sábado, maio 21, 2011

A Semiótica da Macumba

Os estudos da Semiótica confirmam,se não eficiência, pelo menos a lógica linguística da chamada “magia simpática” ou simplesmente “macumba”: a busca de contiguidade física de comunicação entre a ordem sobrenatural e feiticeiros ou xamãs e de objetos que criem relações de semelhança entre o despacho e a vítima/beneficiado. Paradoxalmente, é nas manifestações atuais de magia e religião por meio de mídias digitais (Internet e celulares iPhone) que encontraremos mais irracionalidade que nas formas arcaicas: como é possível a magia por meio de algoritmos cuja natureza é simbólica, arbitrária e fragmentada?

Essa postagem se originou em uma questão levantada por um aluno em uma aula de Estudos da Semiótica na Universidade Anhembi Morumbi.  Estava apresentando a tricotomia básica dos signos da Semiótica peirciana (de Charles Sanders Peirce, filósofo, cientista e matemático norte-americano  fundador da ciência dos signos, a Semiótica): índices, ícones e símbolos.  Descrevia o índice como o signo mais primitivo por fazer parte, inclusive, dos fenômenos naturais (a fumaça como índice do fogo ou o trovão como o índice do raio), além  de servir de orientação para os animais (através do olfato). Por ser sua percepção de natureza intuitiva, os índices têm forte presença nas sociedades chamadas de  “primitivas” onde são intensamente percebidos e se tornam sinalizadores cotidianos (mudanças atmosféricas, caça etc.). Um aluno questionou se as formas mágicas (“macumbas”, “despachos” etc.) primitivas também não seriam formas de ação humana carregadas de índices.

Essa questão iniciou uma interessante (e até divertida), por assim dizer, “análise semiótica da macumba”. No final, uma questão: como é possível práticas tão indiciais conviverem na atualidade em mídias simbólicas digitais (macumbas, despachos ou simpatias e até confissões de pecados on line até as formas secularizadas de magia como sessões de psicanálise ou vidências e tarot pela Internet)?

terça-feira, maio 17, 2011

Uma Trilogia do Tempo (3) – Filme “Contra o Tempo”


O filme "Contra O Tempo" (Source Code, 2011) é a primeira produção hollywoodiana do diretor inglês Duncan Jones (diretor da recente produção independente inglesa "Lunar" (Moon, 2009). Com esse filme fechamos essa Trilogia do Tempo, discutindo uma clássica narrativa gnóstica sobre o tempo e as limitações que uma produção hollywoodiana impõem a um "geek de ficção científica" como se autodefine Duncan Jones.

Colter Stevens (jake Gyllenhaal) repentinamente acorda em um trem em movimento, confuso sobre quem ele é como veio parar ali. Uma atraente mulher, Cristina (Michelle Monaghan), inicia uma conversa com ele, chamando-o de Sean.  Ele nega categoricamente conhecê-la, mas quando olha pela janela vê a si mesmo em um pálido reflexo no vidro como um homem estranho. 

Assustado, corre para o banheiro do trem e, para o seu horror, vê no espelho o reflexo de outro homem. Pouco tempo depois, o trem explode e Colter acorda preso em uma escura e fria cápsula em alguma base militar altamente secreta.
Colter está freneticamente confuso até a imagem de Collen Goodwin (Vera Famiga) aparecer em um monitor no interior dessa capsula e iniciar uma série de exercícios de memória para que ele lembre-se da sua identidade e localização. Colter (um capitão do exército cujas últimas lembranças eram a de estar em uma missão no Afeganistão) aos poucos vai descobrindo que ele faz parte de um projeto científico revolucionário chamado “Código Fonte”.

O projeto baseia-se no fenômeno da sobrevivência dos oito minutos finais da memória após a morte cerebral. O Dr. Rutledge (Jeffrey Wright), mentor do experimento, captura os oito minutos finais da memória de Sean Fentress e, através do programa computacional “Código Fonte” consegue com que Colter seja inserido nesses minutos finais repetidas vezes, através da identidade de Sean Fentress.

sábado, maio 14, 2011

Uma Trilogia do Tempo (2) - Filme "Déjà Vu"

Dando continuidade à nossa Trilogia do Tempo agora nos deparamos com o filme “Déjà Vu”, 2006. Nitidamente um reflexo do esforço de propaganda da política antiterror da era Bush Jr., o filme lida com dois elementos opostos: de um lado a concepção complexa do tempo como um hipertexto e, do outro, o heroísmo amoral do protagonista que enfrenta um vilão tão amoral quanto ele.

Desde os ataques de 11 de setembro o tema terrorismo é recorrente no cinema norte-americano.  Quem assistiu ao filme “Obrigado por Fumar”, (Thank You For Smoking, 2005, sobre as conexões entre o lobby da indústria tabagista e a mídia) sabe muito bem como a indústria cinematográfica norte-americana é um instrumento para pautar a opinião pública. Dessa maneira, a chamada “guerra ao terror” empreendida pelos dois mandatos do governo Bush Jr. teve Hollywood como importante veículo para essa verdadeira engenharia da opinião pública.

