sexta-feira, março 31, 2017

Por que ninguém pode ficar sem TV digital? A "Família Dinossauros" sabia porque


Na época que a série “Família Dinossauros” (1991-1994) ia ao ar no início dos anos 1990 não existia a TV digital. Mas um episódio da série em 1993 explicava o porquê do atual esforço concentrado e inédito envolvendo Governo, emissoras, Federação de indústrias e ONGs para evitar que massas de telespectadores ficassem sem televisão com o desligamento do sinal analógico na Grande São Paulo. Praça responsável por 70% do faturamento das emissoras, apenas as possíveis consequências financeiras da perda de telespectadores não explicam esse esforço que até envolveu a entrega de Kits de TV digital gratuitos através do “assistencialista” e “populista” Bolsa Família. O humor ácido da “Família Dinossauros” dizia que jamais em uma crise econômica o Governo permitiria que cobradores tirassem a TV de pessoas endividadas: o sistema que as endivida precisa que a TV mantenha os endividados distraídos e confiantes. Conhecemos bem a função da TV em momentos de conflagração política (censura e manipulação das notícias) mas prestamos pouca atenção à sua função cotidiana e silenciosa: fazer as pessoas acreditarem que a força de vontade, o mérito e o trabalho são moralmente bons e que vale à pena acordar toda manhã confiantes e cheios de esperanças.

quarta-feira, março 29, 2017

O Coringa retorna com mais "efeitos copycat"



O palhaço do crime está de volta. Só nesse mês de março, dois episódios em países diferentes tiveram o Coringa como elemento motivador em situações violentas: um adolescente abriu fogo em uma escola na França após posar armado e mascarado como o Coringa em fotos no Facebook; e um homem carregando uma espada e maquiado e fantasiado como o vilão do Batman foi preso pela polícia caminhando ameaçadoramente pelas ruas em uma cidade na Virginia, EUA. São mais casos de uma extensa lista daquilo que os psicólogos chamam de “Efeito Copycat” (efeito de imitação) iniciado com o filme "Batman: O Cavaleiro das Trevas" (2008) e a controversa morte de Heath Ledger que interpretava o Coringa. Uma extensa lista cujo caso mais famoso foi o Massacre de Aurora (2012) no qual o atirador dizia ser “o verdadeiro Coringa”. Pesquisadores em Sincromisticismo acreditam que o Coringa é um arquétipo vivo, uma forma-pensamento. Se no passado, esses arquétipos eram dissipados em rituais sagrados, hoje tornam-se narrativas midiáticas repetitivas cuja energia psíquica procura receptores vulneráveis para serem “descarregadas” em ações catastróficas e imprevisíveis.   

terça-feira, março 28, 2017

Ocultismo midiático e a psicanálise em Justin Bieber, por Marcelo Gusmão


O grande dia para muitos jovens e adolescentes fãs da cultura pop está chegando. Dia 29 de março acontece no Rio de Janeiro o show tão esperado do cantor canadense de 23 anos e fenômeno midiático, Justin Bieber. Para muitos este momento é esperado com ansiedade desde fevereiro de 2016. Criticados por muitos e admirados por outros estes fãs se revezaram em um acampamento no local do show para garantir os melhores lugares. Mas afinal o que explica tamanha dedicação? Expressão incômoda de amor, ou pura alienação moldada por uma indústria midiática mestre no controle mental manipulando anseios e desejos de toda uma geração?  Apenas as técnicas de publicidade e relações públicas não explicam o sucesso de Justin Bieber, assim como de tantos ídolos pop. Haveria um lado obscuro composto pelo psiquismo coletivo e o "ocultismo midiático" - a introdução de antigos e milenares símbolos de tradições esotéricas oriundas das escolas de mistérios.

domingo, março 26, 2017

Curta da Semana: "The Internet Warriors" - o lado oculto dos "haters"


