domingo, julho 28, 2013

Jornal Nacional e o sorriso do gato de Alice


Dando prosseguimento à nossa perigosa aventura de localização e desmontagem de bombas semióticas, nos defrontamos com um novo e mais letal tipo porque detentor de um efeito tóxico e de longo prazo: a comunicação não verbal do Jornal Nacional da TV Globo. A melhor analogia para entender essa bomba é o sorriso do gato de “Alice no País das Maravilhas” – o seu sorriso permanecia no ar, mesmo quando o gato desaparecia lentamente. O principal telejornal da emissora possui um complexo sistema semiológico para simular espontaneidade de gestos, sobrancelhas levantadas, mãos agitadas, locuções carregadas de vogais e pausas etc. Uma estratégia linguística para, assim como o sorriso do gato de Alice, os signos verbais permanecerem na memória mesmo depois que a notícia for esquecida ou, talvez, nem assimilada. O propósito? Disseminar signos não verbais que sinalizem uma difusa atmosfera de caos, anomia e instabilidade.

No capítulo 6 do livro Alice no País das Maravilhas de Lewis Carroll, Alice encontra o gato de Chershire e pergunta para ele se há algum lugar onde não exista gente louca e como chegar lá. O sorridente gato responde que todos são loucos, inclusive ele e Alice e desaparece lentamente deixando apenas o seu sorriso. O gato é o único personagem na fábula que Alice se refere como “amigo”: o seu sorriso se destaca e se autonomiza da cabeça felina. Muitos significados e simbolismos foram atribuídos a esse personagem (sorriso lunar, autoconsciência de Alice de que tudo se tratava de um sonho etc.), mas uma coisa fica evidente: o poder da comunicação não verbal do gato – pouco importa o que ele dizia, seu sorriso enigmático que permanecia no ar era o mais importante.

Pois todas as noites, em rede nacional pela TV, repete-se essa cena surrealista narrada por Carroll: sobrancelhas, olhos, testas franzidas e mãos sobre uma bancada ganham tanta poder que se tornam mais importantes que a própria notícia – são índices de um “contínuo midiático atmosférico”, de um clima do estado da Nação. Por isso, enquadram-se em uma metódica e recorrente “bomba semiótica” que, principalmente desde as manifestações de rua de junho, vem sendo detonada de segunda a sábado no Jornal Nacional da TV Globo.

terça-feira, julho 23, 2013

Monstros e crianças se encontram em uma exposição


Por que o imaginário infantil sempre esteve às voltas com monstros? Por que esses seres fantásticos presentes em todas as culturas, mitologias e lendas ao mesmo tempo assustam e fascinam crianças há gerações? A exposição “Monstros” do artista multimídia Térsio Greguol ajuda a responder essas questões porque expressam o passado e presente desses assustadores seres: a importância do arquétipo do monstro para a criança enfrentar psicologicamente esse mundo e a nova sensibilidade infantil com esses seres, dessas vez paródica e metalinguística.

Desde que Sigmund Freud descobriu que as crianças não eram exatamente anjinhos barrocos, mas detentoras de uma vida psíquica tão ou mais complexa que os adultos, a maneira como encaramos o imaginário infantil com suas fábulas, lendas e cantigas de ninar mudou. Desde a mais tenra idade as crianças estão familiarizadas com emoções perturbadoras como o medo e a angústia. São experiências que fazem parte do cotidiano. Elas têm que lidar constantemente com frustrações, angústia de perda e abandono, o medo da escuridão e do isolamento.

Diferente dos outros animais, a Natureza nos colocou nesse mundo, totalmente desprotegidos e dependentes – nascemos carecas, sem pelos e sem dentes, desajeitados e sem coordenação motora. E como a criança lida com essa situação? Através da imaginação e da fantasia, a melhor maneira de lidar com os monstros, arquétipos de seres fantásticos que simbolizam as ameaças dessa deplorável condição que viemos ao mundo.

domingo, julho 21, 2013

Globo faz programa tautista sobre "Honestidade"


Em meio ao debate do programa “Na Moral” Antônio Fagundes cita a fábula de Platão do anel da invisibilidade de Gyges para discutir ética e honestidade. Risos amarelos de Pedro Bial e da cantora convidada Gaby Amarantos diante de um momento de dissonância. Segundos de indecisão do surpreendido Bial, que toca o programa pra frente, sem comentários. “Na Moral” detona mais uma bomba semiótica na opinião pública (criar uma relação metonímica entre o impeachment de Collor em 1992 e as manifestações atuais), porém essa explosão parece que saiu pela culatra: esse momento de dissonância criado por Fagundes demonstrou o progressivo autismo da emissora que teimosamente tenta interpretar a realidade através da tautologia, auto-referência e metalinguagem. Seriam sintomas do “tautismo”, espectro que ronda a Globo que, para especialistas em comunicação e linguagem, são sinais de entropia de sistemas que adquiriram tamanha complexidade que não mais se sustentam.

