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quinta-feira, junho 27, 2019

Vaza Jato, "aerococa" e a última cruzada da grande mídia



Tal como os violinistas do Titanic, a grande mídia sabe que terá que tocar a música até o fim – as instituições entraram em acelerado estado deterioração: o “aerococa” da comitiva de Bolsonaro, pego pela polícia espanhola, é apenas um pequeno indício. Diante da audiência com Glenn Greenwald na Câmara (verdadeira aula de jornalismo investigativo que valeu mais do que todos os congressos da Abraji), na qual o jornalista alertou que nenhuma intimidação evitará as publicações do site “Intercept” porque está amparado pela Constituição, a grande mídia sabe que chega rápido ao seu “vanish point” – as máscaras terão que desaparecer e o jornalismo ser rifado. Por isso que, paralelo à bomba relógio que representa a Vaza Jato, a grande imprensa vem se “ajustando” ao que está por vir: a última cruzada – afastamentos, demissões em massa e ameaças nas redações para manter os jornalistas firmes nas rédeas e antolhos.

Paralelo ao terremoto da Vaza Jato detonado pelo site Intercept, liderado pelo jornalista Glenn Greenwald, a grande mídia televisiva parece iniciar um movimento de “ajustes” para enfrentar o que estar por vir. Se não, vejamos:
a) Como é do feitio dos rompantes de Silvio Santos, o SBT promoveu demissões em série no seu Departamento de Jornalismo, cortando jornalistas e âncoras com décadas de casa, além de produtores. Cabendo a um repórter, João Fernandes, apresentar a última edição do SBT Notícias. Para depois saber que também estava no “pacote” de demissões.
Rachel Sherazade, âncora do SBT Brasil, também está no radar depois que o Napoleão de hospício e patrocinador do SBT, Luciano Hang da rede Havan, pediu a cabeça da jornalista quando ela se declarou decepcionada e enganada por Sérgio Moro, diante dos vazamentos do Intercept.
Pouco importa se, ao jogar no fosso o jornalismo da casa, o SBT correr o risco de afugentar anunciantes. Silvio Santos quer mesmo os jabás e anúncios estatais do governo Bolsonaro.
b)  Depois de ancorar por 15 anos o programa de maior audiência da emissora (“Domingo Espetacular”), o premiado jornalista Paulo Henrique Amorim foi colocado no gancho da Record até o RH saber o que fazer com ele – PHA edita um dos blogs de esquerda mais acessados do País e há tempos as milícias digitais bolsonárias ameaçavam e exigiam o seu afastamento.
Motivo da Record? Certamente os mesmos de Sílvio Santos.


Biruta de aeroporto

c) O comentarista da Rádio Jovem Pan, o historiador Marco Antônio Villa, outrora hidrófobo anti-petista obcecado pela agenda do prefeito Haddad (até ser vítima de uma pegadinha (“media prank”) perfeita disparada pelo prefeito – clique aqui), também foi colocado no gancho. Para um mês depois o RH da emissora finalmente descobrir o que fazer com ele: a demissão.  Nos últimos tempos, Villa tornou Bolsonaro o alvo principal das suas críticas, no estilo tão desbocado quanto as desferidas contra o então prefeito de São Paulo.
Em tipos bicudos de crise econômica, anúncios governamentais não podem ser colocados em risco por uma biruta de aeroporto que virou com a mudança dos ventos...
d) Em outra rádio, Band News FM, o inventor da expressão “petralha”, Reinaldo Azevedo, é o novo alvo das ameaças das milícias digitais depois que se associou à divulgação da Vaza Jato da equipe de Greenwald. Está certo que o dono do Grupo Bandeirantes de Comunicação, João Carlos Saad, no “Fórum Band News”, criticou a destruição da economia pela Lava Jato, afundando empresas estratégicas como a Odebrecht.
Porém, vamos ver até onde vai a “fibra crítica” de alguém que também mergulhou de cabeça na euforia anti-PT.


e) Já na poderosa Globo, o clima é de medo no Departamento de Jornalismo com o RH acenando para a reformulação de contratos, renegociações salariais ou simplesmente a demissão. Ameaçando de simples repórteres a grandes medalhões da casa – âncoras, colunistas e comentaristas. Tal como os violonistas do Titanic, a Globo sabe que tem que continuar tocando a música até o fim – defender Moro, Deltan e Lava Jato.
Mas também seus medalhões do jornalismo temem que novos vazamentos que virão poderão sobrar para muitos deles e ferir de morte suas credibilidades no mercado das notícias. Então, nada melhor para a Globo do que manter todos nos antolhos e rédeas através do medo...

