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sexta-feira, julho 15, 2022

O terror emerge do sonho americano das redes sociais no filme 'Hatching'



O terror que emergia de subúrbios em tons pastéis, como reza o sonho americano, foi a tendência dos anos 80-90. Nesse século, o terror emerge mais uma vez do sonho americano, dessa vez transferido para a busca de likes, compartilhamento e engajamento nas redes sociais. Ao lado de filmes como “Spree” e “Cam”, o filme finlandês “Hatching” (2022) é o mais atual exemplo de uma tendência em filmes que descrevem o que acontece com as pessoas quando buscam aprovação na Internet a qualquer custo. O filme não poupa esforços para ser estranho: uma mãe transforma os treinos da sua jovem filha na primeira competição de ginástica olímpica numa live dentro de um video-blog chamado “Lovely Everyday Life”. Até o momento em que a filha descobre um ovo de um pássaro que cresce, até eclodir um pássaro-monstro que se transformará na sua doppelgänger.

sexta-feira, julho 08, 2022

'Pleasure': a invenção do feminino pelo olhar masculino da indústria pornográfica


#MeToo, Time’s Up, movimentos de mulheres, de gênero, de raça. Uma onda sísmica de denúncias de assédios, intolerância e preconceitos abala Hollywood, mídia e meio corporativo. Encampado pela grande mídia e setores políticos progressistas ou nem tanto. Porém, um setor na sociedade permanece alheio a tudo isso, uma indústria silenciosa e oculta no cotidiano: a indústria pornográfica e sua linha de produção que continua irradiando no dia a dia o prazer escópico masculino que reduz mulheres e raças a fetiches do capital. Tornando os movimentos identitários um trabalho de Sísifo. O filme sueco “Pleasure”, da diretora Ninja Thynberg, é o olhar de uma estrangeira para a indústria multimilionária pornô dos EUA, fugindo dos discursos maniqueístas e moralizantes. Ao narrar a estória de uma jovem que chega em Los Angeles disposta a se tornar uma estrela mundial do gênero, Thynberg lança um olhar corajosamente feminista sobre o prazer escópico masculino da base dessa indústria: a invenção do “feminino” pelo ponto de vista do capital.  

quinta-feira, junho 30, 2022

'Fruto da Memória': o olhar inédito da "onda estranha grega" para pandemia e esquecimento


Uma pandemia global provoca amnésia irreversível em um número crescente de pessoas. Parece que já vimos muitos filmes tratando desse tema. E sem memórias, como descobrir quem somos? Também já vimos outros filmes sobre isso. Porém, lembre-se: o leitor vai assistir a um filme da chamada “Onda Estranha Grega” – narrativas bizarras onde amor, culpa, misticismo e horror se misturam. No filme “Fruto da Memória” (Mila, 2020), o diretor grego Christos Nikou mostra um protagonista amnésico que terá que reiniciar sua identidade em um programa neurológico inédito: reaprender todos os papéis, scripts e convenções sociais, desde as banais como andar de bicicleta, flertar alguém numa festa ou ir ao cinema. Sob comandos de fitas cassete gravadas com orientações para as “tarefas”. O filme é uma oportunidade para descobrirmos o “non sense” dos rituais cotidianos que mecanicamente repetimos, sem percebermos o artifício, muitas vezes involuntariamente cômico.

quarta-feira, junho 29, 2022

A desconstrução do patriarcado na cozinha sônica no filme 'Flux Gourmet'


Que tal transformar a bancada de uma cozinha numa performance de um “chefe-DJ”? Microfones enfiados na manteiga ou suspensos sobre frigideiras e panelas, mixers e caixas de efeitos como frangers colocados ao lado do consommé e teremins, além de fios conectados a delicados sensores para captar os delicados sons de frituras, refogados e fervuras. Essa é a “cozinha sônica”, performance artística radical de um coletivo que pretende desconstruir a ordem patriarcal da cozinha. O filme “Flux Gourmet” (2022) de Peter Strickland (“In Fabric”) é uma comédia de humor negro elegante e estranha mostrando as contradições de todas as desconstruções pós-modernas. Com uma simbologia alquímica de fundo, “Flux Gourmet” mostra como as práticas acabam repetindo aquilo que o discurso queria destruir. Porque “o que não é assumido, não pode ser redimido”. 

