quarta-feira, agosto 22, 2018

Se a Globo fosse uma pessoa, como ela seria?


“Se a sua marca fosse uma pessoa, como ela seria?... E a sua personalidade?”. A partir dessa pergunta, os marqueteiros especializados no chamado “Brand Persona” definem a “essência” de uma marca: Volvo? É “seguro”... Lamborghini? É “exótico”... Disneylândia? É “mágico”. E como seria a Organização Globo, principalmente após a decisão da Comissão de Direitos Humanos da ONU para que Lula possa exercer seus direitos políticos enquanto estiver na prisão? Entre simplesmente ignorar a notícia e, depois, rebaixá-la a “fake news” (sob o silêncio das agências “hipsters” de checagem), se a Globo fosse uma pessoa, estaria com sérios sintomas de esquizofrenia midiática e formações reativas psíquicas que vão de “negação” a “transbordamento”. Um malabarismo jornalístico somente possível pela fragmentação da divisão dos blocos de notícias em seus telejornais que agora não apenas tenta ocultar fatos. Mas também esconde a própria esquizofrenia midiática: como em um momento ser a favor... e em outro ficar contra?

domingo, agosto 19, 2018

Em "A Harmonia Werckmeister" o eclipse da Razão que antecede tempos sombrios


Um circo, cuja principal atração é uma enorme carcaça de baleia empalhada, chega a um remoto vilarejo no interior da Hungria, gélido e envolto numa permanente neblina. E junto com o circo, medo e presságios de crise e escassez de carvão para aquecer as casas. E o oportunismo político espreita as incertezas e o obscurantismo local. Por que? Para um velho musicólogo porque desde que o compositor barroco Andreas Werckmeister ofereceu ao mundo a afinação temperada (base do sistema tonal), o mundo quebrou a harmonia com as músicas das esferas celestes trazendo o desencanto e a desesperança. Esse é o filme “A Harmonia Werckmeister” (Werckmeister Harmoniák, 2000) do diretor húngaro Béla Tarr. Uma fábula política sombria filmada em longos planos-sequência descrevendo como o mal pode se esgueirar numa comunidade aparentemente pacífica. E a Razão ser eclipsada pelo desencantamento do mundo.  

terça-feira, agosto 14, 2018

Filme "Extinção" e a Teoria Gnóstica da Intrusão Alienígena



Devo reconhecer que esse humilde blogueiro resistiu muito a assistir ao filme “Extinção” (Extinction, 2018). Vendo o pôster promocional e assistindo ao trailer, tudo levava a crer que o filme seria mais do mesmo nesse subgênero sci-fi sobre aliens invadindo a Terra. Afinal, maniqueísmo e patriotismo marcaram as produções por décadas. Porém, “Extinção” é a prova definitiva sobre as mudanças atuais nesse subgênero – no caso do filme, uma narrativa com interessante ponto de virada que claramente remete à chamada “Teoria Gnóstica da Intrusão Alienígena”. A mais antiga teoria sobre aliens no planeta, 1.600 anos anterior a atual onda de teorias sobre aliens e OVNIs no planeta, iniciada em 1947. Antiga teoria baseada nos textos gnósticos raros derivados das Escolas de Mistérios da antiguidade pré-cristã que se convencionou chamar de “Biblioteca de Nag Hammadi”. Um protagonista com pesadelos recorrentes sobre uma violenta invasão alienígena no planeta, até que a realidade parece materializar seus terríveis sonhos. Mas nada será o que parece. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.

domingo, agosto 12, 2018

Série "Filhos do Caos": a combinação totalitária tecnologia, meritocracia e educação


Muitos consideram a série taiwanesa “Filhos do Caos” (“On Children”, 2018-), disponível no Netflix, como o “Black Mirror” oriental: nos cinco episódios estão modernas tecnologias (de uma espécie de controle remoto tempo-espaçial a neuro-dispositivos) que criam mundos distópicos. Porém, todo o controle, disciplina e opressão recaem sobre adolescentes – de um lado vivendo relações familiares disfuncionais de classe média (pais que jogam nos filhos a culpa pela renúncia e sacrifício), e do outro ambientes escolares meritocráticos e ultra competitivos onde entrar na melhores escolas e universidades significa honrar o status da família diante da sociedade. Cada um dos cinco episódios narra a totalitária combinação entre valores culturais milenares com as modernas tecnologias de vigilância e controle. Restando à juventude roubada a saída através do realismo fantástico e o suicídio. 