“Déjà Vu” (Déjà Vu, 2006) é mais um filme sobre ameaças terroristas só que, dessa vez, com um toque de ficção científica e um leve tom de misticismo (dado pelo tema do “déjà vu”). Mas, como todos os filmes sobre combate ao terror, é principalmente ação e a “amoralidade heroica” do protagonista (como vimos em postagem anterior, o principal traço do herói moderno – veja links abaixo).

Como ficção científica, “Déjà Vu” conta a estória de um projeto secreto do FBI em torno de uma tecnologia que permite acompanhar através de imagens e audio com detalhes o que aconteceu até quatro dias antes de um evento. O agente Doug Carlin (Denzel Washington) é chamado para descobrir o responsável por um atentado à bomba em um ferry-boat em New Orleans que mata 500 pessoas. A perspicácia de Carlin na investigação impressiona seus colegas do FBI que o convidam a participar do projeto secreto que poderá auxiliar na busca do terrorista responsável.

sexta-feira, maio 13, 2011

Uma Trilogia do Tempo (1) - Filme "Feitiço do Tempo"

Ao refletir sobre o tema da imortalidade, o roteirista Danny Rubin teve a idéia para o roteiro do filme cult "Feitiço do Tempo". A primeira vista o filme parece apenas mais uma comédia romântica, mas o inteligente roteiro vai colocar o protagonista numa espécie de imortalidade ao se ver prisioneiro de um bizarro fenômeno temporal. Com esse argumento Rubin bebe nas obscuras fontes das mitologias gnósticas sobre o Tempo e a Reencarnação.
O novo filme do diretor Duncan Jones, “Contra o Tempo” (Source Code, 2010), deu-nos a ideia dessa trilogia sobre o tema “tempo” no cinema. Com estreia prevista no Brasil para 17 de junho, as críticas descrevem esse filme como o resultado de um cruzamento entre o cult “Feitiço do Tempo” (Groundhog Day, 1993) e o mais recente “Deja Vu” (Deja Vu, 2006). No ano passado postamos  uma analise do filme anterior de Duncan Jones “Lunar” (Moon, 2009) onde observamos que essa produção europeia possuía uma clássica narrativa gnóstica (veja links abaixo).
Como veremos na terceira postagem dessa trilogia, o filme “Contra o Tempo” dá continuidade aos elementos narrativos e simbólicos gnósticos do filme anterior só que, dessa vez, com um orçamento maior inerente a uma produção norte-americana. O que significa dizer que Duncan vai se aproximar do gnosticismo pop de Hollywood.
O fato de a crítica apontar os filmes “Feitiço do Tempo” e “Deja Vu” (filmes com diversos elementos gnósticos) como inspirações para o roteirista de “Contra o Tempo”, Ben Ripley, demonstra o claro sabor de gnosticismo pop desse filme.
Portanto, nessa primeira postagem da trilogia vamos analisar o filme “Feitiço do Tempo”. Na próxima postagem vamos abordar “Deja Vu” para, ao final, fechando essa trilogia, analisarmos o filme “Contra o Tempo” de Duncan Jones.

sexta-feira, maio 06, 2011

Os Pontos-chave do Gnosticismo para iniciantes

Um universo criado por poderes inferiores que confina os seres humanos através do sono e da ignorância. Tais poderes têm um propósito principal: aprisionar as partículas de luz presentes nos seres humanos para, dessa maneira, perpetuar o esquecimento da nossa verdadeira origem e morada. Conheça alguns pontos-chave da filosofia gnóstica.
Transcrevemos abaixo texto postado no blog Aeon Byte Gnostic Radio Show (veja o link para esse blog na nossa lista de blogs recomendados) que, de forma feliz e suscinta, resume os pontos-chave do Gnosticismo. Um ótimo texto introdutório para aqueles que desejam dar os primeiros passos para as discussões contidas nesse blog "Cinema Secreto: Cinegnose"

quarta-feira, maio 04, 2011

Mitologia Ufológica e Gnosticismo na ficção científica francesa “La Belle Verte”


Se no passado buscávamos deuses, anjos e santos , hoje a sociedade tecnológica nos tornou mais céticos: esperamos agora por extraterrestres de uma civilização mais avançada que nos ensine  o verdadeiro sentido da vida e da espiritualidade. A ficção científica “A Turista Espacial” (La Belle Verte, 1996) explora não apenas esse arquétipo ufológico contemporâneo, mas também simbologias que dão um sabor gnóstico à narrativa. Indicado pelo nosso seguidor Rodrigo Dias, o Blog “Cinema Secreto” conferiu o filme.

Um distante planeta vive o ano 6000 da sua época. Seus habitantes são seres muito avançados que vivem aproximadamente 250 anos. Convivem em harmonia com a natureza e são dotados de poderes telepáticos, além de viverem em uma sociedade cujas noções de hierarquia, chefia e poder a muito desapareceu. De tempos em tempos eles fazem excursões a outros planetas, seja para estudá-los ou para auxiliá-los no processo evolutivo. Mas ninguém quer ser voluntário para ir até a Terra. Há 200 anos ninguém do planeta a visita. Na verdade, ninguém suporta os terráqueos com sua mania em não evoluir.

