domingo, junho 02, 2013

Sobre realidade, jardins e TVs no filme "Muito Além do Jardim"


“Muito Além do Jardim” (Being There, 1979), um clássico com Peter Sellers, teve sérios problemas para ser finalizado: o diretor Hal Ashby entrou em sério desentendimento com a produtora Lorimar Films para impor um final que seria um dos mais polêmicos da história do cinema (o final "andando sobre as águas"), um final tão cético que beira o ateísmo, isso após uma sequência onde aparecem símbolos maçônicos no mausoléu de um dos protagonistas. Mas “Muito Além do Jardim” é antes de tudo um filme sobre como a TV é capaz de moldar nossa percepção do real, assim como todos projetam suas percepções e interesses no protagonista. Uma fábula sobre a paradoxal incomunicabilidade em uma cultura moldada pelos meios de comunicação.

Nunca um filme teve um título em português tão bem acertado: “Muito Além do Jardim”. O título designado para “Being There” do diretor Hal Ashby, é perfeito porque a narrativa de quase duas horas em um ritmo elegante (ou lento, de acordo com a referência cinematográfica do espectador) vai pouco a pouco aprofundando as consequências na vida de um homem que se vê de repente despejado na rua após perder o emprego de uma vida inteira (jardineiro) e como o acaso vai construindo o seu destino em uma trajetória que o faz adentrar acidentalmente em círculos cada vez poderosos até chegar ao presidente dos EUA.

Da história de um homem simples cuja percepção da realidade foi moldada pela TV, passando pela forma como inesperadamente se torna um “insider” dos altos círculos do poder de Washington até o final onde símbolos esotéricos sugerem teorias conspiratórias na política e um inesperado, ambíguo e perturbador final que potencialmente pode por em xeque tudo que acabamos de assistir.

Como veremos adiante (aviso de spoiler) a sequência final, que quase custou o emprego do diretor Hal Ashby que insistiu em colocá-la na edição final do filme mesmo sob ameaça de demissão pela produtora Lorimar, é uma das mais polêmicas da história do cinema: podemos interpretá-la ou como um final poético sobre a pureza do protagonista ou como um brutal ceticismo que confirmaria as intenções do diretor em inserir algumas simbologias esotéricas na narrativa.

quinta-feira, maio 30, 2013

"Argo" e "Ghost Army": a simulação uniu Guerra e Cinema


Os inimigos dos EUA sempre os atacaram ou com o fundamentalismo religioso-ideológico (islamismo, comunismo etc.) ou com a tática da guerra total (os nazis na Segunda Guerra Mundial). E os americanos responderam com sua principal arma: a simulação. Diferente das táticas ideológico-militares de dissimulação, os EUA encontraram uma arma ainda mais insidiosa no interior da sua própria cultura: do “Studio System” de Hollywood às mesas de pôquer de Las Vegas a arma da simulação e do blefe. Os casos históricos de “Argo” em 1979 no Irã e a inusitada tática de uma unidade militar chamada “Ghost Army” na Segunda Guerra Mundial ilustram bem essa complexa conexão entre Guerra e Cinema que explica porque a simulação conquistou o mundo.

Estamos acostumados a pensar o cinema hollywoodiano como instrumento ideológico do complexo governo-militar-diplomático dos EUA. Exemplos não faltam das evidências disso: desde os filmes patrióticos, a promoção dos novos heróis pós-depressão econômica de um país revitalizado pela vitória na Segunda Guerra Mundial e a “política de Boa Vizinhança” com Carmem Miranda e Zé Carioca para agradar e cooptar os países da América do Sul na época da Guerra Fria e a ameaça comunista; até os filmes e minisséries dos anos 1960-70 que tornaram o american way of life desejáveis para nós e os filmes de ação de Rambo e Braddock da era Reagan para levantar a imagem militar de um país derrotado no Vietnã.

Nesses casos temos a submissão da produção cinematográfica às estratégias de dissimulação dos interesses do Estado. É importante entender esse conceito de dissimulação: é a situação onde alguém afirma não possuir algo que, na verdade, está escondendo. É o campo da mentira, da manipulação e da ideologia.

Mas ao longo da história das complexas conexões entre Cinema e Estado podemos encontrar uma situação inversa onde o complexo governo-militar-diplomático se submete à lógica do sistema cinematográfico, procurando imitá-lo em uma estratégia de simulação.

quinta-feira, maio 23, 2013

O espectro do tautismo ronda a TV Globo


A linguagem da TV Globo sempre abusou das metalinguagens como exercício de demonstração do seu poder tecnológico e financeiro: passar a maior parte do tempo transmitindo a sua própria transmissão. Porém, nessa semana percebemos a recorrência de um fenômeno novo, desde a notícia da morte de turistas brasileiros na Turquia. Um fenômeno que o pesquisador francês Lucien Sfez chama de “tautismo”: um processo de comunicação sem personagens que só leva em conta a si mesmo, resultando em uma situação simultânea de autismo e tautologia. Isso seria o resultado final de todo sistema complexo que começa a fechar-se em si mesmo, tornando-se cego ao ambiente externo. Sem conseguir estabelecer a diferença entre “dentro” e “fora”, “ficção” e “realidade”, o sistema torna-se autofágico. O tautismo poderia ser o sinal decisivo do fim da hegemonia da TV Globo?    
Um fantasma ronda os corredores da TV Globo. É o espectro do tautismo. Esse neologismo criado pelo pesquisador francês Lucien Sfez através da combinação das palavras “tautologia” (do grego tauto, o mesmo) e “autismo” (autos, si mesmo) talvez nomeie uma estranha recorrência nesses últimos dias na programação da emissora.
Em um espaço de menos de uma semana em uma amostragem bem aleatória, encontrei uma repetição de eventos, sejam eles conteúdos de ficção ou não-ficção, onde sempre há um princípio de auto-referência.

