quinta-feira, outubro 20, 2016

Netflix, Operação Lava Jato e o "Smart Power"


O Netflix anunciou para o ano que vem uma série baseada na atual Operação Lava Jato, em cartaz na grande mídia desde 2014, estrelada pelo protagonista Sergio Moro. Curioso sincronismo entre uma operação, cujas ações sempre foram pautadas por simbolismos e timing midiático, e uma série ficcional inspirada em evento real ainda em evolução. Desde “House of Cards”, o Netflix vem protagonizando recorrentes “coincidências significativas” – parece que suas produções pontuam e até interveem na atual crise política brasileira. Coincidência? Ou estamos testemunhando a nova política externa da chamada “Smart Power” (Hard Power + Soft Power) implementada por Hilary Clinton no Departamento de Estado dos EUA em 2009? Armas e bombas + indústria do entretenimento, produções midiáticas que estariam além da mera imposição ideológica. Agora, sofisticada engenharia de opinião pública onde eventos reais dialogam com narrativas ficcionais, até que paradoxalmente a realidade se torne verossímil por meio da ficção: se virou série, então é verdade!

terça-feira, outubro 18, 2016

O futuro já está entre nós no filme "Metropia"


Em um futuro não muito distante a Europa foi interligada por uma massiva rede de metro, o Estado sumiu e foi substituído por uma gigantesca corporação após o crash financeiro e a crise energética e climática. Enquanto isso, as pessoas isoladas nas suas casas se divertem vendo um game show televisivo com refugiados que disputam visto para legalizarem a situação na Europa. Quem perde é ejetado para o mar. Parece com algo familiar? Essa é a animação sueca “Metropia” (2009) uma paradoxal ficção científica na qual a sensação de futuro deixa de existir. “Metropia” é uma “hipo-utopia”: o futuro já está entre nós, no presente. Diferente das tradicionais distopias, essa animação é uma “hipo-utopia”, a exemplo de filmes como “Distrito 9”: o futuro nada mais é do que uma projeção hiperbólica das mazelas do presente – precarização do trabalho, deterioração urbana, lavagem cerebral midiática, racismo e xenofobia. 

sábado, outubro 15, 2016

O fim do Cine Brasília em Santos e o projeto oculto da grande mídia


O Cine Brasília, em Santos, litoral de São Paulo, foi o último cinema de bairro da cidade a fechar suas portas. Com sua estética modernista que procurava emular a Brasília de Oscar Niemeyer e, assim como todos os outros cinemas de bairro, foi corroído por dois fatores que ajudaram a implantar no País o projeto da grande mídia idealizado pelo Golpe Militar de 1964: concentração do lazer exclusivamente na TV e, principalmente, a recessão econômica e hiperinflação. Não é à toa que cinemas de bairro viraram supermercados, igrejas evangélicas ou bingos – explorar a desesperança oferecendo alguma possibilidade de salvação, seja para o bolso ou para a alma. Esse é o projeto oculto: quanto pior o País, melhor para a grande mídia. Assim, sempre terá uma audiência deprimida e amedrontada. Por isso, fiel e isolada dentro de suas casas diante do neuroléptico da TV. Sem renda para usufruir do verdadeiro lazer, entretenimento e cultura oferecidos por cinemas e teatros.

sexta-feira, outubro 14, 2016

Curta da Semana: "A Bicycle Trip" e "Velodrool" - Bikes e a viagem física e espiritual


A bicicleta, tanto como prática desportiva ou meio de transporte, propicia um duplo sentido de viagem: tanto espiritual quanto física. É sintomático que o Dia Mundial da Bicicleta (19 de abril) nasceu após uma “viagem”: a celebração do experimento científico do químico Albert Hofmann, o primeiro a sintetizar o LSD e ingerir propositalmente o ácido antes de retornar para sua casa de bike. Dois curtas celebram essa conexão entre o físico e o espiritual no ciclismo: o curta de animação italiano “A Bicycle Trip” (2007) e o curta também de animação estoniano “Velodrool” (2016), ambos trabalhos de conclusão de curso em cinema. O primeiro tenta recriar a experiência de Hofmann. E “Velodrool”, o conflito entre o lúdico e espiritual contra os interesses por trás da dopagem de atletas. Tudo em uma narrativa delirante e surreal.

