“The Man From Earth: Holocene” (2017) é a
continuação da saga iniciada com o primeiro filme em 2007 com um mix de ficção
científica e especulação religiosa: John é um homem que diz ter vivido 14 mil
anos, imortal. Um homem erudito que a cada dez anos se muda para ninguém
perceber que nunca envelhece. Se no primeiro filme, John faz um embate
filosófico e teológico com um grupo de cientistas, nesse segundo filme ele
enfrentará duas ameaças: as novas tecnologias invasivas que ameaçam revelar sua
identidade; e a busca desesperada do homem em busca de sentido para a
existência que vê na imortalidade de John a resposta. O problema é que John Young na verdade é o espelho
daquilo que o homem mais teme: o niilismo, a inexistência de qualquer propósito
na vida terrestre.
Um ser que vive fora do tempo? Um louco?
Ele diz a verdade? É uma mutação biológica? Ou será algum tipo de divindade?
Dez anos depois do primeiro filme de 2007, O
Homem da Terra (clique aqui), as questões em torno do
personagem John continuam as mesmas e em aberto na continuação The Man From Earth: Holocene.
A saga de John, um homem que supostamente
vive há 14 mil anos, desde a era paleolítica, sem envelhecer e com a mesma
aparência de 35 anos, continua. Se no primeiro filme ele organiza uma festa de
despedida de improviso com amigos professores em uma casa de campo (sua
estratégia de sobrevivência consiste em se mudar a cada 10 anos para que
ninguém perceba que nunca envelhece), nesse filme de 2017 ele tenta fugir da
suspeita de alunos que veem no melhor professor da universidade uma pessoa com
um estranho mistério.
Em 2007, John Oldman revelou seu segredo
para um grupo seleto de professores (biólogo, antropólogo, uma especialista em
textos bíblicos, um historiador e um psicólogo) para iniciar discussões
teológicas, metafísicas e existenciais. Mas agora em 2017, ele é John Young, um
professor no norte da Califórnia. Desta vez morando com uma mulher chamada Carolyn
e considerado pelos alunos como o melhor professor na sua especialidade: história
das religiões.
Mas em The Man from Earth: Holocene, as discussões filosóficas do primeiro
filme foram deixadas para trás, para jogar o suposto ser milenar em confronto com
dois inimigos: as novas tecnologias de informação (celulares, Internet e
câmeras de vigilância) que torna praticamente impossível manter o seu segredo; e
o drama da luta humana contra o niilismo na procura de qualquer sentido ou
propósito para a existência.
E, simplesmente, a recusa humana de que
um homem que tenha vivido tanto tempo não traga nenhuma sabedoria ou não seja uma
espécie de salvador enviado por Deus. Mas apenas um homem que luta para
sobreviver.
É nesse momento que a continuação do
filme cult de 2007 deriva das discussões filosóficas para um thriller com final
aberto.
O Filme
Professor universitário de Religião
Comparada, John Young (David Lee Smith) vive com a companheira e também
professora Carolyn (Vanessa Williams) e é reconhecido como um erudito brilhante
e bem quisto entre os alunos e outros membros do corpo docente.
Mas John também é decididamente
excêntrico: costuma desaparecer de casa para fazer acampamentos solitários e estranhamente
parece resistir aos anos que passam – mantém a mesma aparência. Com a
proximidade do Natal, John pressente que todos ao redor já estão começando a
perceber isso, e sabe que é hora de mais uma vez partir, e sem deixar rastros
na sua jornada como um ser aparentemente imortal.
Aparentemente, porque, para sua surpresa,
ele começa a perceber nele mesmo pequenos indícios de envelhecimento e
regeneração de lesões mais demoradas do que de costume.
Porém, desaparecer sem deixar rastros
está se tornando uma tarefa cada vez mais árdua com a onipresença das modernas
tecnologias de comunicação como a Internet e dispositivos móveis: resiste a ser
fotografado, proíbe celulares em suas aulas e se esconde das câmeras de
vigilância. John começa a constatar as dificuldades de um ser milenar manter em
segredo a identidade numa sociedade que cada vez mais invade a privacidade de
todos.
Talvez, os primeiros indícios de
envelhecimento em milhares de anos sejam simbólicos: nem um ser milenar pode fazer frente à atual onisciência
tecnológica.
A figura enigmática do professor chamada
a atenção de um grupo de alunos: Tara (Brittany Curry, que vive um amor
platônico pelo professor), Isabel (Akemi Look), Liko (Carlos Knight) e o
fundamentalista cristão Philip (Sterling Knight).