Com a atmosfera política cada vez mais carregada, sucedem-se explosões das bombas semióticas midiáticas . Mas dessa vez, testemunhamos uma espécie de “fogo amigo”, isto é, a explosão de uma bomba que se reverte contra o seu próprio autor e seus aliados. Estamos falando sobre o programa “Na Moral” da TV Globo apresentado no dia 19/07. Apresentado pelo jornalista Pedro Bial, o tema era “Honestidade” e os convidados que debateriam com a plateia o tema foram o ator Antônio Fagundes e a cantora Gaby Amarantos.

Como toda bomba semiótica que se camufla de informação para construir significações arbitrárias que visam criar ondas de choque na opinião pública, o propósito latente dessa particular edição do “Na Moral” era fazer uma aproximação metonímica entre as manifestações do impeachment do presidente Collor de Melo em 1992 com a atual escalada de manifestações pelas ruas do País – e politicamente fazer “sangrar” o governo até as eleições do próximo ano. Para articular essa operação linguística, Bial invocou um episódio do antigo programa “Você Decide” também de 1992 onde se definia se um homem desempregado, que encontrou uma mala cheia de dinheiro, deveria ou não entregar aquele valor ao seu dono. Quem apresentava aquele programa? Claro, Antônio Fagundes.

sábado, julho 20, 2013

O metrô é o microcosmo da comédia humana em "Kontroll"


Um homem corre pela sua vida através de um túnel entre dois trens; uma figura encapuzada emerge de fissuras na parede para empurrar incautos passageiros nos trilhos do metrô; uma enigmática jovem fantasiada de urso assombra as paisagens labirínticas do metrô. A rede ferroviária do metrô de Budapeste se transforma em um fac-símile da comédia humana no filme “Kontroll” (2003), estreia do diretor Nimród Antal (“Temos Vagas”, 2007; “Predadores”, 2010) e sugerido pelo nosso leitor Joari Carvalho. Antal retoma o arquétipo platônico da caverna, representado no cinema por metrôs, porões, subsolos, estacionamentos subterrâneos, becos etc., para descrevê-lo como um microcosmo onde o protagonista é prisioneiro e uma enigmática jovem tenta resgatá-lo. A integração de drama, suspense, comédia e sátira resulta numa experiência visual única e alternativa.

Antes de dirigir típicos filmes com todas as convenções de gênero hollywoodianas como “Temos Vagas”(Vacancy, 2007) e “Predadores” (Predators, 2010), Nimród Antal (filhos de pais húngaros, nascido em Los Angeles e que iniciou sua carreira cinematográfica na Hungria), dirigiu e escreveu uma pequena pérola cinematográfica: “Kontroll” (o primeiro filme húngaro em vinte anos a ser exibido e premiado em Cannes – Prêmio da Juventude em 2004), um estranho e fascinante conto que mistura a crítica social ambientada nos túneis do segundo mais antigo metrô do mundo (Budapeste) e um mundo subterrâneo repleto de analogias místicas e gnósticas.

A estreia de Antal como diretor não poderia ser mais promissora: o filme está repleto de referências de outros diretores como Andrey Tarkovsky (longas sequências com misteriosos cenários em ruínas e desolação lembrando o filme “Stalker”), Stanley Kubrick (cenas elegantemente iluminadas com ângulos agudos, simetrias e pontos de fugas e gangues urbanas que lembram os “Drugs” de “Laranja Mecânica”), e o humor negro de Terry Gilliam.

quarta-feira, julho 17, 2013

Sincromisticismo, parapolítica e matrix na série "Nosso Lar"


Clássico da literatura espírita, a série “Nosso Lar”, psicografada por Chico Xavier, é tradicionalmente interpretada pelo viés moral e religioso da “reforma íntima” do protagonista. Mas olhando detidamente em seu conjunto, a série oferece muito mais: a possibilidade da existência de um campo unificado entre ciências “materialistas” como a Política e Comunicação e o místico e o oculto. As descrições das influências do pensamento dos encarnados no Umbral e como “exércitos sombrios” espirituais próximos da Terra visam o domínio de corações e mentes do planeta para roubar “energia anímica” da humanidade (o que lembra o filme “Matrix”) forneceriam subsídios para duas abordagens heterodoxas: o Sincromisticismo e a Parapolítica.