sexta-feira, agosto 10, 2018

Cinegnose participará do Simpósio "Do Mundo Arcaico às Cosmologias Modernas" no RJ


“Por que o mundo tem que acabar? – Neo-apocalíptica e Escatologias Líquidas”. Esse será o tema da palestra deste humilde blogueiro no Simpósio “Do Mundo Arcaico às Cosmologias Modernas”, evento organizado pela revista eletrônica “Cosmos e Contexto” juntamente com o Centro de Estudos Avançados de Cosmologia (CEAC). O Simpósio acontecerá de 22 a 24 de agosto no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), Rio de Janeiro, com a participação de filósofos, historiadores, cosmólogos, pesquisadores e sacerdotes, procurando um saber antidogmático que questione o monopólio da Ciência na construção da realidade.

domingo, agosto 05, 2018

"As Boas Maneiras": um lobisomem brasileiro em São Paulo num país dividido


O filme brasileiro “As Boas Maneiras” (2017), da dupla de diretores e roteiristas Juliana Rojas e Marco Dutra, parece dialogar com o clássico expressionismo alemão Gabinete do Dr. Caligari (1919) e o brasileiro “Que Horas Ela Volta?” (2015). Como o filme alemão, combina a crítica social com o realismo fantástico. Mas “As Boas Maneiras” torna “Que Horas Ela Volta” em um filme datado: o drama de uma empregada doméstica que acompanha a estranha gravidez da sua patroa rica (que em noites de Lua cheia se torna sonâmbula), reflete o imobilismo de uma sociedade ainda fundada na antiga ordem escravocrata. Diferente do momento otimista do filme de 2015 (o clima de progresso econômico e mobilidade social), tal como um sismógrafo, “As Boas Maneiras” reflete o imobilismo e desencanto de uma sociedade dividida: o Mal que surge das entranhas da elite do bairro do Brooklin para invandir a periferia pobre do Capão Redondo – um lobisomem brasileiro em São Paulo.

sexta-feira, agosto 03, 2018

Bolsonaro e Neymar lucram com negatividade antimídia


Em uma diferença de apenas 24 horas, dois sintomas dos estranhos tempos em que vivemos: no domingo, no horário mais caro da TV brasileira, o Fantástico da Globo, um pedido de desculpas auto-indulgente de Neymar com o patrocínio milionário da Gillete. No dia seguinte, o candidato à presidência de extrema-direita, Jair Bolsonaro, no programa Roda Viva da TV Cultura, apontando uma metralhadora de cacofonias numa estudada estratégia de confusão verbal e bate boca. Dois personagens que ganham força não pelas virtudes (nem que seja para simulá-las) mas pela negatividade. Nesses dois eventos o “bom senso” e a “ponderação” foram mandados à favas mostrando uma estratégia paradoxalmente antimídia – ganham força a partir de uma autodestruição das estratégias de enunciação que sempre ajudaram a mídia a simular possuir algum valor de uso: “informar”, “entreter” e “educar”. As, digamos assim, “sinceridades” de Bolsonaro (a extrema-direita em seu estado bruto, sem as estratégias de enunciação suavizantes) e de Neymar (a negação franca da virtuosidade do esporte – "falem o que quiser porque tenho dinheiro!") são atos paroxistas. Se transformaram em “máquinas celibatárias” que ganham força investindo contra a própria mídia que os promoveu.

terça-feira, julho 31, 2018

Como ler as intenções de um produto Disney com "Os Incríveis 2"


Em 2001 Karl Rove, Vice-Chefe da Casa Civil do presidente Bush, reuniu os chefões de Hollywood em Beverly Hills. Num esforço de propaganda, Rove exigiu da indústria do cinema mais filmes sobre família, heróis e ameaças externas. Foi o ponto de partida da onda de filmes de super-heróis com franquias da Marvel e DC Comics. E a animação da Disney “Os Incríveis” em 2004 fez parte dessa agenda. Depois de 14 anos, “Os Incríveis 2” é lançado. Diferente do tom motivacional das outras produções do estúdio Pixar, a franquia “Os Incríveis” se distingue pela explícita temática social e política. Dessa vez, Mulher Elástica é a protagonista, patrocinada por um megaempresário de uma rede de comunicação numa estratégia de propaganda para reabilitar a imagem dos super-heróis. E os problemas da família do Sr. Incrível às voltas com a opinião pública, as leis e os políticos. Que se tornam inimigos tão nefastos quanto a nova geração de super-vilões. “Os Incríveis 2” é um exemplo didático da “Agenda Hollywood” proposto por Karl Rove: anti-intelectualismo e repulsa à política como novas estratégias para conquistar as mentes de crianças e adultos. Pauta sugerida pelo nosso leitor Saulo Regis.