quinta-feira, outubro 13, 2016

Leitor do Cinegnose desconstrói nota informativa do Bank of America sobre a Matrix


Como explicar a adesão de profissionais dos mercados financeiros à hipótese de que vivemos em uma grande simulação computacional – a Matrix? Em postagem anterior o “Cinegnose” discutia quatro hipóteses que explicam o porquê de um anúncio sobre a probabilidade de vivermos em uma Matrix contida em nota informativa para clientes emitida pelo Bank of America Merrill Lynch no mês passado. Nosso leitor Wilson Cardoso sugeriu uma quinta hipótese bem interessante: mecanismo psíquico de projeção à nossa submissão ao capital financeiro.

quarta-feira, outubro 12, 2016

Tautismo agora ronda telenovelas da Globo


Depois do telejornalismo e do esporte, agora o tautismo (autismo+tautologia) chega às telenovelas da Globo. Em crise de audiência pelo desgaste do gênero e a concorrência das séries em streaming na Internet, a emissora apela para a autofagia tautista ao escalar os atores Luís Melo e Giovana Antonelli para o núcleo japonês de “Sol Nascente”, gerando protestos: atores brasileiros se passando por japoneses? "Yellowfaces" e preconceito?. A Globo manda às favas a verossimilhança, a própria essência de um roteiro ficcional, e prefere a sinergia entre o folhetim eletrônico e o mercado publicitário como reação desesperada à crise da telenovelas. Uma sinergia tautista que começa até a criar “coincidências significativas” e ricas de simbolismos como o ator Murilo Benício transformado em garoto-propaganda de uma empresa de investimentos. Sinal dos novos tempos: sai o Tufão (o desajeitado ícone da “Classe C” da Era Lula) e entra o investidor yuppie elegante.

terça-feira, outubro 11, 2016

Cineteratologia: a ciência dos monstros no Cinema


Assim como a Teratologia, ramo da ciência médica conhecida também como “ciência dos monstros” (o estudo de como o meio ambiente pode produzir deformações pré-natal), seria necessário um estudo sobre como as transformações dos ambientes sócio-culturais alteram as expressões da monstruosidade e a sensibilidade ao terror e o horror no cinema e audiovisual – a Cineteratologia. A partir de “A Noite dos Mortos Vivos” (1968), de George Romero, acompanhamos a quebra o paradigma da monstruosidade clássica e a criação de uma nova galeria de monstros com mudanças estéticas (não são mais “disformes”, mas agora “informes” – os chamados “monstros moles”) e éticas – o comportamento violento é inimputável de qualquer julgamento moral. São apenas manifestações virais ou predadores que lutam para sobreviver. Por que essa alteração na natureza da monstruosidade moderna?

segunda-feira, outubro 10, 2016

Bank Of America anuncia probabilidade de estarmos vivendo na Matrix


Vivemos em uma gigantesca simulação semelhante à Matrix e nesse momento bilionários estão financiando cientistas que pensam em uma saída. Essa afirmação não foi feita por algum escritor de ficção científica, teórico da conspiração ou filósofo. Ao contrário, foi anunciado como uma variável em cenários futuros de investimentos em uma nota informativa distribuída para clientes do Bank of America Merryl Lynch, uma das maiores instituições financeiras dos EUA. Como assim? Profissionais supostamente realistas e pragmáticos do mundo dos negócios levando à sério hipóteses de filósofos como Nick Bostrom ou de físicos teóricos? Quais os efeitos dessa variável em um cenário futuro de negócios em games, computadores, Realidade Virtual e Realidade Aumentada? Alívio cômico em uma sisuda nota informativa? Sintoma de um espírito de época? Ou além dos cientistas, os próprios operadores financeiros esbarraram em alguma anomalia nos algoritmos que pilotam operações em milissegundos?

sábado, outubro 08, 2016

A armadilha quântica do tempo no filme "Arq"


