quinta-feira, agosto 18, 2016

Em "Esquadrão Suicida" o Coringa foi a maior vítima


A maior vítima do filme “Esquadrão Suicida” não foi a super-vilã do Outro Mundo Enchantress. Foi o Coringa de Jared Leto, vítima da diluição de todos os vilões do filme na estratégia ideológica do “good-bad evil”: maus, porém com bom coração. Os brutos também amam. Forma hollywoodiana de esvaziamento do Mal ontológico – o vilão não quer se vingar do herói, mas da sociedade hipócrita que o produziu. Em tempos de endurecimento da guerra contra o terrorismo, Hollywood não pode permitir mais um Coringa como o de Heath Ledger. Com a neutralização do arquétipo do Coringa, pelo menos Leto livrou-se da maldição sincromística que o palhaço do crime parece lançar sobre os atores que o encarnam.

terça-feira, agosto 16, 2016

Pokémon GO: bem vindo ao deserto do real!


O filme “Matrix” e o conto “Sobre o Rigor da Ciência” do argentino Jorge Luís Borges ajudam bastante a entender a atual febre em torno do jogo Pokémon GO. Não a compreender o jogo em si (de forma positiva ajuda a nos familiarizar com o ambiente urbano e nos tira do sedentarismo, a velha crítica contra os tradicionais games de computadores e consoles) mas a elucidar para qual futuro ele aponta. Realidade aumentada é a união da representação com a tecnologia, do mapa com o território, do virtual com o real. Mas se no conto de Borges pedaços do mapa ficaram grudados ao real, no mundo Matrix é o real que vira um deserto e se agarra na virtualidade. Por enquanto programas como Pokémon GO são metafóricos, anedóticos e, por isso, divertidos. Mas a tecnologia da realidade aumentada vai muito além do que ajudar a compreensão da realidade: pode desertificá-la.

segunda-feira, agosto 15, 2016

O peso da decadência moderna no filme "High-Rise"


Um misterioso arquiteto planeja um arranha-céu que deveria ser uma incubadora de mudanças na sociedade. Um edifício idílico com todas as comodidades modernas destinado a ser uma “máquina de morar” autogerida. Mas algo deu errado, transformando o projeto em um pesadelo apocalíptico que mistura horror, sexo, drogas e a principal ironia: a Razão e a Racionalidade de um projeto futurista se converte em niilismo, hedonismo e violência. É o filme “High-Rise” (2015), adaptação de obra do escritor J.G. Ballard de 1975 cujas visões sobre o futuro são considerados por muitos como proféticas – a sociedade corroída pelos seus principais males: a luta do homem contra si mesmo e de todos contra todos.

domingo, agosto 14, 2016

Curta da Semana: "Getting Fat in a Healthy Way" - a Terra, a Lua e a obesidade


Em um universo alternativo a força gravitacional do planeta se enfraqueceu devido a uma catástrofe geofísica envolvendo Terra-Lua. Quem tiver menos de 120 quilos terá sérios problemas para levar uma vida normal – poderá sair flutuando e se perder na atmosfera. Por isso a obesidade passa a ser valorizada e vira o novo padrão de beleza. E se nesse mundo um homem magro se apaixonasse por uma mulher obesa? O curta “Getting Fat in a Healthy Way” (2015) do búlgaro Kevork Aslanyan coloca esse argumento sci-fi como pano de fundo para uma singela história de amor que suscita uma discussão sobre os padrões de beleza: se são relativos, por que se transformam em padrões ditatoriais?

sábado, agosto 13, 2016

Galvão Bueno: do patriotismo ao tautismo


O locutor da Globo Galvão Bueno é o homem certo para o lugar certo. Os nadadores preparavam-se para a largada na piscina do Parque Olímpico da Rio 2016 quando a árbitra parou tudo. Em meio ao silêncio exigido para a concentração dos atletas alguém não parava de falar, alheio ao momento: era Galvão Bueno, que mereceu ao vivo uma reprimenda de um comentarista do canal inglês BBC: “o colega perto de mim precisa calar a boca”, disse. Bueno é o homem certo, com sua verborragia patriótica cultivada nos tempos dos bons resultados brasileiros no futebol e F1. Os bons resultados acabaram, mas o cacoete ficou.  Agora tornou-se sintoma do tautismo (autismo + tautologia) crônico de uma emissora que de tão centrada nela mesma começa a contaminar seus jornalistas, apresentadores e artistas. Em muitos momentos o monopólio político e econômico da Globo parece fazer seus profissionais terem lapsos de memória sobre a existência de alguma coisa de real do outro lado dos muros da emissora.