domingo, julho 29, 2018

Curta da Semana: "Final Offer": aliens agora preparam "invasões híbridas"


Algo está mudando no clássico roteiros dos filmes de invasões alienígenas. A série “Colony” do Netflix é uma evidência. E o curta canadense “Final Offer” (2018) é uma prova. Agora as sinistras inteligências de outros planetas nos atacarão através de “invasões híbridas”: em primeiro lugar, explorando as fraquezas da natureza humana, para depois roubarem o que quiserem. Um advogado “loser” e alcoólatra acorda de ressaca preso em uma estranha sala em estilo vitoriano, diante da garota com a qual estava na última noite. Ela é a representante de uma raça alien e ele foi escolhido como representante da humanidade para a “negociação” de um sinistro contrato: os extraterrestres querem levar nossos oceanos e em troca... seduzir o pobre advogado através da sua baixa autoestima.

sábado, julho 28, 2018

Filme "O Culto": e se nossas vidas forem gigantescas anomalias temporais?


Uma boa ideia, com um roteiro inteligente, um elenco forte são capazes de fazer filmes convincentes, mesmo com pouco dinheiro. O filme “O Culto” (The Endless, 2017) é mais um filme independente que comprova a capacidade inventiva de renovar subgêneros do horror e da ficção científica. Dessa vez a dupla de diretores Justin Benson e Aaron Moorhead (“Resolution”, 2012) faz um inteligente meta-horror em torna do tema das anomalias tempo-espaço. Dois irmãos (interpretados pelos próprios diretores), depois de terem fugido de uma suposta seita suicida em uma floresta montanhosa, decidem retornar depois de receberem um estranho vídeo. “O Culto” não se limita a fazer uma desconstrução do tema dos “paradoxos temporais” no cinema. Num insight gnóstico, estende esses paradoxos para a nossa realidade cotidiana: e se nossas próprias vidas já fossem gigantescos paradoxos tempo-espaço, que nos aprisionam nesse cosmos, obrigando-nos a repetir uma mesma narrativa indefinidamente? Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.

quinta-feira, julho 26, 2018

Assassinato da estudante brasileira na Nicarágua revela timing da guerra híbrida


O assassinato da estudante brasileira de medicina na Nicarágua, em meio à violência nas manifestações contra o governo Daniel Ortega, é mais uma evidência de que a crise naquele país segue o roteiro já visto das guerras híbridas no Brasil e no mundo. Timing perfeito: no momento em que a grande mídia internacional já está retratando a “Revolução Popular Híbrida” nicaraguense como “espontânea” ou “o novo” que veio substituir a velha política carcomida pela corrupção, surge a necessidade de uma vítima feminina exemplar. Assim como no Brasil, quando vítimas femininas anônimas foram  repercutidas pela grande mídia e redes sociais durante os protestos de 2013 a 2016. E como foi a execução de Marielle Franco. É sempre a deixa para a grande imprensa entrar em ação com um discurso único: “protestos pacíficos” que são violentamente reprimidos por um governo corrupto. Como sempre, a cobertura dos eventos descontextualiza o cenário geopolítico por trás de uma crise nicaraguense que surge (como em toda Guerra Híbrida) após uma reeleição democrática: a parceria multipolar da Nicarágua com China e Rússia para a construção do Canal Transoceânico para fazer frente ao Canal do Panamá, controlado pelos EUA.

segunda-feira, julho 23, 2018

Na série "Strange Angel" a ciência dos foguetes se confunde com o Ocultismo


Seu nome foi proscrito da história da Ciência. Embora suas descobertas tenham sido uma das bases das viagens espaciais e de ser co-fundador do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, seu nome também foi riscado da história da agência espacial. Ele é Jack Parsons (1914-1952), jovem projetista de foguetes e químico, criador dos combustíveis sólidos. Mas viveu em um fina linha que separa a genialidade da loucura: de dia exercia a ciência experimental. E à noite era o líder da O.T.O (Ordo Templi Orientis) da Califórnia, organização ocultista dominada por Aleister Crowley. Até o momento em que Ciência e Ocultismo se misturaram a tal ponto em que para ele a tecnologia dos foguetes era não apenas uma forma do homem chegar ao espaço. Mas também a oportunidade para abrir portais para seres extradimensionais. A série “Strange Angel” (2018-) produzido pela rede CBS dos EUA pretende mergulhar na vida desse controverso cientista que, ironicamente, possui uma cratera no lado oculto da Lua batizada com o seu nome.