quarta-feira, maio 22, 2013

Em Observação: "Muito Além do Jardim" (1979)


Um filme que merece ser revisitado por esse blog. Há muito tempo assisti ao filme e, pelo que parece, passei tanto tempo sem assisti-lo de novo talvez porque a própria crítica especializada o esqueceu: raramente encontramos o filme "Muito Além do Jardim" em listas dos melhores filmes. Embora a própria crítica reconheça que seja uma das melhores críticas à sociedade e à mídia feita pelo Cinema. Peter Sellers faz essa comédia dramática tentando separá-lo da imagem do Inspetor Closeau depois do sucesso comercial da série "A Pantera Cor de Rosa" nos anos 1970. Muitos o associam ao tema do filme "Forrest Gump" (1994), porém com uma diferença: se no filme com Tom Hanks as tiradas filosóficas sobre o nada são levadas à sério, aqui Peter Sellers utiliza todo cinismo e ironia para mostrar como as pessoas começam a levar à sério alguém que unicamente repete os clichês despejados pela TV. 

terça-feira, maio 21, 2013

A lógica publicitária do "Papai Noel" no filme "Gente Louca"


Em crise criativa, um publicitário bem sucedido descobre que passou grande parte da vida mentindo para ganhar dinheiro. Começa então a fazer o que ele chamará de “Publicidade honesta”: “Linhas Aéreas United: nossos aviões caem menos que o da concorrência” ou “Cigarros Amalfi: Câncer? Talvez. Sabor? Com Certeza!” são algumas das pérolas que são vistas por todos na Agência da Madson Avenue como criações de alguém que enlouqueceu. Logo o protagonista se vê internado em um manicômio, onde fará uma nova agência de publicidade, dessa vez com os pacientes do hospital. “Gente Louca” (Crazy People, 1990) com o comediante britânico Dudley Moore é uma comédia romântica sem pretensões, mas que desenvolve um supreendente pano de fundo crítico. O filme é uma ótima oportunidade para ilustrar a irônica natureza da lógica da crença publicitária sugerida pelo pensador francês Jean Baudrillard: a “Lógica do Papai Noel”.

Um filme despretensioso, uma comédia romântica daquelas que passavam nas sessões da tarde da TV brasileira quando espectadores ociosos (e talvez desempregados) ficam preguiçosamente na frente da televisão digerindo o almoço. “Muito Loucos” (Crazy People, 1990) certamente passaria despercebido pelo blog e nem faria parte do nosso foco de interesse se ele não contivesse um brilhante insight: e se um publicitário resolvesse da noite para o dia contar apenas a verdade dos produtos que anuncia e da própria Publicidade?

Mais do que isso, e se ele começasse a mostrar ao consumidor a verdadeira motivação que o faz querer comprar determinados produtos, motivação que nada tem a ver com necessidades reais ou racionalidades? Que o consumidor adquire muita coisa pela sua própria inutilidade?

Pois essa é o argumento provocativo no interior de um filme que é obviamente estruturado pelas convenções do gênero e se perde nos clichês da comédia romântica com desencontros amorosos que têm uma reconciliação final.

domingo, maio 19, 2013

O paradoxo de um prisioneiro no curta "Room 8"


Premiado no Tribeca Film Festival desse ano, o curta “Room 8” desafia o protagonista e o espectador a um paradoxo lógico: qual a verdadeira prisão em que os personagens se encontram? Quando uma caixa é aberta no interior de uma cela, eventos surreais começam a acontecer que colocam em xeque a natureza não só da prisão como a da própria realidade. O paradoxo lógico proposto pelo curta teria solução?

Situado em uma cela de prisão russa em um momento qualquer da Guerra Fria, um prisioneiro britânico é transferido para uma nova cela (“sala 8”) onde encontra um compatriota e uma misteriosa caixa vermelha sobre a cama. Quando a caixa é aberta uma série de acontecimentos surreais e incríveis oferecem a ele a oportunidade de escapar.

