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quinta-feira, setembro 16, 2021

Temer dá continuidade ao blefe da 'Operação 7 de Setembro'


O show deve continuar. Dando continuidade ao blefe da “Operação Sete de Setembro” entra em cena o “apaziguador” Michel Temer com direito a fotos do seu embarque triunfal para Brasília em avião da FAB, vídeo “vazado” e notas cuidadosamente plantadas nas colunas da imprensa corporativa. O mininistro  do STF Alexandre de Moraes “trocou uma ideia” com Temer, que “trocou uma ideia” com Bolsonaro, que “trocou uma ideia” com Alexandre de Moraes. Dessa maneira, Temer nos livrou do abismo do golpe para o qual Sérgio Reis, Zé Trovão e Batoré arrastavam a Nação. Como, no futuro, um professor de História conseguirá descrever esse melodrama tão inverossímil? Uma sequência de não-acontecimentos (dos blefes com dinheiro público ao estado da arte de um vídeo canastríssimo) que a grande mídia deu pernas, parceira das operações psicológicas que objetivam: (a) apagar rastros das próprias PsyOps militares; (b) criar a ilusão de que as “instituições que funcionam resistem ao golpe” (que já ocorreu, mas foi híbrido); (c) manter o ciclo vicioso de volatilidade política para as “sardinhas” se afogarem no mar da especulação financeira infestada de “tubarões” com informações privilegiadas.

 

Colunistas (ou “colonistas”, como chamava o saudoso jornalista Paulo Henrique Amorim) servem, no contexto atual de guerra criptografada de informações, para uma única coisa: vazar informações e repercutir notas plantadas, criando o caos cognitivo na opinião pública.

Depois da assustadora expectativa de assistirmos a um golpe de Estado açodado por Bolsonaro e executado pelo inacreditável trio Sérgio Reis, Batoré e Zé Trovão, eis que ressurge do ostracismo Michel Temer. Com o marqueteiro Elsinho Mouco e com tudo, para cuidadosamente divulgar vídeos e plantar/vazar informações dos bastidores do dia em que a Nação foi salva de tão grave “crise institucional”. 

Sonia Racy, na sua coluna “Direto da Fonte”, com matéria sob manchete com o sujeito na voz ativa (“Temer CONDICIONOU ida a Brasília a garantia que Bolsonaro assinaria a carta”), a jornalista revelou os “bastidores” da solução da crise. Segundo ela, o “apaziguador” (SIC) “trocou uma ideia com Alexandre” (Alexandre de Moraes, ministro do STF) para depois “montar a carta” e enviar a Bolsonaro. Temer também falou por telefone a Bolsonaro que “pegava mal para ele falar mal de um ministro”.  

Leu a carta pelo celular a Bolsonaro, que “aceitou assiná-lo” e... “Trato feito”.

Após cuidadosamente postar nas redes fotos de seu triunfante embarque para Brasília em avião da FAB enviado pelo “politicamente isolado” Bolsonaro, o trabalho do incansável marqueteiro de Temer não acabou: divulgou um vídeo de um jantar na casa do “investidor” Naji Nahas em que Temer aparece ao lado de políticos e empresários rindo, enquanto André Marinho, filho do empresário Paulo Marinho, fazia uma imitação de Bolsonaro.

Mas, claro, o “apaziguador” não permitiria que um vídeo desse viralizasse sem explicações e, mais uma vez, deixasse a Nação ansiosa: prontamente ligou para o presidente e explicou que o humorista fez no jantar outras imitações de políticos, incluindo a do próprio Temer. E o atual chefe do Executivo minimizou tudo e “deixou pra lá”, como nos informa outro “colonista”, dessa vez Caio Junqueira da CNN. 



Ufa!!! Mais uma vez, Temer salvou o dia...

É tragicômico ver uma mídia, tanto corporativa quanto progressista, pautada por essa sucessão de blefes (“telecatchs”) ou, para ser academicamente mais preciso, “não-acontecimentos” (Jean Baudrillard); “pseudo-eventos” (Daniel Boorstin) estratégia indiretas de criação de simulacros para imediata repercussão midiática.

A canastrice do vídeo viral

Mas o pior de tudo é a canastrice dos personagens desses blefes: os “feios, sujos e malvados” personagens talibãs são mais verossímeis do que as bravatas da trinca Sérgio Reis/Batoré/Zé Trovão.




E para completar, a canastrice de Temer, cujos trejeitos e gestual emulam Silvio Santos e Raul Gil. Mais um exemplo da canastrice como ferramenta subliminar na política e tributária da hiper-realidade: a maneira pela qual personagens do mundo cotidiano (do CEO de uma empresa a políticos, presidentes e ministros) refletem a ficção midiática. E eleitores e opinião pública, acostumados com os simulacros televisivos e fílmicos, os veem como verossímeis e críveis... por serem iguais a personagens da ficção.