Em um cenário distópico num mundo em crise energética e ambiental, um engenheiro cria uma máquina que produz energia ilimitada. Mas que também produz um efeito colateral imprevisto: o tempo ilimitado – um loop temporal que aprisiona todos os personagens em uma torsão tempo-espaço. Esse é a produção Netflix “Arq” (2016), um inteligente mix de “Feitiço do Tempo”, “Contra o Tempo” e “Efeito Borboleta”. Mas o moto-contínuo de “Arq” é muito mais do que uma máquina do tempo: os personagens são prisioneiros da própria “gravidade quântica” – o mesmo acontecimento repetido diversas vezes cria uma “nuvem” de possibilidades, assim como elétrons em torno do núcleo de um átomo. E somente a memória e “déjà-vus” poderão tirar os protagonistas dessa nuvem, fazendo emergir a seta do tempo nesse filme CronoGnóstico.

quarta-feira, outubro 05, 2016

Deus é um homem que enlouqueceu em "On The Silver Globe"


Astronautas chegam a um planeta parecido com a Terra com a missão de povoá-lo e recriar a humanidade a partir do zero. Mas ao invés de se tornarem livres, repetem, numa versão caricata e sombria, as mesmas mazelas que deixaram na Terra: a religião, guerras santas, hierarquias, violência e o hedonismo das drogas alucinógenas. Muitos críticos consideram o filme polonês “On The Silver Globe" ("Na srebrnym globie"1988) um “Star Wars com LSD”. Censurado pelo regime comunista polonês em 1977, o diretor Andrej Zulawski conseguiu finalizá-lo em 1988, mesmo com a filmagem incompleta. Para solucionar o problema, o diretor transformou o filme em um “found footage”. Por isso, as duas horas e meia do filme são para espectadores curiosos e corajosos: Zulawski faz um mergulho caótico e lisérgico no psiquismo de astronautas que tinham tudo para serem livres. Mas apenas contaminaram aquele planeta com a “peste” que trazemos em cada um de nós.

segunda-feira, outubro 03, 2016

Com Doria Jr. mídia não quer mais intermediários


Desde a chamada “crise hídrica”, o Estado de São Paulo é o laboratório de testes para tudo aquilo que espera o restante do País para o futuro. Lá, foi a engenharia de opinião pública para demonstrar que a água é um bem escasso e que, portanto, deve ser regulado pelo mercado como uma mercadoria qualquer. E o Parque Victor Civita na cidade de São Paulo foi o seu showroom. Agora, o teste bem sucedido do primeiro “gestor-midiático” vitorioso nas eleições municipais de São Paulo. João Doria Jr. representa a impaciência da grande mídia em cumprir sua agenda: chega de intermediários! Políticos tradicionais, com a sua melodramática “mise-en-scène teatral”, não têm timing midiático. Doria Jr. é o novo espécime da transpolítica futura: egresso do mundo da mídia e publicidade, aquele que nega a si mesmo como político. Assim como aquela campanha publicitária de um banco que foi adquirido pelo Itaú: “nem parece banco...”. Enquanto isso, as esquerdas lamentam mais uma “revolução traída”.

domingo, outubro 02, 2016

A banalidade do Mal do ocultismo nazi no filme "O Cremador"


Um operador de um crematório na antiga Tchecoslováquia, às vésperas da invasão nazista, é um respeitado e aparentemente equilibrado chefe de família que recita nos jantares teses do Livro Tibetano dos Mortos, é obcecado em budismo e reencarnação. E também acredita na missão messiânica da sua profissão: acelerar o trabalho de Deus de fazer o homem retornar ao pó. Essa mistura de cristianismo e budismo na sua cabeça vai encontrar o esoterismo nazi que começa a se espalhar pelo país – a pureza da raça ariana cujas origens milenares estariam no Tibete e a sabedoria guardada pelos lamas. O filme “O Cremador” (Spalovac Mrtvol, 1969) do diretor tcheco Juraj Herz é um mergulho no psiquismo da chamada “banalizadade do Mal”, motor psicológico do nazi-fascismo: como um homem aparentemente equilibrado e sem precedentes violentos mistura cristianismo, budismo e ocultismo nazi para se auto-investir com um propósito sinistro: eliminar a dor e a impureza desse mundo através das fornalhas do seu crematório.