A trama nos remete diretamente à atmosfera das narrativas da antiga série “Além da Imaginação”. Dirigido pelo inglês James W. Griffiths e tendo como base o roteiro do vencedor de um Oscar, Geoffrey Fletcher, a trama de sete minutos tem uma parte de thriller, uma parte de ficção científica e uma parte de horror.

sábado, maio 18, 2013

As raízes ocultas do filme "O Mágico de Oz"


Por que o filme “O Mágico de Oz” (The Wizard of Oz, 1939) teve um impacto tão duradouro na cultura e comportamento (da música, passando pela moda até chegar no movimento GLBT) após diversas gerações de crianças e adultos? A imagem de Dorothy com seus amigos em uma estrada de tijolos amarelos tornou-se uma complexa associação de simbolismos. Muito do impacto desse filme estaria nas raízes no Ocultismo no livro escrito por Frank Baum “The Wonderful Wizard of Oz” há mais de cem anos. Baum era um reconhecido membro da Sociedade Teosófica de Madame Blavatski e um profundo conhecedor das escolas herméticas e esotéricas.

Ao longo dos anos o filme “O Mágico de Oz” de 1939 transcendeu sua condição de produto cinematográfico para se firmar como um poderoso arquétipo cultural de pelo menos três gerações de crianças e adultos. Lançado simultaneamente com o filme “E o Vento Levou” (“Gone With Wind”), foram consideradas na época duas grandes produções hollywoodianas: a primeira voltada para crianças e a segunda para adultos. Mas a imagem de Dorothy e seus amigos (o Homem de Lata, o Espantalho e o Leão) caminhando em uma estrada de tijolos amarelos tornou-se muito mais complexa em associações e simbolismos do que o romantismo de “E o Vento Levou”.

Há algo de oculto e misterioso em um livro infantil escrito há mais de 100 anos, que resultou na adaptação cinematográfica definitiva em 1939 e que criou um impacto ao longo das décadas em todos os setores da cultura, moda e comportamento. Linhas de diálogo do filme como “Estou derretendo! Estou derretendo!”, “Nunca mais voltaremos para Kansas” aparecem em variados filmes e gêneros como “O Campo dos Sonhos”, “Avatar”, “Matrix” e “Depois de Horas” de Scorsese onde um personagem gritava outra linha de diálogo (“Renda-se Dorothy”) toda vez que tinha um orgasmo.

Elton John com o disco e o hit “Goodbye Yellow Brick Road” de 1971, os sapatos mágicos de cristal de Dorothy em uma óbvia referência para a moda Disco dos anos 1970 e o fato de Judy Garland ter se tornado um ícone gay em um filme repleto de simbolismos para o movimento GLBT. O enigmático filme de ficção científica “Zardoz” de John Boorman cujo título é uma contração dos termos “Wizard” e “Oz”. Isso sem falar na mãe de todos os boatos e teorias conspiratórias sobre o filme: a suposta sincronia entre o disco do Pink Floyd “The Dark Side of the Moon” de 1973 e o timing da edição do filme “O Mágico de Oz”.

quarta-feira, maio 15, 2013

O gnosticismo pop está à frente dos gnósticos?


Vinicius Aldino, instrutor gnóstico (?), fala em uma emissora de TV no Rio Branco, Acre, sobre gnosis e o workshop “Meditação e Qualidade de Vida”. Para esse blog, acostumado com as representações da gnose e do Gnosticismo nos chamados filmes gnósticos como momentos radicais de iluminação espiritual que levam ao questionamento não só do status quo mas também daquilo que entendemos como “realidade”, surpreendeu a fala de Aldino: a meditação, como ferramenta para alcançar a gnosis e, ao mesmo tempo, melhora da concentração e eficiência profissional e dos afazeres do dia-a-dia, o que contraria toda uma filosofia historicamente herética, perigosamente aproximando-se das técnicas terapêuticas de autoajuda. Será que, paradoxalmente, o gnosticismo pop está à frente da própria prática gnóstica atual? Ou será que estamos enganados e Aldino pretende, na verdade, colocar um “Cavalo de Tróia” no interior do imaginário das técnicas de autoajuda?

Para aqueles que pesquisam o renascimento atual do Gnosticismo na cultura pop, como faz esse blog particularmente com o Cinema, a gnose dos protagonistas das narrativas ficcionais e toda a mobilização de simbologias e temas do esoterismo e hermetismo em filmes são encarados como decisivos momentos de autoconsciência e iluminação espiritual que desafiam sistemas opressores e explodem com aquilo que chamamos de “realidade”. Momentos de virada e transformação não só de personagens na ficção, mas, potencialmente, com os próprios espectadores desses filmes gnósticos. Apesar de serem filmes comerciais dentro dos preceitos dos gêneros hollywoodianos, eles virtualmente podem incutir a desconfiança em relação a instituições, expressar o mal estar da nossa cultura e a crítica.

Paradoxalmente, parece que esse renascimento pop do Gnosticismo apresenta um ímpeto mais transgressivo (e por isso fiel à sua história como tradição filosófica herética) do que o dos próprios gnósticos.

Pois nesta semana recebi um link com uma entrevista dada por Vinicius Aldino para uma emissora de TV em Rio Branco, no estado do Acre - veja o vídeo abaixo. O gancho da entrevista era um workshop que Aldino daria no Sesc local sobre técnicas de relaxamento e meditação. A introdução da entrevista feita pela apresentadora era essa: “saiba como melhorar a qualidade de vida sem gastar dinheiro. Quem explica como é Vinicius Aldino, instrutor gnóstico (?)”.

domingo, maio 12, 2013

IMDB apresenta lista de 41 filmes gnósticos

O IMDB (Internet Movie Database - base de dados online sobre cinema, séries de TV e games de computador) apresenta uma lista intitulada "Filmes Gnósticos". É uma lista de 41 filmes dos mais diversos gêneros canônicos hollywoodianos (drama, thriller, terror, ficção científica etc.). 

