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domingo, março 31, 2019

Cinegnose publica artigo científico sobre o fim do mundo


Em agosto do ano passado esse editor do “Cinegnose” participou do Simpósio “Do Mundo Arcaico às Cosmologias Modernas” no Rio de Janeiro, apresentando o tema “Por que o mundo tem que acabar? Neoapocalíptica e Escatologias Líquidas”. Uma tentativa de entender o que está por trás (imaginário, sensibilidade ou espírito de época) dessa espécie de midiatização do fim do mundo: a recorrência de produções cinematográficas, literárias, jornalísticas ou documentárias com narrativas apocalípticas sobre profecias, projeções científicas ou pseudo-científicas sobre cataclismas ambientais, cosmofísicos, sociais, biológicos etc. que potencialmente poderiam exterminar a humanidade ou destruir o planeta . O artigo científico, no qual se baseou a apresentação, foi publicado nesse início de ano pela revista “Cosmos & Contexto”. 
  
No ano passado esse humilde blogueiro participou do Simpósio “Do Mundo Arcaico às Cosmologias Modernas”, realizado no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), no Rio de Janeiro. O tema levado por este editor do “Cinegnose” foi: “Por que o mundo tem que acabar? Neoapocalíptica e Escatologias Líquidas”.
O tema discutido então no Simpósio era uma síntese conclusiva de uma série de postagens nesse blog entre 2012 e 2017 – motivada naquele momento principalmente pela midiatização de mais uma data para o mundo acabar: a suposta “Profecia do Calendário Maia” de que eventos cataclísmicos ocorreriam em 2012, com interpretações variadas – do próprio fim da existência ao surgimento de uma “Nova Era” na qual os habitantes da Terra sofreriam uma transformação espiritual ou física.
Um frisson midiático que resultou até no filme 2012, analisado pelo Cinegnose– clique aqui.
Nesse ano, a revista “Cosmos & Contexto” publicou artigo científico que embasou a apresentação no Simpósio. A questão principal do texto é essa: Por que essa recorrência de filmes com narrativas apocalípticas no cinema de massas hollywoodiano? Sabendo-se que as narrativas sobre “fim dos tempos” e “juízos finais” estiveram e estão presentes em diversas culturas, religiões por toda História, qual seria a natureza dessas novas narrativas midiáticas sobre o fim?
Abaixo o resumo e link do artigo publicado:

“Por que o mundo tem que acabar? Neoapocalíptica e Escatologias Líquidas”
Wilson Roberto Vieira Ferreira

Diariamente o mundo acaba diante dos nossos olhos, seja no cinema na atual safra de filmes-catástrofe, em séries de TV sobre Nostradamus, previsões “científicas” de algum tipo de futura catástrofe ambiental ou em algum “hoax” descrevendo cometas, asteroides ou planetas errantes que cairão sobre a Terra.  Por que o mundo tem que ser destruído? 
No passado, todas religiões possuíam uma Escatologia: alguma narrativa sobre o fim dos tempos onde os maus seriam punidos e os bons salvos. Mas essas religiões se tornaram “líquidas”: sob os escombros das antigas religiões salvacionistas viraram pastiches que se rendem ao utilitarismo das necessidades do presente - “teologia da prosperidade”, “cabala do dinheiro” ou o islamismo dos homens-bomba. Esqueceram do futuro. Por isso, essa nova religião “líquida” e ecumênica precisa criar uma nova Escatologia, uma narrativa midiática sobre o “fim dos tempos” que junte convicções eco ambientais, geofísica e astrofísica. O componente moral da escatologia que entra em crise com a perda da legitimidade simbólica dessas grandes religiões monoteístas. 
Desde o pós-guerra, sob os escombros das teogonias e escatologias das grandes religiões monoteístas, há o surgimento do misticismo de massas que se convencionou chamar de New Age. As religiões tornaram-se “líquidas”: mescla de fundamentalismo nostálgico com uma colcha de retalhos que vai além do sincretismo religioso – rende-se ao utilitarismo. 
Essa liquefação dos grandes sistemas religiosos do passado corresponde à própria liquidez da infraestrutura econômico-financeira da ordem global – a liquidez ou a financeirização das praças financeiras conectadas em tempo real. A Globalização necessita agora de uma nova religião ecumênica que dê legitimidade às novas bases materiais. Uma nova religião igualmente sem pátria, global, feita a partir do pastiche dos escombros dos grandes sistemas religiosos. 
Palavras-chave: Gnosticismo, Cinema, Crítica da Comunicação, Escatologia. 


Link para o artigo: clique aqui
  

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