quarta-feira, julho 12, 2017

O que nos conta o sismógrafo gramatical da TV Globo?



Em 2015 o escritor Pablo Villaça ironizou a proliferação do adjunto adverbial de concessão no bordão “Apesar da crise” repetido pela grande mídia como uma deliberada tática de repetição para criar uma crise autorrealizável e desestabilizar o governo Dilma. Na época, depois de décadas de “jornalismo adversativo”(“porém”, “mas” etc.) a mídia dava uma guinada gramatical para os advérbios. Agora, no momento em que o desinterino Temer virou “chefe de quadrilha” depois de ser incensado como uma espécie de novo Winston Churchill da ponte para o futuro, a mídia corporativa dá outra guinada gramatical: retorna ao velho jornalismo das conjunções adversativas: “há crise política, MAS a economia dá sinais de recuperação”, rezam os articulistas da Globo, tentando divorciar a política da economia. Essas guinadas gramaticais não são meras mudanças de estilo na máquina retórica de destruição da Globo. Sua engrenagem é um verdadeiro sismógrafo que repercute o movimento das placas tectônicas da política e economia, movimentos preocupantes para a Globo na luta para a manutenção do seu monopólio. E principalmente o porquê, de repente, a Globo querer jogar o desinterino Temer ao mar.

terça-feira, julho 11, 2017

Curta da Semana: "Correntes" - o silêncio é o som mais alto que se pode ouvir


O curta brasileiro “Correntes”(2016), de Alessandro Vecchi, retoma a força das imagens, a própria natureza do cinema – todo o poder das alegorias e metáforas, dispensando linhas de diálogo e a narrativa realista. A incomunicabilidade de um casal cercado de fotos de um passado de filhos e momentos felizes. Mas que agora tudo se acabou em um tenso silêncio no qual a TV e o smartphone são as únicas válvulas de escape. O curta guarda duas ironias: o silêncio é o som mais alto que se pode ouvir em uma relação – tudo é comunicação, mesmo o silêncio. Porém uma forma de comunicação catatônica e neurótica, a incomunicabilidade. E a segunda ironia: como as tecnologias chamadas “de comunicação”, ajudam a reforçar a incomunicabilidade. Principalmente o fenômeno da “dupla tela” dos smartphones no qual enquanto a mente ocupa o ciberespaço o corpo mantem-se inerte no espaço presencial.

segunda-feira, julho 10, 2017

Adolescência é um drama existencial e universal em "Ponto Zero"


“Ponto Zero” (2016), do diretor gaúcho José Pedro Goulart, é um ponto fora do movimento pendular do drama da adolescência no cinema, quase sempre figurado entre a exaltação e a melancolia solipsista platônica. “Ponto Zero” vai muito mais além dos tradicionais pontos de vista psicologizante  ou sociológico sobre a juventude. Goulart almeja um olhar mais universal e existencial. Por isso, optou por uma narrativa com escassas linhas de diálogo, apostando na força das imagens repletas metáforas e lirismo. Ênio, um jovem em um lar marcado por um pai ausente e violento e uma mãe que tenta manter as aparências da instituição familiar. A descoberta da sexualidade e do próprio corpo são sinais que a infância acabou. Porém, o mundo adulto para o qual se encaminha é inautêntico. Em meio ao estranhamento e alienação, como um Estrangeiro em sua própria casa, Ênio busca uma terceira via. E paradoxalmente será em uma jornada, numa noite chuvosa pelo submundo de “inferninhos” e prostitutas em ruas de Porto Alegre, que o protagonista encontrará a verdade espiritual e existencial do seu drama.Filme sugerido pela nossa leitora Suzana Moraes. 

sábado, julho 08, 2017

Filme "O Círculo" reforça a "Hipótese Fox Mulder"


