infinity Pool” (2023), terceiro filme de Brandon Cronenberg, alinha-se com essa mitologia: um resort em um país fictício asiático oculta uma subcultura perversa de turismo que envolve hedonismo, amoralidade e violência. Seguindo a trajetória do pai, David Cronenberg, “Infinity Pool” entra no campo do terror corporal. Porém, enquanto o pai trata da desintegração corporal, Brandon Cronenberg analisa a destruição das almas: através de um processo de punição de clones dos condenados por crimes, o que acontece com a humanidade de alguém ao saber que seus crimes não terão consequências reais.

sexta-feira, fevereiro 03, 2023

Série 'The Last of Us' ou como aprendi a parar de me preocupar e amar armas!


Kubrick deu um segundo título, irônico, ao clássico “Doutor Fantástico”: “Como aprendi a parar de me preocupar e amar a bomba”. Eram tempos em que filmes apocalípticos e pós eram libelos pacifistas. Mas o zeitgeist do século XXI sobrevivencialista mudou tudo e os filmes pós-apocalípticos ironicamente viraram a realização dos sonhos para qualquer paranoico extremista de direita. Baseado no sucesso do videogame homônimo de 2013, a série “The Last of Us” (2023-, disponível na HBO Max) coloca na tela o melhor que o cinema americano faz: narrativas de perseguição com muitas, muitas armas. E “sobrevivencialistas” armados até os dentes contra a “Nova Ordem Mundial”. Também lutando contra zumbis canibais infectados por um fungo mutante. Até aqui (três episódios) a moral da série parece essa: CACs e extremistas de todo tipo tinham razão - armas são o que garantem a liberdade, o amor e a felicidade. Parece que não somente as baratas sobreviverão ao fim do mundo. Juntos estarão os “sobrevivencialistas”.

quinta-feira, fevereiro 02, 2023

Jacques Lacan e H.P. Lovecraft se encontram no filme 'Significant Other'


Um dos filmes mais interessantes e surpreendentes de 2022. Diretores e roteiristas independentes vêm buscando nos últimos anos projetos que não consigam ser encaixados num único gênero. Assim como o filme “Significant Other”, um híbrido de drama, terror e ficção científica no qual cada “plot twist” faz a narrativa dar uma reviravolta de gênero. Mas a dupla de diretores/roteiristas Dan Berk e Robert Olsen vai além ao conectar a semiótica do desejo de Lacan (o outro como “significante”) e o horror cósmico de H.P. Lovecraft. Um casal tenta se reconectar romanticamente numa longa caminhada por uma trilha na costa noroeste do Pacífico. Só que esse “reconectar” tem sentidos (ou “significantes” lacanianos) diferentes para cada um. Sem saberem, são observados por alguma coisa de fora desse mundo. Que, ironicamente, descobrirá essa incompletude originária na qual se fundamenta o desejo humano.

sexta-feira, janeiro 20, 2023

Vampiros e gnosticismo vão à ficção científica no subestimado '2019 - O Ano da Extinção'


A Era “Crepúsculo” acabou dominando o mercado dos vampiros que caminham durante o dia na primeira década desse século. O que deixou a produção australiana "2019 - O Ano da Extinção" (Daybreakers”, 2009) em busca de um público. Acabando esquecida com o passar dos anos. É um filme extremamente subestimado no qual os vampiros passam para o campo sci-fi – um futuro em que eles estão no controle do mundo. Na maioria das narrativas vampiros são seres que se escondem nas trevas e têm vidas secretas. Mas nesse filme tudo se inverte: são os humanos que escondem sua humanidade numa sociedade em que foram transformados em rebanho para colheita de sangue, algo parecido com “Matrix”. Vampiros, assim como zumbis, são fascinantes porque lembram para nós a própria condição gnóstica humana: nem a morte é suficiente para escaparmos desse mundo. Mas em “Daybreakers’ eles passam para o outro lado: são entidades inteligentes e demiúrgicas que controlam os humanos.

quinta-feira, janeiro 19, 2023

Morte e Singularidade tecnológica no filme 'Homem Bicentenário'


Um clássico esquecido, mesmo entre os fãs do ator Robin Williams. Na época, “Homem Bicentenário” (Bicentennial Man, 1999) foi um fracasso de bilheteria com uma péssima promoção, inclusive com trailers que sugeriam como mais um veículo para o personagem do pateta com coração, como o ator se notabilizou em filmes anteriores. Mas “Homem Bicentenário” é um drama sério de ficção científica, que se inseriu numa guinada metafísica de Hollywood no final de século, com filmes como Dark City, Show de Truman e Matrix. Mais do que isso, foi na contramão do imaginário místico que começava a motivar o Vale do Silício: a Singularidade tecnológica como a busca da imortalidade através da digitalização da consciência – a agenda pós-humanista. Ao contrário, o filme faz uma reflexão humanística: um robô alcança a Singularidade, mas tenta aprender o que nos torna humanos: a mortalidade como o principal traço da alma humana.