Desde que li a primeira vez a série “Nosso Lar”, psicografada pelo médium Chico Xavier e atribuída ao espírito de André Luiz, impressionou-me a descrição da dinâmica dos mundos espirituais repleta de conceitos teosóficos como “formas-pensamento”, pluralidade de mundos que se interpenetram, as inter-relações entre os centros corporais de energia (chakras) e as energias presentes no “plano astral”, projeções astrais realizadas pelo espírito no sono etc.

Surpreendeu-me porque até então a abordagem que tinha sobre o conjunto dessa obra era concentrada na necessidade do que os espíritas chamam de “reforma íntima” (a necessidade da mudança interior moral, espiritual e ética no sentido evolutivo) concentrada no exemplo da trajetória espiritual do médico André Luiz. Palestras, preleções, e lições baseadas principalmente nos princípios do Evangelho cristão e a compreensão da Lei da Ação e Reação à qual todos os espíritos estariam submetidos.

segunda-feira, julho 15, 2013

Encerrada a elaboração da lista do "Cinegnose" dos melhores filmes gnósticos



Está encerrado o prazo do envio das sugestões de filmes para a lista do "Cinegnose" sobre os melhores Filmes Gnósticos da História do Cinema.

Em breve divulgaremos a lista e as três melhores indicações e justificativas dos leitores que ganharão um exemplar do livro "Cinegnose - a recorrência de elementos gnósticos na recente produção cinematográfica norte-americana" da editora Livrus.

domingo, julho 14, 2013

A bomba semiótica da Polícia Federal


Novamente a Semiótica é convocada para desmontar outra “bomba semiótica” que detonou na mídia nesses últimos dias. E dessa vez uma bomba plantada pela própria Polícia Federal: investigações do órgão concluíram que o boato que levou ao pânico beneficiários do “Bolsa Família” em 12 estados foi “espontâneo”, não havendo, portanto, causa intencional. Conclusão tão irracional, retoricamente saturada e cientificamente sem sentido que entra na categoria das “bombas semióticas”: artifícios letais camuflados de informação, mas que escondem construções de sentido arbitrárias e, nesse caso, com uma novidade: se o fenômeno aconteceu porque aconteceu, então os fenômenos da comunicação entram no terreno da tautologia e da magia.

A Polícia Federal deu uma histórica contribuição científica que será o divisor de águas dos estudos no campo da Comunicação. O relatório final das investigações sobre o boato que provocou grandes filas e tumultos em agências da Caixa Econômica Federal e casas lotéricas em 12 estados em um final de semana de maio encerrou o caso da seguinte maneira: “foi espontâneo, não havendo como afirmar que apenas uma pessoa ou grupo tenha causado. Conclui-se, assim, pela inexistência de elementos que possam configurar crime ou contravenção penal”.

Essa conclusão de “investigação de campo” é “revolucionária” por que: (a) insere na Comunicação um elemento tautológico (o boato aconteceu porque aconteceu!). Em outras palavras, a Polícia Federal insere um elemento animista e mágico nos fenômenos de comunicação: o mundo é animado por forças que estabelecem bizarras contiguidades entre fatos aparentemente aleatórios; (b) rompe com um princípio básico da ontologia da Comunicação: a intencionalidade. O que define o fenômeno comunicacional é a intencionalidade do emissor (por que ele comunica? Qual sua intenção ou finalidade?) e a decisão do receptor - aceitar ou não o “jogo” proposto pelo emissor.

sexta-feira, julho 12, 2013

Os mortos são a comunidade que nos espera no filme "Les Revenants"


Décadas de corpos de decompondo, sustos e canibalismo no gênero cinematográfico dos mortos-vivos ajudaram a nos fazer esquecer do verdadeiro centro crítico do personagem do zumbi: a crítica social e metafísica por meio do arquétipo contemporâneo do personagem do “Estrangeiro”. O filme francês “Les Revenants” (2004) renova o gênero ao apresentar esse tenebroso personagem na própria acepção da palavra “zumbi”: “espectro”, “fantasma”. Mortos retornam inexplicavelmente do além-túmulo em uma pequena cidade. Eles não querem comer cérebros e nem matar. Voltam calados, como memórias vivas e indesejáveis, mas escondem um propósito.