sábado, julho 21, 2018

Pós-verdade e Fake News são notícias falsas para colocar jornalistas hipsters "na linha"


Diretores, presidentes e executivos da grande imprensa e associações jornalísticas, historicamente sempre avessos às “teorizações” da área acadêmica, de repente passaram a participar ativamente de congressos e simpósios sobre jornalismo investigativo, ciberjornalismo e jornalismo online. Para repercutirem não só junto a pesquisadores, mas também clientes, profissionais e líderes de opinião a já extensa lista de livros e artigos sobre o fenômeno da “pós-verdade” e das “fake news”. Para provar como a supremacia da verdade deixou de existir no debate público atual. E os vilões: Internet, blogs, redes sociais. Por que esse repentino esforço profissional-acadêmico para dar um ar de novidade a um fenômeno tão velho quanto a própria história do Jornalismo? A necessidade em dar verniz científico para noções retóricas de “pós-verdade” e “fake news” através de um velho macete de engenharia de opinião pública: publicação de artigos científicos e livros. Conferir verossimilhança a uma agenda que traz lucros para a grande mídia: transformar jornalismo investigativo em “checagem”, colocar os jornalistas hipsters “na linha”, sentados, sem ir a campo. E com desdobramentos mercadológicos: monopólio e censura da concorrência no mercado de notícias.

quinta-feira, julho 19, 2018

Na série "Colony" uma invasão alienígena demasiado humana


Disponível no Netflix, a série “Colony” (2016-) subverte de diversas maneiras a típica história de invasão alienígena: os humanos podem ser tão amorais e cruéis quanto os aliens e também não há uma metrópole distópica, sombria e em ruínas, mas uma Los Angeles ensolarada sob um persistente céu azul. Mas principalmente, os invasores não criam guerras de extermínio com suas naves ou máquinas monstruosas, como em clássicos do gênero. Apenas exploram as principais fraquezas humanas por meio de ferramentas que a própria humanidade criou para subjugar as fraquezas de outros seres humanos: meios de comunicação, religião, ensino e propaganda que arrancam o pior de nós – ambição, traição, ganância, egoísmo e desejo por poder. Eles não são mais “aliens”: agora são “RAPs” ou “hospedeiros”. Invasores “low profile” que apenas jogam os homens uns contra os outros, tirando seu lucro disso. Uma invasão “demasiado humana”, assim como nas atuais Guerra Híbridas nas quais o poder global invade países conquistando corações e mentes.

domingo, julho 15, 2018

Por que agora a Globo apoia movimentos identitários? Brizola explica.


Em toda sua história, a Rede Globo foi acusada de sexismo e racismo: uma teledramaturgia com um cast de atores que mais parecia ter saído de algum país nórdico, enquanto os poucos negros ocupavam papéis subalternos; as mulheres eram objetificadas em programas de entretenimento e o machismo sempre figurado como uma prova do verdadeiro amor. Ao mesmo tempo, o seu diretor de Jornalismo dizia que o Brasil nunca foi racista e que isso não passava de uma invenção da esquerda para dividir o País. Mas de repente, a emissora começou a apoiar e dar visibilidade a movimentos identitários e culturais (movimentos de gênero, étnico-raciais, geracionais que postulam a diversidade, alteridade e reivindicação de direitos sociais) como nunca antes. Política de “controle de danos” para tentar descolar a sua imagem do Golpe de 2016 e dar alguma credibilidade ao telejornalismo? Ou há algo além? De natureza estratégica em um ano eleitoral decisivo. “Se a Globo é a favor, somos contra!”, alertava o velho Brizola. E se nesse momento a emissora estiver pondo em prática outra velha máxima: “dividir para conquistar”? A Globo estaria desempenhando o seu derradeiro papel? Ser o para-raio do ódio tanto da esquerda quanto da direita?

quinta-feira, julho 12, 2018

Frankenstein, Inteligência Artificial e pós-feminismo em "Desejos Virtuais"