quinta-feira, agosto 11, 2016

Série "Mr. Robot", segunda temporada: o labirinto PsicoGnóstico


A série “Mr. Robot” é fascinada por sistemas. Depois de mostrar a virtualidade do sistema financeiro e a sua destruição por sistemas de computadores na primeira temporada, agora a série mergulha no sistema esquizofrênico do protagonista Elliot. Dos temas CosmoGnósticos, agora a série aprofundará temas PsicoGnósticos: como o controle do Ego é uma ilusão – assim como Tyler Durden libertou-se do psiquismo do protagonista em “Clube da Luta”, da mesma forma Mr. Robot desafiará as ilusões dos medicamentos antidepressivos, psicoterapias e todo o ideário da autoajuda.

terça-feira, agosto 09, 2016

Rebelião gnóstica e Hipótese Fox Mulder na série "Mr. Robot" - primeira temporada


A série de TV “Mr. Robot” (2015-) de San Esmail é vista pela crítica como um mix de “Matrix” com “Clube da Luta” onde a violência de socos e Kung Fu é substituída pela cultura do cyber-ativismo hacker. Mas a série vai mais além. Entra nos temas principais do gnosticismo sci-fi do escritor Philip K. Dick: paranoia, amnésia, esquizofrenia e identidade em um sistema onde a mentira é a base de toda a confiança: um sistema econômico onde débitos e dívidas se sustentam na crença de que, apesar de toda a virtualidade das transações financeiras, o dinheiro existe em algum lugar como base moral de todo o valor. E tudo pode ser destruído da noite para o dia por hackers que pretendem salvar o mundo através de linhas de programação. Como explicar essa mensagem de rebelião gnóstica em série de TV em uma grande rede dos EUA? Talvez a chamada “Hipótese Fox Mulder” explique.

sábado, agosto 06, 2016

O professor sabe que vai ser demitido quando...


Esse humilde blogueiro resolveu dar uma pequena contribuição à Antropologia Corporativa. No momento em que escolas e faculdades estão sendo rapidamente adquiridas por grupos educacionais nacionais e internacionais, oligopolizando o setor, a cultura organizacional escolar cada vez mais se assemelha à cultura corporativa. Principalmente naqueles sinais que indicam que o professor vai ser demitido como um mal necessário na implantação das novas e revolucionárias ferramentas organizacionais e educacionais trazidas por messiânicos gestores e CEOs. Fique atento a esses sete sinais. Eles podem também ser estendidos ao mundo corporativo em geral.

quinta-feira, agosto 04, 2016

Estranhas forças governam nossas vidas em "Harodim: Olhe Mais Perto"


Paul Finelli, roteirista que nunca teve uma obra adaptada por algum estúdio de Hollywood, escreve em 2010 outro roteiro, dessa vez sobre a morte do líder da Al-Qaeda Osama Bin Laden. Roteiro que tinha tudo para ser engavetado. Até que, um ano depois, Paul Finelli assistiu perplexo na TV as imagens da morte de Bin Landen por SEALs da Marinha dos EUA no Paquistão. A narrativa dos eventos era quase um espelho do seu roteiro. A realidade imitando a ficção foi o início da produção do filme “Harodim: Olhe Mais Perto” (2012), uma produção austríaca do Terra Mater, estúdio que afinal se interessou pelo roteiro de Finelli. O líder terrorista mais procurado do mundo é capturado e levado por um ex-especialista em black-ops da Inteligência dos EUA para um lugar desconhecido no metrô de Viena. Lá assistimos a uma hora e meia de interrogatório onde serão feitas aterrorizantes revelações sobre fatos da história recente desde os atentados do 11 de setembro nos EUA. E que há forças por trás da nossa vida ordinária que estão muito além do livre-arbítrio. Filme sugerido pelo nosso leitor Romeu.

terça-feira, agosto 02, 2016

Globo promete cobertura tautista das Olimpíadas


Metalinguagens e efeitos visuais tautológicos dominaram a cobertura do programa Fantástico do último domingo sobre as Olimpíadas Rio 2016, com a mesma estética apoteótica das transmissões do Carnaval, dando o tom geral da cobertura da emissora. Mais do que mau gosto, é a evidência do “tautismo” (autismo + tautologia) crônico da Globo nos anos recentes. Para uma emissora que se fechou em si mesma como reação à crise de audiência e a concorrência das mídias de convergência, não existe mais mundo externo: as Olimpíadas só acontecem no Rio para que a Globo possa transmiti-la. E o auge do tautismo é quando jornalistas começam a entrevistar outros jornalistas da própria emissora. Para a Globo, a cobertura jornalística em si é mais importante do que o próprio evento e os relatos das emoções de seus apresentadores é mais dramático do que as dos próprios atletas.