Haters”, “trolls”, “comandantes do caps lock”. Eles são os “guerreiros da Internet”. Depois de uma pesquisa de quatro anos entrevistando-os por todo o mundo, o cineasta e fotografo norueguês Kyrre Lien produziu uma série de documentários curta-metragem chamada “The Internet Warriors”(2017). Lien ouviu usuários que dedicam a maior parte do seu tempo para ficar diante da tela do computador, “opinando” sobre qualquer coisa através de um discurso polarizado, agressivo, intolerante, racista e preconceituoso. O documentário quer entender como pessoas comuns, pessoalmente agradáveis e educadas com seus filhos e esposas, são capazes de ocupar redes sociais e fóruns de discussão com um discurso tão carregado de ódio.

sábado, março 25, 2017

A celebração da loucura e destruição na viagem do tempo em "Os 12 Macacos"


Uma ambiciosa releitura do clássico francês “La Jetée”(1962), o filme que mudou a perspectiva da viagem no tempo no cinema. Em “Os 12 Macacos” (1995) Terry Gilliam explora o tema do protagonista prisioneiro em um loop temporal, tema dominante naquela década como em “Feitiço do Tempo” ou “12:01”. A humanidade foi devastada por uma praga viral, os animais dominaram o planeta e os sobreviventes vivem em subterrâneos. A esperança é voltar para o passado e trazer uma amostra do vírus antes da sua mutação para que a humanidade retorne à superfície. Em busca de perdão, um presidiário chamado James Cole é enviado ao passado para a difícil missão. Paranoico e perseguido como um louco esquizofrênico, a partir de um estranho sonho recorrente, Cole descobrirá que sua vida rebobina e avança rapidamente numa espécie de fita do tempo, como em um filme antigo. 

sexta-feira, março 24, 2017

Uma ponte para a gnose no filme "Os Famosos e os Duendes da Morte"


"Os Famosos e os Duendes da Morte" (2009) é uma das raras incursões da produção do cinema nacional no imaginário arquetípico gnóstico. A narrativa é um exemplo de como, através do cinema, a subjetividade contemporânea é representada por meio de personagens gnóstico. No filme, caracterização do protagonista como o "Viajante" -  aquele que através do silêncio, melancolia e introversão busca um particular estado alterado de consciência: a "suspensão": a busca de uma ponte (no filme, ao mesmo tempo simbólica e literal) entre esse mundo e a iluminação espiritual.

quinta-feira, março 23, 2017

Ataque em Londres: mais um atentado que não aconteceu


Mais um atentado, desta vez em Londres com atropelamento em série de civis e invasão dos jardins do Parlamento Britânico por um homem armado com duas facas. O local é ao mesmo tempo icônico e sincrônico: escolhido pelos roteiristas para as cenas mais espetaculares do filme “V de Vingança”, cuja famosa máscara foi inspirada em Guy Fawkes, líder da “Conspiração da Pólvora” no século XVII – considerada a primeira “False Flag” da História, que pretendia mandar pelos ares o rei junto com o Parlamento como parte de uma propaganda de guerra. Novamente o ataque revela as mesmas recorrências e anomalias dos atentados desde o ataque ao WTC em 2001: a execução final do vilão, o “lobo solitário”, as conclusões rápidas da mídia e da polícia e a “coincidência” de 72 horas antes do ataque exercícios antiterror foram realizados no rio Tâmisa, com lanchas rápidas, resgatando hipotéticas vítimas civis. Assim como aconteceu no atentado “real”. Mais uma vez, o atentado “não aconteceu”: foi uma forma de meta-terrorismo para irradiação midiática.

terça-feira, março 21, 2017

Filme "Nuit Noire": sonhamos os sonhos ou os sonhos é que sonham conosco?