Até que uma mulher, Mila, decide ir a Terra. Por razões pessoais: ela descobriu que é uma mestiça, filha de uma mãe terráquea quando seu pai esteve na Terra há muito tempo atrás. De uma forma bem humorada, a narrativa descreve o impacto cultural de Mila ao chegar à Terra, em plena cidade de Paris caótica, congestionada e poluída.

Essa é a ficção científica francesa “La Belle Verte” (1996). O filme aborda temas como espiritualidade, anticonformismo, ecologia, feminismo, homossexualismo, sustentabilidade e outros com um humor que às vezes chega a beirar o non-sense (lembrando o humor negro do grupo inglês Monty Phyton).  Filme indicado pelo leitor desse humilde blog, Rodrigo Dias pergunta: é um filme gnóstico?

segunda-feira, maio 02, 2011

Cultura Pop Ocidental e Gnosticismo nos Animes e Mangás Japoneses

Os animes e mangás japoneses tornam-se cada vez mais populares ao reciclar a cultura pop ocidental com lendas medievais e temas clássicos do Gnosticismo. Um terreno fértil onde cenários futuristas violentos se encontram com Demiurgos, divindades femininas promíscuas e ao mesmo tempo salvadoras e protagonistas em estado de exílio e abandono. Parecem traduzir melhor a natureza humana do que produções ocidentais “místicas” como “Avatar” ou livros de Dan Brown.

Em postagem passada (veja links abaixo) apresentamos a primeira parte de um texto de Miguel Conner sobre o anime “Neon Genesis Evangelion” e a ascensão do Gnosticismo nas animações japonesas. Conner afirmava que assim como o ocidente vem há tempos absorvendo as religiões orientais, o fértil terreno dos animes e mangás japoneses vem demonstrando um interesse por reciclar a cultura pop ocidental com lendas medievais e muitos temas das religiões gnósticas.

Em meio aos mundos distópicos e com batalhas futuristas ultra-violentas, despontam os temas clássicos das narrativas gnósticas: o Demiurgo (divindade enlouquecida e manipuladora), Sophia (ao mesmo tempo divina salvadora e promíscua em corpos cibernéticos, lutando secretamente a favor da humanidade), fagulhas divinas e divindades decaídas no mundo físico, perda da memória e da identidade, universos paralelos, mundos virtuais, protagonistas com sentimentos de exílio e abandono e a iluminação buscada em discos de armazenamento de bancos de dados.  

A seguir a tradução da segunda parte do texto de Miguel Conner. Ele é um escritor de ficção científica norte-americano e apresentador do programa "Aeon Byte Gnostic Radio" uma Internet Radio com entrevistas e debates semanais sobre temas do Gnosticismo, literatura e cultura pop.

sexta-feira, abril 22, 2011

O "Efeito Zumbi": fármaco-conservadorismo na chamada "Geração Y"?

Banalização do consumo de antidepressivos e inibidores de apetite estaria criando uma nova forma de conservadorismo: o fármaco-consevadorismo? O chamado "efeito zumbi" (efeito colateral desses medicamentos caracterizado pelo mix de euforia, apatia, perda da capacidade crítica e sensação de irrealidade) estaria criando indivíduos meramente replicadores de clichês conservadores nas redes sociais?  


Com a experiência de usuária assídua de redes sociais na Internet, minha esposa Tatiane fez recentemente uma interessante constatação e levantou uma hipótese. Primeiro a constatação: a crescente banalização do consumo de medicamentos antidepressivos e inibidores de apetites entre jovens na faixa dos 20 anos. Nas redes sociais trocam-se informações e experiências sobre estes medicamentos como se trocassem receitas culinárias ou links de vídeos do Youtube.
Ao mesmo tempo, Tatiane tem observado nessa faixa etária um mix de conformismo e apatia em relação aos problemas políticos ou do dia-a-dia (trânsito, enchentes, violência etc) combinado com conservadorismo político e moral.
Agora a hipótese: seria esse mix de apatia e conservadorismo uma decorrência de um chamado “efeito zumbi” desses medicamentos? Explicando melhor, sabendo que os efeitos comportamentais desses medicamentos vão desde a euforia até sonolência e sedação, isso não afetaria as avaliações cotidianas do indivíduo resultando em perda da capacidade crítica, incapacidade de se indignar e apatia gerando um novo tipo de “conservadorismo” baseado na mera replicação de clichês políticos conservadores e até de direita ? Estaríamos diante de um novo fenômeno de, por assim dizer, “fármaco-conservadorismo”?
Pesquisadores como o psicanalista francês Christophe Dejour e o historiador norte-americano Richard Sennett constataram que os problemas psíquicos como depressão, esquizofrenia, ansiedade são sintomas não apenas decorrentes da “vida moderna nas grandes cidades”, mas de um específico tipo de moderna organização do trabalho de empresas dos setores financeiros e de serviços.
Indo mais além na hipótese descrita acima, sabendo-se que o Estado de São Paulo (o estado onde é mais presente a tendência da des-industralização pela expansão dos setores financeiros e de serviços) é, atualmente, um dos estados de maior conservadorismo político (a perpetuação dos governos tucanos por 20 anos seria um exemplo), poderíamos estabelecer uma relação de causalidade entre o fármaco-conservadorismo e o conservadorismo político?
Hipótese meramente paranoica e conspiratória? Ou estaríamos diante de um novo conservadorismo das classes médias, desta vez não mais explicada por instâncias ideológicas, morais ou religiosas, mas, agora, resultante de uma fármaco intervenção que resulta em controle (intencional ou efeito colateral) comportamental e psíquico?
Vamos reunir algumas informações que talvez ajudem a corroborar com essa hipótese.