segunda-feira, agosto 01, 2016

Curta da Semana: série "Bendito Machine" - relaxe, tudo está sob controle


“Relaxe, tudo está sob controle” é o que sempre parecem nos dizer as máquinas e as tecnologias. Por isso elas nos fascinam e nos gratificam a ponto de se tornarem modernas religiões. É o que nos mostra a série com cinco curtas de animação “Bendito Machine” (2006-2014). Produzida pelo estúdio espanhol Zumbakamera, cada episódio apresenta máquinas que sempre parecem “defecar” pequenas criaturas globulares com olhos que nos controlam por meio da oferta dos prazeres da ambição e gula. Em tempos de apps virais como o Pokémon GO chegando em terras brasileiras, assistir a essa série é obrigatório.

sábado, julho 30, 2016

Notícias de ataques inspiram "assassinos copycat"?


Diante da sequência de ataques ocorridos na Alemanha, o site da Deutsche Welle (empresa de radiodifusão alemã) cogitou a possibilidade de o país estar sofrendo uma sequência de “assassinatos copycat”, efeito de contágio desencadeado por uma “fórmula dramatúrgica” através da qual a mídia vem tratando diferentes eventos. Atentados terroristas genuínos e ataques de assassinos solitários são descritos dentro de um mesmo script sensacionalista, criando um gigantesco “efeito Heisenberg”: a mídia está cada vez mais cobrindo a si mesma e os seus efeitos sobre as pessoas.

quinta-feira, julho 28, 2016

Carma, metalinguagem e Fernando Pessoa no filme "Zoom"


“Zoom” é uma expressão inglesa com um duplo significado: poder ser “zunir” (“to zoom past” como “passar zunindo” ) ou a lente fotográfica que pode aproximar ou afastar-se de um objeto cujo movimento de ajuste produz um “zunido”. O filme “Zoom” (2015, Brasil-Canadá) de Pedro Morelli explora esse duplo sentido do termo ao criar três universos meta-narrativos (literatura, HQ e cinema) onde os protagonistas ignoram as existências paralelas, sem saber que suas decisões se afetam mutuamente: uma desenhista faz uma HQ sobre um diretor de cinema que faz um filme cuja protagonista escreve um romance sobre a desenhista de HQ. Zoom explora o simbolismo carmico de “ouroboros”, a cobra que come o próprio rabo. E o misticismo do silêncio do poeta português Fernando Pessoa.

quarta-feira, julho 27, 2016

Mídia faz cortina de fumaça com debate "Escola Sem Partido"


Doze anos depois do surgimento da proposta do “Escola Sem Partido”, o Senado lançou agora um projeto de lei para incluir essa ideia nas diretrizes e bases da educação nacional. A grande mídia deu espaço a essa notícia e tanto Esquerda quanto Direita morderam a isca e se engalfinharam: mordaça para os professores? Retrocesso na educação? Impedir que a esquerda doutrine alunos aproveitando-se da audiência cativa? Por que só agora o projeto ganha expressão política e midiática? O debate coincide com o momento da oligopolização do ensino por grupos educacionais estrangeiros (turbinados por fundos de investimentos) e nacionais que não visam apenas a mercantilização, mas a própria industrialização do ensino. A polêmica midiática do “Escola Sem Partido” parece ser uma cortina de fumaça para esconder um projeto industrial muito mais amplo com a importação de novas metodologias educacionais (“ativas”, “educação por competências”) tomadas como um fim em si mesmas onde o próprio professor desaparecerá junto com o seu ofício. Talvez no futuro nem mais exista professor para ser amordaçado.

segunda-feira, julho 25, 2016

Curta da Semana: "We Together" - a memória involuntária dos zumbis


Os zumbis de George Romero se encontram com o vídeo-clip "Thriller" de Michael Jackson fazendo uma exploração no psiquismo dos zumbis. Esse é o curta “We Together” (2016) de Henry Kaplan. Uma música desperta em zumbis memórias involuntárias, fazendo-os terem flash backs da antiga vida humana que ainda podem ter de volta, desde que redescubram quem eles foram. Nada mais gnóstico: os zumbis são tão alheios de si mesmos como nós. Este talvez seja o porquê do fascínio atual pelos zumbis, um verdadeiro arquétipo contemporâneo.