Ao lado da torta de maçã e da bandeira estrelada dos EUA, não há nada mais norte-americano do que a imagem do ator Tom Hanks. Pois agora, no filme “O Círculo” (The Circle, 2017) ele é um vilão, o CEO de uma poderosa empresa de tecnologia de informação que emula o Google e o Facebook com sombrios projetos de vigilância e invasão da privacidade global. O que significa um filme estrelado pelo patriótico Tom Hanks denunciando a ameaça de uma dominação orwelliana pelo maior produto norte-americano, a tecnologia da informação desenvolvida pelo Vale do Silício? “O Círculo” transpõe para a ficção toda a agenda crítica relacionada a ameaça da espionagem e vigilância global através das comunicações eletrônicas e do “big data” extraído das redes sociais digitais. Será que a repercussão hollywoodiana das denúncias sobre os supostos planos de dominação global do Vale do Silício confirmaria a hipótese conspiratória do agente especial Fox Mulder da série “Arquivo X”? Seria “O Círculo” uma tentativa de tornar a crítica uma ficção? Assim como os filmes “Margin Call” e “A Grande Aposta” ficcionalizaram os motivos da explosão da bolha financeira de 2008?

quarta-feira, julho 05, 2017

Série brasileira "3%" é o "Black Mirror" do Brasil atual


Enquanto a crítica especializada estrangeira é só elogios à série brasileira “3%” (2016-), no Brasil a crítica torce o nariz. Complexo de vira-latas? Mais do que isso. A aposta da Netflix em uma produção sci-fi em língua portuguesa reafirma o interesse estratégico da plataforma de streaming no mercado brasileiro, ameaçando o mainstream da Globo e do negócio da TV aberta. Mas há algo além: enquanto a crítica brasileira tenta enquadrar a série no cânone das distopias “teens” como “Jogos Vorazes” e “Divergente”, “3%” fez mais do que isso, confundindo a todos – ao invés das tradicionais distopias hollywoodianas, a série apresenta uma desconcertante “hipo-utopia”: um espelho sombrio do Brasil atual apontado para o futuro. Uma alegoria política na qual a meritocracia transforma-se em religião, única esperança em um País transformado em um deserto rochoso com centros urbanos dominados pela desigualdade, miséria e violência. E um processo seletivo criado pela elite é a miragem de ascensão social na direção de uma terra supostamente utópica e longe do deserto brasileiro, na qual apenas 3% chegarão.

segunda-feira, julho 03, 2017

O Jornalismo é um cadáver "investigativo" que nos sorri


Lá pelos anos 1990, Oliviero Toscani lançou o livro “A Publicidade é um Cadáver que Nos Sorri” sobre a inutilidade social da Publicidade que não mais vendia produtos, mas estilos de vida mentirosos. Propunha um modelo de Publicidade com função social, assim como o Jornalismo. Porém, o Jornalismo virou corporativo e transformou-se no próprio espelho da Publicidade - assim como grifes, marcas e logos promovem produtos, o próprio Jornalismo passou a promover a si próprio por meio da grife do “investigativo”. Por isso, foi sintomático o 12o. Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da Abraji, realizado na Universidade Anhembi Morumbi/SP, promover o procurador-geral Rodrigo Janot como estrela máxima e os “bastidores das delações da JBS e Lava Jato” como o “case” principal de um suposto jornalismo investigativo que terceirizou a atividade jornalística. Para a Abraji, jornalismo investigativo é “checar informações” de vazamentos que sempre selecionam seus jornalistas “investigativos” favoritos. Enquanto isso, Martin Baron (editor retratado no filme “Spotlight”) deu o verniz investigativo necessário para jornalistas que confundem investigação com checagem de vazamentos.

sábado, julho 01, 2017

Bombas semióticas brasileiras (2013-2016): por que aquilo deu nisso?



Desde a primeira semana daquilo que se chamou "Jornadas de Junho", em 2013, este Cinegnose desconfiava de tudo que estava ocorrendo. Iniciou então, naquele momento, uma crônica das bombas cognitivas informativas que a grande mídia passou a detonar diariamente. Moldando a opinião pública à base do choque de notícias que utilizavam ferramentas linguísticas e semióticas inéditas pela acumulação e consonância. Este blog denominou essa estratégia simbólica de "bomba semiótica" - matéria-prima daquilo que foi definido por "Guerra Híbrida", a novidade geopolítica do século XXI. O livro "Bombas Semióticas na Guerra Híbrida Brasileira (2013 - 2016)" é uma contribuição desse humilde blogueiro para entender a cronologia dessa extensiva guerra semiótica que resultou no golpe político de 2016 com o impeachment. E responder à questão que deve ser encarada para podermos pensar no futuro: por que aquilo deu nisso?

sexta-feira, junho 30, 2017

Quando sorrir soa parecido com gritar em "Helter Skelter"