domingo, abril 17, 2011

Do Herói Épico e Trágico ao Herói Amoral da Indústria do Entretenimento

Arquétipo milenar, o mito do Herói apresenta um movimento pendular entre a sua face épica e trágica. Na atualidade a indústria do entretenimento cria uma nova face para o mito: o herói amoral. As origens dessa nova atualização do mito podem ser encontradas na propaganda nazifascista na II Guerra Mundial e na contrapropaganda norte-americana com a criação dos super-heróis Capitão América e Super-Homem. 

O tema desse post foi motivado por duas coisas: primeiro, a lembrança do filme “Team America: Detonando o Mundo” (Team America: World Police, 2004), uma comédia politicamente incorreta onde os personagens são marionetes em cenas explicitamente violentas com mísseis, artes marciais e tiroteios associados à luta de heróis americanos contra o terrorismo internacional. O Team America (a polícia mundial do título cuja missão é proteger o mundo dos terroristas) é comicamente catastrófica em seus rompantes de heroísmo.

É impagável a sequência inicial. Terroristas muçulmanos aparecem em uma praça em Paris onde estão muitas crianças, mulheres e idosos. Um deles carrega uma mala-bomba. Derrepente, aparece o Team America numa blitz com mísseis e bazucas. Ironicamente, quem destrói Paris (a torre Eiffel cai sobre o Arco do Triunfo e o Museu do Louvre vai pelos ares) é o Team America na luta desajeitada contra os terroristas. No final, falam para os franceses aturdidos: “Não se preocupem, tudo acabou”. Literalmente, acabaram com os terroristas junto com Paris! Hilário!

A segunda coisa foi uma questão originada em  uma aula de Comunicação Visual na Universidade Anhembi Morumbi (São Paulo). Discutia com os alunos a propaganda nazista pelo ponto de vista da criação das modernas técnicas no campo da publicidade e linguagem visual.  A certa altura apresentei a contra-propaganda norte-americana: a criação de super-heróis como Capitão América e Super-Homem. Se os heróis nazistas possuíam um “destino manifesto” (representantes de uma raça superiora cuja supremacia já havia sido programada desde o início dos tempos), os super-heróis americanos eram dotados de super poderes conferidos  pela ciência ou por poderes alienígenas.

Um aluno me perguntou qual seria a característica moderna do herói nazi, visto que o herói é um arquétipo milenar. Isto é, diferente de toda a narrativa tradicional do herói desde a antiguidade, qual seria a novidade do herói moderno do século XX, seja nazista ou norte-americano?

O início da resposta pode ser encontrado no humor incorreto do filme Team America. A “world Police” representa os EUA como os únicos heróis do mundo interessados em destruir o terror. A truculência catastrófica  dos heróis do filme se origina em uma visível indiferença com os civis, com a História e com os próprios tesouros da civilização ao redor: sem o menor cuidado, nas suas ações contra o terrorismo destroem o patrimônio cultural da humanidade (pirâmides, torre Eiffel, o Big Ben etc.) e civis inocentes que estejam na hora errada e no lugar errado. Efeitos colaterais. Como diz a música do filme “Free is not Free” (Liberdade não é de graça).

terça-feira, abril 12, 2011

Retrofascismo: O Fascismo Viral

Hegel observa em uma de suas obras que todos os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. E esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”. (Karl Marx, “O 18 Brumário de Luis Bonaparte”)

O psicólogo alemão Thomas Weber alertou que é grande a possibilidade de que alguém repita o massacre da escola do Rio após a notoriedade midiática do ato inaugural do gênero no Brasil. Afinal, cada imagem das câmeras internas da escola do Realengo que vaza na grande mídia e Internet retroalimenta o sucesso do cálculo viral do seu autor e desse novo fascismo agora vivido como farsa: o Retrofascismo.