domingo, julho 24, 2016

O evento-encenação da "célula amadora" dos terroristas de paintball


Saem bolivarianos e comunistas e agora entram terroristas islâmicos. Sim! Nós também temos terroristas. “Células amadoras” onde o batismo é feito através de webcam, compram armas do Paraguai pela Internet e pretendem fazer “treinos de lutas marciais” a poucos dias dos jogos olímpicos, suposto alvo dos intolerantes religiosos. Isso quem disse foi Alexandre de Moraes, ministro da Justiça, em uma coletiva convocada numa atmosfera de pompa e gravidade. Uma “investigação sigilosa” que, ao mesmo tempo, pode ser divulgada à Imprensa. E a grande mídia repercute com seus correspondentes no Exterior para que, definitivamente, esse País seja levado à sério. Esse é mais um exemplar de uma longa história de “eventos-encenação” (Umberto Eco) que começa com o casamento de Lady Di e Príncipe Charles, passando pelos mísseis jogados no Sudão e Afeganistão por Bill Clinton para desviar a atenção de um escândalo sexual em 1998 até essa desajeitada estratégia do governo Temer repleta de contradições, timing e oportunismo, com direito a foto de um “terrorista de paintball”.

quinta-feira, julho 21, 2016

Para a TV Globo o Japão é a reserva moral brasileira


Toda vez que o Brasil entra em crise econômica, a TV Globo convoca seu correspondente da época em Tóquio para intensificar matérias com edificantes lições morais sobre virtudes que supostamente faltariam para um país como o nosso que nunca dá certo: o modelo de educação mundial, a disciplina, a disposição para o trabalho, abnegação e auto-sacrifício. É a mitologia do “milagre japonês”. Os ocidentais tentam transformar o Japão em um espelho de si mesmos com seus tradicionais clichês. Mas não conseguem entender o gênio da cultura japonesa: a capacidade de imitar o ocidente sem absorver sua essência – o Japão consegue entrar na órbita cultural, tecnológica e comercial ocidental levando ao extremo um velho princípio taoista de que a vitória não se consegue afirmando-se, mas, pelo contrário, desvalorizando-se, cedendo. Assim como no jiu-jitsu onde não se vence impondo sua própria força ou valor, mas absorvendo a força do oponente.

terça-feira, julho 19, 2016

A teoria conspiratória do Projeto Montauk na série "Stranger Things"


A nova série Netflix “Stranger Things” (2016) faz um mergulho em um subgênero dos anos 1980 que levou as teorias conspiratórias aos blockbusters: “ET”, “Contatos Imediatos”, “Os Goonies”, “Viagens Alucinantes”, “A Coisa”, etc. Mas também leva a sério a mãe de todas as conspirações, aquela que os pesquisadores da área chamam de Teoria da Conspiração Unificada (TCU) por explicar todos os paradoxos científicos atuais: o chamado “Projeto Montauk”. A série “Stranger Things” (que originalmente se chamaria “Montauk”) se inspira nas especulações em torno desse nebuloso projeto do Departamento de Defesa dos EUA dos anos 1970-80 envolvendo guerra psicológica e psíquica, além de controle da mente à distância. Mas parece que produziu algum efeito colateral que fez o Projeto terminar abruptamente em 1983. E agora esse efeito ameaça uma pequena cidade dos EUA.

segunda-feira, julho 18, 2016

Ataque em Nice: entre "False Flag" e o "Efeito Copycat"


Atualmente ataques e atentados parecem se tornar relações públicas de si mesmos: buscam sempre a máxima repercussão e visibilidade. Dos “frames” escolhidos pelos fotógrafos até a própria tragédia, tudo é retoricamente tão saturado que entra no campo das mitologias midiáticas. A narrativa é sempre a mesma: o ataque de um “lobo solitário”; a ação que interrompe festas, prazer e diversão, o timing, o oportunismo e, finalmente,  a morte/suicídio final do terrorista. O ataque em Nice mais uma vez repetiu o plot. Porém dessa vez acrescentou mais um elemento: a ambiguidade – ataque terrorista? Apenas um louco que odeia o mundo? Por isso no ataque em Nice podem ser encontrados elementos tanto de "Operação Bandeira Falsa" (“False Flag”) como do chamado “efeito Copycat” (imitação). E a coincidência da estreia do filme de ação “Bastille Day” (cujo plot é a luta para impedir um atentado em Paris) no dia do ataque reforça essa hipótese.

sexta-feira, julho 15, 2016

Autoajuda é negação psíquica em "The Invitation"


As ricas mansões das colinas de Hollywood escondem estranhas seitas e comunidades formada por celebridades, diretores e produtores da indústria do entretenimento. Em uma dessas ricas casas um grupo de amigos que não se via há dois anos é convidado para um jantar. Lá encontrarão os anfitriões: uma ex-esposa e seu novo marido, entusiastas de uma nova seita que promete “um novo recomeço”. Esse é o thriller psicológico “The Invitation” (2015) de Karyn Kusama onde as seitas de autoajuda se revelam na verdade grandes mecanismos de negação psíquica onde a linha que separa a sanidade da loucura começa a desaparecer. Os convidados daquele jantar conhecerão da pior forma possível a máxima freudiana: “o reprimido sempre retorna”.

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