Esse é outro filme para cinéfilos que adoram se aventurar por filmes estranhos. Dessa vez, para aqueles que acreditam que por trás do senso de humor trash de filmes que aparentemente não se levam à sério há importantes temas para serem discutidos. “Desejos Virtuais” (“Teknolust”, 2002) é um filme que reflete todo o ciber-imaginário pós-humanista (com motivações místicas) e do velho conceito de Inteligência Artificial (que ainda tentava emular a inteligência humana) por trás da antiga Web 1.0. Uma bio-geneticista clona seu próprio DNA em três mulheres “Autômatos Auto Replicantes” (SARs) que habitam um site da Internet. Porém, necessitam de constantes quantidades de cromossomo Y presente no sêmen humano. Uma delas deve se aventurar no mundo real para, através de sexo casual em bares locais, obter preservativos usados que servirão de sachês que serão consumidos pelas SARs. Frankenstein de Mary Sheeley se encontra com o psicodelismo de Timothy Leary e o pós-feminismo de Camile Paglia. 

terça-feira, julho 10, 2018

Moro e Neymar: a vaidade é o pecado favorito do Diabo


Em 72 horas os maiores investimentos semiótico-ideológicos da grande mídia foram desconstruídos: Sérgio Moro e Neymar Jr. O primeiro caiu na armadilha do habeas corpus que supostamente iria soltar Lula. E o segundo, na arapuca tautista midiática que fez o jogador acreditar que era intocável, até a viralização do mote “cai-cai” em vídeos pelo mundo eliminá-lo junto com a Seleção. Duas bombas semióticas: uma intencional (o objetivo não era soltar Lula, mas criar um fato político para o mundo) e outra involuntária (efeito da blindagem tautista da mídia e mercado publicitário). Al Pacino fazendo o papel do próprio demônio em “O Advogado do Diabo” tinha razão: “a vaidade é meu pecado favorito...”. A vaidade dos juízes e do jogador deixou-os cegos. A mídia sentiu o golpe: enquanto o Fantástico teve que se desfazer de Neymar (“hoje não se tolera mais ludibriar o juiz”, fuzilou Tadeu Schmidt), Globo News começou a falar em “instabilidade jurídica” e “politização do Judiciário”. Bombas semióticas perfeitas que produzem efeitos fatais: detonação, letalidade, impasse midiático e dissonância cognitiva.

domingo, julho 08, 2018

Curta da Semana: "Craig's Pathetic Freakout" - quando "Show de Truman" se aproxima da maconha


E se ao invés de cerveja, o amigo Marlon desse a Truman um cigarro de maconha para tentar acalmar suas crises paranoicas sobre as suspeitas de que sua vida era um programa de TV? Será que Truman ficaria “anestesiado” ou chegaria mais rapidamente à verdade no filme “Show de Truman?”. O curta “Craig’s Pathetic Freakout” (2018), de Graham Parkes, levanta essa curiosa questão de cinéfilo – Craig é um cara orgulhoso demais para aceitar que não pode lidar bem com drogas. Fuma uma erva e começa a ficar paranoico, acreditando estar dentro de um filme. Ficção e realidade se misturam num curioso exercício metalinguístico e de narrativa em abismo – um filme dentro de um filme. E, como toda metalinguagem no cinema e audiovisual, trás um sabor gnóstico: e se a realidade for também um filme dirigido por alguém muito louco? 

sábado, julho 07, 2018

Por que o Brasil não podia ser campeão?


A máquina semiótica da Guerra Híbrida faz nesse momento um pesado investimento ideológico para justificar os efeitos do atual modelo neoliberal imposto ao Brasil: crise, desemprego e precarização do trabalho, no qual milhões de desempregados foram promovidos repentinamente a “empreendedores”. E no rescaldo da eliminação do Brasil diante da Bélgica na Copa da Rússia está sendo mobilizado uma operação de emergência para salvar o alto investimento semiótico-ideológico feito no futebol pela grande mídia e mercado publicitário: salvar Tite e Neymar e colocar em ação o tradicional sacrifício do bode expiatório – o volante Fernandinho. Por que? Ao contrário do “pão e circo” que cercava o futebol nos anos da ditadura militar, hoje a função é mais sofisticada: a de “cimento ideológico” através de um discurso mérito-empreendedor no qual Tite é o maior garoto-propaganda. Enquanto isso, Neymar é o reflexo da “commoditização” do futebol brasileiro: jogadores exportados com baixo grau de transformação para, nos clubes europeus, se transformarem em “craques-commodities” de alto valor agregado. Mas cronicamente disfuncionais em suas seleções de origem.

sexta-feira, julho 06, 2018

O pesadelo tecnognóstico na série "Altered Carbon"