No dia 07/04 um jovem entra fortemente armado em uma escola municipal no Realengo (Rio de Janeiro) e produz um massacre com 12 vítimas adolescentes; no dia 09/04 um atirador invadiu um centro comercial na cidade de Alphen aan den Rijn matando sete pessoas e ferindo 11; no mesmo dia, na avenida Paulista em São Paulo, grupos autodenominados como “ultradefesa”, “união nacionista” e “carecas” fazem manifestação  em favor das declarações racistas e preconceituosas do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ). Muitos foram presos pela polícia com pedaços de madeira, metal e “estrelas ninjas”.

Enquanto isso o especialista em traumas psicológicos Thomas Weber (coordenador do atendimento aos sobreviventes do crime ocorrido há dois anos em colégio alemão) em entrevista à Deutsch Welle-World falou que a tragédia na escola carioca “lembrava muito o massacre na cidade de Winneden, Alemanha, e que “ infelizmente, é grande a probabilidade que alguém, agora, tente repetir esse crime no Brasil.”

A princípio, esses fatos são diferentes em termos da natureza, motivação e geografia. Mas há um elemento perturbador em todos eles quanto ao destino final dos gestos de atiradores seriais e manifestações neonazistas: além de mortes e violência, a visibilidade em progressão geométrica por meio de vídeos na Internet e mídias de massas. Uma vocação profunda parece ser o denominador comum desses episódios: aspiram à propagação viral.

sexta-feira, abril 08, 2011

Mídia tenta racionalizar a presença do Mal no Massacre em Realengo

Diante do massacre de adolescentes cometido por um jovem armado com dois revólveres em uma escola do bairro do Realengo no Rio de Janeiro (um fato tão cruel, arbitrário e aparentemente sem sentido), a mídia tenta buscar uma causa lógica. Como sempre, o que a mídia chama de informação é, na verdade, a tentativa de encaixar fatos tão irredutíveis a “plots” ou “roteiros” pré-estabelecidos.  Tenta expurgar a presença do Mal na realidade. Porém, uma criminologista e um antropólogo foram vozes alternativas dentro dessa estratégia midiática de dissuasão.

Um psiquiatra forense vai à TV e declara que o atirador sofria de “cisão mental”; o  jornal Folha de São Paulo on line informou que “irmã do atirador diz que ele era ligado ao Islamismo e não saia muito de casa” (07/04/2011 às 10h53); o site do Jornal Extra das Organizações Globo às 11h37 do mesmo dia noticiou que o atirador “se interessava por assuntos ligados ao terrorismo”; em vários telejornais do dia pessoas próximas ao atirador declararam que ele era “fechado” e “só vivia na Internet”.

Por todos os lados vemos o tradicional esforço midiático para, diante da irrupção de fatos irracionais, aleatórios ou arbitrários, racionalizar ou dar algum sentido para o fato, muitas vez de forma atabalhoada (vide o caso da “barriga” jornalística do cão caramelo na tragédia nas serras fluminenses). Psicólogos e especialistas são mobilizados em cima da hora para tentar dar uma explicação lógica diante das câmeras. Quase sempre esses especialistas mal conseguem esconder a perplexidade (com os olhos “vidrados” para as câmeras) e a cara de surpresa enquanto se esforçam em teorizar falando o óbvio.

Motivos místico-religiosos? Internet? Esquizofrenia? Um nerd que fazia pesquisas sobre bombas, armas e islamismo na Internet?

Porém, duas vozes escaparam desse rolo compressor racionalizante que pretende neutralizar a presença do Mal: a criminóloga Ivana Casoy e o antropólogo Roberto Albergaria (Doutor em Antropologia pela Universidade Paris VII).

Em uma entrevista na bancada do Jornal Hoje Ivana tentou associar essa tragédia a um fenômeno de “globalização”.  Não conseguiu desenvolver mais o raciocínio porque os entrevistadores estavam ávidos por uma descrição do “perfil de uma mente criminosa”.


domingo, abril 03, 2011

Para Cada documentário como “Trabalho Interno”, Hollywood responde com vários “Sem Limites”

O filme “Sem Limites” (Limitless, 2011) a princípio representa uma reação ideológica à tendência de documentários críticos à financeirização global trazida pelo modelo neoliberal ao narrar a estória de um protagonista “neuro-yuppie” (legítimo representante da chamada “Geração Y) que vê seu cérebro turbinado por “smart pills” e enriquece no mercado financeiro. Um novo modelo de self made man, não mais legitimado por modelos éticos ou morais protestantes, mas, agora, fundamentado no paradigma neurocientífico.

Eddie Morra (Bradley Cooper) quer ser um escritor, mas nunca consegue começar seu livro. Vive maltrapilho em um pequeno apartamento sujo e empilhado de lixo. Enquanto isso, sua ex-esposa (Lindy, Abbie Cornish) é bem sucedida e recentemente promovida ao cargo de editora. Seu cotidiano se arrasta entre bares, ruas e a tela de seu laptop para a qual olha sem conseguir iniciar a primeira linha de seu livro. Um “looser”.   Até que um dia encontra nas ruas Vernon (Johnny Whitworth), seu ex-cunhado, que lhe apresenta uma nova droga chamada NZT, capaz de fazer seu usuário ter acesso a 100% das informações do cérebro, indo além dos 20% da média das pessoas.