    O IMDB os define dessa maneira: "Esses são filmes que têm um ligeiro brilho de Gnosticismo. Gnosticismo é a crença de que o mundo material é uma ilusão que foi criada por um semideus (Jeová, Javé, Yaltaboath, Demiurgo, etc.), e que os corpos humanos foram criados por "archons" (senhores do Universo). Porém, algumas almas que habitam alguns corpos humanos foram inspiradas pelo Altíssimo, e são maiores e mais poderosos do que o semideus que criou o universo e os seus Arcontes. Por esta razão, ele tem um grande ódio pela humanidade e por isso a mantém  numa completa ignorância. O "Logos", (Yeshua) que veio na forma humana enviado pelo Pai Altíssimo, que é um Deus incognoscível do lado de fora deste universo material, e a forma Crística vieram para quebrar os grilhões que aprisionam os seres humanos (a prisão do próprio corpo) e trazê-los para o mundo "verdadeiro" ("Gnostic Movies" - IMDB). 

sexta-feira, maio 10, 2013

Hollywood e o fetiche das armas no filme "God Bless America"

"God Bless America" (2011) do diretor Bobcat Goldthwait parece ser um filme que segue a linha do chamado "cinema esquizo" com personagens paranoicos, psiquicamente instáveis e marcados pela revolta e cinismo contra uma sociedade racista, medíocre e xenófoba - a "América profunda". O filme faz um diagnóstico perfeito sobre uma cultura onde reality shows e programas como "American Superstars" são o objeto do desejo de milhões. Porém, Goldthwait parece cair vítima da fetichização das armas que Hollywood promove na atualidade: se o cigarro e as bebidas alcoólicas são extirpados da tela ou colocados somente nas mãos e bocas de vilões, com as armas é o contrário. Observamos uma fila interminável de armas lubrificadas, reluzentes, coldres e metralhadoras empunhadas ao nível da virilha prontas para entrar em ação com muito sex appeal. 
Compare dois filmes clássicos com Vincent Price (O Abominável Dr. Phibes de 1971 e As Sete Máscaras da Morte – Theater of Blood, 1973) com o “God Bless America”. Nesses filmes com Vincent Price o protagonista vinga-se de pessoas medíocres, indiferentes, arrogantes com requintes cruéis, sádicos e com muito humor negro: vinga-se dos médicos que mataram sua esposa por um erro na mesa de cirurgia e um ator shakespeariano que despeja sua fúria em cima dos críticos de teatro que o atormentam.
Em “God Bless America” vemos também protagonistas que querem vingar-se de uma classe média americana racista, sexista, xenófoba e alheia a valores culturais. As situações de humor negro e as mortes com requintes cruéis são parecidas. Porém, com uma diferença fundamental: Vincente Price não usa arma de fogo uma única vez, preferindo armadilhas e ardis perversamente elaborados; enquanto em “God Bless America” as armas são a grande estrela do extermínio. Mais do que isso: no filme a arma se reveste de um valor fetichista como instrumento de justiça, ordem e sex appeal.

domingo, maio 05, 2013

A Semiótica de Che Guevara


Quando o fotógrafo Alberto Korda selecionou o fotograma de número 40 do rolo Kodak com uma série de fotos de um evento em Havana, Cuba, em 1960 e deu o nome para ele de “Guerrilheiro Heroico”, jamais imaginava o destino do personagem Ernesto Che Guevara na mitologia contemporânea. O ícone atual em alto contraste em carros, baús de motoqueiros ou bandeiras de torcida de futebol é o resultado de sucessivos sistemas linguísticos parasitários que foram se sobrepondo e se sedimentando na cultura de massas, até o simbolismo ideológico se converter em mensagem motivacional e autoajuda.

Pedalava pela rodovia Raposo Tavares voltando de mais uma manhã de aulas na Universidade Anhembi Morumbi/São Paulo quando passou por mim um desses carros estilo off road esportivo importado com o pneu estepe na traseira do veículo. Não pude deixar de perceber na capa protetora que envolvia o pneu estampada a clássica fotografia de Che Guevara como “Guerrilheiro Heroico”, estilizada em alto contraste. A subida era acentuada, mas a fadiga pelas pedaladas mais pesadas não diminuiu a minha perplexidade: o que está fazendo um ícone político-ideológico revolucionário no estepe de um carro destinado para motoristas de alto poder aquisitivo? Será que o motorista era algum “burguês esclarecido”? Alguma coisa estava fora do lugar.