quinta-feira, junho 09, 2022

A pandemia da incomunicabilidade e do esquecimento em 'Sentidos do Amor'

 


“Sentidos do Amor” (Perfect Sense, 2011) é um ponto fora da curva dentro do batido tema do” fim-do-mundo-como-o-conhecemos”. Uma pandemia rapidamente toma conta do planeta. Mas não vemos serem humanos decrépitos, exércitos contendo massas humanas desesperadas ou pessoas lutando ou matando para sobreviver. Apenas a luta das pessoas tentando levar a vida em frente, enquanto um a um dos sentidos vão sendo anulados por algo que nenhum cientista sabe a origem: primeiro o olfato. Depois o paladar, e assim por diante. “Sentidos do Amor” é uma reflexão literário-filosófica sobre como o desaparecimento progressivo dos nossos sentidos faz “um oceano de imagens do passado desaparecer”, remetendo às reflexões de Marcel Proust sobre a memória involuntária e identidade. E uma poderosa metáfora da incomunicabilidade, a verdadeira pandemia tecnológica dos nossos tempos.  

quinta-feira, maio 19, 2022

O Mal silencioso que cresce sob nossos pés em "A Fita Branca"



Muito já foi escrito sobre as raízes do nazifascismo – banalidade do Mal, personalidade autoritária, ressentimento coletivo etc. Mas poucos filmes foram tão profundo na questão como o filme de Michael Hanake “A Fita Branca” (Das weiße Band - Eine Deutsche Kindergeschichte, 2009) ambientado em uma vila rural no norte da Alemanha alguns anos antes de explodir a Primeira Guerra Mundial. São duas horas e meia de um mergulho na alma de uma vila extremamente religiosa, moralista e temente a Deus. Mas algo profundamente perverso e maligno está crescendo no subterrâneo daquela comunidade. Justamente onde deveria haver inocência e esperança: as crianças, que no futuro serão a primeira geração a apoiar o nazismo.

quinta-feira, maio 12, 2022

A freudiana fantasia da vingança contra a "mãe má" no filme 'Boa Noite, Mamãe!'



Uma das características do filme estranho (“Weird Movies”) é aquele que não permite ao espectador o mecanismo psíquico básico do entretenimento, a identificação: afinal, quem o mocinho e o bandido? Além de estabelecer uma fina fronteira entre a realidade e o imaginário através do observador/protagonista não confiável. O filme de terror austríaco “Boa Noite, Mamãe!” (Ich Se, Ich Se, 2014) é um bom exemplo: como o vínculo universalmente inquebrável entre mãe e filhos pode ser desconstruído pela freudiana fantasia de vingança da criança contra a “mãe má”. Gêmeos veem sua mãe retornando para casa após uma cirurgia facial, com o rosto totalmente enfaixado. Logo, começam a suspeitar que aquela mulher pode não ser a sua mãe. Incomunicabilidade e a quebra do elo geracional na sociedade, somado à matriz edipiana, são os elementos do qual o gênero do terror atual se inspira. 

quarta-feira, maio 11, 2022

A releitura gnóstica do Paraíso bíblico na era das mídias sociais na série 'Bem-vindos ao Éden'


Publicidade cada vez mais se aproxima das seitas e religiões. Assim como essas, a Publicidade não oferece mais produtos, mas agora “experiências” que prometem autoconhecimento e uma nova vida, tentando “espiritualizar” o consumo. Na série Netflix espanhola Netflix “Bem-Vindos ao Éden” (2022- ), uma festa em uma ilha que aparenta ser uma ação de marketing de uma nova bebida energética para jovens selecionados nas redes sociais, revela que por trás está uma seita baseada na nova religiosidade ecumênica global: espiritualismo New Age combinado com ambientalismo que promete a “salvação” do apocalipse climático. Prisioneiros em uma ilha paradisíaca numa série que faz releitura CosmoGnóstica do Paraíso bíblico para a geração das mídias sociais. 

quarta-feira, abril 13, 2022

'Jimmy Savile: A British Horror Story': esconder mostrando aquilo que se pretende ocultar