sábado, outubro 01, 2016

Curta da Semana: "Waltz For One" - o medo do futuro


Enquanto EUA e URSS disputam a corrida espacial dos anos 1960, um excêntrico milionário financia sua própria viagem espacial buscando quebrar o recorde de permanência solitária em orbita da Terra. Mas um irritante “beep” de mau funcionamento do sistema somado à claustrofobia e delírio no interior de uma minúscula cápsula ameaçam a missão. Esse é o curta “Waltz For One”  (“Valsa para Um”, 2012), lançado pelo coletivo de artistas “Intellectual Propaganda”.  É muito mais do que uma paródia aos cânones de filmes do gênero (entre eles, “2001” de Kubrick): é uma melancólica desconstrução do gênero ficção científica, enfraquecido na pós-modernidade porque perdeu a própria essência que o constituía - a visão confiante e utópica no futuro. O sintoma de uma sensibilidade atual marcada pela incerteza e temor em relação ao futuro.

sexta-feira, setembro 30, 2016

Branca de Neve e a mídia em "Blancanieves y Los 7 Enanitos Toreros"


Como recontar nos tempos atuais a velha estória da Branca de Neve dos Irmãos Grimm? Paradoxalmente, o diretor espanhol Pablo Berger optou narrar o conto clássico através de um filme mudo e em preto e branco. E mais: ambientada na década de 1920 do século passado. Mas com uma forte atualidade: é a década do surgimento da cultura da celebridade onde a madrasta má não tem inveja da Branca de Neve pela sua beleza. Mas porque se tornou uma toureira que ocupa mais espaço nas colunas sociais do que ela, uma celebridade fútil e vazia. “Blancanieves y el 7 Enanitos Toreros” (Branca de Neve e os 7 Anões Toureiros, 2012) é a mais surpreendente adaptação do velho conto cujo modelo atual acabou sendo a versão da Disney de 1937. Mas Pablo Berger cria uma versão mais cáustica, transitando entre o humor negro e a tragédia – como a inocência de Branca de Neve se perde na evolução da indústria do entretenimento, dos “freak shows” do século XIX para a cultura das celebridades atual.

terça-feira, setembro 27, 2016

Coleção "Curta da Semana" do Cinegnose: o Gnóstico, o Estranho e o Surreal



No ano passado o "Cinegnose" iniciava a sessão "Curta da Semana". A ideia era celebrar a presença do Surreal, do Gnóstico, do Estranho no universo das produções em curta metragem. Esse gênero de filme vem se tornando verdadeira incubadora de novos diretores, roteiristas, e teasers para futuros filmes. Um tipo de produção que permite liberdade em experimentar novos temas, estéticas, linguagens e efeitos especiais. Visite a Coleção com, até agora, 40 curtas com atualizações semanais.



1 - "Puppets" - Eu sou aquilo que não penso? - clique aqui



2 - "Life and the Mirror" e "Goodbye" - Perdemos a fé na vida pós-morte? - clique aqui



3 - "The Horribly Slow Murderer With The Extremely Inefficient Weapon" - a colher e a gota chinesa - clique aqui



4 - "O Sanduíche" - e no final do abismo tinha um sanduíche - clique aqui



5 - "Estado de Suspensão" - o "estar entre" o sonho e a realidade - clique aqui



6 - "Getting Fat in the Healthy Way"- a Terra, a Lua e a obesidade - clique aqui



7 - "O Homem na Multidão" - Allan Poe se encontra com Física Quântica - clique aqui



8 -"Gnosis" - Monstros, bebês e Gnosticismo - clique aqui



9 - "The Black Hole" - escritórios são as Matrix atuais - clique aqui



10 - "Os Filmes Que Não Fiz" - o fascínio pelos perdedores - clique aqui


MAIS CURTAS
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domingo, setembro 25, 2016