sábado, dezembro 10, 2022

Do demasiado humano ao AstroGnosticismo no filme 'Nr. 10'

O diretor holandês Alex van Warmerdam é conhecido por esse humilde blogueiro principalmente pelo filme “Borgman” (2013) sobre como uma família burguesa é capaz de se autodestruir pelo demasiado humano que nos habita. Mas, dessa vez, seu espírito desconstrutivista foi mais além: do demasiado humano para uma narrativa AstroGnóstica no filme “Nr. 10” (2021). Uma verdadeira montanha-russa, com guinadas secas no tom, como se quisesse brincar com o espectador: de uma simples comédia de erros, passando para um drama sobre pecados até dar uma guinada AstroGnóstica. “Nr. 10” começa no mundo profano do cotidiano (a rotina de trabalho, traições e mentiras numa companhia teatral) para convergir para o Sagrado: a busca de si mesmo pelas mãos de um estranho homem sussurrante que conduz o protagonista a um excêntrico Monsenhor que parece ter negócios muito além desse mundo.

sexta-feira, dezembro 02, 2022

Uma sátira da paranoia pop customizada do século XXI no filme 'Something in the Dirt'


O século XX foi um século paranoico: Guerra Fria, conspirações nucleares, agências de espionagem etc. E quem eram os sujeitos das conspirações? Ou era o Capitalismo ou o Comunismo. “A verdade está lá fora”, pôster icônico da série Arquivo X, foi a preparação para um novo tipo de paranoia que invadiria o século XXI: a paranoia pop, sem um sujeito determinado: podem ser sociedades secretas, grays, globalistas, satanistas ou qualquer coisa oculta – Sequência Fibonacci, Código da Vinci, números pitagóricos etc. Conspirações customizadas, inclusive para fins de extremismo político de direita. O filme indie “Something in the Dirt” (2022) é uma parodia dessa paranoia pop: uma dupla pretende explicar “racionalmente” os estranhos acontecimentos telecinéticos que ocorrem em um pequeno apartamento. E decidem transformar essa busca em vídeos na internet. Ganhar algum dinheiro ou fama, enquanto tentam encontrar conexões entre, por exemplo, um cristal que levita, a Sequência Fibonacci e o mapa da cidade de Los Angeles. Mas será que serão inteligentes o suficiente para criar sua própria toca de coelho?

quinta-feira, novembro 17, 2022

Somos escravos do futuro em 'Dois Minutos Além do Infinito'

Filmado apenas com um Iphone em um único plano sequência, ambientado em um café real da cidade de Kyoto, o filme japonês “Dois Minutos Além do Infinito” (Dorosute no Hate de Bokura, 2020 – disponível na HBO Max) é uma das experiências cinematográficas mais inovadoras dos últimos anos. Kato, o proprietário do café, descobre que na tela do computador em seu apartamento no andar de cima está sendo transmitido, via Zoom, diretamente do café abaixo, sua versão dois minutos à frente no futuro. O filme explora um dos aspectos mais interessantes da viagem no tempo: os loops temporais e seus paradoxos. Principalmente, a dicotomia filosófica entre livre-arbítrio e necessidade. Afinal, seríamos escravos do futuro? Essa seria uma séria questão quando acrescentamos ao tema o tempo recursivo e a profecia autorrealizável.

quarta-feira, novembro 16, 2022

Depois do espaço, o capitalismo quer colonizar o tempo na série 'The Peripheral'


“Eu anexaria os planetas, se pudesse”, queixava-se o homem de negócios colonialista britânico Cecil Rhodes na década de 1930: o mundo já estava todo parcelado e colonizado. Portanto, onde o Capitalismo encontraria novos mundos para colonizar. A guerra sempre foi uma solução paliativa. Se os espaços de conquista acabaram, resta o Tempo. Se hoje a microinformática é a ferramenta para as negociações em tempo real do financismo global, a imaginação do escritor sci-fi William Gibson pensou na mecânica quântica como um novo salto: a colonização das realidades paralelas nas diversas linhas do tempo. A série Amazon Prime “The Peripheral” (2022-), baseada no romance de 2014 de William Gibson, traz para a ficção científica esse realismo capitalista. Uma jogadora de games em RV testa uma versão Beta de um novo jogo que na verdade transfere seus dados de consciência para um futuro alternativo na qual um Instituto de Pesquisas oferece uma solução político-econômica inédita: a colonização do Tempo.

quinta-feira, outubro 13, 2022

Filme 'Salve-se Quem Puder!': como vencer aliens sem smartphones, tutorial, aplicativo e Google?