Nessa mesma semana passei, então, a prestar mais atenção às versões e outros lugares inusitados onde apareceria a foto do “Guerrilheiro Heroico”. Vi em um baú de entregas de um motoqueiro, na camisa de um aluno na versão “Chê Madruga” (Seu Madruga da série cult “Chaves” travestido de boina e o mesmo olhar compenetrado) e na TV em bandeiras de uma torcida organizada de futebol do time Internacional de Porto Alegre.

terça-feira, abril 30, 2013

O Grau Zero da Política


Por que o PT é tão assertivo nas questões sociais e reticente quando se trata da Lei dos Meios e monopólios midiáticos? O verdadeiro ato falho do ministro da Educação Aloízio Mercadante ao sair em defesa ao “seu” Frias frente às denúncias da Comissão da Verdade representa aquilo que o pensador francês Jean Baudrillard chamava de “grau zero da política”: as esquerdas nunca quiseram chegar ao Poder e, dizia Baudrillard, se um dia chegassem não haveria perigo porque o poder, de fato, não existe. Ele estava sendo profético.

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      À primeira vista, talvez o tema dessa postagem (política partidária) cause estranheza ao leitor em um blog especializado na discussão sobre cinema e gnosticismo. As últimas discussões sobre a Lei dos Meios e os monopólios de mídia e a reticência do governo atual em debatê-la lembram um conceito de influência gnóstica do pensador francês Jean Baudrillard: a reversibilidade simbólica, o gênio maligno presente em todos os sistemas – todos os sistemas chegam a um ponto de desenvolvimento e complexidade que acabam inviabilizando sua própria finalidade, voltando-se contra si mesmo. É o caso do sistema político que chegaria ao chamado “grau zero”, onde a finalidade social foi substituída pela simulação e sedução. É a “transparência do Mal”.

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Em carta ao jornal Folha de São Paulo o ministro da educação Aloízio Mercadante saiu em defesa da memória de Octávio Frias de Oliveira, falecido dono da “Folha”, após um delegado dos tempos da ditadura militar dizer, na Comissão da Verdade, que ele colaborou ativamente na repressão e tortura aos “terroristas” e “subversivos”. Esse episódio parece que foi a gota d’água para muitos que ainda, pacientemente, esperavam que após 10 anos de governos de esquerda a questão do monopólio midiático no país já tivesse sido, pelo menos, confrontada.

sábado, abril 27, 2013

E o Verbo se fez carne de celebridade no filme "Antiviral"


Em um futuro próximo, a relação com as celebridades será tão obsessiva que todos desejarão entrar em "comunhão biológica" comprando vírus e enfermidades exclusivas dos famosos e comendo carne processada com células de seus ídolos. Assistindo ao filme canadense “Antiviral” (2012) percebemos que o diretor Branon Cronenberg sugere o elemento religioso por trás da nossa civilização das imagens e das celebridades. Mais precisamente, o mistério do “dogma revelado” (a misteriosa união entre o Verbo e a carne representada por Jesus Cristo) estaria motivando todo o culto fetichista pelas imagens na atual indústria do entretenimento, mas dessa vez não mais por meio de uma comunhão simbólica através da hóstia e vinho, mas agora por meios tecnológicos e mortais.

Na Bíblia o Evangelho Segundo João nos oferece dois versículos que são fundamentais para entendermos os mecanismos arquetípicos presentes na atual cultura das celebridades repercutida pela civilização das imagens: “E o Verbo se fez carne”, diz o versículo 14 do capítulo primeiro; “Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém dele comer, viverá eternamente; e o pão que eu darei pela vida do mundo é a minha carne. Disputavam, pois, os judeus entre si, dizendo: Como pode este dar-nos a comer a sua própria carne? Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos”, versículos 51-71 do capítulo 6.

Se o pesquisador em Midiologia, o francês Regis Debray, estiver certo de que há uma linha de continuidade entre a civilização das imagens atual e os Concílio de Nicéia no ano 787 que estabeleceu o mistério da Encarnação de Cristo (o Eterno que se tornou carne, o Infinito que se tornou finito) e a representação do Invisível por meio de imagens, então Hollywood deveria erguer uma estátua em homenagem a São João.

quarta-feira, abril 24, 2013

A ficção midiática contamina o atentado de Boston


Há uma ambiguidade nas imagens que envolveram o atentado de Boston, geradora tanto da espiral de interpretações conspiratórias (“Operação False Flag e autoterrorismo) quanto as rotineiras versões genéricas sobre terrorismo de “facções radicais”. A ambiguidade fundamental dessas imagens (jornalísticas e, ao mesmo tempo, carregadas de clichês retóricos) associada a uma série de sincronismos e coincidências revela, em seu conjunto, um estranho sintoma do verdeiro contínuo midiático atmosférico que domina a nossa cultura: a contaminação da realidade pela ficção midiática.

Para quem lida com análise fílmica e estrutura de roteiro como esse autor, é impossível não perceber um estranho mix entre ficção e realidade no incidente das bombas detonadas junto à linha de chegada na Maratona de Boston: o timing de todos os acontecimentos subsequentes até a captura dos “suspeitos” (estranha expressão porque desde já estão condenados à morte), os fatos encadeados como em um clássico roteiro com a narrativa dividida em três atos (atentado/perseguição/captura) com timing de filme de ação hollywoodiano, a facilidade de captação de imagens de toda a ação pelas mídias, e, por fim, as clássicas e emotivas imagens de velas sendo erguidas em homenagem à vítimas e pessoas histéricas gritando “USA! USA!” enquanto o “suspeito” sobrevivente era levado preso.