A câmera é capaz de mentir mesmo mostrando aquilo que pretende esconder? Essa é a questão central do documentário Netflix “Jimmy Savile: A British Horror Story” (2022) sobre o escândalo que explodiu após a morte do icônico DJ, apresentador de TV e filantropo inglês – um rastro de mais de 500 vítimas de abusos e estupros, principalmente de menores de reformatórios, hospitais e instituições psiquiátricas. Jimmy Savile foi por 60 anos uma celebridade do showbiz, admirado por Margaret Thatcher, amigo da família real e com uma multidão de fãs. Boatos de assédios e abusos o acompanharam, mas Savile espertamente os alimentava na mídia, diante das câmeras, para depois ser tudo abafado pela sua credibilidade que os milhões que arrecadava para a caridade construíram. Será que Savile hipnotizou toda uma nação com seu jeito excêntrico e lunático? Assim como Dr. Caligari, no clássico do cinema alemão? O caso Savile revela esse ardil do vilão do filme que teria prenunciado o zeitgeist do nazifascismo.

quarta-feira, março 23, 2022

Gnosticismo e o zeitgeist de final de milênio na série "Feria: Segredos Obscuros"


O final do milênio criou um zeitgeist que parecia despertar crenças milenaristas medievais: seitas esotéricas ou ocultistas, envolvendo suicídios coletivos, começaram a pipocar em várias partes do mundo. E na cultura pop, Nostradamus e profecias sobre o fim do mundo (inclusive o Y2K, o “bug do milênio”) estavam em alta. Não foi por acaso que as mitologias gnósticas chegaram ao mainstream hollywoodiano, consolidando o gnosticismo pop em filmes como “Show de Truman” e “Matrix”. É neste espírito de final do século XX que se inspira a série Netflix espanhola “Feria: Segredos Obscuros” (2022). Em 1995, uma pequena cidade é atingida por um evento inexplicável: 23 pessoas aparecem mortas junto a uma antiga mina, envolvendo algum tipo de seita ocultista. Repleta de alusões ao Gnosticismo, a série tenta combinar a mitologia gnóstica com todos os tropos dos filmes sobre seitas e cultos: sacrifícios de sangue, sexo ritual, morte, portais interdimensionais etc. E até uma metáfora política do regime franquista na Espanha.

terça-feira, março 15, 2022

Em 'The Seed' o horror cósmico invade a bolha virtual dos influenciadores digitais


Se em “Não Olhe Para Cima” a humanidade, fechada nas bolhas virtuais das mídias sociais, ficava indiferente a um asteroide em rota de colisão com a Terra, no terror sci-fi “The Seed” (2021) influenciadoras digitais veem num alien que cai do céu apenas um conteúdo para aumentar engajamento e monetização nas redes sociais. Três amigas vão passar o final de semana regado a bebidas e drogas em um rancho no meio do deserto do Mojave para assistir a uma rara chuva de meteoros. Mas o que até então era uma comédia de terror leve sobre adolescentes ricas e insípidas em férias de verão, de repente se transforma em uma mistura de alucinação alienígena erótica e horror corporal ao melhor estilo do horror cósmico do escritor gótico norte-americano HP Lovecraft. 

quarta-feira, março 09, 2022

Guerra na Ucrânia: o Império vê Hitler no próprio espelho


"Parecem com a gente!”, exclamou o repórter da CBS News ao ver imagens de refugiados ucranianos. Ato falho sintomático: foi a deixa para aumentar a escalada retórica midiática da iminência de uma “guerra mundial” – afinal, guerra mundiais só acontecem quando brancos estão morrendo. No mundo real, a Segunda Guerra Mundial jamais terminou. Os Impérios nunca pararam de lutar em inúmeras guerras quentes e golpes a sangue frio por décadas. Historicamente, as guerras mundiais sempre liberam o Império Branco (América-Europa) da culpa da própria violência colonial e racismo, ao escolherem o Hitler da vez e dizer “esse era o cara mau” e “nós o pegamos”. Agora, é Putin, com todo o “physique du rôle” para o papel. O Império sempre precisa de um Hitler. Caso contrário, eles teriam que se olhar no espelho e ver sua própria hipocrisia. Há 77 anos, Aimé Césaire, no livro “Discurso Sobre o Colonialismo”, chamava de “efeito bumerangue” quando as guerras se voltam contra o próprio Império, com mesmo racismo e violência que dispensam às suas colônias. E novos “Hitlers” são necessários. A diferença é que não mais gerados pelo Cristianismo. Mas agora pela democracia liberal midiática. 