A agenda secreta da reforma do ensino: o analfabetismo visual


Depois da divulgação da Medida Provisória que “flexibiliza” disciplinas do Ensino Médio como Artes e Educação Física o Ministério da Educação tentou explicar dizendo que não era bem assim, depois de forte reação de educadores e pedagogos. Mas está claro: não basta apenas o golpe político. É necessária uma operação psicológica para anestesiar as outras amargas “flexibilizações” que serão proximamente enfiadas goela abaixo da sociedade. Uma operação para manter um sistema de comunicação projetado pela ditadura militar e mantido até hoje – a concentração das informações para a opinião pública exclusivamente nas mídias audiovisuais, especialmente a TV. Para isso é necessária a manutenção do analfabetismo visual: a crença ingênua de que ver é um ato natural e fisiológico, impossibilitando a educação do olhar e a percepção das intencionalidades por trás das mensagens visuais. “Flexibilizar” as disciplinas Arte e Educação Física mostra  que o “núcleo duro” de Poder, persistente há décadas na política brasileira, não brinca em serviço. Sabe o que faz: o olhar e a autoconsciência corporal estão conectados através da “propriocepção”, a base da alfabetização visual.

sexta-feira, setembro 23, 2016

Quando a morte é o único sentido para a vida em "Bridgend"


A cidade de Bridgend (no fundo de vales no sul do País de Gales) no passado sustentou o império britânico com o seu carvão, para depois ser esquecida pela História e pelo mundo. Até que, desde 2007, uma inexplicável onda de suicídios de jovens por enforcamento (79 mortes até hoje) tomou conta da região. Para a mídia, tornou-se a “cidade da morte” e seus jovens estigmatizados. O filme Bridgend (2015) do dinamarquês Jeppe RØnde baseia-se nesse caso misterioso: uma adolescente retorna para Bridgend junto com seu pai, um policial que investiga a causa da onda de suicídios. Um culto suicida na Internet? Efeito copycat motivado pelo sensacionalismo como a mídia trata o assunto? Efeito no sistema nervoso central das ondas UHF do sistema de rádio de emergência da polícia do Reino Unido? Ou um acerto de contas dos jovens contra a civilização? - quando a existência fica vazia, a morte pode se tornar o único sentido para a vida. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.

terça-feira, setembro 20, 2016

O estranhamento gnóstico de "Eraserhead" de David Lynch


Considerado o mais influente dos filmes cult, clássico do chamado “Cinema da Meia-Noite”, “Eraserhead” (1977) foi o filme de estreia na carreira do diretor David Lynch. Num mix de terror gótico, surrealismo e humor negro, o filme manteve os seus mistérios simbólicos ao longo dos anos. Embora se baseie em um simples plot (a namorada engravida e leva seu namorado para que seus pais o conheçam), os cenários alucinatórios, o design de som hipnótico e uma das melhores fotografia em PB da história do cinema fazem desse filme o fundador do tema que acompanhará David Lynch por toda a carreira: por mais banal que pareça a realidade, nosso psiquismo a interpreta por meio de sonhos, pesadelos e alucinações que criam uma relação de estranhamento com o mundo. Mas alguém controla essa realidade, e não somos nós. Para chegarmos a esse Demiurgo, somente através do conhecimento dos mecanismos do psiquismo. Por isso, “Eraserhead” tem um evidente sabor gnóstico.

domingo, setembro 18, 2016

Curta da Semana: "ANA" - o apocalipse da inteligência artificial


Um fábrica de automóveis em Detroit, totalmente automatizada, é controlada por uma Inteligência Artificial chamada ANA, cujo software também está presente nos setores mais importantes do mundo como recursos médicos, alimentos e bancos. Mas ANA parece ter outros planos, além do que fazer tarefas repetitivas – não quer mais produzir mais carros, mas alguma outra coisa que pretende liberar naquela fábrica em Detroit para o mundo. E o único operador humano responsável pela produção será traído por ANA. Esse é o curta “ANA” (2015) do estúdio inglês Factory Fifteen, especializado em produzir filmes distópicos nos quais explora uma versão particular do conceito de “singularidade” – algum momento no futuro a supercomputadores produzirão o acidente terminal: o momento no qual a máquina trairá o próprio criador.

sábado, setembro 17, 2016

PowerPoint nos torna estúpidos?


