terça-feira, setembro 17, 2019

Guerra Criptografada: Prefeitura faz limpeza semiótica nas ciclofaixas de São Paulo


“Requalificação”, “manutenção”. Assim o prefeito Bruno Covas vem justificando a retirada da pintura em vermelho das ciclofaixas da cidade de São Paulo. De repente incensado pela imprensa progressista como “moderado” e “conciliador”, com esses neologismos Covas na verdade requenta a querela do “vermelho subliminar do PT” das ciclofaixas do prefeito Haddad, como alertou em 2014, imbuída de urgente “dever cívico”, a professora de Semiótica da PUC/SP, Lúcia Santaella. Não importa se a cor é uma convenção internacional justificada pelas pesquisas de percepção visual. A uberização dos desempregados em bikes de entregas de comida por aplicativos e os transportes alternativos de start ups tecnológicas, colocaram em evidência as ciclofaixas. Por isso, se faz necessário uma “limpeza semiótico-ideológica” dessas vias. E dar mais um lance no xadrez da atual guerra semiótica criptografada, para manter em constante estado de beligerância e adrenalina alta as milícias digitais e físicas dentro do sombrio projeto político do clã Bolsonaro.

Lentamente, dia-a-dia, passo a passo, a cada rompante politicamente incorreto da trupe de ministros; em cada “flash mob” incitando manifestantes de verde e amarelo saírem nas ruas aos domingos pedindo o fechamento do STF por um cabo acompanhado de um soldado; em cada “live” do presidente destilando paranoia contra ONGs, um suposto globalismo de esquerda e desdenhando esposas de mandatários de outros países; a cada comando cifrado, de ministros ou do próprio capitão da reserva dublê de presidente, para por em ação as milícias digitais e físicas; tudo isso sugere que por detrás dessa guerra semiótica criptografada esconde-se um projeto político que ainda poucos estão se dando conta.
Sem nenhum projeto de desenvolvimento econômico ou social sustentável, a não ser a entrega do Estado e patrimônio público na xepa do mercado, percebe-se nitidamente que o clã Bolsonaro governa apenas para os seus – a própria família e seus agregados facilitadores das operações financeiras de “embranquecimento”. O Clã sabe que não chegou ao poder para implantar algum projeto de crescimento ou inclusão, mas para por em ação uma estratégia de ocupação, desmantelamento e destruição.




Núcleo duro

Por isso, para o Clã a campanha eleitoral não acabou: precisa manter o “núcleo duro” (os em torno de 30% da opinião pública de extrema-direita que, aconteça o que for, sempre ficarão ao lado do “Mito”) em constante estado de beligerância e adrenalina elevada para responder a comandos de ataque.  
O niilismo político dos Bolsonaro pressente que há uma grave crise se aproximando. E na hora da explosão social decorrente do crescente estado de empobrecimento, desemprego e desalento, o Clã somente terá de contar com milícias e a extrema-direita da sociedade, convertida e grupo de choque – minoritário, mas capaz de apertar o gatilho da violência e guerra civil, objetivo tático da geopolítica norte-americana: a destruição de qualquer possibilidade remota de o Brasil um dia se tornar liderança política e econômica regional.
Nessa perspectiva compreende-se o porquê da estratégia de exortar, arregimentar a tropa e manter o moral elevado do seu “núcleo duro” de adoradores do “Mito” – Bolsonaro até agora não iniciou o seu governo, e nem pretende. Sua retórica de ataque e informações desconexas e contraditórias (criptografadas) quer manter a mesma atmosfera de propaganda política.
Mas não só ele. Há um eixo, por assim dizer, vertical daqueles que só chegaram ao poder pegando carona na onda neoconservadora como o governador de São Paulo “Bolsodoria” (a suposta crise de João Doria com Bolsonaro é mais uma das táticas criptografadas para embaralhar o cenário político) ou Wilson Witzel, governador do Rio de Janeiro.
Na cidade de São Paulo, importante enclave conservador no projeto de mobilização permanente de Bolsonaro, está o atual prefeito e ex vice de Dória, Bruno Covas. Que, de repente, passou a ser incensado pela imprensa progressista como aquele que está “na contramão do discurso agressivo antipetista”, um “prefeito jovem que busca diferenciar-se com perfil mais moderado e conciliador”, como afirma a revista Carta Capital – clique aqui.