Isabel se depara com o livro chamado “The
Longest Night” do outro respeitável arqueólogo Dr. Arthur Jenkis – após a
publicação do livro que descreve toda a noite de discussões dos professores com
um homem da caverna imortal de 14.000 anos, Jenkis foi ridicularizado e sua
carreira destruída.
Uma pesquisa em sites de busca na
Internet e um telefonema para a Dr. Jenkis já são o suficiente para levantar
fortes suspeitas do grupo sobre a verdadeira identidade de John Young. É uma corrida contra o tempo: enquanto as
investigações dos jovens alunos fecha o cerco, John terá que às pressas se
despedir da sua companheira de anos e encerrar suas atividades docentes na
universidade.
Do quê John foge?
The Man
From Earth: Holocene mantém
o excêntrico mix de ficção científica com especulação religiosa. Porém, nessa
continuação não temos mais as discussões e os jogos intelectuais que marcaram o
embate de um grupo de cientistas com um homem supostamente milenar. Mas uma
espécie de thriller com um final aberto. O que desagradou muitos espectadores e
críticos.
Todavia, o mais importante nessa
continuação é que é revelado o porquê de John viver fugindo, escondendo sua
identidade e ao longo dos milhares de ano ter se tornando muito mais um
sobrevivente do que algum tipo de divindade sábia: ele foge da compulsão de
todos ao redor de cobrarem dele algum tipo de conhecimento secreto ou revelação
religiosa que finalmente desse à humanidade um sentido e propósito.
No primeiro filme, foi deixado bem claro
que John, apesar de imortal, sempre foi prisioneiro do horizonte de
conhecimentos de cada época em que viveu – sua percepção cognitiva sempre foi
fragmentada, sem conseguir criar uma síntese, sabedoria ou alguma revelação
bombástica.
Que é exatamente isso que o grupo de
jovens espera sobre a identidade secreta de John Young: um homem que seja
alguma espécie de messias, um enviado das estrelas ou a própria volta de Jesus
Cristo... Ou, o mais fantástico: Jesus jamais morreu, e John é o próprio
messias.
Claro que essas conjecturas são heresias
para o jovem Philip, um fundamentalista cristão nascido em uma família cujos
pais pertencem a uma igreja pentecostal. Atormentado por dúvidas teológicas e
existenciais, Philip vive numa infernal polaridade: John pode ser Cristo... mas
também o próprio Anti-Cristo, tal como previsto no livro bíblico do Apocalipse.
Não é necessário muito
esforço para adivinhar que todo fundamentalismo inspira a violência e John
poderá esperar de Philip uma ameaça a sua própria vida.
Enquanto
o primeiro filme focou mais nas discussões intelectuais de um grupo de
cientistas, aqui nessa continuação vemos John exposto ao mundo cotidiano das
novas tecnologias e do comportamento humano imprevisível pela busca de um
sentido para a existência.
O
problema é que John Young é o espelho daquilo que o homem mais teme: o
niilismo, a inexistência de qualquer propósito na vida terrestre. Tudo que John
ensina na universidade é aquilo que já conhecemos nos livros. Ele foi apenas
uma testemunha privilegiada de importante fatos históricos. O pouco que
aprendeu, tentou revelar certa vez para o povo na antiga Galiléia, em um monte
de oliveiras. Para, assustado com o efeito, fugir da multidão que começou a
vê-lo como Cristo, messias e congêneres.
Por
isso, a principal ironia dessa sequência é que aquilo que John mais teme ter
surgido em um grupo de jovens alunos: como, em pessoas tão jovens, se manifesta
um comportamento bipolar tão velho como a própria humanidade – de um lado, a
busca desesperada por algo (messias, ETs etc.) que lhe dê algum sentido para a
vida; do outro, a reação violenta diante daquele que lhe nega. É a base
psíquica de toda a violência, ódio e intolerância que acompanha toda história
humana.
Logicamente,
um ser imortal passaria sua existência fugindo dessa trágica recorrência.
Ficha Técnica
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Título: The Man
From Earth: Holocene
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Diretor: Richard
Schenkman
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Roteiro: Emerson
Bixby, Jerome Bixby
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Elenco: David Lee Smith, Brittany Curran, Sterling
Knight, Akemi Look, Vanessa Williams
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Produção: Falling Sky Entertainment
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Distribuição: Parade Deck
Films
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Ano: 2017
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País: EUA
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