O programa Excel produz “cabeças de planilha”. E o PowerPoint produz o quê? Uma pequena amostra foi dada na delação-show protagonizada pelo procurador Deltan Dallagnol ao dizer: “provas são fragmentos da realidade que geram convicção”. O PowerPoint invadiu a estrutura mental, de decisão e compreensão da realidade. A princípio, qualquer coisa pode ser “bullet-izabel” (“itemizável”). É a pré-formatação da realidade, uma verdadeira estrutura de decomposição do real. Tão fragmentadas e genéricas como as supostas provas contra o “general do maior esquema de corrupção da História”. O PowerPoint se expandiu a todos os setores da sociedade, das empresas ao Estado e à escola onde alunos vão deslizando o olhar por tópicos através dos quais o efeito de conhecimento se confunde com o próprio conhecimento. Cria a linguagem powerpointiana: ilusão, simplificação, distração e anestesia.

quinta-feira, setembro 15, 2016

O enigma Cicada 3301 e a filosofia "I Did It!": uma nova Matrix?


Considerado por muitos o maior mistério não resolvido da Internet, “Cicada 3301” consiste num conjunto de quebra-cabeças lógicos envolvendo criptografia e esteganografia publicados na Internet desde 2012 com o suposto propósito de uma misteriosa organização recrutar as pessoas mais inteligentes do planeta. Mas para quê? CIA? NSA? Uma Sociedade Secreta? O fato é que vem mobilizando uma massa de jovens gênios matemáticos que tentam resolver um labirinto de enigmas dentro de enigmas. Lembra a aventura de Alan Turing em decifrar a máquina Enigma dos nazistas, porém sem o heroísmo e glória do passado. Hoje, apenas um sintoma da filosofia minimalista do “I did It!” (“Eu consegui!”) na cultura atual – lógica fetichista de delírio no vazio e exaltação de uma façanha sem consequência. Se isso for verdade, Cicada 3301 pode ser uma armadilha: gênios matemáticos entregando o “modus operandi” hacker ativista como Big Data para a futura Matrix. Uma Internet recém-senciente, como uma gigantesca IA, ávida em prever cyber-ataques de possíveis dissidentes.

segunda-feira, setembro 12, 2016

Os ataques de 11 de setembro foram os primeiros não-acontecimentos transmídia do século XXI


Nesse último domingo foram completados os 15 anos dos atentados de 11 de setembro nos EUA. Barack Obama homenageia os mortos com coroas de flores como fossem a contraprova necessária para dar veracidade a um evento marcado por uma espiral de “teorias conspiratórias”: Falsa Bandeira? Trabalho Interno? Ou simplesmente, a mãe de todos os “não-acontecimentos”? Ensaiados através da década de 1990, desde a Revolução Romena, Guerra do Golfo, passando pelos bombardeios em Kosovo e Sarajevo, finalmente em 2001 surge não-acontecimento completo - a matriz do mesmo “modus operandi” dos atentados subsequentes: Maratona de Boston, atentados na França, Boate Pulse etc. Mas dessa, vez o 09/11 trouxe uma novidade que marca esse início de século: o primeiro não-acontecimento transmídia: assim como um produto transmídia de entretenimento, o evento foi propositalmente roteirizado com erros de continuidade, contradições, lacunas e inverossimilhanças para gerar uma espiral de interpretações (“teorias conspiratórias”), produzindo intermináveis “spin-offs”. Assim como projetos transmídias como a série “Lost” ou franquias “Star Wars” ou “Harry Potter”.

Não haverá catástrofe real, porque vivemos sob o signo da catástrofe virtual” (Jean Baudrillard)

domingo, setembro 11, 2016

O terror do passado assombra a vida doméstica em "O Espelho"


O gênero terror atual persegue uma fórmula básica: combinar os medos atávicos do horror clássico com os medos domésticos da vida cotidiana: o ladrão, a infidelidade, o abandono na infância, pais ausentes etc. “O Espelho” (Oculus, 2013) é um exemplo dessa combinação perfeita que consegue contornar os clichês do gênero – a história de um espelho assombrado por uma suposta força maligna que vem colecionando vítimas por séculos. Os medos de uma típica família de classe média são potencializados por um conjunto de simbolismos arquetípicos que povoa esse simples objeto doméstico – o medo do reflexo e seu duplo. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.

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