Oscar é um entomologista solitário que trabalha no museu de história natural e em casa cria insetos em estufas numa monótona rotina. Ele vive num mundo que parece ser um purgatório noturno: há um eterno eclipse solar que só deixa o Sol aparecer por quinze segundos. Até que um dia volta para casa e encontra uma mulher negra, doente e grávida, na sua cama. Oscar usará a ciência da Entomologia para lidar com o problema inesperado. No filme belga “Nuit Noire” (2005) o diretor Olivier Smolders faz um mix do cinema surrealista de Buñuel e David Lynch com a paranoia de “A Metamorfose” de Kafka. O filme mostra como o cinema europeu lida com os temas da mente e do inconsciente de forma bem diferente das produções norte-americanas: não há mais a luta e vitória da Razão sobre a mente, mas como os sonhos e o inconsciente contaminam os diversos níveis da realidade. Será que sonhamos os sonhos ou os sonhos é que sonham conosco?

domingo, março 19, 2017

Curta da Semana: "Beleza Americana 2" - a vingança dos descartados


No filme "Beleza Americana"(1999) o diretor Sam Mendes via em um saco plástico que girava ao vento um momento no qual uma “força benevolente” mostrava o sublime por trás das coisas banais. Mas, e se essa força não for assim tão benevolente e se revoltar contra a humanidade que teima em banalizar as coisas através do descarte e obsolescência? O resultado pode ser uma sangrenta perseguição protagonizada por uma sacola plástica em busca de vingança. Esse é o curta “Beleza Americana 2” (2017) de Zak Stoltz, uma bizarra e surreal releitura da poética sequência do filme original. O curta se integra a uma tradição no cinema de objetos que ganham vida e parecem querer se vingar do homem: tomates, carros, bonecos, pneus, árvores de natal. E agora, sacos plásticos. Uma tendência que reflete o novo mal estar da civilização: de ver na descartabilidade dos objetos a expressão da própria obsolescência humana.

sábado, março 18, 2017

Teoria da Terra Plana renasce mais uma vez em tempos difíceis


A Terra é um disco plano e cercada por um muro de gelo que chamamos de Antártida. O Sol e a Lua são apenas discos luminosos que giram sobre o plano terrestre e os planetas não existem. São apenas estrelas firmadas em uma abóboda. E a NASA esconde tudo simulando viagens espaciais e fotos da curvatura terrestre. Acredite, essa teoria que cada vez mais ocupa espaço na Internet com textos e vídeos com um crescente número de seguidores. Mas teoria da Terra Plana não é nova na era moderna. É recorrente na História em momentos de crise política e econômica, como hoje. Por exemplo, teorias da Terra Oca e Plana foram adotadas pelo Nazismo para se opor à “ciência materialista” e injetar magia e misticismo na Política por meio de sociedades secretas como a Vril e Tule, antes da Segunda Guerra. A Ciência transforma-se em fundamentalismo religioso, expressão da polarização e intolerância política do momento. Mas os terraplanistas acertam em um ponto: toda cartografia é uma representação político-imaginária.

sexta-feira, março 17, 2017

Em "Rubber" um pneu quer se vingar da civilização



Surpresa em festivais de cinema fantástico pelo mundo, a comédia francesa de horror “Rubber” (2010) nos brinda com a bizarra estória de um pneu assassino com poderes telepáticos que rola pelas estradas e desertos em busca de vingança. Somente o olhar de um diretor francês para ter a ironia e o distanciamento necessários para criar uma alegoria sobre o centro espiritual da civilização americana: o automóvel e o deserto.

quinta-feira, março 16, 2017

"Radio Free Albemuth" politiza o Gnosticismo e vai além da ficção científica


Em um passado alternativo em 1985, Mark Chapman matou Mick Jagger ao invés de John Lennon e os EUA vivem sob o domínio de um Estado totalitário. Um grupo subversivo planeja incitar a revolução por meio de hits musicais com mensagens subliminares.  E o líder, produtor da gravadora, é inspirado por epifanias místicas enviadas pela VALIS (“Vasto Sistema Vivo de Inteligência Alienígena”) por meio de um satélite que secretamente orbita o planeta. Esse é o filme “Radio Free Albemuth” (2010), a melhor adaptação cinematográfica já feita de um livro do escritor gnóstico Philip K. Dick. Uma produção que conseguiu ir além dos cânones da ficção-científica (que sempre orientaram as adaptações hollywoodianas de K. Dick – robôs, aliens e planetas distantes), traduzindo para a tela as especulações filosóficas que sempre inspiraram o escritor: Gnosticismo, Cabala, Hermetismo e Budismo. Mas, principalmente, como K. Dick,  através da sua obra, conseguiu politizar o Gnosticismo através do tema da paranoia.