Mais um filme japonês que trabalha com simbologias alquímicas de transmutação pessoal. Adaptado de um mangá homônimo e iconografia inspirada no filme “Beleza Americana”, “Helter Skelter”(Herutâ Sukerutâ, 2012) do diretor e fotografo Mika Ninagawa é um exemplo de como a cultura japonesa conseguiu filtrar a sociedade de consumo ocidental através de valores milenares, combinando tudo isso com cenários futuristas e distópicos: uma top model chamada Lilico, ícone dos adolescentes conectados 24 horas em dispositivos moveis atrás de mexericos de famosos, é uma celebridade de capas de revistas, publicidade e TV, cuja beleza esconde um sinistro segredo – uma clínica de estética com revolucionário método combinando tráfico de órgão e placentas humanas, no qual corpos são reconstruídos como verdadeiros frankenteins. Uma modelo que se transforma numa gueixa pós-moderna, uma máquina de processamento de  desejos de milhões. A beleza leva a juventude para o fundo do poço, onde destruir a si mesmo é a única saída: no caso de Lilico, quando sorri, na verdade está gritando.

quarta-feira, junho 28, 2017

Tricô, lã e Alquimia no filme "Wool 100%"


Um filme para os cinéfilos amantes do surreal e do estranho. “Wool 100%” (“100% Lã, 2006) do escritor/diretor japonês Mai Tominaga é uma curiosa comédia que combina a fábula gótica e fantástica com o humor negro repleto de simbolismos: duas irmãs idosas passam os seus dias acumulando objetos e sucatas em seu casarão, recolhidos e catalogados diariamente em uma pequena cidade japonesa. Até que encontram um cesto cheio de novelos de lã vermelha. Do emaranhando de fios surge uma jovem que tricota sem parar o próprio suéter que veste, para depois desfiar e recomeçar tudo de novo. A jovem intrusa dará início a uma complexa simbologia de transformação alquímica envolvendo a cor vermelha, tricô, infância, sexo e amor – simbolismo de libertação das protagonistas presas nas memórias do casarão, como fosse a cartografia das suas próprias mentes.

terça-feira, junho 27, 2017

O hit "Despacito", Woody Allen e a espiral do silêncio


O que tem a ver o cineasta Woody Allen com o estrondoso sucesso do ritmo reggaeton com o hit “Despacito”, nesse momento tocando em nove em cada dez festas juninas brasileiras? Muito, desde a reação de Woody diante de uma banda de punk rock no filme “Hanna e suas Irmãs” (1986) até o niilista aforismo do diretor de que a vida poderia ser resumida a três eventos: nascimento, sexo e morte. É recorrente como as músicas de sucesso sempre giram em torno desses três temas. No caso de “Despacito”, um longo monólogo masculino “gangsta” de ostentação, sedução e poder. Um “case” exemplar dos mecanismo circulares e tautológicos da indústria do entretenimento fazer sucesso com um produto que se promove como tal antes mesmo de ser distribuído e executado.  E que, como sempre, conta com a dinâmica da chamada “espiral do silêncio”.  

domingo, junho 25, 2017

Curta da Semana: "Robot & Scarecrow" - somos robôs e espantalhos em um amor impossível


Um drama de Romeo e Julieta pós-moderno. Um amor impossível entre um espantalho e um robô em meio a um festival de música eletrônica em uma zona rural qualquer. Esse é o curta “Robot and Scarecrow”, 2017) de Kibwe Tavares, conhecido por produções onde os efeitos digitais se fundem organicamente com “live action” – um robô programado para performar um show musical se apaixona por um espantalho despertado pelas bicadas dos corvos. Se misturam na multidão e tentam viver uma improvável história de amor. O curta é um dos exemplos mais diretos de como o fascínio pelos simulacros humanos (androides, robôs, fantoches, bonecos etc.) no cinema funcionaria como um espelho da própria condição humana. Naquele festival de música a condição tanto das estrelas pop quanto do público - controlados pela indústria do entretenimento, programados como um robô ou espetados em um mastro como um espantalho.