Impressiona como a ambiguidade dessas imagens (jornalísticas e, ao mesmo tempo, com forte carga retórica como o detalhe em close de uma sacola com a bandeira dos EUA em uma calçada manchada de sangue) acaba produzindo uma espiral de interpretações tanto conspiratórias (a “operação false flag” ou autoterrorismo) quanto um atentado arquitetado por “facções radicais”.

domingo, abril 21, 2013

Deus está nos números no filme "Número 9"


Três personagens em três episódios. Cada um em uma espécie diferente de prisão: o primeiro em uma prisão domiciliar; o segundo em um reality show; e o último preso ao vício por games de computador. Em sua estreia como diretor no filme “Número 9” (The Nines, 2007), John August  faz uma reflexão metalinguística sobre o trabalho do diretor/roteirista no cinema usando uma poderosa metáfora gnóstica do protagonista como o próprio ser humano prisioneiro na Terra, cujo planeta é visto como uma realidade mal produzida e roteirizada por um “deus ex machina”: toda vez que o protagonista começa a compreender o simbolismo místico da recorrência do número nove na sua vida, o mundo é desmanchado para recomeçar em um próximo episódio, do zero, levando o personagem principal ao esquecimento da sua verdadeira identidade.

Chris Carter, criador da série “Arquivo X”, em um comentário sobre o episódio chamado “Improbable” da nona temporada fez a seguinte detalhamento do argumento da estória: “tudo é sobre a compreensão da natureza de Deus através do uso da numerologia, sincronicidade, probabilidade, reconhecimento de padrões, física teórica ou algo parecido”.

Nesse episódio de Arquivo X a personagem Agente Scully trava um interessante diálogo com a Agente Reys:
“Scully: veja, Agente Reys, você não pode reduzir tudo na vida, toda criação, toda obra de arte, arquitetura, música, literatura... num jogo de vencedores e perdedores.
Reys: Por que não? Talvez os vencedores sejam aqueles que jogaram melhor o jogo. Eles conseguiram ver padrões e conexões, assim como nós estamos tentando fazer nesse momento.”
Pois o filme “Número 9” dirigido e escrito por John August (em seu primeiro filme como diretor depois de fazer o roteiro de diversos filmes de Tim Burton) lida diretamente com esse tema ao propor que a compreensão do simbolismo místico das coincidências e sincronicidades permitiria um ser divino escapar da sua prisão corporal. A compreensão dos significados das sincronicidades como ferramenta para a libertação.

sexta-feira, abril 19, 2013

Em Observação: "Número 9" (2007) e "Antiviral" (2012)

Paranoia pela onipresença do número 9 e um protagonista ao mesmo tempo prisioneiro e criador de mundos como um arquiteto de videogames e diretor de programas de TV. Para o pesquisador em sincromisticismo Christopher Knowles o filme "Número 9" explicitaria variantes do Gnosticismo Cristão. E no filme "Antiviral", em um futuro próximo, a relação com as celebridades será tão obsessiva que todos desejarão entrar em "comunhão biológica" comprando virus e enfermidades exclusivas dos famosos e comendo carne processada com células de seus ídolos. Dirigido por Brandon Cronenberg, filho do conhecido diretor David Cronenberg, parece seguir os passos do pai: uma crítica social ao desenvolvimento tecnológico mesclado com situações bizarras e perversas. Esses são os filmes na mira do blog nessa semana.

segunda-feira, abril 15, 2013

Somos todos aliens no filme "Earthling"


O tema “alienígenas” encontra a sua maturidade no cinema no filme indie “Earthling” (2010). Nesse filme abandonamos os temas da invasão, dominação e submissão para entrarmos em um campo mais metafísico e gnóstico: será que todos nós seríamos aliens aprisionados nesse mundo? Alienígenas aos poucos vão despertando nesse planeta e descobrem que na verdade não são quem pensavam ser. Um acidente de carro e um incidente em uma estação espacial são os acontecimentos que despertarão nos aliens humanos o desejo de retornar à suas origens. Seríamos todos nós estrangeiros nesse planeta e a nossa condição de estranhamento e alienação sintomas dessa verdade? Esse é o tema central de um subgênero que podemos nomear como filmes AstroGnósticos.

O Gnosticismo clássico nos ensinou que os seres humanos são criaturas celestes prisioneiras de um Demiurgo sádico e louco. Somos prisioneiros nesse planeta apenas para acalmar seu ego ferido. Todos nós, incluindo o Demiurgo, seriamos emanações do Pleroma ou da Plenitude e de lá fomos expulsos devido a uma espécie de terrível aborto cósmico: a Criação.

Por sua vez, o Gnosticismo Cristão nos ensina que Cristo era um ser puramente espiritual, um “aeon” que foi enviado a nós diretamente do Pleroma com o objetivo de nos despertar para a realidade de que somos prisioneiros de um Deus cego auxiliado pelos seus Arcontes. Despertarmos através do conhecimento trazido por Ele sobre a nossa verdadeira natureza e identidade.

sábado, abril 13, 2013

O "bug" da Microsoft e o mal


Como interpretar o "bug" fatal da atualização do Windows 7 que fez inúmeros computadores entrarem em looping sem conseguir iniciar o sistema operacional? Como explicar um erro em proporções exponenciais partindo de uma corporação como a Microsoft? Conspiração mercadológica para forçar a atualização para o até aqui fracasso de vendas do Windows 8? Simples erro de sintaxe algorítmica de alguma linha de comando? Talvez o "bug" revele algo que nos escapa, apesar de sentirmos os seus efeitos no dia-a-dia: o desenvolvimento tecnológico estaria se aproximando a um estágio tal de complexidade que criaria uma reversibilidade fatal e maléfica e, ao mesmo tempo, irônica: a "hipertelia".