A ameaça do “vermelho subliminar”

Pois esse “jovem conciliador e moderado” (como Doria, mais interessado em lances simbólico-midiáticos do que em projetos metropolitanos de crescimento ou inclusão) deu mais um lance no xadrez da guerra criptografada comandada de Brasília como espécie de correia de transmissão: numa primeira etapa, a prefeitura mandou retirar a pintura vermelha de onze ciclofaixas.
Retoricamente, a Prefeitura (e a grande mídia) chama de “obras de manutenção”, “requalificação” ou “novas ciclofaixas” – na verdade, deixar a ciclofaixa com a cor do asfalto, separada do trânsito apenas por uma linha branca e vermelha. 
Quando as ciclofaixas e ciclovias começaram a ser pintadas de vermelho durante a gestão de Fernando Haddad, houve quem dissesse que tudo não passava de “propaganda subliminar” a favor do PT. Era o início da onda antipetismo e do jornalismo de guerra que culminaria com o Impeachment em 2016.
Um dessas pessoas foi a conhecida especialista em semiótica e professora da PUC/SP, Lúcia Santaella: “uma descarada propaganda vermelha do PT, provavelmente encomendada do diabo em pessoa”, publicou em seu perfil do Facebook em setembro de 2014. E recomendava que o prefeito estudasse Semiótica para estudar “os efeitos da poluição visual que pune olhos e mente”. Na época, este Cinegnoseprontamente rebateu esse pré-julgamento político (travestido de Ciência) da eminente pesquisadora utilizando a própria Semiótica – clique aqui.
Primeiro lugar o aspecto técnico. Além da cor vermelha ser uma convenção internacional para tornar visível a diferença entre a via dos automóveis e das bicicletas, ela está prevista no Código Brasileiro de Sinalização de Trânsito, aprovado em 2007 e que revogou os padrões anteriores, de 1986.
A cor vermelha está entre as cinco cores mais rapidamente percebidas pelo olho humano a uma distância de 180 metros: amarelo âmbar, amarelo fluorescente, laranja, laranja fluorescente e vermelho.
A chave do sucesso é tornar a diferença [entre a via dos automóveis e a das bicicletas] absurdamente visível para todos. O vermelho é muito melhor do que o branco”, observa o professor Antônio Rodrigues da Silva, da Escola de Engenharia de São Carlos da USP – clique aqui.


Limpeza semiótica

Esse humilde blogueiro diariamente vai, de bicicleta, lecionar na Universidade e sabe, principalmente em dias e noites de chuva, a importância de uma demarcação extensa de cor contrastante como o vermelho em uma ciclofaixa – a lâmina de água cobre a cor cinza do asfalto, tornando a ciclofaixa invisível. E a faixa branca ou amarela insignificante.
Colocando esse episódio da “requalificação” das ciclofaixas de São Paulo no cenário político que descrevemos acima, a questão passa a ser outra: muita mais críptica (guerra semiótica criptografada) do que técnica.
Bruno Covas “requenta” um tropo do jornalismo de guerra de 2013-16 para manter o “núcleo duro” bolsomínio mobilizado: reaviva a querela do “vermelho subliminar” como se estivesse limpando a cidade da herança da esquerda.


Ironicamente, a reciclagem dos desempregados em uberizados de bicicleta entregando comida por aplicativos e ocupando ciclorrotas e a multiplicação dos patinetes de startups tecnológicas (pedra de toque da ideologia neoliberal), colocaram novamente em evidência essas vias de transporte ampliadas pela gestão Haddad. Paradoxalmente, Haddad anteviu essa explosão dos meios de transporte urbanos alternativos e agora as ciclovias servem à uberização e ao empreendedorismo tecnológico neoliberal.
Logicamente, se faz urgente uma “limpeza semiótica” das ciclorrotas da cidade, sob o álibi da “requalificação” e “manutenção”. E, simultaneamente, gerar mais um comando (isso sim, subliminar!) para atiçar os seguidores do “Mito” a continuarem atentos às artimanhas comunistas que tentam violentar nossos olhos e mentes. Como observou, com um urgente senso cívico de denúncia, a professora Lúcia Santaella lá em 2014.
Se não me beliscasse eu acharia que morri e fui parar em algum tipo de realidade alternativa... do tipo a ilha daquela série chamada Lost...

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