sexta-feira, junho 23, 2017

Revisitando Os Wachowskis: a Semiótica da Matrix


O filme “Matrix” (1999) dos Wachowskis  já foi dissecado e virado do avesso pela filosofia, misticisismo, esoterismo, religião, inspirando até a Física sobre a possibilidade de o Universo ser, afinal, uma gigantesca simulação computadorizada finita. Mas muito pouco ainda se falou sobre o ponto de vista da Semiótica. O que é surpreendente, já que Matrix parte de um pressuposto da ciência dos signos: não percebemos o real, mas signos mentais da realidade. “Matrix” foi muito mais do que mais uma ficção científica distópica. Na verdade os Wachowskis propuseram aos espectadores um enigma, uma “narrativa em abismo”: a emoção e empatia do público com o drama da Resistência na luta contra as máquinas é tirada da própria experiência do espectador com o seu mundo atual: já vivemos situações análogas, quando olhamos para o mundo real e o avaliamos não a partir dele mesmo, mas a partir dos signos que já foram feitos anteriormente desse próprio mundo. “Speed Racer” (2008), produção posterior à Trilogia Matrix, apenas confirmou esse propósito da dupla de diretores.

quarta-feira, junho 21, 2017

Réquiem ao Jornalismo na redação-cenário do "novo" Jornal Nacional


Todos os jornalistas da Globo de pé assistindo ao discurso do patrão, Roberto Irineu Marinho, na redação-cenário da “nova casa” do Jornal Nacional inaugurada com toda pompa e circunstância. Todos atentos como se ouvissem a convocação do seu general arregimentado a tropa para uma nova guerra. Um discurso que revela o conflito de interesses da Globo entre manter a “saúde da empresa” e a missão de buscar um “jornalismo independente”. Esse foi o constrangedor réquiem ao jornalismo em um visual que superou a tradicional “space opera” de Hans Donner para ingressar na estética holográfica do filme “Tron: O Legado”. O JN lança seu novo cenário high tech e robótico como mais uma resposta tautista à crise de credibilidade e do negócio da TV aberta - vender espaço comercial em troca de entretenimento. A inauguração da "nova casa" do JN com todo estardalhaço metalinguístico é mais uma reação da emissora ao seu declínio. Agora o JN apresenta cenários com superfícies transparentes e translúcidas para esconder a opacidade do próprio jornalismo.  

segunda-feira, junho 19, 2017

Globo prende o Brasil de 2017 na realidade alternativa do "Brazil" de 1984, por Manoel de Souza Neto


No livro “1984” George Orwell declarou: “quem controla o passado controla o futuro. Quem controla o presente, controla o passado”. Na série “Os Dias Eram Assim”, sobre os anos da ditadura militar brasileira, a Globo altera o passado, misturando ficção e realidade, para criar a imagem de que a emissora supostamente apoiou as manifestações pelas “Diretas Já” em 1984. A série foi "coincidentemente" produzida num momento em que retornam as manifestações pelas eleições diretas à presidência. A Globo quer criar uma realidade alternativa sobre o passado no delicado momento político atual – a pauta “Fora Temer”, atiçada pela poderosa emissora, foge ao controle nas ruas e evolui para “Diretas já!”. Diante dessa ameaça, a Globo reage com estratégia sincromística e tautista. Quem nos explica é Manoel de Souza Neto.

sábado, junho 17, 2017

"Einstein's God Model": Relatividade Quântica contra Deus e a morte


Imagine um thriller tecnocientífico que contasse com a consultoria de cientistas como Einstein, Thomas Edison, Niels Bohr e Nikola Tesla. Mas não há colisores de partículas ou fórmulas matemáticas. Há avançados experimentos na busca pela vida pós-morte. Esse é o curioso filme indie “Einstein’s God Model” (2016) do diretor Philip Johnson: como a busca de existências após a morte por meio de um Spectrographic EMF Receiver construído por Edison nos anos 1920 revive o velho conflito entre o modelo divino de Einstein contra o modelo ateu quântico de Bohr. Um grupo bizarro de “cientistas” (um físico renegado, um anestesista e um médium cego) irá confrontar Relatividade, Mecânica Quântica e Teoria das Cordas para buscar o mito da “segunda chance” (corrigir em mundos paralelos erros cometidos nesse mundo) e  uma interpretação gnóstica da Física que empurra os modelos teóricos para além da maior falha da Criação: a seta do Tempo. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.