quinta-feira, julho 11, 2013

Opinião: "Os cátaros, Paulo Coelho e o turismo esotérico" e "Drogas, discoteca e 3D"


Dentro da nossa sessão “Opinião” uma contribuição do nosso leitor “Anônimo” à postagem crítica sobre um texto de Paulo Coelho sobre os Cátaros: a história de Jules Doinel, arquivista francês e criador da primeira igreja gnóstica neocátara dos tempos modernos, a partir de uma carta encontrada de um chanceler epicospial chamado Etienne, que fora queimado por heresia em 1022. Essa carta mudou a vida de Doinel. E também um comentário sobre a conexão entre drogas lisérgicase a experiência mística da vivência da “teologia negativa”.  

terça-feira, julho 09, 2013

O documentário "Pax Americana" e o caso Edward Snowden


Nesse momento em que vemos em pleno horário nobre das emissoras o vazamento de documentos da NSA (Agência de Segurança nacional dos EUA) por Edward Snowden dando conta de que a privacidade das comunicações de indivíduos e nações pode ser a qualquer momento devassada por dispositivos eletrônicos, é oportuno assistir ao documentário “Pax Americana e a Militarização do Espaço” (2009) do francês Denis Delestrac. Principalmente porque a descrição que o documentário faz do modus operandi  da inteligência militar norte-americana e a noção de “espaço” pensada por ela é bem diferente da tradicional noção orwelliana de “espaço” que os analistas vem pensando o caso Snowden. Se os conteúdos revelados pelos documentos há décadas são conhecidos e divulgados por estudiosos de comunicação e teóricos da conspiração, por que só agora foram “vazados” de forma generalizada por todas as mídias?

Em 12 de junho de 1982 houve uma grande manifestação em Nova York. Quase um milhão protestaram contra as armas nucleares e a corrida armamentista. Era então o auge da Guerra Fria. Na TV falava o tenente-general Daniel Graham que era o chefe da Defesa Estratégica de Ronald Reagan. Perguntaram-lhe se estava preocupado com uma manifestação de um milhão de pessoas nas ruas protestando contra armas nucleares. Disse: “Parece-me fantástico! Estão protestando contra mísseis balísticos intercontinentais, enquanto nós vamos para o espaço. Eles não fazem ideia do que fazemos. Então, que continuem assim”.

Esse episódio descrito por “Pax Americana e a Militarização do Espaço” talvez seja o mais perturbador neste documentário dirigido pelo francês Denis Delestrac. Sugere que todo movimento de protestos, críticas ou denúncias estaria sempre aquém dos poderes que pretendem desmascarar. Como um jogo de “resta um”, parece que sempre falta o conhecimento de uma outra cena, de um outro passo que estaria sempre à frente do alvo das manifestações.

segunda-feira, julho 08, 2013

Em Observação: Sob Você, A Cidade (2010)


Dando continuidade ao Ciclo de Filmes Alemães no Clube Transatlântico em São Paulo, nesta quarta-feira (10/07) às 20h será exibido “Sob Você, A Cidade” (Unter Dir Die Stadt, 2010). Um filme oportuno em um momento de crise financeira internacional cujo epicentro está na Zona do Euro. O diretor Christoph Hochhäuser promete fazer um mergulho no vortex do capitalismo financeiro onde poder e dinheiro se confunde com jogos de sedução na vida afetiva e amorosa: jogos de aquisição e fusão de capitais na vida pública poderiam se confundir com os jogos de sedução na vida privada?

domingo, julho 07, 2013

A semiótica das fotografias de casamento


Cresce o número de divórcios no País, mas o mercado de casamentos é promissor com uma expectativa de movimentar 16 bilhões de reais em 2013. Como explicar o paradoxo de uma instituição que simbolicamente se esvazia diante de formas alternativas de relacionamentos afetivos, mas que economicamente cresce como mercado de consumo de bens e serviços? Talvez encontremos uma pista nas fotografias de casamento. Com a ajuda da Semiótica, podemos descobrir no sistema de significados dessas fotografias estratégias irônicas e de autodistanciamento que explicariam como noivos e familiares perpetuam uma instituição cada vez mais psiquicamente colocada em xeque.