Fui mais um dos usuários vítimas da verdadeira bomba informática que foi a atualização "2823324" do Windows 7. Sem perceber, o Windows fez uma atualização automática que criou um “fatal system error” como sinistramente diagnosticou o próprio computador para mim. O sistema operacional não mais iniciava entrando em um looping, deixando-me em xeque diante dos prazos de entrega de artigos e modelos de provas para a Universidade onde leciono.

Segundo a própria Microsoft, a atualização combateria a uma vulnerabilidade na segurança do sistema que permitiria a um atacante ter acesso físico ao computador para explorá-lo. Mas, ironicamente, a atualização feita em nome da segurança realizou o sonho de qualquer hacker: produzir um efeito viral ou sistêmico e derrubar redes e computadores.

Para aprofundar ainda mais a ironia, de fato a atualização realmente deixou o computador mais seguro, mantendo-o incomunicável não só com a Internet (a fonte da ameaça) mas com o próprio usuário que não saberia que estaria sendo invadido. Cortou o mal pela raiz!

sexta-feira, abril 12, 2013

A trivialização da catástrofe no filme "Sound Of My Voice"


Filmes cuja premissa parece ser de ficção científica como viagens no tempo ou universos alternativos. Mas esses temas são apenas o pretexto para discutir questões existenciais e relacionamentos. "Sound Of My Voice"(2011), sugerido pelo nosso leitor Fábio Hofnik, segue essa tendência que os críticos definem como "psicodramas alt.sci-fi". Aqui a narrativa sobre uma estranha seita cuja líder teria vindo do futuro põe em discussão a chamada "mentalidade da sobrevivência", forte traço da mentalidade atual: a nossa difusa sensação de abandono e insegurança em relação ao futuro que alimentaria a frenética busca contemporânea por seitas, religiões e técnicas de autoajuda e autoconhecimento alardeadas pela cultura midiática. 

Uma mulher é encontrada vagando pelas ruas de Los Angeles apenas trajando um lençol enrolado pelo corpo, sem memória e apenas trazendo como marca visível do passado uma tatuagem de uma âncora com o número 54 ao lado.
Um jovem casal decide fazer um documentário sobre uma estranha seita, cuja líder é aquela mulher que foi encontrada vagando pelas ruas. Agora ela afirma vir do futuro, mais precisamente do ano 2054 – ela teria chegado a essa conclusão depois de estranhos flahs de memória e o número 54 tatuado.
         Uma menina com traços de autismo brinca sempre solitária em seu quarto, fazendo estranhas figuras com blocos de montar.

terça-feira, abril 09, 2013

O programa "CQC" e a correia de transmissão


Iscas mirins, repórteres dublês de humorista e câmeras escondidas são hoje as principais armas de uma onda de moralismo seletivo que domina as telas de TV, como no caso exemplar que envolveu o deputado José Genoino e o programa “CQC”. Mas há algo de mais profundo nessa onda moralizante do que o atual jogo de cena político-midiático. Por trás da onda de programas televisivos representado pelo “CQC” (programas, por assim dizer, “sensacionalisticamente corretos”) esconderia a própria natureza do funcionamento da indústria cultural que no passado pesquisadores como Adorno e Horkheimer tematizaram: a ritualização de uma espécie de correia de transmissão na sociedade onde “aquele que é duro contra si mesmo adquire o direito de sê-lo com os demais e se vinga da própria dor”. O sensacionalismo seletivo que prefere despejar toda indignação nos “pequenos” que desde o início já estão derrotados e condenados do que nos poderosos seria a ritualização de um prazer voyeurista e sádico do espectador.

O episódio que protagonizou o “repórter” mirim usado como isca para que o programa "CQC" (Custe O Que Custar da TV Band) arrancasse de José Genoino algumas palavras (ele se recusa a conversar com os dublês de repórter/humorista do programa) esconde algo de mais profundo. Condenado pelo julgamento do chamado “mensalão” e exposto extensivamente ao linchamento midiático como um caso exemplar da onda de defesa da moralidade que varre o país, há algo de simbólico na figura de um político acuado em sua sala no Congresso, a portas fechadas deixando entrar uma criança oferecida como isca a alguém isolado e, talvez, carente por simpatia – a criança se dizia filho de militante do PT.