quinta-feira, junho 15, 2017

Miriam Leitão, capas de revistas e a teratopolítica


A denúncia tardia da jornalista Miriam Leitão de que supostamente teria sido vítima do ódio de petistas num voo entre Brasília-Rio tem um timing preciso: o momento no qual Lula e Lava Jato estão em segundo plano diante da guerra entre os canhões da Globo e a resistência do desinterino Michel Temer em se agarrar à presidência. Além da palavra de ordem “Fora Temer!” ter evoluído nas ruas para o lema “Diretas Já!”. Miriam Leitão coloca mais uma vez em funcionamento os mecanismos da “teratopolítica” – a estratégia semiótica da criação de inimigos monstruosos (o morfologicamente disforme, o monstro ou o simulacro humano) na política. Por contraste, as recentes capas das revistas informativas nacionais sobre a atual crise política demonstram isso: enquanto as representações de Dilma e Lula derivam entre a deformidade e um simulacro humano que se quebra ou derrete, com Temer é diferente: é o enxadrista e o estrategista que mantém a morfologia humana. Diferentes planos semânticos, sintomas do atual racha na grande mídia e uma guerra fratricida entre aqueles que articularam o golpe político de 2016.

terça-feira, junho 13, 2017

Curta da Semana: "Cream" - a estrada da história das invenções está coberta de cadáveres


O que aconteceria se um cientista descobrisse um creme capaz não só de tirar manchas do rosto em questão de segundos, mas que também fosse capaz de produzir mágicos efeitos colaterais? - curar doenças, acabar com a fome, a pobreza, a morte, a tristeza e até fazer crescer florestas em desertos e despoluir o ar e rios. Todos ficariam felizes... menos algumas pessoas cujo poder depende da deliberada fabricação da escassez para a criação de valor e lucro – e por isso a estrada da história das invenções seria coberta por cadáveres. Esse é o tema dessa pequena fábula contemporânea, o curta “Cream” (2017) David Firth, conhecido pela série de animação de humor negro e terror psicológico “Salad Fingers”. Com surrealismo e um humor politicamente incorreto que lembra “South Park”, Firth introduz o espectador às principais teses do ativismo-conspiratório: as descobertas científicas filtradas ou censuradas pelas necessidades mercadológicas e a grande mídia como a principal ferramenta de engenharia de opinião pública.

domingo, junho 11, 2017

Os deuses estão mortos e as mulheres empoderadas em "Alien: Covenant"



Como sempre, um filme da franquia "Alien" se promove colocando em destaque a figura do monstruoso predador xenomorfo. Mas em “Alien: Covenant”(2017) o monstro é apenas uma isca para atrair o sadismo do público. No filme a figura do predador foi colocada em segundo plano para o diretor Ridley Scott fazer um acerto de contas com a mitologia que começou com “Alien” de 1979 através da figura do androide David. Assim como em “Blade Runner” com o replicante Roy, David rouba a cena simbolizando o nosso fascínio por frankensteins e golens. Mas também terror: e se a criatura ganhar inteligência e alma e também nos considerar como deuses e tentar fazer, da mesma maneira, o caminho de retorno aos seus criadores? E se ele se decepcionar conosco, assim como nós que matamos nossos próprios deuses? Ao mesmo tempo, as recorrentes mulheres empoderadas de Scott (Ripley, Shaw e, agora, Daniels) tomam as rédeas de uma ordem masculina amoral e decadente, ironicamente derrotada por um predador que mais parece um símbolo fálico hiperbólico. E o pano de fundo preferido de Scott: um Universo sem propósito ou sentido que observa a tudo indiferente.

sexta-feira, junho 09, 2017

CNN flagrada fabricando notícia falsa nas ruas de Londres



Repercute nas redes sociais um vídeo no qual uma equipe de reportagem da CNN é pega com a mão na massa fabricando uma manifestação numa rua de Londres contra o Estado Islâmico. Supostamente são mulheres muçulmanas, com destaque para uma criança orientada a segurar um cartaz de papelão. A repórter se transforma em diretora de cena e até policiais colaboram com a produção da CNN, ajudando nas marcações de cena dos “atores”. Desde o “Royal Wedding”, o casamento de Lady Di e príncipe Charles em 1981, cada vez mais a mídia avança sobre a realidade produzindo “eventos-encenação”: roteirizados, dirigidos e produzidos como fossem “notícias” e o jornalista uma “testemunha ocular da História”. Essa pequena amostra de como se constrói a atual matrix de notícias dá o que pensar: imagine a construção de manifestações em larga escala como as sucessivas “primaveras” que varreram o mundo com seus black blocs e máscaras do Anonymous – a árabe, ucraniana, turca, brasileira...