quarta-feira, março 15, 2017

O Marketing paranormal no filme "Branded"


Imagine um expert em Publicidade que enxergasse muito mais do que promoção, preço, produto e ponto de venda no Marketing. Um expert que descobrisse que a guerra das marcas pelo mercado e pela mente dos consumidores não é meramente retórica através de símbolos, imagens e estímulos visuais – é uma gigantesca batalha travada por monstros gelatinosos em forma de balões em um invisível plano astral da humanidade. O Marketing Paranormal! Esse é apenas um dos temas levantados pelo filme “Branded” (2012), co-produção Rússia/EUA que mistura temas teosóficos com a provocativa tese de que Lênin teria inventado o Marketing em 1918: o Comunismo teria sido o produto e a KGB a “polícia da marca”.

terça-feira, março 14, 2017

Tautismo da Globo vê na virada do Barça lição motivacional para brasileiros


O final de domingo é um momento reconhecidamente depressivo para os telespectadores que repentinamente voltam a lembrar da segunda-feira. Nesse momento, a TV ataca com vídeos de pets engraçados e acidentes domésticos, ou, como no caso da Globo, também vídeos “motivacionais”. Como na introdução do “Fantástico” desse domingo na qual a virada histórica do time do Barcelona na “Champions League” serviu de mote para reunir várias outras histórias para provar que “o impossível acontece” e que “jamais podemos desistir” como fossem lições de moral para todos enfrentarem o baixo astral da vida e do próprio País. Ao sugerir que histórias sobre atletas e profissionais de alto nível poderiam ser fontes de inspiração moral e motivacional para os telespectadores comuns, revela a natureza da linguagem televisiva: o discurso metonímico ou “lateral” que vem se tornando crônico com o crescimento da doença do “tautismo” (autismo + tautologia) na grande mídia. A consequência é a “motivação” através do esquecimento e despolitização do telespectador, além da introjeção da culpa pelas mazelas do cotidiano.

sábado, março 11, 2017

A fronteira final: neoliberalismo vai ao espaço com Elon Musk


“O Espaço, a fronteira final...”. Os leitores devem conhecer a introdução dos episódios da série Jornada nas Estrelas. Mas dessa vez, não teremos o Capitão Kirk ou o Sr. Spock. Mas o jovem empresário Elon Musk que promete com a empresa SpaceX levar turistas para dar volta na Lua e colonos para Marte e além. Cientistas e operadores de Wall Street o qualificam como alguma coisa entre “fraude” e “máquina de queimar dinheiro”, embolsando verbas públicas enquanto faz intrincadas manobras societárias com suas empresas como a Tesla Motors e a SolarCity. Em muitos aspectos lembra a trajetória do ex-oitavo homem mais rico do planeta, Eike Batista. Mas a retórica de Musk enche os olhos da grande mídia: é o “Tony Stark da vida real”, pronto para provar como os velhos valores do capitalismo (competição e mercado) podem ser combinados com economia sustentável e “tecnologias limpas” do século XXI. Ele promete levar o neoliberalismo à última fronteira. Mais do que ninguém, Elon Musk sabe como são voláteis as fronteiras entre a especulação do mundo das finanças e da mídia.

quinta-feira, março 09, 2017

O suicídio ao vivo de uma estrangeira em "Christine"