O sonho tecnognóstico por séculos, desde a Teurgia e Alquimia, foi transcender a matéria – abandonar os nossos corpos como condição para a verdadeira evolução espiritual. Mas como Santo Irineu de Lyon alertou no século II, “O que não é assumido não pode ser redimido”. E o sonho milenar pode se transformar em pesadelo com uma tecnologia que promete a imortalidade: a consciência digitalizada em “pilhas cervicais” que podem, a qualquer momento, serem transferidas para qualquer corpo (ou “capa”). Mas isso acabou provocando uma sociedade tremendamente desigual e violenta. Essa é a série Netflix “Altered Carbon” (2018-), um cyberpunk-noir que suscita profundas reflexões teológicas: se pudermos ser ressuscitados após a morte em uma nova “capa”, a alma persistirá entre os códigos que transcreveram nossa consciência e memórias? Ou nos transformaremos em “capas” ocas manipuladas por uma elite amoral? Uma elite que alcançou a verdadeira imortalidade – fazer backups da própria consciência via satélite.

quarta-feira, julho 04, 2018

Globo cria "crocodilo napolitano" na Copa da Rússia


Em 2009 o jornal inglês “The Telegraph” contou a pitoresca história de um mafioso napolitano que ameaçava comerciante locais com um imenso crocodilo. Qualquer um deles poderia ser a próxima refeição do bicho se não lhe pagasse proteção. É melhor ser temido do que amado, como afirmava Maquiavel? Depois de pouca mais de uma década de pauta diária com Mensalão e Lava jato, intimidação virou um “modus operandi” tautista da Globo. Traquejo tão natural que até invadiu outras editorias. Assim como a hábito do cachimbo entorta a boca. Até na cobertura da Copa da Rússia. Às vésperas do jogo das oitavas do Brasil contra o México, a Globo colocou sob suspeita o árbitro italiano em possíveis conspirações no VAR (árbitro de vídeo) e, de quebra, requentou notícia antiga sobre suposto envolvimento de jogador mexicano com cartéis de drogas. A Globo apresentou o juiz e o jogador para o seu “crocodilo napolitano” intimidando-os caso se intrometessem em seus interesses? Na verdade a mensagem da Globo não foi para nenhum dos dois. Foi para os seus potenciais inimigos internos. Principalmente porque, ao contrário da Copa de 2014, agora o sucesso da Seleção é estratégico para Globo e mercado publicitário.

segunda-feira, julho 02, 2018

Perdido no labirinto da Inteligência Artificial em "Lunar"


No filme “2001” de Kubrick o computador HAL 9000 queria matar toda a tripulação da nave Discovery a caminho de Júpiter. Já no filme de estreia do diretor Duncan Jones, “Lunar” (“Moon”, 2009), o computador Gerty de uma estação lunar automatizada é mais amigável, sempre com um “smile” no monitor. Mas não menos perigoso: ele representa o atual estágio algorítmico da inteligência artificial – sempre com uma voz amigável, é como se jogasse migalhas de pão em um labirinto para que o sigamos. Até nos perder de nós mesmos e esquecermos do que foi um dia a noção de “inteligência humana”, envolvidos que somos em bolhas virtuais que acreditamos ser a realidade. É o que acontece com Sam Bell em “Lunar” - um solitário astronauta em uma estação lunar de mineração que, após três anos na Lua, espera o final do contrato de trabalho com uma empresa, para retornar à Terra. Mas seu único companheiro, o computador Gerty, criou o seu próprio labirinto para Sam se perder.

quinta-feira, junho 28, 2018

O Mal está na crueldade cotidiana no filme "Experimentos"


A velha questão permanece: como são possíveis holocaustos e genocídios, sistemática e profissionalmente organizados seja na guerra ou em sistemas metódicos cotidianos? Quem são essas pessoas que executam as ordens? Burocratas que apenas obedecem superiores ou monstros frios e maus? No filme “Experimentos” (“Experimenter”, 2016), sobre os célebres experimentos sobre autoridade e obediência realizados pelo psicólogo social Stanley Milgram em 1961, a resposta é paradoxal: nem uma coisa e nem outra, intuiu Milgram. Para entender o jogo da autoridade que cria ilusões, somente criando uma outra ilusão: uma experiência de simulação no qual o voluntário era colocado em um dilema moral – é possível obedecer ordens mesmo que confrontem convicções íntimas? “Experimentos” mostra como o insight gnóstico muitas vezes está presente na Ciência: a ilusão pode definir um cenário no qual a verdade pode ser revelada – a “banalidade do mal”, que é mais cotidiana do que podemos imaginar.

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