Acompanhamos um curioso fenômeno próprio de uma sociedade midiatizada como a que vivemos: a sobrevida de instituições sociais tradicionais por meio de uma espécie de “autoconsciência irônica”. Instituições que foram esvaziadas simbolicamente em sua autoridade, legitimidade e significado (seja social, econômico, religioso, metafísico etc.) pelas transformações sócio-históricas, mas que permanecem como “instituições zumbis” que ganham uma sobrevida ao serem mercantilizadas e transformadas em células de consumo dentro do sistema econômico.

A família seria uma dessas instituições, como já vimos em postagens anteriores (veja links abaixo): a perda da autoridade paterna tem uma relação direta com a idealização da família perfeita presente nos comerciais de produtos matinais e de sabão em pó. Ao mesmo tempo, acompanhamos o cultivo de um autodistanciamento irônico através da crítica corrosiva em animações como “Os Simpsons” ou “The Family Guy” onde pais e filhos riem de si mesmos.

sexta-feira, julho 05, 2013

Um espiritualismo eletromagnético no filme "Accumulator 1"


A engraçada ficção científica checa “Accumulator 1” (1994) se associa a uma longa tradição cinematográfica de representações da TV e do controle remoto como veículos de disseminação do Mal, portais multidimensionais ou como meio de conexão com mundos espirituais e virtuais que podemos ver em filmes como “Poltergeist”, “Videodrome” ou “Click”. Por trás desse imaginário estaria o fascínio pelos fenômenos eletromagnéticos que, desde a sua descoberta, sempre estiveram associados ao oculto e ao espiritualismo. Em “Accumulator 1”, por exemplo, a TV é um dispositivo que drena energias vitais dos espectadores que vão animar um universo alternativo espelhado.

quarta-feira, julho 03, 2013

Opinião: "Filme El Método e gameficação da realidade" e "Físicos afimam que Universo é simulação computacional finita"


Dando continuidade à nossa sessão “Opinião”, vamos postar aqui os melhores comentários do artigo sobre o filme espanhol “El Método” (no Brasil, “O Que Você Faria?”, 2005) e de outro artigo sobre a notícia de que físicos norte-americanos especulam seriamente sobre a possibilidade de o Universo ser uma simulação computacional finita.

segunda-feira, julho 01, 2013

Em Observação: "Under the Dome" (2013)


Sugerido pelo nosso leitor !3runo, a série "Under The Dome" estreiou dia 24 de junho da TV CBS nos EUA. Baseado no livro homônimo do escritor Stephen King, o episódio piloto nos mostra o estranho incidente que faz uma pequena cidade ficar isolada do resto do mundo: inexplicavelmente uma redoma gigantesca e transparente cai do céu, mantendo os habitantes de Chester's Mill prisioneiros. A série tem grande potencial em desenvolver temas caros aos filmes gnósticos: personagens prisioneiros em um microcosmo, atmosfera de conspirações governamentais ou alienígenas e clima de paranoia generalizada entre os habitantes da cidade: todos parecem esconder algum estranho segredo.

sábado, junho 29, 2013

Bombas semióticas explodem na mídia


Paralela à escalada de manifestações no País, nesse momento em cada redação de um veículo de comunicação e em cada cobertura jornalística nas ruas, está sendo travada uma verdadeira guerrilha semiótica: um enorme aparato de recursos bélicos retóricos, linguísticos e semiológicos está sendo mobilizado para saturar fotografias e vídeos com significações que apontam para uma estratégia discursiva bem evidente: a imagens devem ser testemunhas da instabilidade, caos e baderna que dominaria a Nação. Encontramos duas “bombas semióticas” (uma no Portal Terra e outra na autodenominada “edição histórica” da revista Veja) e tentamos desmontá-las em um exercício de engenharia reversa. Bombas camufladas em informação, mas que explodem para criar ondas de choque de um tipo de propaganda baseada no esvaziamento de dois símbolos: a da “bandeira nacional” e o do “manifestante”.

Junto com as manifestações nas ruas de várias cidades no País, está ocorrendo uma guerrilha de um tipo muita especial: uma guerrilha semiótica nas mídias. Depois da primeira semana em que se viram perplexos diante das manifestações que saíram do script do jogo político-institucional e reponderam de uma forma reflexa (taxando os manifestantes de “criminosos” e “politicamente burros”) os meios de comunicação monopolistas encontraram uma narrativa em que podiam ser encaixados os acontecimentos: o roteiro da escalada da instabilidade, descontrole e baderna que estaria minando o governo federal.