Um jovem casal millennial, viciado em smartphones e que passa mais tempo falando com a IA Alexa do que conversando entre si, decide ser “seres humanos melhores”: ficar uma semana desconectados em uma cabana numa floresta remota, para recuperarem a intimidade perdida.  Mas ficam alheios ao início de uma bizarra invasão alienígena que começa a ameaçar os arredores. Como combater aliens sem um aplicativo, tutorial ou a busca do Google? Esse é o hilário argumento da comédia “Salve-se Quem Puder!” (Save Yourselves!, 2020), um crítica bem humorada da geração millennial, a geração mais tecnológica e midiatizada da História.

quarta-feira, outubro 12, 2022

Melancolia e Resignação identitária no filme 'Não Se Preocupe, Querida'


Certa vez o pensador francês Jean Baudrillard falou que o filme “Matrix” era uma produção que a própria Matrix faria sobre si mesma. Algo parecido poderíamos dizer de “Não Se Preocupe, Querida” (Don't Worry Darling, 2022): um filme que a própria Era Joe Biden faria para si mesma. Segundo longa-metragem dirigido por Olivia Wilde, a crítica vem definindo-o como um mix de “Mad Men” com “Corra”. Acrescentaríamos mais: lembra um “Show de Truman”, porém com a melancolia e resignação da agenda identitária bancada pelos “novos democratas” do neoliberalismo progressista: Capitalismo? Ok! Desde que gerido não mais por homens sexistas e misóginos. Acompanhamos Alice, uma dona de casa em um subúrbio idílico sob o sol da Califórnia do sonho americano da década de 1950. Tudo é perfeito, com elegantes maridos que voltam do trabalho e festas incríveis regadas a martini. Enquanto as mulheres sabem muito bem qual é o seu lugar numa sociedade machista. Tudo é tão perfeito e hiper-real que algo parece estar muito errado. Esse será o buraco da toca do coelho no qual Alice entrará para encontrar uma estranha realidade.

sexta-feira, setembro 23, 2022

A hipo-utopia de 'Rubikon': o futuro já está entre nós


Hipo-utopia: diferentes das distopias que imaginam mundos futuros totalitários com tecnologias e sociedades tão inéditas que se diferem das atuais, nas hipo-utopias vemos as tendências e mazelas atuais projetadas no futuro de forma hiperbólica. É o caso do filme austríaco “Rubikon” (2022) no qual vemos um futuro que é uma versão degradada e perversa do mundo que conhecemos. Em 2056 países e governos foram extintos, e cada região da Terra foi tomado e dividido entre corporações gigantes, cada qual com seu exército. Ricos escapam de uma atmosfera terrestre que virou tóxica enquanto a maioria luta para não morrer. Em uma estação espacial privada na órbita terrestre cientistas cultivam algas que produzem oxigênio. Dilema moral: entregam a descoberta para a empresa e salvam uma sociedade perversa ou assistem de camarote a erradicação da raça humana da superfície terrestre.  

quinta-feira, setembro 15, 2022

'O Preço do Amanhã': a imortalidade de poucos implica na mortalidade de muitos


Sempre ouvimos falar que Tempo é dinheiro. Com a financeirização do capital e a crescente utilização do dinheiro eletrônico e digital no lugar do papel-moeda, esse provérbio torna-se cada vez mais metafórico: não se trata mais tanto de dinheiro, mas da logística do Tempo – quanto mais rápido, maior oportunidade de lucros no cassino global em que se transformou o Capitalismo. Mas ainda temos que manipular signos do dinheiro (títulos, ações etc.). Mas, e se o próprio Tempo em si virar uma moeda acumulável e estocável? Esse é o intrigante argumento de “O Preço do Amanhã” (In Time, 2011), num futuro em que a imortalidade de poucos implica na mortalidade de muitos: uma elite consegue estocar séculos de Tempo, tornando-se virtualmente imortal, enquanto a maioria corre da morte (contada retroativamente num relógio subcutâneo), lutando para ganhar Tempo, seja através do salário, doações ou empréstimos. Nova forma de Capitalismo em que o Tempo vira moeda de especulação, reprodução da desigualdade e controle populacional.

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