Após experimentar a droga e ter uma experiência extra-corpórea, tudo na sua mente fica claro e limpo. A matiz da fotografia do filme adquire um tom avermelhado, o ritmo de Eddie fica frenético e é capaz de escreve um livro em quatro dias e aprender línguas em poucas horas. Acessando qualquer fragmento de informação no seu cérebro, é capaz de aprender qualquer coisa e adquirir habilidades que antes ignorava que pudesse ter. Por exemplo, é capaz de em poucos segundos aprender golpes de luta marcial apenas em relembrar imagens fragmentadas dos filmes de Bruce Lee dos anos 70.

Torna-se um mega-cérebro anabolizado, um super-homem da era da informação. Se no livro no qual se baseia o filme (“Dark Fields” de Allan Glyn) temos uma irônica reflexão de uma mudança cultural americana em um país onde figuras como Bill Gates e Steve Jobs são celebradas como novos heróis, o mesmo não acontece na adaptação de “Sem Limites”: o tom torna-se apologético, um elogio às “smart pills” e a toda cultura terapêutica onde o aprimoramento pessoal se baseia na fármaco dependência (prozacs, valiums etc.).

terça-feira, março 29, 2011

Filme "O Primeiro Mentiroso": Uma Fábula Sobre a Mentira e Religião


Embora seja enquadrado dentro do gênero “comédia romântica”, "O Primeiro Mentiroso" (The Invention of Lying, 2009) é o resultado de um poderoso roteiro carregado de humor negro sobre os temas da mentira, amoralidade e religião. Diferente dos parâmetros hollywoodianos, a mentira não é tratada pelo viés moral.  O filme é uma corrosiva fábula sobre um mundo incapaz de mentir não por livre-arbítrio, mas por amoralidade.

quinta-feira, março 24, 2011

Documentário "Trabalho Interno" faz Crítica Moralista Sobre os Fatores que Desencadearam a Crise Financeira Global de 2008

Ao limitar a crítica sobre os motivos da crise global de 2008 à denúncia sobre homens poderosos motivados pela ganância, cobiça e luxúria, deixa de colocar em questão as próprias bases do funcionamento do sistema financeiro. A financeirização, a liquidez do capital e a volatilidade do valor no capitalismo global não são colocadas em discussão. Tudo é apresentado como uma questão de regulamentação para evitar que raposas astutas tomem conta do galinheiro do mercado.  

“Trabalho Interno” de Charles Ferguson segue uma tendência pós-atentados de 11 de setembro de filmes críticos em relação aos fatos políticos e econômicos ocorridos nos EUA desde então. "Syriana" (2005), "O Senhor das Armas" (2005) e "Fahrenheit 11 de Setembro" (2004) de Michel Moore são alguns exemplos. Ao ganhar o Oscar de melhor documentário, Hollywood premia essa tendência que, ao longo dos anos finais do governo Bush, serviu para a preparação de terreno para os novos tempos de governo democrata que estava por vir, agora iniciado com a eleição de Barack Obama.

Mas, como o próprio documentário denuncia, até agora o governo Obama nada fez para reverter a política de desregulamentação dos mercados financeiros, política esta que foi a origem da grande crise global de 2008.

“Trabalho Interno” analisa de forma pormenorizada (e em alguns momentos de forma árida) a gênese do desenvolvimento da crise financeira em escala global e que custou ao mundo um prejuízo de 20 trilhões de dólares. O documentário não se limita a fazer críticas conjunturais: dá os nomes de diretores, executivos e empresas (de seguros, bancos de investimentos etc.). Descreve a ficha completa de cada nome e a engenharia financeira irresponsável que torrou dinheiro público e fez poucos ficarem milionários com a explosão da “bolha” financeira.

Mas uma questão incomoda: como explicar que filmes tão ácidos e críticos em relação às mazelas do modelo neo-liberal sejam indicados ao Oscar e até premiados pelo mainstream hollywoodiano? Se historicamente a indústria hollywoodiana sempre esteve sintonizada com a agenda política da Casa Branca, como interpretar esses prêmios a documentaristas como Michael Moore e Charles Ferguson? Uma ruptura dos produtores e executivos dos estúdios de Hollywood (a maioria deles nas mãos de grupos transnacionais como a Sony e a News Corporation) com o Estado norte-americano?


sábado, março 19, 2011

"O Mistério da Rua 7": Quando a Religião Se Encontra Com O Pensamento Ecologicamente Correto

O filme "Mistério da Rua 7" (Vanishing on 7th Street, 2010) representa uma nova tendência hollywoodiana: a construção de um novo fundamentalismo moral baseado no pensamento ecologicamente correto. No caso desse filme, uma bizarra mistura de antiga lenda da época da  colonização norte-americana, demônios indígenas e o pensamento místico ecológico da Teoria Gaia.