Em 15 de julho de 1974, ao vivo, no Canal 40 de Sarasota, Flórida, a jornalista investigativa Christine Chubbuck leu uma breve nota. Sacou um revólver, colocou atrás da orelha e puxou o gatilho. O filme "Christine" (2016) busca o porquê esse histórico suicídio diante das câmeras procurando fugir dos tradicionais clichês: depressão, solidão, frustração profissional diante das pressões do sensacionalismo televisivo, machismo e misoginia que dominavam as redações nos anos 1970 etc. “Christine” se desvia dessas armadilhas narrativas ao privilegiar uma abordagem mais existencial e gnóstica: há uma constante e insuperável sensação de deslocamento e alienação de uma personagem que não encontra lugar nesse mundo, muito além de ideologias, profissão e vida pessoal. Christine sempre foi uma Estrangeira mesmo nos ambientes mais familiares porque sempre pressentiu que estava em um jogo cujo propósito ela nunca entendeu. Filme sugerido pelo nosso leitor Felipe Resende.

terça-feira, março 07, 2017

Curta da Semana: "Night Mayor" - Aurora Boreal, Nikola Tesla e a energia livre


Quando pensamos em Modernidade o que lembramos? Tecnologia, velocidade, capitalismo, urbanidade, eletricidade, o cinema. Um verdadeiro turbilhão para onde somos transportados quando assistimos ao curta “Night Mayor” (2008) do canadense Guy Maddin. Misturando o atual estilo do falso documentário (mockumentary) com a linguagem e fotografia do cinema mudo, Maddin nos conta a história de um inventor bósnio que em 1939 descobriu no Canadá que a Aurora Boreal é na verdade constituída por melodias e imagens. E que poderiam ser transmitidas livremente pelas linhas telefônicas através do “Telemelodium”. Mas o governo não vai gostar muito dessa invenção... O curta é uma pequena obra-prima claramente inspirado no inventor croata Nikola Tesla que pagou com a própria vida uma descoberta feita em 1899 que poderia colocar em risco o Capitalismo: a energia livre.

segunda-feira, março 06, 2017

O Barão de Munchausen, reforma da Previdência e a lógica do refém


O material de propaganda do PMDB cujo slogan é “Se Reforma da previdência não sair, tchau Bolsa Família, adeus Fies, sem novas estradas, acabam programas sociais”, mais do que desespero de um governo que corre contra o relógio (Lava Jato e Eleições 2018) revela a natureza do Estado contemporâneo: o terrorismo e a lógica do refém. Se antes o terrorismo era restrito a territórios como aeroportos e embaixadas, agora tornou-se prática de governo: todos nós somos reféns sob a estratégia da chantagem dos rombos e dívidas que se transforma na nova função do Estado. Lógica que se sustenta em um mito, assim como aquele que o Barão de Munchausen, no filme clássico de Terry Gilliam de 1988, destruiu: não existem exércitos turcos por trás dos muros que mantém a cidade submissa pelo medo e a ignorância.

sábado, março 04, 2017

"Terminus": o sci-fi que anteviu Era Trump


O EUA empreendem o Projeto Terminus de ocupação permanente do Irã por tropas americanas. O que só faz aumentar a tesão diplomática com Rússia e China, disparando a contagem regressiva para uma guerra nuclear. Enquanto isso um estranho meteorito cai em uma cidadezinha no interior dos EUA, onde vivem desempregados e veteranos da guerra no Irã, amputados e paralíticos, que lutam para sobreviver em meio a depressão econômica. Este é o sci-fi australiano “Terminus” (2015) sobre um futuro próximo que poderia muito bem ser o presente. Um filme que representa mais um sintoma do crescente sentimento anti-Globalização – a percepção de que enquanto sofremos no dia-a-dia para conseguir tocar as nossas vidas, lá em cima os poderosos tramam a nossa própria destruição em seus jogos de guerras e das altas finanças. Em 2015, “Terminus” antecipou o mal-estar que criaria muitos subprodutos, assim como a atual Era Trump.

quinta-feira, março 02, 2017

O homem se tornará irrelevante diante de algoritmos e aplicativos?