Para tanto, nesse momento está sendo mobilizando um impressionante aparato retórico, linguístico e semiótico em fotografias e vídeos. Uma mobilização talvez somente comparável às estratégias discursivas de períodos de guerra como a propaganda política norte-americana e nazista durante a Segunda Guerra Mundial.

quarta-feira, junho 26, 2013

Lâmpadas e conspirações no curta argentino "Luminaris"


O mais premiado curta de animação argentino e que chegou a ficar entre os dez finalistas para concorrer ao Oscar da categoria, “Luminaris” (2011) de Juan Pablo Zaramella apresenta em seus seis minutos uma grande riqueza simbólica a partir da colagem de estilos que vai da arte Deco e Surrealismo ao Filme Noir e Neorrealismo. O que representaria a alegoria de um universo alternativo governado por uma estranha força magnética do Sol que arrasta todos para os seus trabalhos? Apesar de Zaramella desconversar sobre o simbolismo do seu curta, podemos fazer um pequeno exercício de leitura do conteúdo da narrativa a partir de três pontos de vista: o marxista, o conspiratório e o gnóstico.

O mais premiado curta argentino, “Luminaris” em 2012 foi pré-selecionado entre os dez finalistas para concorrer ao Oscar dentro de sua categoria. Feito com uma técnica de stop-motion denominada pixilation onde atores reais interagem com objetos inanimados - veja o curta abaixo.

Dirigido por Juan Pablo Zaramella, a narrativa de seis minutos é ambientada em uma Buenos Aires que parece o resultado do cruzamento entre filme noir, realismo fantástico, neorrealismo e surrealismo. O curta conta a história de um homem (Gustavo Cornillón) que vive em um universo alternativo onde o tempo, o trabalho e o cotidiano são controlados pela luz do sol que age como espécie de força magnética, despertando a todos para depois arrastá-los ao trabalho e trazê-los ao final do expediente de volta para casa. O protagonista tem um trabalho rotineiro e repetitivo na linha de montagem em uma fábrica de lâmpadas onde são produzidas de uma forma, digamos, não muito ortodoxa...

segunda-feira, junho 24, 2013

O tempo conspira contra os algoritmos no filme "Cosmópolis"


Baseado em livro homônimo de 2003, o filme “Cosmópolis” (2012) do diretor David Cronenberg ganha atualidade com os movimentos antiglobalização como Occupy Wall Street e o colapso do Euro: a bordo de uma limusine, que na verdade é uma alegoria do ciberespaço, um jovem multimilionário do mercado financeiro cruza uma Nova York caótica enquanto acompanha através das telas de computadores a falência dos seus algoritmos que não conseguem prever a sua derrocada financeira. Mais do que uma alegoria sobre uma geração que construiu uma arquitetura da informação abstrata e desconectada da humanidade, Cronenberg discute a morte dos novos deuses criados pelas tecnologias baseados na fé de que a matemática estaria por trás tanto de espirais galácticas quanto das operações financeiras. Deuses que esqueceram a principal falha cósmica: o tempo.

Eric Parker (Robert Pattinson), um multibilionário príncipe do mundo financeiro com seus vinte e poucos anos, atrás de seus óculos escuros, um rosto blasé e a bordo de uma limusine high tech, decide cruzar a cidade de Nova York para cortar o cabelo em uma antiga barbearia que remonta a sua infância.

Porém, a cidade vive o caos com a visita do presidente dos EUA. Um grupo de seguranças ao redor de Parker o alerta do perigo eminente de sofrer um atentado. Na verdade, ele e o presidente dos EUA parecem ser os alvos preferenciais em meio às ruas tomadas por protestos antiglobalização.

Todas as suas operações financeiras são monitoradas a partir da limusine através de diversas telas. Parker acompanha com ansiedade uma arriscada operação, uma aposta na queda da moeda chinesa, o Yuan. Ao longo do difícil e congestionado trajeto até o barbeiro, Parker acompanhará a valorização da moeda daquele país e a sua derrocada financeira pessoal até a falência.

quarta-feira, junho 19, 2013

Apertem os cintos... a Esquerda sumiu


A escalada de manifestações nas ruas em todo o país parece expressar um profundo mal estar dos jovens em relação não apenas à política (o jogo partidário), mas principalmente à instituição da Política como representação de qualquer demanda social. Desconfiam que por trás da Política ou do Poder não existe nada mais do que ardil, simulação, blefe. Mas a mídia tem horror ao vácuo: para manter o ardil da simulação os meios de comunicação precisam encaixar as manifestações em um script, assim como um novo roteiro de um filme publicitário que oferece mais do mesmo para o mercado.