O “Jornalismo Snapchat”

Enquanto SBT e Record rifam seu Jornalismo, a Globo tenta manter as aparências tocando o terror nas redações.
E, para o distinto público, apresenta o chamado “Jornalismo Snapchat”, como no “Fantástico” do último domingo: a emissora foi até capaz de colocar no ar uma matéria isenta e tecnicamente correta sobre os últimos vazamentos publicados pelo jornal Folha, em parceria com o Intercept. Tudo efêmero para criar um simulacro de isenção: depois, ao longo da semana, vem ignorando tudo sem dar a mínima continuidade ou repercussão.   
Todos esses movimentos da grande mídia são sintomáticos em relação ao terremoto atual e os futuros tsunamis a ser gerados pela Vaza Jato.
No campo do Governo o rubicão já foi atravessado – já há muito caíram as poucas aparências racionais iluministas, com a aceleração da crise institucional: juízes e deputados derrubam decretos presidenciais, enquanto, em reação, o presidente revoga e reedita decretos rejeitados pelo STF e Congresso. 
Também caiu a ficha para as lideranças no Congresso que Bolsonaro não governa para o País, mas para o “núcleo duro” fundamentalista, com a sua guerra cultural e ideológica particular.
Agora será a vez da grande mídia também chegar a esse vanish point das aparências: livrar-se de uma vez do jornalismo e partir de forma franca para a guerra da propaganda política aberta. Como começam a fazer SBT e Record.


A bomba-relógio Glenn Greenwald

Principalmente por terem diante deles a incômoda bomba-relógio que atualmente representa o jornalista norte-americano Glenn Greenwald. Como ficou patente na fala do jornalista na audiência na Comissão de Direitos Humanos e Minorias na Câmara dos Deputados nessa terça-feira.
Em síntese, em sua histórica fala, Greenwald deu três mensagens diretas aos oponentes:
a) A Constituição brasileira lhe garante manter o anonimato da fonte e todo o trabalho jornalístico investigativo do Intercept;
b) Ele, assim como sua família, tem passaporte norte-americano. A qualquer momento poderia pegar o primeiro voo e sair do País. Se ele estivesse realmente participando de uma ação criminosa de hackeamento, não estaria aqui. Estaria fora do Brasil, continuando a publicar os vazamentos;
c) Ele e o Intercept não têm medo das acusações do Governo e dos políticos do PSL. Não passam de estratégias de intimidação e propaganda política. E por um simples motivo: não têm evidências contra ele, enquanto ele possui todas as provas contra os acusadores.  
A fala de Glenn Greenwald (uma verdadeira aula de técnica de jornalismo investigativo que vale mais do que todos os Congressos promovidos pela Abraji – Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) expôs publicamente a indigência intelectual e até cognitiva dos poucos deputados do PSL que resolveram confrontá-lo – como o parlamentar Felipe Barros que não entendeu o sentido de expressão “fonte anônima”.
“Se a fonte era anônima, como que você ficou muito tempo para proteger a sua fonte? Não se protege aquilo que não conhece”, disse raivoso o deputado... Virou piada. 

Felipe Barros: Indigência intelectual ou cognitiva?

... Mas os indigentes estão no Poder

O problema é que, apesar da indigência que chega ao nível cognitivo, os indigentes estão no Poder.
E mais problemático é que tanto a esquerda “namastê” quanto o “PT jurídico” acreditam que com todo o escândalo e desmoralização internacional (que ainda se soma à repercussão dos 39 quilos de cocaína encontrados com militar em avião presidencial da FAB na Espanha, em escala para o Japão para encontro do G20 – clique aqui) o castelo de cartas ruirá por si só: finalmente baixará a racionalidade iluminista no STF, salvaguardará a Constituição, libertará Lula que liderará o País na volta aos trilhos do emprego e do desenvolvimento.
E a extrema-direita irá embora, envergonhada, para a lata de lixo da História.
Como afirma o cientista político e coordenador do Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública da UERJ, João Feres Junior, em entrevista na revista Carta Capital (26/06/2019),  “a destruição das instituições desde o golpe de 2016 foi tão grande que não vejo por onde as coisas podem ser consertadas. Quem irá investigar Moro se ele é o chefe da Polícia Federal e um dos pilares do governo Bolsonaro? Estou cético”.                                                            
O governo Bolsonaro tem os seus 30% da opinião pública como o núcleo duro de fundamentalistas para o quais pouco importam fatos ou evidências – afinal, na pós-verdade, tudo é viés, conspiração e narrativa. No dia 30 prometem sair às ruas espumando de ódio, com a visibilidade garantida pela grande mídia televisiva.
Enquanto a esquerda não liderar a ocupação das ruas pelos outros 70%, em protestos contundentes (ou, citando novamente o jornalista Mino Carta, “derramar sangue na calçada”), de nada adiantará toda a fibra investigativa de Glenn Greenwald e de setores da grande mídia que começam a se aliar à investigação.
Moro continua ocultando sua agenda da viagem misteriosa aos EUA. Bolsonaro dá apenas repostas protocolares ao aerococa da FAB. Direitos, garantias sociais, o patrimônio nacional e o próprio futuro de uma geração estão sendo pulverizados. E todos no Poder parecem funcionar no modo automático, pouco se importando.
Por que? Porque sabem que as ruas estão vazias.

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