quarta-feira, junho 07, 2017

Em "AfterDeath" o Inferno é a própria Criação


“AfterDeath” (2015) é uma grata surpresa dentro da onda “recente” (já dura quase três décadas) de representações da existência pós-morte no cinema. Inspirado na peça teatral “Entre Quatro Paredes” (1944) do filósofo existencialista Jean-Paul Sartre, “AfterDeath” consegue derivar do existencialismo (“o Inferno são os outros”, frase que encerra a peça sartriana) para o Gnosticismo (o Inferno é a própria Criação). Cinco jovens despertam em uma praia desolada trazidos pela maré. Só existe um farol e uma cabana, além de uma entidade ameaçadora, uma fumaça negra. Lá descobrirão que estão mortos e num lugar que é mais do que uma antessala para o Céu ou Inferno. Um filme sobre como a culpa e pecado podem fazer parte de um jogo perverso criado por alguém que não nos ama. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.

terça-feira, junho 06, 2017

Ataques em Londres consolidam a tática do "meta-terrorismo"


Depois de quase duas décadas de “false flags” e “inside jobs”, desde os ataques de 2001 nos EUA, para justificar a agenda geopolítica norte-americana, esses não-acontecimentos se tornaram autoconscientes. O mesmo roteiro repetido “ad nauseam” se tornou cada vez mais evidente até para veículos de grande mídia com CNN cujos analistas e repórteres vem soltando termos como “psy ops” e “false flags”. Por isso, desde os ataques ao Charlie Hebdo em Paris começamos a acompanhar elementos da tática diversionista do “meta-terrorismo” cujo ápice foi alcançado nesses ataques a London Bridge e Borough Market: policiais flagrados trocando rapidamente de roupa por trás de vans, como estivessem mudando de figurino para desempenhar novos papéis, ou tatuagens nos braços de um dos terroristas mortos (proibidas pela religião muçulmana) parecem indícios plantados propositalmente para simular uma produção mal feita, feitos para atrair câmeras e celulares e repercutirem em redes sociais, desmoralizando críticas sérias como “teorias conspiratórias”. Mais camadas de simulações para tornar ainda mais opaco para a opinião pública os não-acontecimentos.

domingo, junho 04, 2017

Doria Jr. é vanguarda de um experimento e São Paulo o laboratório


Subir numa escavadeira para posar para as câmeras em demolições na Cracolândia, qualificar como “bobagem” quando questionado sobre as ameaças de agressão física do secretario André Sturm contra agentes culturais, o humilhante vídeo demitindo uma secretária de governo análogo à estética visual dos vídeos do ISIS, qualificar as ruas de São Paulo como “lixo humano” e pulverizar e despachar a Virada Cultural para lugares distantes entre si. Arrogante? “João Noia?” O gênio do prefeito João Doria Jr. é saber que foi eleito pela e para a mídia corporativa e que “opinião pública” resume-se a câmera e teleprompter. Sabe que nada deve ao respeitado público já que é uma experiência de vanguarda de um projeto no qual São Paulo é o laboratório. Por isso, de forma atávica, repete como farsa o roteiro do assalto nazifascista ao poder e guerra contra a sociedade: começa pelo banimento da “arte degenerada”, passando pela desautorização e humilhação das opiniões contrárias, terminando com a “Nova Berlim” paulistana na Cracolândia e “sacar revólveres” quando ouve falar em cultura. 

quinta-feira, junho 01, 2017

O horror e a patologia humana no filme "A Cura"


À primeira vista parece um gigantesco pastiche de duas horas e meia de referencias a filmes como “Ilha do Medo”, “O Iluminado”, “Drácula” e filmes B de terror. Mas tudo isso é uma superfície narrativa. “A Cura” (“A Cure for Wellness”, 2016) trata de como o homem tirou Deus do seu altar de adoração e pôs no lugar a Ambição, gerando a patologia do homem moderno. O que garantirá uma inesgotável matéria-prima para um experimento que mistura geneticismo e horror. Um jovem agressivo e ambicioso corretor do mundo financeiro vai resgatar um CEO da sua empresa em um spa nos Alpes suíços famoso pelas suas águas terapêuticas. Para ali encontrar uma jornada pelo horror e o fantástico que exigirá a verdadeira cura: a transformação interior. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.

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