Ao mesmo tempo, a mídia progressista (que deveria ser a primeira a questionar todo esse overact) compra tudo isso: “Temer embarca para Brasília para ENQUADRAR Bolsonaro”, ou até se condoendo da “canalhice” de Temer - acusando-o de “mau caratismo” ao “humilhar um desesperado presidente” que “ofereceu-lhe sua intimidade”.

Mas quem estava no jantar viral? Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD; Johnny Saad, presidente do Grupo Bandeirantes; Roberto D’Ávila, jornalista e apresentador da GloboNews; Antonio Carlos Pereira, ex-editorialista do jornal O Estado de São Paulo; Naji Nahas, especulador e doleiro; Raul Cutait, cirurgião do hospital Sírio-Libanês; José Yunes, advogado e amigo pessoal de Temer.

Uma continuidade do não-acontecimento da “Operação 7 de Setembro”: mais reforçar o blefe de que o País esteve perigosamente à beira de um golpe de Estado perpetrado pelo próprio presidente (um Capitólio Tabajara), reunindo um punhado de cabeças brancas tão verossímeis quanto Zé Trovão e sua trupe – o “investidor” que quebrou a Bolsa do Rio de Janeiro em 1989 e preso pela PF na Operação Satiagraha em 2008 (Naji Nahas); os velhos jornalistas e empresários de guerra do golpe de 2016; o wannabe de ligação política do Centrão (Kassab) e o indefectível staff da comunidade libanesa.




Mais uma estratégia de simulação, dessa vez o blefe de que Bolsonaro foi finalmente “enquadrado” por um governo de coalizão e abandonou os arroubos golpistas. Bolsonaro está isolado e enfraquecido, esse é o mote de sempre da grande mídia e, infelizmente, da mídia progressista.

O vídeo viral tem alguns interessantes efeitos de realidade para demonstrar o poder do “enquadramento” político: (a) o valor de milhares de reais do vaso decorativo ao lado do imitador André Marinho (divulgado por outra “colonista”, Vera Magalhães, na rádio CBN – “imagina o preço do vinho!”, completou); (b) câmera flutuando e balançando para criar o efeito de “vazamento” e “intimidade devassada”; (c) câmera ao nível da mesa enquadrando os participantes do convescote em contra-plongée, em perspectiva, para conotar o “empoderamento” das figuras.

É o melhor do publicitário e marqueteiro Elsinho Mouco.

Quem ganha?

Quem ganha com esse rendimento semiótico? Os objetivos são o de sempre.

(a) Manter a narrativa do golpismo resultante de um “presidente desesperado” e “politicamente isolado”, apagando os rastros de um golpe militar que já ocorreu. Mas, principalmente, ocultar as digitais das PsyOps militares que conduziram ao golpe militar híbrido;

(b) Cooptar esquerda e a mídia progressista no interior desse gigantesco (e caro) blefe, que passa a achar verdadeira a avaliação de que o chefe do Executivo foi “enquadrado” e que as “instituições estão funcionando”, apesar das ameaças “golpistas”. Enquanto isso, o movimento em pinça militar segue célere: rapidamente está tramitando o Projeto de Lei 1595 (do deputado major Victor Hugo, PSL-GO) que amplia a repressão a protestos da Lei Antiterrorismo de 2016. É preciso desenhar? – ao lado da judicialização (a promoção de Alexandre de Moraes a herói que enfrenta o golpismo de Bolsonaro), serão as pinças que se fecharão no futuro contra a esquerda. As instituições funcionarão plenamente contra quaisquer protestos contra o recrudescimento dos efeitos da agenda neoliberal;




(c) Manter o ciclo vicioso da volatilidade política que mantém a montanha russa da Bolsa de Valores e do dólar que faz as “sardinhas” perderem dinheiro enquanto os tubarões (BTG Pactual, BlackRock et caterva) ganham fortunas com informações privilegiadas – Cf. Paulo Guedes.

Esse ciclo vicioso é diligentemente reforçado pela grande mídia (patrocinada por quem?): nos dias que antecederam ao iminente “abismo” do Sete de Setembro, a pauta da grande mídia era o “Custo Bolsonaro” que supostamente afastaria investidores, além de fazer a inflação disparar e o desemprego aumentar.

Com a Nação respirando aliviada após a intervenção do “apaziguador” Michel Temer, foi como se uma chavinha mudasse repentinamente a linha editorial do jornalismo corporativo: aqui e li vemos agora o bate-bumbo das notícias de “recuperação econômica” - "setor de serviços sobe pelo quarto mês consecutivo", "Bolsa sobe", "dólar abre estável", "setor de embalagens está empregando mais" etc. 

Inflação?  Ela “está surpreendendo” porque é “um produto de diferentes causas” – “causas” nas quais nunca os dogmas neoliberais são, sequer, relativizados.

O desesperador não é o suposto golpismo de Bolsonaro. Mas como a esquerda é capaz de se afogar na espuma desses blefes em série.

 

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