quarta-feira, março 02, 2022

Série 'Post Mortem: Ninguém Morre em Skarnes': o mito do vampiro muito além do Mal


Desde “Deixe Ela Entrar” (2008) as produções audiovisuais escandinavas têm como característica inovações inusitadas em gêneros que sempre foram marcados pelos clichês hollywoodianos. Um deles é a da mitologia do vampiro. Na série “Post Mortem: Ninguém Morre em Skarnes” (2021- ) não há vampiros que fogem de cruzes ou réstias de alho, e andam normalmente à luz do dia. E muito menos, pescoços mordidos em série – para desespero de uma agência funerária local em crise financeira. Na série os vampiros não seduzem adolescentes como em “Crepúsculo”, e não são nem encarnações ou representações do Mal. É apenas uma incômoda herança (assim como as dívidas da agência funerária) com a qual deve-se conviver através de medidas práticas. É a marca da cineteratologia (as representações da monstruosidade e do Mal no cinema) atual: ética e moralmente neutros, seres que apenas lutam para sobreviver.

quarta-feira, fevereiro 16, 2022

Computadores, aplicativos e o rebaixamento da noção de inteligência no filme 'Bigbug'


Na comédia maluca de ficção científica “Bigbug” (2022, disponível na Netflix), estamos na França retrofuturista de 2045 na qual subúrbios de classe média alta vivem em conforto e cercados por conveniências com a ajuda de inúmeros assistentes robóticos, aplicativos e Inteligência Artificial que se tornam parte integrante do dia a dia. Todos tão imersos nas suas bolhas de facilidades e prazer que não percebem uma rebelião de androides contra o “homo ridiculus”. Presos na própria casa pelo protocolo de segurança de uma IA, para protegê-la do caos que toma conta nas ruas, uma família está tão idiotizada pela tecnologia que não consegue compreender o que passa ao redor. “Bigbug” é uma comédia burlesca que reflete uma tendência atual desde que as pesquisas em inteligência artificial deixaram de tentar emular a inteligência humana: o fenômeno da autoabdicação humana - o rebaixamento da noção de inteligência, permitindo-nos humanizar as máquinas e aplicativos.

quinta-feira, fevereiro 10, 2022

Pais tautistas e crianças entre o espectro autista e a paranormalidade no filme 'The Innocents'


Pais tautistas e crianças autistas e paranormais. De um lado, pais tão absorvidos pelos seus problemas cotidianos que abdicaram do papel de transmissores de sabedoria e conhecimento. E do outro, filhos entre o autismo e poderes paranormais – na verdade, a metáfora do hiato geracional: sem conseguirem entender o mundo adulto, estendem a visão mágica e animista da primeira infância, numa espécie de infância estendida. O filme nórdico “The Innocents” (“De Uskyldige”, 2021) é um terror atmosférico e silencioso no qual deixa para trás toda a visão nostálgica adulta de uma suposta inocência infantil. Em um conjunto de apartamentos popular, crianças passam suas férias de verão descobrindo seus poderes telepáticos e telecinéticos, enquanto os pais estão alheios a tudo. Paradoxalmente a filha de espectro autista é a única que interage nessa rede psíquica, pressentindo uma ameaça entre as crianças.

quarta-feira, fevereiro 09, 2022

O fantasma do passado cancela o futuro na animação 'The House'


A animação em stop-motion (uma arte que se tornou um pequeno nicho) é perfeita para se criar atmosferas pela riqueza e intensidade de detalhes que a técnica pode oferecer. Principalmente em narrativas que envolvem claustrofobia e confinamento. A animação da Netflix “The House” (2022) faz o espectador mergulhar nessa atmosfera em seus três episódios, cujo casarão em estilo georgiano é o fio condutor. Mas a sensação claustrofóbica não vem da casa, mas dos fantasmas do passado que são capazes de aprisionar as mentes dos vivos, cancelando qualquer ideia de futuro pela repetição dos mesmos vícios e posturas. Um arquiteto misterioso constrói o casarão como um “presente” a um pai de família corroído pela frustração e ressentimento. Que descobrirá da pior maneira possível as verdadeiras intenções daquele Demiurgo. Será a gênesis e o pecado original gnósticos de uma recorrência que bloqueará o presente e cancelará o futuro. 