Em uma entrevista para a "Wired Magazine", o historiador e escritor Yuval Harari alertou para o perigo da humanidade em pouco tempo se tornar “irrelevante” e “redundante” diante dos avanços da Inteligência Artificial. Dessa vez, não mais através das distopias como a do computador HAL 9000 que tenta matar a tripulação de uma nave no filme “2001” ou por replicantes que perseguem um policial no filme “Blade Runner”. Mas agora por meio dos aplicativos e algoritmos que “compreendem melhor nossos desejos e sentimentos do que nós mesmos”. Porém, o discurso de Harari atira no que vê e acerta no que não vê – só podemos achar que os algoritmos são realmente inteligentes se o próprio homem rebaixar ou tornar mais flexível o conceito de “inteligência”. A fala de Harari faz parte de uma nova narrativa publicitária das corporações tecnológicas: projetar para o futuro distopias que sempre fascinaram a humanidade por toda a História: ver a si própria substituída por duplos tecnológicos como reflexos em espelhos, fotografias, frankensteins, golens, robôs, replicantes e, agora, aplicativos.

terça-feira, fevereiro 28, 2017

"Envelopegate": por que "La La Land" não ganhou o Oscar de Melhor Filme?


O que há por trás do chamado “Envelopegate”, a histórica gafe da troca dos envelopes de premiação do Melhor Filme no Oscar 2017? Certamente, “La La Land” era o favorito da crítica especializada, consciente da lógica da premiação da Academia de Cinema na última década da Era Obama. O seu anúncio foi um “ato falho” cometido por uma empresa (a PricewaterhouseCoopers - PwC) cujo auditor minutos antes postava fotos dos bastidores da cerimônia no Twitter. Ironicamente, uma das empresas responsabilizadas em 2008 pela crise financeira por ter sido “desconcertadamente negligente”. Se Hillary Clinton tivesse ganho as eleições, e junto com ela o “neoliberalismo progressista”, assistiríamos à vitória de “La La Land”. Mas “Moonlight: Sob a Luz do Luar” foi a premiação “the last minute rescue” que serviu de bala para o canhão apontado diretamente na cara de Donald Trump. E o pior é que, ao contrário dos roteiro de filmes hollywoodianos, nessa história não há fronteiras que separem os mocinhos dos bandidos.

domingo, fevereiro 26, 2017

História do beijo do Kama Sutra a Hollywood


O cinema não inventou o beijo. Apenas o tornou mais icônico nas relações dos amantes. Porém, Hollywood deu continuidade a uma, por assim dizer, ocupação semiótica da boca e do beijo atribuindo a eles novas representações simbólicas de velhos significados: distinção de classes, de gêneros e substituto do ato sexual. Da mesma forma, o hindu “Kama Sutra” não inventou o beijo, mas atribuiu a ele a comunhão erótica que o Ocidente fez questão de reprimir e controlar desde os persas e romanos, submetendo-o à ordem do Poder. No cinema, o beijo transformou-se na alienação do desejo ao submetê-lo ao espectador voyeur que, com a boca aberta, também espera o beijo. Porém, a pipoca sublima a compulsão enquanto nos filmes atuais ou o beijo se submete à performance e eficácia ou à reconciliação dos casais diante do apocalipse nos filmes-catástrofe.

sábado, fevereiro 25, 2017

Uma jornada espiritual felina em "Virei um Gato"


Apesar de contar com dois vencedores do Oscar (Kevin Spacey e Christopher Walken) a comédia romântica familiar “Virei um Gato” (Nine Lives, 2016) foi destruída pela crítica: o que esses atores consagrados estão fazendo nessa catástrofe? Eles devem ter contas pesadas para pagar! Mas para o Cinegnose esse filme é um trunfo que confirma uma tese: desde que o Gnosticismo deixou de ser uma exclusividade de filmes cults e foi adotada pelos filmes populares a partir dos anos 1990, os elementos gnósticos deixaram de figurar apenas em sci-fis e dramas cerebrais, para também incursionar em comédias, thrillers e outros gêneros. Por trás de camadas de clichês de uma comédia popular, “Virei um Gato” nos conta a narrativa gnóstica de transformação íntima através da jornada espiritual no corpo de um gato e, principalmente, por um “salto de fé” ao mesmo tempo literal e simbólico, a exemplo de filmes gnósticos mais sérios como “Vidas em Jogo” (1997) e Vanilla Sky (2001).

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