Todo filme com temática apocalíptica guarda uma lição de moral: por que a humanidade chegou a esse ponto? Como exemplares da espécie humana, qual a culpa dos indivíduos sobreviventes para a catástrofe que ocorreu? E, principalmente, qual lição pode se tirar de tudo que ocorreu para que não cometamos os mesmo erros no futuro?

O filme “O Mistério da Rua 7” partilha dessa mesma premissa moral com uma novidade: a mescla do subgênero ficção científica pós-apocalipse com o terror. O resultado é um surpreendente encontro entre a religião e o pensamento ecologicamente correto que encobre a velha estrutura clichê moralista da narrativa hollywoodiana: quebra-da-ordem-e-retorno-a-ordem, isto é, a punição dos personagens que ousam quebrar a ordem moral, política, social e, no caso desse filme, o pensamento ecologicamente correto.

quarta-feira, março 16, 2011

Da NASA à Hollywood: o Cinema Reflete a Agenda Tecnognóstica


Em palestra proferida na World Future Society no mês passado em Boston, o cientista chefe da NASA Dennis Bushnell apresentou a nova roupagem para a Tecnognose: a preocupação ecologicamente correta pelo aquecimento global e mudanças climáticas. Despachar o homem para mundos virtuais para deixar o planeta em paz, através da IA, nano e biotecnologia, é a sua proposta. Hollywood parece refletir essa agenda tecnológica ao narrar estórias de tecnologias que escaneiam e mapeiam os sonhos, memória e o psiquismo humano.

Um mundo ameaçado pelo aquecimento global e guerras. Causa: política, religião, megalomania, crescimento populacional, relações face-a-face e disputas territoriais. Solução: Inteligência Artificial (IA), Nanoteconolgia e Biotecnologia, substituindo progressivamente a ação humana pela automação e robótica.

sábado, março 12, 2011

Filme "Cisne Negro": o Drama do Artista Privado de Sua Arte

O filme “Cisne Negro” é brilhante ao criar uma fábula sobre drama mítico gnóstico : a interioridade humana (Luz, espontaneidade etc.) sendo explorada por um cosmos essencialmente corrompido que não permite a transcendência.  As necessidades mercadológicas de uma companhia de balé que transforma o autossacrifício público do artista no palco como um espetáculo. A plateia extasiada acredita estar diante da arte. Não percebe que, na verdade, está diante de uma exposição sensacionalista de aberrações em um parque de variedades.

Como encontrar perfeição artística e transcendência se os meios para alcança-las são corruptos e falhos por natureza? Esse parece ser o pressuposto do diretor Darren Aronofsky para a estória do balé soturno de Natalie Portman em “O Cisne Negro” (Black Swan, 2010). Muito mais do que um mergulho através do lado escuro da mente da protagonista Nina, Aronofsky narra de forma dura, seca e, em muitos momentos, violenta a forma como a indústria do entretenimento explora a espontaneidade humana (emoções, sentimentos, paixões) para colocar em movimento as estruturas rígidas e sem vida do mundo do showbiz.

A dinâmica dessa indústria exige sempre algo novo e excitante para ser apresentado, e essa novidade, cada vez mais, manifesta-se como um verdadeiro desnudamento ou sacrifício emocional do ator diante de uma plateia sedenta por novas emoções.

Darren Aronofsky parece familiarizado com temas gnósticos, como no filme “A Fonte da Vida” (The Foutain, 2006 – filme analisado nesse Blog) com muita simbologia alquímica. Aqui em “O Cisne Negro” ele aborda outro tema mítico gnóstico: o aprisionamento do ser humano em um universo essencialmente corrupto e inautêntico.  Prisioneiro nesse cosmos, o seu artífice (o Demiurgo) objetiva extrair da humanidade a Luz na vã esperança de tornar a sua criação uma obra autêntica.

quarta-feira, março 09, 2011

Retrofascismo e a Bomba Tecnológica

"Quem é duro consigo mesmo, também é com os demais" (Theodor Adorno)

Uma novidade ronda o início de século XXI: o Retrofascismo.Se o fascismo clássico foi uma reação à depresssão econômica e a humilhação do nacionalismo, o Retrofascismo atual é uma formação reativa contra a "bomba tecnológica": o último espasmo do corpo diante do destino da virtualização da carne. 

O que há em comum entre os fatos abaixo?


  • Vinte ciclistas atropelados intencionalmente numa mobilização do grupo Massa Crítica em Porto Alegre;
  • As recorrentes notícias de homossexuais agredidos na região da Avenida Paulista, São Paulo, por grupos de jovens;
  • Relatos crescentes de prática de bullying digital nas escolas  (criação de perfis falsos nas redes sociais que agridem ou difamam pessoas ou instituições);
  • Após os atropelamentos em Porto Alegre, o blog do movimento Massa Crítica vem recebendo ameaças anônimas onde se elogia a ação do motorista que intencionalmente atropelou os ciclistas, lamentam não ter morrido ninguém e incentivam novos ataques;
  • Principalmente após as últimas eleições presidenciais, redes sociais foram invadidas por mensagens incitando o ódio aos nordestinos e invocando um suposto “orgulho paulista”.