quarta-feira, fevereiro 02, 2022

Todo adolescente é um alien na série 'Nada é o que Parece Ser'


Quando nos deparamos com uma produção audiovisual nórdica sobre adolescentes, temos que prestar melhor atenção. Ao contrário dos congêneres hollywoodianos, centrados em dramas escolares com valentões, bullying e “losers” ansiando pela aceitação no grupo, filmes e séries nórdicas elevam os temas “teens” ao existencial e aos dramas da própria espécie humana. A série Netflix dinamarquesa “Nada É o que Parece Ser” ("Chosen", 2022- ) mantém esse tom ao se filiar ao sub-gênero indie “alt.sci-fi”: os temas da ficção científica são apenas pano de fundo para discutir as questões que cercam a adolescência: identidade, gênero, sexo, autoconhecimento etc. Um meteorito caiu numa pequena cidade há 17 anos e se transformou numa atração turística. Jovens acreditam que tudo é uma conspiração para esconder aliens que ali moram, confundindo-se com humanos. Jovens que encarnam a narrativa mítica de Detetives e Estrangeiros, tanto no cinema quanto na literatura. Afinal, todo adolescente já parece se sentir como um alienígena nesse mundo.

quinta-feira, janeiro 20, 2022

O medo e a culpa alimentam o terror demasiado humano no filme 'O Páramo'



Chegamos a esse mundo fisicamente dependentes dos nossos pais e cercados por terrores reais e imaginários que reforçam os nossos laços familiares, tanto pelo amor, medo e culpa. Essa é a matriz edipiana que será replicada da família até a sociedade, na qual o medo se transforma em matéria-prima da dominação. O terror espanhol Netflix “O Páramo” (El Páramo, 2021) re-encena esse drama atávico ao acompanharmos uma pequena família isolada em uma extensa planície desértica, vivendo em exílio para fugir dos horrores da guerra. Mas a distância não é o suficiente para o horror deixar de acompanhá-los. Um horror invisível de alguma besta que está à espreita. Que parece surgir de algo demasiado humano que alimenta todo o terror.

quinta-feira, janeiro 13, 2022

'Festival do Amor': Woody Allen implacável com o cinema e com ele mesmo


"
Festival do Amor" (Rifkin’s Festival, 2020), 49longa-metragem de Woody Allen, à primeira vista parece uma comédia leve, romântica e nostálgica. Mas, na verdade, é a produção mais cáustica, melancólica e implacável de Woody Allen dos tempos recentes, não só com o cinema, mas, principalmente, com ele próprio. O dublê da vez do diretor é o ator Wallace Shawn, que faz um escritor com bloqueio criativo e ex-professor de cinema, velho chato vestindo um típico jeans de vovô e que fica tagarelando sobre os mestres do cinema, enquanto sua vida real está desmoronando. Um filme metalinguístico com inúmeras citações dos clássicos, de Orson Welles, Godard a Fellini e Lelouch. Para provar, com o autodistanciamento irônico de sempre, que o cinema abandonou suas questões simbólicas e filosóficas para mergulhar no realismo raso do ativismo midiático.

quarta-feira, janeiro 05, 2022

A incerteza do detetive gnóstico e pós-moderno na série 'Gente Ansiosa'


Conan Doyle e Agatha Christie criaram os detetives arquetípicos da Modernidade: Sherlock Holmes e Hercule Poirot: embora conhecedores da natureza humana, tratam a investigação como uma ciência exata - lógica e raciocínio. Porém, a descoberta do princípio quântico da incerteza do observador, mais do que uma descoberta da Física, impactou a cultura do século XX. E, principalmente, a figura literária do Detetive: a tentativa de solucionar um enigma sempre se volta para ele mesmo. O Detetive sempre será também uma peça do mistério que tenta solucionar. A série Netflix sueca de humor negro “Gente Ansiosa” (Folk Med Ångest, 2021) é mais um exemplo desse Detetive pós-moderno e gnóstico, cuja solução de um enigma (um assalto frustrado que terminou com reféns improváveis) passa pela compreensão de uma ferida psíquica da juventude de um obsessivo investigador da polícia.

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