O CQC pareceu querer requentar uma notícia já passada, “chutar cachorro morto”, tentar tripudiar em cima de uma figura já julgada e condenada por chicanas jurídicas e pelo veredito midiático. Em outras palavras, ofereceu para os espectadores alguém supostamente fraco e derrotado para o deleite público da humilhação.

domingo, abril 07, 2013

A necessidade do ritual de sacrifício humano no filme "O Segredo da Cabana"


O que acontece quando o filme clássico “A Morte do Demônio” (Evil Dead) de 1981 se encontra com “Matrix” e "Show de Truman"? Temos o surpreendente filme “O Segredo da Cabana” (The Cabin in the Woods, 2011), um instigante jogo metalinguístico em múltiplos níveis que vai da sátira ao gênero “slasher movies” às origens míticas da necessidade de antigos arquétipos e mitos serem revividos e renovados em diversos formatos, da antiguidade à indústria de entretenimento contemporânea. Por que ritos antiquíssimos de sacrifícios humanos precisam ser repetidos a cada filme? Por que jovens que fazem sexo sempre morrem com requintes sadísticos em cada roteiro hollywoodiano? É o que pretende responder o diretor Drew Goddard em “O Segredo da Cabana”.

Quando Sam Reimi escreveu e dirigiu “A Morte do Demônio” (Evil Dead, 1981) certamente não imaginava que a situação de cinco jovens em uma remota cabana tomada por demônios em uma floresta se tornaria um plot prototípico de todos os chamados “slash” ou “exploited” movies - onde sempre um assassino surge do nada para atacar um grupo com requintes de tortura, sadismo e perversão sexual.

Mais do que isso, talvez não imaginasse que nesse meio tempo o mainstream hollywoodiano embarcaria em uma fase “metafísica” de auto-desconstrução como em “Show de Truman” ou de desconstrução gnóstica da própria realidade como em “Matrix” e “Vanilla Sky”. O resultado foi o surgimento de toda uma geração de roteiristas e diretores (Charlie Kaufman, Christopher Nolan, irmãos Wachowsky, Tarantino etc) com uma visão metalinguística, desconstrucionista ou de distanciamento irônico em relação aos gêneros, fórmulas ou clichês do cinema comercial.

Somente é possível compreender integralmente o filme “O Segredo da Cabana” (The Cabin in the Woods, 2011) colocando-o dentro desse contexto de produções cinematográficas cada vez mais auto-referenciais e que, por isso, permitem muitas vezes a possibilidade de expressar agudas visões críticas no meio do mainstream hollywoodiano, como no caso desse filme.

sexta-feira, abril 05, 2013

A arquitetura subliminar de Victor Gruen no documentário "Gruen Effect"


Ele criou um conceito que mudaria radicalmente a sociabilidade e a percepção humana contemporânea. Inspirado em planejamento socialista e nas memórias dos espaços de convivência europeus com seus cafés e comércio de rua, um imigrante vienense foragido do nazismo cria nos EUA os primeiros Shopping Malls na década de 1940. Ele acreditava que seria a solução para a democracia americana em meio à alienação e solidão criadas pela expansão econômica pós-guerra. O arquiteto Victor Gruen mais tarde renegaria publicamente sua invenção ao vê-la convertida em “máquinas subliminares de venda”. Mas o seu nome acabou sendo associado ao principal efeito psicológico que o design arquitetônico dos centros comerciais criaria na mente dos consumidores: o chamado “Efeito Gruen Transfer”. Esse é o tema do documentário alemão “Gruen Effect: Victor Gruen and the Shopping Mall” (2012).

Ele definitivamente associou o automóvel ao consumo e alterou drasticamente o horizonte urbano das grandes cidades do mundo. Inventou o conceito de Shopping Mall (centros comerciais) cuja arquitetura acabou involuntariamente produzindo um efeito que os pesquisadores em comunicação subliminar chamam de “Gruen Transfer”: no momento em que os consumidores entram em um shopping são envolvidos por um layout arquitetônico intencionalmente confuso, fazendo-os esquecerem das suas intenções iniciais e tornando-os vulneráveis ao bombardeio sensoriais de sons, aromas e luzes – veja RUSHKOFF, Douglas. Coerction, N. York: 2000 e HOWARD, Martin. We Know What You Want. N. YorK: Desinformation, 2005.

O termo “Gruen Transfer” refere-se ao arquiteto austríaco Victor Gruen que, sem perceber, criou conceitos que mudariam radicalmente o desenvolvimento urbano do planeta. Um imigrante europeu que de forma dramática fugiu de uma Viena controlada pelos nazistas em 1938 e que, nos EUA em plena expansão da sociedade de consumo pós-guerra e paradoxalmente inspirado no planejamento socialista e de suas memórias sobre os espaços comunais dos cafés e lojas de ruas europeias, criou os primeiros shopping centers na década de 1940.

segunda-feira, abril 01, 2013

Em Observação: "The Cabin In The Woods" (2011)


Sugerido pelo nosso leitor Marcelo Sousa, o filme “The Cabin In The Woods” é definido pela crítica como um mix de “Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado” com “Matrix”. Ele não se limita a fazer exercício de desconstrução do gênero terror, mas quer oferecer respostas: por que os assassinatos são tão ritualísticos? Por que o Mal pune os desobedientes e os bons sempre sobrevivem? O filme interessou ao Blog, pois promete questionar a própria representação do Mal nesse gênero cinematográfico: o chamado clichê da “quebra-da-ordem-e-retorno-a-ordem”.

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