Esses episódios parecem ser exemplos de um fenômeno novo que ronda o início de século: o Retrofascismo. O fascismo, que supostamente jamais voltaria a acontecer novamente, retorna como farsa, como uma forma latente de personalidade autoritária, como uma formação reativa à bomba tecnológica em plena era democrática. Uma formação reativa ainda à espera de uma tradução política para se tornar um Estado Fascista.

segunda-feira, março 07, 2011

Documentário “O Século do Ego”: cartografias da mente de um sujeito fractal

Documentário da BBC "The Century of the Self" (2002) descreve a irônica jornada de como a revolução de psicoterapeutas e filósofos nos anos 60 e 70 contra as idéias de Freud sobre o inconsciente (acusadas de terem se tornado instrumentos do mundo do Markenting, Publicidade e Propaganda Política para fins de manipulação) resultou no oposto: o surgimento do sujeito fractal, vulnerável, isolado e, acima de tudo, ganancioso.

Em postagens anterioras (veja links abaixo) viemos desenvolvendo o conceito de cartografia e topografia da mente como uma tendência dentro da agenda tecnognóstica que, a partir da confluência das neurociências, ciências cognitivas, cibernética e Inteligência Artificial, procura fazer um mapeamento do funcionamento do cérebro para desvendar o enigma da mente e da consciência. Em termos práticos, criar modelos simulados do cérebro para sua virtualização, monitoramento e controle para fins mercadológicos e políticos.

Partindo da constatação que o cinema hollywoodiano reflete a agenda tecnocientífica das últimas décadas, em nossos estudos sobre os filmes gnósticos na produção cinematográfica norte-americana recente percebemos uma tendência introspectiva dos protagonistas: narrativas em que se descreve como o protagonista torna-se prisioneiro do seu próprio mundo mental (memórias, traumas, sonhos, projeções, etc.) e como ele realiza um mapeamento desse território onírico para encontrar o caminho de saída de conspirações e tramas.

De filmes como “Vanilla Sky” (talvez o primeiro nessa linha) até o recente “Alice no País das Maravilhas” de Tim Burton, vemos estórias com geografias alegóricas de mundos mentais, cartografias da mente coletiva (como a série “O Prisioneiro”, 2009) e elaboradas topografias da mente por meio de sonhos dentro de sonhos ("A Origem", 2010).

Tendo essa discussão como contexto, o documentário da BBC  “O Século do Ego” (The Century of the Self, 2002) trás preciosas informações históricas sobre as origens desse verdadeira tendência de endocolonização dos indivíduos pela Ciência, Publicidade e Marketing. A série é dividida em quatro episódios: episódio 1: “Máquinas da Felicidade”; episódio 2: “Engenharia do Consenso”; episódio 3: “Há um Policial Dentro da Sua Cabeça e Devemos Destruí-lo”; episódio 4: “Oito Pessoas Bebericando Vinho em Kettering”.

A série (240 minutos no total) inicia descrevendo como as ideias de Freud foram traduzidas nos EUA através de sua filha, Anna Freud, e pelo seu sobrinho, Edward Bernays (o inventor da profissão de Relações Públicas) como técnicas para controle das massas na era da democracia: a teoria do inconsciente trazida para o cerne do mundo da propaganda e do marketing. É a era da produção em massa e do conformismo em uma sociedade de consumo cujo leque de opções para o mercado era limitado.

sexta-feira, março 04, 2011

Os Ciclistas Atropelados de Porto Alegre e a Bomba Tecnológica

Precisamos encarar o atropelamento dos ciclistas do grupo Massa Crítica em Porto Alegre como um sintoma dessa verdadeira bomba tecnológica que, ao criar uma relação inorgânica e virtual com o espaço, o ambiente e o Outro, propicia a indiferença, amoralidade e violência.

Indignação é a mínima reação civilizada que podemos ter diante das imagens do atropelamento proposital de 20 ciclistas durante a passeata do grupo Massa Crítica na noite da última sexta em Porto Alegre. Para pessoas como eu que utilizam diariamente a bicicleta como meio de transporte, a notícia da prisão do responsável (que, segundo consta, detém uma ficha de antecedentes de violência e contravenções no trânsito) não é motivo de alívio ou de sensação de justiça feita.

As imagens bizarras de ciclistas sendo jogados para o alto com suas bicicletas retorcidas contém algo de incômodo que não está apenas no conteúdo das imagens, mas no fato delas se constituírem em sinais de uma espécie de sismógrafo do movimento mais profundo, de uma história subterrânea que vai além da eficácia de leis, regras éticas ou legislações de trânsito que protejam ciclistas no caos motorizado.

Este episódio captado em imagens que repercutiram na mídia internacional é um desses sintomas mais visíveis da armação de uma verdadeira bomba tecnológica: a lenta constituição de um novo paradigma que rege as relações do homem com a tecnologia (tecnologias “tecnognósticas”) que virtualiza as relações com as ferramentas e cria uma relação inorgânica com o meio ambiente.

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