As interpretações dos cientistas e comentaristas políticos crescem na mesma proporção que os protestos nas ruas. Em toda essa espiral interpretativa há um ponto que todos parecem concordar: a incrível flexibilidade e rapidez da logística das mobilizações nas ruas através das redes sociais contrasta com os lentos canais de comunicação representativos de partidos políticos, Executivo e organizações classistas. A UNE, por exemplo, desapareceu. Qualquer identificação partidária no meio das passeatas é vista com maus olhos e rejeitada pelos manifestantes.

Mas essa questão logística de comunicação é apenas o sintoma: os jovens na rua estão expressando um profundo mal estar em relação não apenas à política (o jogo partidário), mas principalmente à Política – o questionamento da própria ideologia política como representação de qualquer demanda social. Em outras palavras, os jovens desconfiam que por trás da Política ou da ideologia não existe nada e que tudo é um ardil, uma simulação, um blefe.

terça-feira, junho 18, 2013

OVNIs e parapolítica no filme "Wavelength"


Um prato cheio de mistérios, OVNIs, coincidências e conspirações. “Wavelength” (1983) de Mike Gray (documentarista e ativista político) e produzido por um advogado não menos ativista é um daqueles filmes estranhamente esquecidos por críticos e cinéfilos. No momento atual em que autoridades vêm a público cobrar dos governos que o fenômeno OVNI seja assumido oficialmente, “Wavelength” é relembrado como um filme supostamente baseado em um caso real ocorrido em Hunter Liggett, sul da Califórnia. Principalmente após declaração de um físico que trabalhava em laboratório de pesquisas do governo dos EUA e uma testemunha do incidente que se diz surpreendido com a precisão da narrativa do filme: “Quem fez esse filme estava lá ou conheceu alguém que esteve lá”.

O filme “Wavelength” é um prato cheio para os teóricos da conspiração especializados nas conexões entre OVNIs e governos, a chamada “parapolítica”. Tanto pelo conteúdo da narrativa do filme e, principalmente, pelos eventos e coincidências que cercaram a sua produção que pesquisadores como Christopher Knowles qualificam como “sincromísticos”.

Esse sci-fi independente e de baixo orçamento foi esquecido pelo público e até mesmo pelos cinéfilos ao longo dos anos. Relembrar desse obscuro filme e dos eventos em torno dele é oportuno, principalmente depois que duas autoridades que ocuparam posições-chave em governos manifestaram a necessidade de ser assumido oficialmente a existência dos OVNIs: o ex-ministro de defesa do Canadá, Paul Heyller (acusou os EUA de “acobertamento”), e o ex-presidente russo Dmitry Medvedev que falou sobre “arquivos secretos oficiais sobre o assunto” em um rede de TV daquele país.

sábado, junho 15, 2013

O oportuno "Moonrise Kingdom" em tempos de jovens protestando nas ruas


Partindo do princípio de que o mix emocional de exaltação e melancolia da adolescência representa o último grito de um espírito que nega a adaptação ao futuro, “Moonrise Kingdom” (2012) constrói uma elaborada fábula sobre a inadaptabilidade do jovem a um mundo onde os adultos dizem “somos tudo o que vocês têm”. Enquanto filmes como a da franquia “Crepúsculo” ou “Harry Potter” representam esses aspectos depressivos da adolescência de forma solipsista e platônica (a felicidade só poderia ser alcançada nos sonhos ou em mundos mágicos e sobrenaturais), “Moonrise Kingdom” constrói um elaborado simbolismo permeado de misticismo e gnosticismo que não só desconstrói as formas de “cura” da revolta adolescente como aponta para a felicidade como uma chama interior que deve ser mantida acesa no mundo adulto que o aguarda. Um filme oportuno em tempos em que jovens estão tomando as ruas em protestos.

O diretor Wes Anderson é conhecido por criar um universo bem particular: em todos os seus filmes anteriores como “Os Excêntricos Tenembauns” (2001) ou “O Fantástico Sr. Raposo (2009) ele é capaz de criar um microcosmo onde os eventos e ações começam a ocorrer dentro de suas própria regras e tudo começa a ser impulsionado por emoções e desejos tão convincentes que se tornam mágicos.

Dessa vez o novo mundo criado por Anderson é uma ilha em algum lugar na costa da Nova Inglaterra nos EUA, onde as casas, fazendas, faróis, barcos parecem ser reproduções ampliadas de pequenos modelos ou miniaturas. A composição dos enquandramentos é cheia de simetrias, o movimento da câmera calculadíssimo e os personagens propositalmente estereotipados e contidos. Por isso, Anderson é muito criticado pelo estilo dito “maneirista”. Aqui, pelo menos, esse estilo passa a ter todo sentido: em uma ilha cujo artificialismo dos personagens, paisagens urbanas e naturais lembram muito a ilha de Seahaven do filme “Show de Truman” (The Truman Show, 1998) criam uma sufocante atmosfera de ordem, disciplina e hierarquia, um casal de adolescentes se rebela e planeja cuidadosamente e executa uma fuga: ela para fugir da crise conjugal dos seus pais e ele da disciplina e mediocridade de um campo de escotismo.

quinta-feira, junho 13, 2013

Em Observação: "Mahler no Divã" (2010)



Percy Adlon é um diretor conhecido por esse blog, principalmente pela comédia “Rosalie Vai às Compras” que já foi tema de postagem. O filme “Mahler no Divã” (2010) não trata de um divã real: o compositor Gustav Mahler jamais esteve no divã de Freud, mas foi analisado por ele de uma forma bem diferente para a ortodoxia do pai da psicanálise: caminhando. Caminhar como forma de descobrir a si mesmo tem profundos significados esotéricos e filosóficos. Assim como a própria figura de Mahler na história da música, considerado como um “romântico tardio”, pela sua morte prematura e sua música misturar exaltação e depressão. O filme será exibido dia 19 em São Paulo no Ciclo de Filmes Alemães no Clube Transatlântico.

terça-feira, junho 11, 2013

Físicos afirmam que o Universo é uma simulação computacional finita


“Partindo do princípio que o Universo é finito e que, portanto, os recursos de potenciais simuladores também o são, há sempre a possibilidade de o simulado conhecer os simuladores”. Essas são as últimas linhas de um artigo publicado por físicos da Universidade de Cornell, EUA, onde criam as diretrizes iniciais para a comprovação da hipótese de que o Universo é uma gigantesca simulação computacional a partir de uma simulação numérica da chamada “grade cromodinâmica quântica”, associada às forças básicas da natureza que unem prótons e nêutrons no núcleo do átomo. Tal conclusão leva a importantes implicações filosóficas gnósticas como, por exemplo, a atualização por meio da tecnologia de uma ambição humana revelada pela Teurgia e Alquimia na Antiguidade: imitar Deus para tentar encontrá-lo. Dessa vez, por meio da simulação algorítmica.

Talvez Deus não queira ser observado. Acho que Ele não gosta de curiosos” (Einstein)

Dessa vez é um grupo de físicos da Universidade de Cornell, nos EUA, que afirma que conseguiu aperfeiçoar as diretrizes iniciais de um método que comprovará que o Universo é uma gigantesca simulação computacional. Não fosse o fato de que pesquisadores da Universidade de Washington concordaram após investigar os dados da equipe de Cornell, poderíamos dizer que tudo isso não passa de um boato.

Em novembro do ano passado, físicos da Universidade de Bonn, Alemanha, anunciaram que procuravam uma “assinatura cósmica” a partir de uma simulação computacional por meio de minúsculos espaços cúbicos (grade de Gauge) que forneceria uma nova visão das partículas de alta energia. Dessa maneira, eles levariam à frente a hipótese do professor da Universidade de Oxford, o filósofo e matemático Nick Bostrom, que em artigo publicado em 2003 sustentava uma fórmula probabilística de que uma outra civilização poderia ter simulado o nosso Universo (veja links abaixo).

Pois em novembro do ano passado Silas Beane, Zohreh Davoudi e Martin Savage publicaram o artigo “Contraints on the Universe as a Numerical Simulation” (Cornell University Library, arXiv.org) onde observam as consequências da hipótese do Universo como simulação numérica a partir da possibilidade de que a próxima geração de computadores de alta performance possa simular a chamada “grade de cromodinâmica quântica” e, dessa forma, observar como os raios cósmico se refletem nessa estrutura.

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